(Comentário do 1º tópico da Lição 07: O ministério da Igreja)
Ev. WELIANO PIRES
No primeiro tópico, falaremos do ministério sacerdotal de todo crente. Falaremos sobre o Sacerdócio no Antigo Testamento. Inicialmente, os patriarcas da família ofereciam sacrifícios a Deus por si mesmo e pela família. Depois, na Lei Mosaica, Aarão e os seus descendentes foram escolhidos por Deus, para exercerem o sacerdócio. O próprio povo de Israel também foi escolhido por Deus para ser um povo sacerdotal. Veremos que esta doutrina bíblica foi confirmada no Novo Testamento. Entretanto, na Nova Aliança, Cristo é o Sumo Sacerdote Eterno que ofereceu-se em sacrifício perfeito, uma única vez. Por último, falaremos do resgate da doutrina do sacerdócio universal de cada crente, na Reforma Protestante.
1. O Sacerdócio no Antigo Testamento. A palavra hebraica traduzida por sacerdote é “kohen” que significa um ministro que faz a mediação entre o homem e uma divindade. Embora no Antigo Testamento esta palavra esteja relacionada mais ao povo hebreu, o conceito de sacerdócio está presente em praticamente todas as religiões da antiguidade.
Logo após a Queda da raça humana, vemos a presença do sacerdócio na esfera familiar, no período antediluviano, com Caim e Abel, filhos de Adão, que ofereceram sacrifícios a Deus (Gn 4.3); Noé que também ofereceu sacrifícios a Deus (Gn 8.20,21). Outros patriarcas como Jó (Jó 1.5), Abraão (Gn 12.8), Isaque (Gn 26.25) e Jacó (Gn 35.7,14), também edificaram altares e ofereceram sacrifícios.
Neste período temos também o caso de Melquisedeque, que era rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, o qual trouxe pão e vinho a Abraão e este deu-lhe o dízimo de tudo (Gn 14.18-20). Não temos informações sobre a sua ascendência e descendência. O Novo Testamento o descreve como um tipo de Cristo.
Depois, que Deus libertou Israel da escravidão no Egito, escolheu a tribo de Levi como a tribo sacerdotal. Escolheu também Aarão e seus filhos, que eram descendentes de Levi, para serem a família sacerdotal. A partir daí, a atividade sacerdotal estava restrita aos descendentes de Aarão, que era o Sumo Sacerdote. Depois dele, o seu filho primogênito assumiu e assim, sucessivamente.
Mesmo entre os descendentes de Aarão havia uma série de requisitos para exercer o sacerdócio: não poderia ser deficiente visual, coxo, ter membros deformados, nariz partido, corcunda, anão, impigens e sarna na pele, ou testículos quebrados (Lv 22.18-20). Evidentemente, estas exigências tinham as suas razões, em virtudes das funções que os sacerdotes desempenhavam, por terem que deixar descendentes, pois o sacerdócio era hereditário, e porque apontavam para a perfeição de Cristo.
É importante esclarecer que todos os sacerdotes eram levitas, mas nem todos os levitas eram sacerdotes, somente os descendentes de Aarão. Todos os levitas foram escolhidos por Deus para serem a tribo sacerdotal e não receberam herança. Os levitas cuidavam de todo o trabalho do tabernáculo e posteriormente do templo. Estes trabalhos eram pesados e incluíam o transporte de animais para os sacrifícios, rachar lenha e fazer a limpeza geral, pois aconteciam milhares de sacrifícios. Os sacerdotes cuidavam da parte dos sacrifícios. O Sumo Sacerdote, por sua vez, era o único que podia ter acesso ao lugar santíssimo, depois de oferecer sacrifícios por si e pelo povo.
2. Uma doutrina bíblica confirmada no Novo Testamento. O sacerdócio, nos moldes da Antiga Aliança, não existe mais. O Novo Testamento nos mostra claramente que todo o sistema sacerdotal do Antigo Testamento apontava para Cristo (Hb 8.1), que é o Sumo Sacerdote Eterno, que ofereceu-se a Si mesmo, uma única vez, em sacrifício perfeito a Deus.
A Epístola aos Hebreus foi escrita para mostrar que os rituais, sacrifícios, personagens e práticas do Antigo Testamento eram figuras que apontavam para Cristo e que Ele é Superior a todos eles. Cristo é superior aos anjos, aos profetas, aos sacerdotes, à Lei, etc. Os sacrifícios e rituais precisavam ser repetidos, mas o de Cristo não.
No Novo Testamento, não existe mais uma nação, tribo ou família sacerdotal. A Igreja como um todo é um reino sacerdotal e Todos os crentes são sacerdotes (1Pe 2.5; cf. Jr 31.34). Quando Jesus deu o brado na Cruz dizendo “Está consumado”, o véu do templo que separava o Lugar santo, do Lugar Santíssimo, se rasgou de alto a baixo (Mt 27.51). A partir daquele momento, todos os crentes têm acesso livre a Deus, sem a necessidade de um sacerdote. O único mediador entre Deus e a humanidade é Jesus Cristo que se fez homem (1Tm 2.5).
Na Nova Aliança também não existem lugares santos. Os templos são apenas casas destinadas a abrigar as atividades da Igreja. Os templos atuais não tem o mesmo significado do tabernáculo ou do templo do Antigo Testamento, que tinhas as suas divisões. O povo não poderia ter acesso e ficava no pátio. O templo cristão não tem altar, tem o púlpito de onde se transmite a pregação. Mas o púlpito não é o lugar santo, como muitos imaginam.
Não há também uma tribo ou família escolhida como os levitas. Vemos atualmente muitos se autodenominando levitas, mas passam longe de trabalhos nos templos. Só querem saber de cantar. Os cantores apareceram somente nos dias do Rei Davi, na preparação para o templo. Antes dele, não havia cantores no tabernáculo. Os cantores atuais não são levitas, pois não são descendentes de Levi.
3. Uma doutrina bíblica resgatada na Reforma Protestante. Na Idade Média, os reformadores resgataram a Doutrina bíblica do Sacerdócio Universal dos Fiéis ou de todos os crentes. Resgataram, porque esta doutrina havia sido abandonada pela Igreja Católica há vários séculos. Desde a instituição do papado, a Igreja foi adotando várias práticas sem fundamento bíblico.
Uma destas práticas antibíblicas foi a divisão dos cristãos em duas categorias: a primeira categoria são os clérigos, derivado do grego kléros, que significa “sorte, porção”, que são os sacerdotes, considerados uma porção que Deus separou para si; a segunda categoria são o Laicato ou leigos, derivado do termo grego laos, que significa povo.
Com esta divisão, a Igreja Católica colocou os seus ministros como mediadores entre o povo e Deus, e os chama de sacerdotes. Criaram também uma série de ministrações, que eles chamam de sacramentos, que somente os sacerdotes podem ministrar. Com isso, prendem o povo a eles, obrigando-os a permanecer lá, sob pena de não serem salvos.
Os sacerdotes batizam, crismam, consagram a hóstia, perdoam pecados, ministram a extrema unção aos moribundos, celebram missas e rezam pelas almas dos mortos. Sem qualquer uma destas ministrações, a pessoa não pode ser salva. Se o católico pecar, não pode pedir perdão diretamente a Deus. Precisa confessar ao sacerdote, para que ele determine a penitência e perdoe.
Na época da Reforma, estas práticas além de antibíblicas eram também abusivas. A Igreja vendia indulgências, que eram documentos assinados pelo papa, absolvendo as pessoas dos seus pecados. Vendiam também relíquias, que eram objetos que teriam supostamente pertencido a algum dos apóstolos e santos.
Martinho Lutero, que era professor de teologia, não concordava com estas práticas, pois não via fundamento bíblico, protestou contra isso em suas teses e livros. Lutero e os demais reformadores resgataram, então, a doutrina bíblica de que a Igreja como um todo é um sacerdócio real e todos os cristãos são sacerdotes e não apenas uma parte deles.
O Novo Testamento não faz esta divisão, entre clérigos e leigos. Na Nova Aliança, todos são iguais perante Deus e têm acesso direto a Ele. Os ministros cristãos não são sacerdotes, nos moldes do Antigo Testamento, nem mediadores entre Deus e os cristãos. Lamentavelmente, muitos obreiros na atualidade, querem costurar o véu do templo e se colocam como intermediários entre Deus e a Igreja. Veremos no próximo tópico, as características dos ministros da Igreja.
REFERÊNCIAS:
GONÇALVES, José: O Corpo de Cristo: Origem, Natureza e a Vocação da Igreja no Mundo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2023.
ENSINADOR CRISTÃO. RIO DE JANEIRO: CPAD, Nº 96, pág. 39, 1º Trimestre de 2024.
RICHARDS, Lawrence O. Comentário Devocional da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p.965
Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal, Editora CPAD, p.564.
MENZIES, William W.; HORTON, Stanley M. Doutrinas Bíblicas: Os Fundamentos da Fé Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p.153.
Nenhum comentário:
Postar um comentário