20 fevereiro 2024

A NECESSIDADE DA DISCIPLINA BÍBLICA

(Comentário do 1º tópico da Lição 08: A disciplina na Igreja).

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, falaremos da necessidade da disciplina bíblica. Veremos que Deus é Santo e isso é uma das razões principais da necessidade da disciplina na Igreja. Depois, veremos que a Igreja também é santa, pois Deus exige santidade do Seu povo. Isto significa separação ou consagração a Deus. Por último, falaremos das consequências da falta de disciplina em uma Igreja. 


1. Deus é santo. Deus é transcendente e, como tal, é infinitamente superior à sua criação. Ele não pode ser definido ou explicado em sua plenitude, pela compreensão humana. Portanto, só podemos conhecer Deus, até ao ponto que Ele se deu a conhecer. Com base na revelação que Deus fez de Si mesmo através da Sua Palavra, encontramos os seus atributos, que são qualidades do Seu Caráter, que nos ajudam a conhecê-lo. 


Há dois tipos de atributos ou características de Deus: 

a) Os atributos incomunicáveis. São atributos exclusivos de Deus, pois somente Ele possui: Asseidade ou Autoexistência, Unicidade, Imutabilidade, Eternidade, Onipresença, Onisciência, Onipotência, Soberania, Imutabilidade,

b) Os atributos comunicáveis. São atributos de Deus, que Ele os compartilha até certo ponto, com as suas criaturas: Sabedoria, santidade, amor, bondade, humildade, justiça, fidelidade, misericórdia, etc. Evidentemente, estes atributos no ser humano jamais estarão no mesmo nível de Deus, pois Ele é absolutamente Santo, Perfeito e Infalível. 


Um dos atributos comunicáveis de Deus é a Santidade. Deus é absolutamente santo em sua essência e caráter. Claro que nenhum ser humano, jamais atingiria o nível de santidade de Deus. Mas Deus compartilha até certo ponto, a sua santidade com o seu povo, e exige santidade daqueles que professam a fé nEle. A santidade de Deus é a prova cabal, da sua absoluta pureza moral. É o padrão a ser imitado pelo seu povo. 


A santidade de Deus não pode conviver com o comportamento pecaminoso, pois este afronta o caráter santo de Deus. Falando sobre isso, o profeta Isaías escreveu: “Mas as vossas iniquidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus, e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça.” (Is 59.2). Se não fossem as infinitas misericórdias de Deus, todos nós seríamos consumidos por causa dos nossos pecados (Lm 3.22). Jesus Cristo, sendo Deus, tomou a forma humana e veio até nós, para nos reconciliar com Deus, através do Seu Sacrifício Expiatório (substitutivo).


2. A Igreja é santa. Em toda a Bíblia, tanto no Antigo como no Novo Testamento, é exigido santidade do povo de Deus: “Portanto, santificai-vos e sede santos, pois eu sou o Senhor, vosso Deus.” (Lv 20.7). O apóstolo Pedro faz a mesma advertência no Novo Testamento dizendo: “Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo.” (1 Pe 1:15,16). O escritor da Epístola aos Hebreus coloca a santificação como condição indispensável para alguém ver a Deus: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor.” (Hb 12.14).


Quando falamos que é preciso ser santo, ou que somos santos, muitas pessoas acham que isso é arrogância ou presunção da nossa parte. Isto acontece, porque estas pessoas não sabem o que significa ser santo. Para os católicos, santo é uma pessoa que não tem pecado, ou que foi canonizada após a sua morte, por ter supostamente realizado milagres. Entretanto, o conceito de santidade na Bíblia não é este. 


O verbo hebraico “kadash” (santificar) e o substantivo “kadosh” (santo) significam “ser santo, ser santificado, santificar, ser posto à parte”. Esta palavra e os seus derivados são usados 830 vezes no Antigo Testamento. O conceito de “kadosh” no Antigo Testamento é separar algo ou alguém do uso comum para o serviço de Deus. (1 Sm 7.1). O correspondente grego de Kadosh é o termo “hagios”, que também significa separado do que é impuro, para pertencer exclusivamente a Deus. 


O Senhor Jesus é absolutamente santo e puro. Portanto, a sua Igreja também precisa ser santa e pura. Entretanto, nenhum de nós consegue por si mesmo se santificar. É o Espírito Santo quem produz santidade no crente. O nosso padrão de santidade é o Senhor Jesus e o Espírito Santo nos molda, tornando-nos parecidos com Cristo. 


O crente é santificado de três formas: Pela Palavra de Deus (Jo 17.17); pelo sangue de Cristo (Hb 9.12); e pelo Espírito Santo (1 Pe 1.2). Através da leitura e meditação na Palavra de Deus somos confrontados na nossa velha natureza e somos orientados a buscar o caráter de Cristo. O sangue [ou a morte] de Cristo pagou o preço da nossa e aplaca a ira de Deus, trazendo-nos paz com Deus. O Espírito Santo, por sua vez, opera em nós a transformação da nossa natureza e nos aproxima de Deus. 


3. Quando a igreja não disciplina. Conforme vimos acima, Deus exige santidade da Sua Igreja, pois Ele é Santo. Cada membro da Igreja deve ser santo, pois a Igreja é o corpo de Cristo e nós somos os seus membros, como disse o apóstolo Paulo (1Co 12.27). Nesta ilustração usada por Paulo, Cristo é a cabeça, a Igreja é um corpo e cada crente é membro desse corpo. 


No corpo humano todos os membros estão interligados entre si. Se houver uma contaminação em qualquer um deles, e não for devidamente tratada, isso pode se espalhar por todos órgãos e levará o organismo à morte. O próprio corpo possui um sistema imunológico para se defender de elementos estranhos que o prejudicam. 


Se a imunidade do corpo estiver baixa, ele não consegue fazer a defesa sozinho e necessitará de medicamentos para aumentar os anticorpos. Há também graus de infecções que os anticorpos são insuficientes para combater e o corpo necessita de antibióticos. Há ainda casos mais graves de infecções, que podem comprometer um membro do corpo, a ponto de não haver mais como combatê-la. Nesse caso, é preciso amputar o membro, para não contaminar o restante do corpo. 


Partindo desta ilustração do apóstolo Paulo, podemos compreender que o mesmo acontece com a Igreja. Se o pecado de um membro da Igreja não for tratado no início, isso pode contaminar a Igreja, tornando-a carnal e mundana,  ou até levá-la à morte espiritual. No terceiro tópico falaremos mais sobre isso, quando tratarmos das formas de disciplina bíblica.


REFERÊNCIAS:

GONÇALVES, José: O Corpo de Cristo: Origem, Natureza e a Vocação da Igreja no Mundo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2023.

ENSINADOR CRISTÃO. RIO DE JANEIRO: CPAD, Nº 96, pág. 40, 1º Trimestre de 2024.

PFEIFFER, Charles F. et al. Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p.466. 

RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, pp.510,511

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