15 fevereiro 2024

A ESTRUTURA MINISTERIAL DO NOVO TESTAMENTO

(Comentário do 2º tópico da Lição 07: O ministério da Igreja)


Ev. WELIANO PIRES


No segundo tópico, falaremos da estrutura ministerial do Novo Testamento. Discorremos sobre o ministério quíntuplo, descrito em Efésios 4.11. Falaremos também do serviço dos diáconos e presbíteros, que não estão inseridos na relação dos dons ministeriais, mas eram ministérios importantes na Igreja Primitiva. Seria praticamente impossível falar tudo sobre cada um deles aqui, em um único tópico. Portanto, vamos trazer apenas um resumo.


1. O ministério quíntuplo. No segundo trimestre de 2021, por conta da pandemia, nós repetimos uma revista sobre os dons espirituais e ministeriais, comentada em 2014, pelo Pr. Elinaldo Renovato de Lima. Naquela ocasião, estudamos cada um dos dons ministeriais mencionados pelo apóstolo Paulo, em Efésios 4.11, que são chamados de ministério quíntuplo, pois são cinco: apóstolos, profetas evangelistas, pastores e mestres. Cada um destes ministérios foi estudado exclusivamente em uma lição. Seria praticamente impossível falar tudo sobre cada um deles aqui, em um único tópico. Portanto, vamos trazer apenas um resumo.


a) Apóstolos. A palavra grega “apóstolos” significa alguém que foi enviado ou um mensageiro. É alguém que foi enviado para uma missão particular. Jesus é o apóstolo por excelência, pois, Ele foi enviado a este mundo pelo Pai com uma missão específica de dar a sua vida para salvar aqueles que nele cressem (Hb. 3.1). 


Jesus  chamou também doze dos seus discípulos de apóstolos e deu-lhes uma missão especial: “...Chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem também deu o nome de apóstolos.” (Lc 6.13). Este grupo é formado por apenas 12 e é chamado de Colégio apostólico


Judas Iscariotes era um deles, mas se desviou e foi substituído por Matias. O apóstolo Paulo também foi chamado pelo próprio Jesus para ser apóstolo. Há uma discussão se o escolhido para compor o colégio apostólico seria Matias, que foi escolhido pelos apóstolos, ou se foi Paulo, que foi escolhido diretamente por Jesus. 


Os apóstolos que faziam parte do colégio apostólico tinham características singulares, tais como: foram chamados diretamente por Jesus, andaram com Jesus em seu ministério terreno, viram o Cristo ressurreto e receberam autoridade diretamente dele. (At 1.21,22; At 9.1-5).


Neste sentido não existem mais apóstolos, pois são apenas doze e a missão deles de escrever o Novo Testamento e lançar o fundamento da Igreja já está concluída. Não há na Bíblia nenhuma sucessão de apóstolos depois de Matias. Não houve também sucessão dos apóstolos após o martírio deles. 


A Igreja Católica, no intuito de justificar o poder papal, criou o dogma da sucessão apostólica. Entretanto, não há base bíblica, ou histórica, que justifique este dogma. Há também Igrejas, supostamente evangélicas que criaram o ministério apostólico, com o objetivo de elevar os seus líderes a um patamar superior aos pastores e colocá-los como supostos mediadores entre a Igreja e Deus. 


O ministério de apóstolo atualmente poderia se aplicar aos missionários que são enviados pela Igreja, para desbravar campos e plantar Igrejas.  


b. Profetas. O Novo Testamento usa a palavra grega 'prophetes', para se referir ao profeta. Esta palavra deriva de dois vocábulos gregos: "pro", “antes”, “em favor de”, e, “phemi”, “falar”, ou seja, “alguém que fala por outrem”, e por extensão, “intérprete”, especialmente da vontade de Deus. 


Assim como nos casos do ministério de apóstolo, há pensamentos diferentes em relação ao ministério de profeta. Alguns dizem que não existem mais profetas nos dias atuais, pois, Jesus disse que “a Lei e os Profetas, vigoraram até João [Batista]..." (Lc 16.16). Na verdade, Jesus estava falando da Antiga Aliança, com a expressão a Lei e os Profetas. 


O Novo Testamento relata a existência de profetas e profetisas, depois da morte de João Batista: Ágabo (At 21.10,11); As filhas de Filipe (At 21.8,9); e na Igreja de Antioquia havia profetas (At 13.1). 


Por outro lado, há outros que querem atribuir as características dos profetas do Antigo Testamento aos profetas de hoje, querendo agir como Elias, Eliseu e outros. O dom ministerial de profeta não é equivalente aos profetas do Velho Testamento, ou mesmo do Novo Testamento, que eram canônicos e receberam inspiração divina para escrever os livros sagrados que formam a Palavra de Deus. Neste sentido, não existem mais profetas. 


Os profetas do Novo Testamento eram pessoas chamadas por Deus, para proclamar a sua Palavra, denunciar o pecado, exortar, edificar e consolar a Igreja de Cristo. Eles lançaram os fundamentos da Doutrina cristã. (Ef 2.20). 


O ministério de profeta é diferente do dom de profecia. O dom ministerial é permanente e é restrito a algumas pessoas, que foram chamadas por Deus para exercer este ministério. O dom de profecia, por sua vez, é esporádico. O Espírito Santo usa a pessoa para transmitir uma mensagem de Deus em determinadas circunstâncias. Paulo recomendou aos coríntios a buscarem este dom. 


c) Evangelista. A palavra evangelista deriva do verbo grego "euangelizo", que significa transmitir boas novas. Esta palavra aparece apenas três vezes no Novo Testamento: em Atos 21.48, referindo-se a Filipe; em Efésios 4.11, na lista dos dons ministeriais e em 1 a Timóteo 4.5, onde o apóstolo Paulo recomenda a Timóteo que faça o trabalho de um evangelista. 


Um evangelista é alguém chamado e capacitado por Deus, exclusivamente para pregar as boas novas do Evangelho aos perdidos. O evangelista busca a Deus e se prepara para transmitir uma mensagem impactante no coração dos pescadores, para levá-los a Cristo. 


O evangelista atua também como plantador de Igrejas, onde o Evangelho ainda não chegou. Porém, uma vez estabelecida a Igreja, um pastor deve assumi-la e o evangelista deve partir em busca de almas. Infelizmente, este ministério tem sido desvirtuado atualmente. Muitos evangelistas estão pastoreando congregações e trabalhando em serviços administrativos da Igreja. 


d. Pastor. A palavra pastor, no grego é “poimēn” e tem o significado de “apascentador de ovelhas”. Sendo assim, a principal missão do pastor deve ser cuidar das pessoas que vieram para Cristo. O pastor é alguém que cuida de um rebanho que não é dele e deve fazê-lo com amor e dedicação, não como dominador. (1 Pe 5.2). É de responsabilidade do pastor, alimentar, cuidar e proteger o rebanho de Deus. 


Embora almejado por muitos, ser pastor não é uma tarefa fácil. Pode ser que seja fácil ser um lobo ou um mercenário, disfarçado de pastor. Mas, ser um verdadeiro pastor, segundo o modelo bíblico, é uma tarefa árdua. Jesus é o sumo pastor e o melhor exemplo para um ministério integral: acolhedor, admoestador e servidor. Jesus é o bom pastor, que conhece as suas ovelhas, é conhecido delas e dá a sua vida pelo rebanho. 


Do ponto de vista bíblico, a missão do pastor está relacionada às questões doutrinárias, através da evangelização, ensino da Palavra de Deus e defesa da fé. Também faz parte do Ministério pastoral na Bíblia, o cuidado com os crentes, através de visitas, oração e exortação. Espera-se do pastor, que tenha maturidade, idoneidade e amor no trato com as coisas de Deus.


Na atualidade, as funções do pastor variam de acordo com o sistema de governo exclestiástico que ele faz parte: Episcopal, Presbiteral, ou Congregacional. Além destas múltiplas funções bíblicas do ministério pastoral, em algumas denominações ao longo dos séculos foram incorporadas as funções administrativas, financeiras, construções de templos e até políticas nas convenções.


e) Mestres ou Doutores. Jesus estabeleceu mestres na Igreja para serem os doutrinadores daqueles que chegam à Igreja e não conhecem nada do Evangelho. Este dom de mestre é uma necessidade urgente da Igreja. Se não houver ensino, os crentes não amadurecem e não tem firmeza. Todo pastor é ou deveria ser um mestre, pois, o pastor deve ser apto para ensinar, embora nem todos os mestres sejam pastores. Muitos consideram que os ministérios de pastores e mestres são um só. 


Em todos os dons ministeriais, Jesus é o nosso modelo perfeito. No dom ministerial de mestre, Jesus é o mestre por excelência. Ele não era um sábio qualquer, como alguns filósofos querem denominá-lo, colocando-o no mesmo patamar de Confúcio, Buda, Sócrates e outros. Jesus é Deus e, portanto, possui o atributo divino da onisciência. Ele conhece o passado, o presente e o futuro. Conhece todos os mistérios e sonda as mentes e corações. 


Jesus ensinava e as multidões o seguiam para ouvi-lo. Ele é verdadeiro e justo. Falava ao povo com sabedoria e autoridade. Não era como os hipócritas escribas e fariseus, que ensinavam de um jeito e procediam de outro. A pedagogia de Jesus era perfeita. Os discursos dele não eram diferentes da sua conduta. Jesus também era um mestre humilde. Mesmo sendo Deus e Senhor, Jesus fez-se servo. Ele esvaziou-se da Sua Glória e veio a este mundo padecer pelos pecadores. Jesus Ele é o maior exemplo de humildade que o mundo já conheceu. 


Infelizmente, o ministério de mestre não é valorizado em muitas Igrejas. A maioria dos mestres militam à própria custa, sem nenhum apoio financeiro sequer para custear os seus estudos e comprar materiais didáticos. Em contrapartida,  abrem-se as portas e dão vultosos cachês aos pregadores do "reteté", que fazem muito barulho e não tem nenhum conteúdo bíblico. 


2. O serviço de diáconos e presbíteros. 

a. Diáconos. Na cultura grega, a palavra “diakonia” significa um serviço voluntário, prestado por alguém para a sua comunidade. Segundo o dicionário bíblico de Strong, a palavra diácono (diákonos) significa literalmente, “levantar rapidamente”. Essa palavra era usada para descrever um servo que, rapidamente, atendia a um trabalho. No Novo Testamento, a palavra aplica-se àquele que executa os comandos ou ordens de uma força ou autoridade maior. 


No Livro de Atos, inicialmente, vemos apenas os apóstolos como líderes da Igreja. Posteriormente, surgiu a necessidade dos diáconos para suprir a questão da assistência social (At 6.1-6). Na Igreja Primitiva não havia templos e os cultos eram realizados nas casas. Por isso, a função dos diáconos não estava ligada à liturgia dos cultos. Era totalmente voltada para a assistência aos necessitados.


Muita coisa mudou na sociedade e na Igreja, em mais de dois mil anos de história da Igreja. Evidentemente, as necessidades da Igreja também mudam. Por isso, as funções de um diácono na Igreja atual é muito diferente dos tempos apostólicos. 


Além dos trabalhos de assistência social, nos dias atuais temos também as necessidades dos trabalhos nos templos em apoio à liderança da Igreja: recepção, segurança, recolhimento de contribuições, servir à Ceia do Senhor, secretaria, tesouraria e auxiliar na organização do templo durante os cultos.


b. Presbíteros. No grego, a palavra para presbítero é “presbyteros”. Esta palavra deriva da raiz “presby”, que significa literalmente “uma pessoa mais velha”. Evidentemente, não se refere apenas à questão da idade e sim à experiência e idoneidade. Algumas versões da Bíblia traduzem esta palavra por “ancião”. 


Nos primeiros anos da Igreja Cristã, logo após o Pentecostes, não vemos referências a presbíteros ou bispos. Eram os apóstolos, que exerciam a liderança da Igreja. Somente depois da conversão de Saulo, temos menção aos "anciãos" da Igreja de Jerusalém, que receberam a coleta das contribuições da Igreja de Antioquia, para ajudar aos necessitados da Judéia. 


Não sabemos ao certo quando surgiu o presbitério na Igreja Primitiva. Mas, ele estava presente nas Igrejas de Jerusalém, Antioquia, Listra e Icônio, nos relatos de Atos dos apóstolos e participava das discussões e decisões da liderança da Igreja junto com os apóstolos.


Em Atos 14.23 há o relato de uma eleição de anciãos (presbyteros) nas Igrejas de Antioquia, Listra e Icônio. Depois, no capítulo 15 de Atos, quando aconteceu o primeiro concílio da Igreja de Jerusalém, para discutir se os cristãos deveriam guardar a lei, são mencionados os “anciãos” (presbyteros), junto com os apóstolos. (At 15.6).


Em Atos 20.17, na iminência da prisão de Paulo em Jerusalém, ele reuniu os “anciãos” de Éfeso em Mileto e lhes fez um discurso emocionado, em tom de despedida. Ainda no capítulo 20 de Atos, no versículo 28, Paulo se refere a eles como “bispos” (episkopos) e diz que “o  Espírito Santo os constituiu para apascentarem a Igreja de Deus”, deixando evidente o trabalho pastoral dos bispos e presbíteros e a equivalência das duas funções. Nas Epístolas a Timóteo e a Tito, Paulo falou dos presbíteros como líderes da Igreja local. (1 Tm 3; Tm 5.17; Tt 1.5).


A atuação do presbitério cristão na Igreja Primitiva se assemelha às dos anciãos de Israel nas comunidades e no Sinédrio. (At 11.30; 15.2-6.22-23; 16.4; 21.18). Nas referências bíblicas aos presbíteros no Novo Testamento eles aparecem sempre no plural: “presbíteros”, “bispos” ou “anciãos” (At 11.30; 15.2,4,6; 20.17; Tg 5.14; 1Pe 5.1). Isso nos leva a deduzir que a função pastoral era exercida por um colegiado de obreiros mais experientes e não por um único líder. 


O presbitério da Igreja Primitiva formava uma espécie de conselho ou assembléia, que deliberava junto com os apóstolos, sobre assuntos doutrinários, éticos e administrativos da Igreja. (At 15.2,6,9-11; At 16.4). Eles faziam o papel exercido hoje pelos pastores e evangelistas nas convenções, no caso das Assembléias de Deus. 


Assim como no ministério do pastor, as funções dos presbíteros atualmente variam de acordo com o modelo de administração eclesiástica. Cada uma delas tem as suas particularidades e o papel do presbítero é diferente em cada uma delas.


REFERÊNCIAS:


GONÇALVES, José: O Corpo de Cristo: Origem, Natureza e a Vocação da Igreja no Mundo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2023.

ENSINADOR CRISTÃO. RIO DE JANEIRO: CPAD, Nº 96, pág. 39, 1º Trimestre de 2024.

RICHARDS, Lawrence O. Comentário Devocional da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p.965

Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal, Editora CPAD, p.564.

MENZIES, William W.; HORTON, Stanley M. Doutrinas Bíblicas: Os Fundamentos da Fé Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p.153.

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