09 dezembro 2025

A PIEDADE E AS DISCIPLINAS CRISTÃS

(Comentário do 1º tópico da Lição 11: O espírito humano e as disciplinas cristãs).

Neste primeiro tópico, estudaremos a relação entre a piedade e as disciplinas cristãs. Iniciaremos destacando o paralelo traçado pelo apóstolo Paulo entre o exercício corporal e a piedade, conforme registrado em 1 Timóteo 4.8. 

Em seguida, analisaremos a diferença entre piedade externa e piedade interna. Embora as disciplinas cristãs incluam atos visíveis, a verdadeira piedade não se limita à aparência religiosa. Ela nasce de uma vida interior de sincera e profunda devoção a Deus.

Por fim, refletiremos sobre a relação entre piedade e discrição, enfatizando que a prática das disciplinas espirituais é incompatível com vaidade, ostentação e exibicionismo


1. Exercício corporal e piedade.

O texto base para a argumentação deste subtópico é 1 Timóteo 4.7–8, que afirma:

“Mas rejeita as fábulas profanas e de velhas, e exercita-te a ti mesmo em piedade; porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir.”


No contexto desses versículos, Paulo faz uma advertência a respeito da apostasia dos últimos dias, quando muitos se desviarão da fé e darão ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios. Depois de descrever as práticas características desses falsos ensinos, Paulo recomenda a Timóteo que rejeite os mitos e crendices propagados pelos falsos mestres e se exercite na piedade.


Paulo conclui afirmando que o exercício físico tem pouco proveito quando comparado ao exercício da piedade. Nesse paralelo entre o exercício corporal e o exercício espiritual, é importante observar o significado original das três palavras-chave: exercício, piedade e pouco, para que compreendamos plenamente a mensagem do apóstolo e evitemos interpretações distorcidas.


a) Exercício (gr. gymnasía)

A palavra gymnasía deu origem ao termo português “ginásio”. Refere-se a um treinamento vigoroso — seja do corpo ou da mente — com o objetivo de aprimorar o desempenho. No contexto específico de 1 Timóteo, porém, Paulo não está falando do exercício físico como o entendemos hoje, mas sim das práticas ascéticas que envolviam o corpo, como a abstinência do matrimônio e a proibição de certos tipos de alimentos, defendidas pelos falsos mestres.


b) Piedade (gr. eusebeia)

A palavra “piedade”, em português, ganhou um sentido diferente do que possuía na época em que João Ferreira de Almeida a utilizou. Por influência do uso católico, costuma estar associada à compaixão ou misericórdia (“Tende piedade de nós”). Entretanto, o termo grego eusebeia é formado por eu (“bom”) e sebomai (“adorar”, “ser devoto”). Assim, seu significado é o de devoção reverente e fidelidade a Deus em todos os aspectos da vida, não apenas misericórdia ou sensibilidade emocional.


c) Pouco (gr. olygos)

A palavra grega olygos, traduzida por “pouco”, significa “pequeno”, “limitado” ou “restrito”. Ela é a raiz de “oligarquia”, que descreve o governo de um pequeno grupo. Quando Paulo declara que “o exercício corporal para pouco aproveita”, não está desprezando o exercício físico nem aconselhando desleixo com o corpo. Seu ponto é que o treinamento ascético do corpo tem benefício limitado para o preparo espiritual, ao passo que o exercício da piedade é proveitoso em todas as áreas da vida, tanto agora quanto na eternidade.


2. Piedade interna e externa.

Aqui o comentarista estabelece um contraste entre a piedade interna e a piedade externa. Conforme mencionamos anteriormente, a piedade diz respeito à fidelidade a Deus em todos os aspectos da vida. Naturalmente, essa fidelidade não se limita a crer em Deus, pois Tiago afirma que “a fé sem obras é morta”. Não basta acreditar que Deus existe e aceitar a veracidade de Sua Palavra se essa crença não se traduz em prática. O próprio Jesus declarou: “Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes” (Jo 13.17).


Os escribas e fariseus davam grande ênfase ao aspecto exterior da piedade — longas orações, jejuns frequentes, esmolas, rigor no dízimo e vestimentas religiosas adornadas com trechos das Escrituras. Contudo, essas expressões externas não correspondiam ao interior deles, que estava repleto de inveja, hipocrisia, mentira e toda sorte de maldade.


Não há nada de errado com a prática externa da piedade; ao contrário, a Escritura recomenda a prática das boas obras. Entretanto, a verdadeira piedade nasce de um coração regenerado pelo Espírito Santo, e as boas obras são fruto do novo nascimento. O crente não pratica boas obras para conquistar a salvação ou para obter favores divinos, mas porque já foi salvo por Jesus e agora reflete o Seu caráter diante do mundo.


3. Piedade e discrição.

Do ponto de vista bíblico, a prática das disciplinas espirituais é incompatível com o exibicionismo e a autopromoção. Jesus condenou duramente os escribas e fariseus por isso, tanto no Sermão da Montanha quanto no capítulo 23 de Mateus. Ele censurou as orações longas realizadas em público, os jejuns acompanhados de aparência triste e as esmolas feitas com alarde (Mt 6.1–18).


Evidentemente, o Mestre não condenou as orações públicas ou em pé, como afirma a Congregação Cristã no Brasil. Não há nada de errado em orar publicamente ou de pé, pois o próprio Jesus fez isso na ressurreição de Lázaro, na multiplicação dos pães e peixes e em outras ocasiões. O que Jesus reprovou foi o exibicionismo — a prática de orar para ser visto.


Da mesma forma, Jesus não condenou o jejum, pois Ele mesmo jejuou. No entanto, ensinou que o jejum deve ser realizado em secreto, sem a expectativa de reconhecimento humano. Lamentavelmente, na atualidade vemos pessoas jejuando e “tocando trombeta” nas redes sociais e na Igreja, como demonstração de espiritualidade. Jesus rejeita esse tipo de jejum, pois ele revela soberba, e não rendição a Deus.


As esmolas e ofertas também devem ser praticadas com discrição e com propósitos nobres. Quando ajudamos alguém necessitado, devemos fazê-lo da forma mais reservada possível, para não constranger quem recebe e para não buscarmos elogios; afinal, nesse caso, Jesus disse que já recebemos a nossa recompensa.


Em relação às contribuições à Igreja, também devemos ofertar de modo que ninguém saiba o valor entregue. As contribuições feitas à Obra do Senhor devem ser dadas com alegria, voluntariamente e sem esperar nada em troca. Uma pessoa piedosa não contribui para ser bem vista na comunidade. Esse foi o comportamento de Ananias e Safira, que, movidos pela avareza, trouxeram sua oferta para obter reconhecimento. Mas o Espírito Santo revelou a farsa, e ambos morreram.


Ev. WELIANO PIRES

08 dezembro 2025

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 11: O ESPÍRITO HUMANO E AS DISCIPLINAS CRISTÃS

 TEXTO ÁUREO:

“Porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir.” (1Tm 4.8).

VERDADE PRÁTICA:

As disciplinas espirituais são necessárias para o fortalecimento do espírito, assim como os exercícios físicos para a estrutura óssea e muscular.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: 1 Timóteo 4.6-8,13-16.

Objetivos da Lição: 

I) Explicar o conceito bíblico de piedade, distinguindo entre sua dimensão interna e externa; 

II) Despertar nos alunos a consciência da necessidade de uma prática regular e perseverante das disciplinas espirituais; 

III) Conscientizar os alunos que as disciplinas espirituais são ferramentas essenciais na batalha contra as forças do mal.

Palavra-Chave: DISCIPLINAS

A palavra disciplina vem do latim disciplina, termo relacionado a discipulus, que significa “aluno” ou “aprendiz”. No latim clássico, disciplina designava tanto o ato de ensinar e instruir, quanto o conjunto de ensinamentos transmitidos por um mestre ao seu discípulo.

No grego do Novo Testamento, a palavra mais próxima desse conceito é paideía, usada para se referir à educação, instrução e disciplina no sentido de treinamento, formação, correção e até mesmo punição. Paideía deriva de país (“criança”) e descreve a formação integral do ser humano: alfabetização, preparo físico, caráter moral, cultura e responsabilidade cívica — tudo o que visava transformar alguém em um bom cidadão.

No contexto desta lição, porém, disciplina refere-se principalmente ao treinamento espiritual que molda o crente segundo o caráter de Cristo. São práticas que fortalecem o espírito, aperfeiçoam a vida cristã e capacitam o discípulo a permanecer firme e a vencer o inimigo.

INTRODUÇÃO 

Nesta segunda lição sobre o espírito humano, estudaremos a relação entre o espírito e as disciplinas cristãs — práticas espirituais que nos aproximam de Deus e contribuem para o fortalecimento do nosso homem interior.

Assim como o corpo necessita de alimentação adequada e exercícios físicos para se manter saudável, o nosso espírito também precisa ser nutrido e exercitado para permanecer firme diante das adversidades. Entre as principais disciplinas espirituais destacam-se: a oração, o jejum, o estudo sistemático das Escrituras, a leitura devocional da Bíblia e a adoração a Deus, tanto no âmbito particular quanto nos cultos congregacionais.

A negligência dessas práticas enfraquece o crente, tornando-o mais vulnerável às tentações e às hostes espirituais da maldade. Em contraste, vemos no exemplo de Jesus no deserto que, embora seu corpo estivesse debilitado após longo período de jejum, seu espírito permanecia fortalecido pela comunhão constante com o Pai. Ele venceu o inimigo como verdadeiro homem, mostrando que a força espiritual é fruto de disciplina, entrega e dependência de Deus.

TÓPICOS DA LIÇÃO

I. A PIEDADE E AS DISCIPLINAS CRISTÃS

Neste primeiro tópico, estudaremos a relação entre a piedade e as disciplinas cristãs. Iniciaremos destacando o paralelo traçado pelo apóstolo Paulo entre o exercício corporal e a piedade, conforme registrado em 1 Timóteo 4.8. 

Em seguida, analisaremos a diferença entre piedade externa e piedade interna. Embora as disciplinas cristãs incluam atos visíveis, a verdadeira piedade não se limita à aparência religiosa. Ela nasce de uma vida interior de sincera e profunda devoção a Deus.

Por fim, refletiremos sobre a relação entre piedade e discrição, enfatizando que a prática das disciplinas espirituais é incompatível com vaidade, ostentação e exibicionismo. 

II. O DESAFIO DAS DISCIPLINAS ESPIRITUAIS

No segundo tópico, refletiremos sobre o desafio de praticar as disciplinas espirituais. Começaremos fazendo uma analogia com o funcionamento do corpo humano: assim como muitos encontram dificuldade em manter uma rotina regular de exercícios físicos, também não é simples manter constância nas práticas espirituais. Ambas exigem esforço, perseverança e um propósito claro.

Em seguida, veremos que a negligência dessas disciplinas produz sérias consequências na vida do crente. Entre elas estão a apatia espiritual, que enfraquece a fé; o engano, que torna o cristão vulnerável às falsas doutrinas e tentações; e, por fim, a prática do pecado, como resultado de uma vida desconectada das fontes de graça e fortalecimento espiritual.

Por último, destacaremos que as disciplinas espirituais não podem permanecer apenas na teoria. Elas devem ser cultivadas diariamente, com intencionalidade e zelo, pois somente assim o cristão experimenta crescimento genuíno e maturidade espiritual. 

III. AS DISCIPLINAS E A LUTA ESPIRITUAL

No terceiro tópico, abordaremos a relação entre as disciplinas espirituais cristãs e a luta espiritual. Iniciaremos destacando a astúcia do maligno, que constantemente prepara ciladas com o objetivo de enfraquecer a fé do cristão e conduzi-lo ao naufrágio espiritual. 

Em seguida, trataremos da necessidade de administrar bem o nosso tempo, pois a batalha espiritual também passa pelo uso sábio dos nossos dias. As distrações têm se multiplicado, e entre elas se destaca a dependência digital, que tem consumido grande parte do tempo, da atenção e até da energia emocional de muitos cristãos.

Ev. WELIANO PIRES 

07 dezembro 2025

O ESPÍRITO HUMANO E AS DISCIPLINAS CRISTÃS

 (SUBSÍDIO DA REVISTA ENSINADOR CRISTÃO/CPAD, Ed. 103, p.41)

A Palavra de Deus nos ensina que espírito, alma e corpo devem ser preservados irrepreensíveis para a Vinda do Senhor Jesus. Para tanto, o crente precisa se ater a algumas disciplinas espirituais necessárias para o fortalecimento espiritual e bem-estar do templo do Espírito Santo. Em nosso cotidiano, há uma intensa e constante solicitude pelos cuidados desta vida (Lc 21.34). Preocupações com trabalho, escola, faculdade e contas a pagar ocupam espaço em nossas mentes de tal maneira que nos sobra pouco tempo para fazer como Maria, isto é, escolher a melhor parte (Lc 10.41,42). As disciplinas espirituais surgem como um compromisso do cristão com sua vida espiritual. Como o nome já diz, são “disciplinas”; e o que é a disciplina? De acordo com o Dicionário Houaiss, dentre suas acepções, trata-se de um “comportamento metódico, determinado; constância”. Significa que a disciplina assegura a organização do tempo e da conduta. Nem sempre queremos cumprir com as regulamentações, mas a disciplina nos conduz a fazer o que é certo, mesmo quando não estamos prontamente motivados. Em nosso contexto, praticar as disciplinas da vida cristã é indispensável para nossa saúde espiritual. Não há como alcançar uma vida espiritual próspera, profícua e atuante na obra de Deus sem o exercício da oração, do jejum, da leitura bíblica e da devoção espiritual a Deus.


Como discorre o Comentário Bíblico Pentecostal — Novo Testamento (CPAD), Paulo exorta os filipenses a ocuparem seu pensamento com virtudes alcançadas pelo Evangelho (Fp 4.8,9): 

1. A lista de Paulo começa com a verdade. Para o pensamento hebreu, a verdade é aquilo que se opõe à falsidade. No pensamento grego (Platônico) a verdade é vista como aquilo que se opõe ao que é aparente ou passageiro; 

2. As coisas ‘nobres’, ou ‘honestas’ são merecedoras de respeito; são transcendentes ou moralmente honestas (usada em relação aos diáconos com 1Tm 3.8); 

3. As coisas que são ‘justas’ obedecem aos padrões de justiça de Deus, e também representam o cumprimento das obrigações morais para com Deus e os nossos concidadãos; 

4. A ‘pureza’ denota aquilo que é ética ou religiosamente puro. Na adoração, no Antigo Testamento, os sacrifícios eram puros por serem limpos ou imaculados. [...];

5. A próxima virtude é a amabilidade, não ocorre em nenhuma outra parte do Novo Testamento. Em seu uso secular, refere-se a tudo aquilo que é admirável ou merecedor de amor; 

6. A virtude final na lista de Paulo é a ‘boa fama’, ou seja, tudo aquilo que é de boa reputação ou livre de ofensas”. (Volume 2, 2003, p.508). Tais virtudes devem ser cultivadas diariamente para fortalecer o espírito, e o Deus de Paz será conosco (Fp 4.9).

05 dezembro 2025

REGENERAÇÃO E ADORAÇÃO

(Comentário do 3⁰ tópico da Lição 10: Espírito – o âmago da vida humana)

No terceiro tópico, temos três tópicos a respeito da regeneração e adoração. Iniciaremos com a experiência espiritual do Novo Nascimento. Veremos também que é indispensável a compreensão da obra do novo nascimento para uma correta adoração. Por fim, veremos que a verdadeira e pura adoração nasce de um espírito quebrantado, ou seja, da simplicidade, que não busca a exaltação humana.

1. O Novo Nascimento. 

A vitória sobre o pecado encontra seu ponto de partida na experiência espiritual do Novo Nascimento, compreendido como um ato divino operado no interior do ser humano que resulta na concessão de um espírito regenerado (Jo 3.5–8; Ef 2.1–6). Na teologia cristã, os termos Novo Nascimento e Regeneração são tratados como sinônimos.

A Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil define a regeneração como “a transformação do pecador numa nova criatura pelo poder de Deus, como resultado do sacrifício de Jesus na cruz do Calvário”. Tal definição enfatiza a dimensão soteriológica da regeneração, articulando sua origem na obra expiatória de Cristo e sua realização na ação do Espírito Santo.

No âmbito do Novo Testamento, a expressão grega gennethenai anóthen, traduzida por “nascer de novo” em João 3.3, pode igualmente ser interpretada como “nascer do alto” ou “nascer de cima”, sugerindo uma origem celestial e não humana para essa transformação espiritual. Além disso, outros termos correlatos aparecem Novo Testamento, como anagennaō, presente em 1 Pedro 1.3 e 1.23, que designa a ação regeneradora do Espírito Santo ao transformar o ser humano em uma nova criatura conforme a vontade divina.

Outro vocábulo empregado nas Escrituras para descrever esse processo é palingenesia, traduzido por “regeneração”, cujo sentido literal é “ser gerado novamente”. Essa palavra ocorre duas vezes no Novo Testamento: em Mateus 19.28, onde é utilizada por Jesus em referência à restauração cósmica no período do Milênio; e em Tito 3.5, onde o apóstolo Paulo a utiliza para descrever a renovação espiritual realizada pelo Espírito Santo no interior do indivíduo.

A necessidade universal do Novo Nascimento fundamenta-se na condição humana marcada pelo pecado. O apóstolo Paulo afirma, em Romanos 3.23, que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. Dessa forma, se todo ser humano se encontra sob a realidade do pecado, torna-se igualmente imprescindível que todos experimentem o Novo Nascimento como meio de restauração espiritual.

2. Em espírito e em verdade. 

O comentarista destaca que compreender corretamente a imprescindível obra do Novo Nascimento, operada no nosso interior, é fundamental para uma vida de adoração genuína. Nicodemos, um respeitado doutor da Lei, possuía um conhecimento limitado, que se restringia ao que podia ser observado externamente. Por esse motivo, ele não compreendeu a explicação de Jesus sobre a necessidade do Novo Nascimento.

Por outro lado, a mulher samaritana, que era completamente leiga nas Escrituras Judaicas, conhecia ainda menos. Ela apenas sabia o que a tradição de seus antepassados lhe transmitira sobre a adoração no Monte Gerizim e a expectativa de que um Ungido [hebr. Mashiach] de Deus viria para libertar Israel.

Durante o diálogo, a mulher questionou Jesus a respeito do verdadeiro local de adoração, pois seus antepassados samaritanos afirmavam que este deveria ser o Monte Gerizim, o qual, segundo a tradição, era o lugar adequado para adorar a Deus. Este monte era considerado o lugar da bênção, uma vez que foi de lá que Moisés pronunciou as bênçãos para os israelitas que obedecessem a Deus (cf. Dt 28.1-14). O Monte Ebal, por sua vez, era associado à maldição.

Após o retorno dos judeus do cativeiro babilônico e a reconstrução do Templo de Jerusalém, os samaritanos construíram um santuário no topo do Monte Gerizim para competir com o templo judaico. Mesmo após a destruição desse santuário, os samaritanos continuaram a subir ao monte para realizar seus cultos.

Jesus, no entanto, veio estabelecer uma Nova Aliança, na qual a adoração não depende de peregrinações a lugares sagrados, sacrifícios ou tradições externas, mas consiste na entrega total do nosso ser “em espírito e em verdade”. No Cristianismo, não há espaço para misticismos nem para peregrinações a lugares considerados supostamente sagrados. A verdadeira comunhão com Deus deve ser fundamentada nas Escrituras, que são o nosso manual de fé e prática.

3. Um espírito quebrantado. 

O conhecidíssimo Salmo 51 é uma oração de Davi, na qual ele confessa seu pecado e implora pelo perdão e pela restauração de Deus. O salmo foi escrito após Davi ter sido repreendido pelo profeta Natã, por causa dos gravíssimos pecados de adultério com Bate-Seba e por ordenar a morte de Urias, seu marido.

No versículo 17 deste salmo, Davi declara:

“Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.”

Observe que as palavras “espírito” (ruach) e “coração” (lev) aparecem aqui como sinônimas, no chamado paralelismo sinonímico, característico da poesia hebraica. Esse recurso consiste em afirmar a mesma ideia em duas frases diferentes, usando termos equivalentes: “espírito quebrantado” e “coração contrito”. Assim, o salmista não está se referindo ao espírito humano no sentido técnico, mas a uma postura interior.

As palavras hebraicas shâbar e dâkâh, traduzidas respectivamente como “quebrantado” e “contrito”, transmitem a ideia de algo esmagado ou reduzido a pó. Em sentido figurado, descrevem uma atitude interior de profunda humildade, arrependimento e total rendição diante de Deus.

Ev. WELIANO PIRES 

Referências:

SOARES, Esequias. Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, p. 64.

04 dezembro 2025

ESPÍRITO, PECADO E SANTIFICAÇÃO

(Comentário do 2⁰ tópico da Lição 10: Espírito – o âmago da vida humana)

Neste segundo tópico, temos também três tópicos que falam a respeito dos pecados que podem se enraizar no espírito. Trataremos também das raízes do pecado que está na parte imaterial do ser humano (alma e espírito), embora alguns se manifestem também através do corpo. Por fim, veremos como vencer a força do pecado.

1. Pecados do espírito. 

Neste ponto, o comentarista separou os pecados e os catalogou em três categorias: pecados do corpo, pecados da alma e pecados do espírito. Eu penso que é complicado esse tipo de abordagem, pois seria uma espécie de separação do ser humano em três pessoas. Ora, o ser humano é um ser integral e os pecados o atingem por inteiro.

Nas referências mencionadas, o comentarista mencionou alguns pecados como sendo apenas do espírito, como o orgulho, a soberba, a vanglória, a arrogância e a inveja. A primeira referência menciona a “altivez de espírito”:

“A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda”. (Pv 16.18).

A Nova Versão Transformadora (NVT), que é uma versão mais dinâmica traduziu este texto assim:

“O orgulho precede a destruição; a arrogância precede a queda.”

Conforme falamos no tópico anterior, os termos ruach (espírito) e nephesh (alma) são usados no Antigo Testamento de forma intercalada para se referir ao espírito, à alma, à própria pessoa ou apenas à parte imaterial. Neste texto de Provérbios 16.18, a expressão altivez do espírito não se refere à origem da altivez e sim à soberba do ser interior (alma e espírito). Em Provérbios 16.17, por exemplo, a Bíblia diz que Deus abomina os “olhos altivos”. Isso não significa que a altivez é um pecado do corpo.

Muitos pecados citados nas outras referências, como sendo pecados do espírito, são pecados que envolvem os sentimentos, emoções e pensamentos, que nós já apresentamos que são faculdades da alma. Além disso, já vimos também que a linha que divide alma e espírito é muito tênue, ou seja, é praticamente imperceptível do ponto de vista humano, a divisão entre alma e espírito, a ponto de alguns os considerarem como a mesma coisa. A Bíblia, de fato, menciona que há distinção e separação entre alma e espírito, mas não explica onde e como acontece. 

2. Raízes do pecado. 

Se não é possível saber se este ou aquele pecado tem origem no espírito ou na alma, podemos afirmar que todos os pecados procedem do nosso ser interior, chamado na Bíblia de espírito, alma e coração. Jesus condenou duramente o legalismo e a hipocrisia dos líderes religiosos da sua época, que se preocupavam apenas com o exterior. Ele ensinou que não é o exterior que contamina o ser humano, mas o que sai do seu interior, pois é de lá que procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituições, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.

No Sermão do Monte, Jesus ensinou que o pecado não acontece apenas quando se materializa no corpo, como pensavam os escribas e fariseus. O Mestre esclareceu vários pontos da Lei e incluiu as intenções na lista de pecados. Por exemplo, Ele disse que a Lei condena o assassinato, mas acrescentou que qualquer que odiar o seu irmão já está implicado nesse pecado. Da mesma forma, a Lei condena o adultério, e Jesus ampliou o entendimento, afirmando que o pensamento impuro também configura esse pecado.

Isso significa que todos os pecados têm origem em nossa parte imaterial — alma e espírito —, embora nem todos se concretizem no corpo, por diversos motivos. Uma pessoa pode odiar alguém e desejar matá-lo, mas não cometer o ato por falta de coragem ou de meios. Perante as leis humanas, isso não é crime; porém, diante de Deus, já houve pecado. Da mesma forma, alguém pode alimentar desejos impuros por outra pessoa e não consumar o ato sexual porque a outra parte não correspondeu. A pessoa não praticou o ato físico, mas cometeu o pecado de adultério (se casada) ou de fornicação (se solteira).

O comentarista chama nossa atenção para a ordem em que o pecado ocorre: do interior para o exterior — ao contrário da criação, que se deu no sentido inverso. Se não atentarmos para isso, cairemos no equívoco do legalismo, que é a supervalorização das regras e atos exteriores em detrimento do interior. Isso é hipocrisia, e foi duramente condenado por Jesus.

3. Vencendo o pecado. 

O pecado domina completamente o ser humano, tornando-o escravo e incapaz de libertar-se por suas próprias forças. Jesus afirmou: “todo aquele que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34). Assim, o ser humano peca porque é pecador por natureza, e é pecador por natureza porque herdou a corrupção espiritual do primeiro pecado.

Ao longo da história, surgiram diversas heresias relacionadas ao pecado e à forma de obter perdão. Uma das primeiras foi o ensino da reencarnação, que interpreta a vida como um ciclo de punições e recompensas baseadas em supostas existências anteriores. Esse pensamento, porém, não se sustenta à luz das Escrituras, que afirmam categoricamente: “aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disto o juízo” (Hb 9.27).

Também surgiram doutrinas de autopunição, sacrifícios pessoais e oferendas humanas, presentes em diferentes religiões, como tentativas de “pagar” pelos pecados cometidos. Outras correntes defendem que o ser humano pode, por seus próprios méritos, abandonar o pecado.

Até mesmo dentro do Cristianismo apareceram desvios doutrinários. O Pelagianismo, por exemplo, negava a doutrina da universalidade do pecado, afirmando que a queda afetou apenas Adão e Eva. Depois, o Semipelagianismo admitiu a corrupção da natureza humana, mas insistiu que o ser humano possui capacidade natural para iniciar o processo de salvação e viver sem pecar.

Entretanto, a Palavra de Deus ensina que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23), e que somente por meio do sacrifício de Cristo o pecador pode alcançar perdão e reconciliação, mediante a fé (Jo 1.29; Ef 2.8-10).

Mesmo após ser justificado pela fé em Cristo, o ser humano continua enfrentando a realidade do pecado. Por essa razão, necessita do processo contínuo da santificação, realizado progressivamente pelo Espírito Santo na medida em que nos submetemos ao Seu governo. Como vimos anteriormente, as raízes do pecado estão no interior do ser humano; portanto, isolar-se do mundo ou adotar medidas extremas contra o corpo — como fizeram alguns monges na Idade Média — não elimina o pecado. No máximo, impede que ele se manifeste externamente, mas suas raízes permanecerão vivas no espírito e na alma.

A verdadeira vitória sobre o pecado não está em esforços humanos, mas na ação redentora de Cristo e na obra santificadora do Espírito Santo, que transforma o interior do crente e o capacita a viver em obediência à vontade de Deus.

Ev WELIANO PIRES 

03 dezembro 2025

O SOPRO DIVINO: A CONCESSÃO DO ESPÍRITO

(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 10: Espírito – o âmago da vida humana)

No primeiro tópico, temos três subtópicos que nos mostram que Deus concedeu o espírito ao primeiro homem, após soprar em suas narinas, e ele se tornou um ser espiritual, com plena condição de ter comunhão com o seu Criador. Trataremos ainda da tênue divisão entre alma e espírito. 

1. O fôlego da vida. 

Como é padrão nas lições deste trimestre, o comentarista retorna ao período da criação do ser humano para explicar o surgimento do espírito humano. Em Gênesis 2.7 lemos:

“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.”

A primeira parte do versículo trata da formação do corpo humano, que se deu a partir de uma matéria criada anteriormente — o pó da terra. A palavra hebraica traduzida por “formou” é yâtsar, que significa formar, dar forma ou moldar um objeto com as mãos, como faz um oleiro com o barro. É diferente da palavra bârâ, que significa criar no sentido de chamar à existência algo que não existia, tendo sempre Deus como agente exclusivo.

Todas as demais criaturas de Deus foram criadas (bârâ) desse modo, por meio de Sua ordem. O corpo humano, porém, não surgiu a partir de uma ordem criadora dada à matéria. Ele foi formado pessoalmente por Deus, tendo a terra como matéria-prima. Após essa formação, o corpo permaneceu inerte e sem vida, e não recebeu a vida por simples comando divino, como ocorreu com os animais.

O próprio Deus comunicou ao homem o fôlego de vida (heb. neshamá chay) mediante um sopro em suas narinas. Esse fôlego não se reduz ao ato biológico da respiração, mas se refere à vida que procede diretamente de Deus. Já o verbo “soprar”, no texto hebraico (nâphach), pode significar respirar, soprar, cheirar, inflamar, entregar ou perder (a vida). Aqui, indica que Deus entregou vida ao ser humano.

Após esse sopro divino, a parte imaterial do ser humano — composta por alma e espírito — foi inserida no corpo, e ele se tornou um ser vivente (nephesh chayyah). Essa parte imaterial distingue o ser humano de todas as outras criaturas, pois o torna imagem e semelhança de Deus, capaz de pensar, sentir, exercer vontade, desenvolver consciência e relacionar-se com o Criador.

2. A singularidade do espírito. 

Quando o comentarista fala de singularidade do espírito é uma referência ao fato de que, apesar de o termo hebraico “ruach” - traduzido por espírito, e o termo nepesh - traduzido por alma, serem usados de forma intercambiável, para se referir à parte imaterial do ser humano, não são a mesma coisa. 

Tanto no Antigo como no Novo Testamento há referências à alma e ao espírito como componentes distintos, embora sejam inseparáveis. O comentarista usou como exemplo da distinção dos três componentes da tricotomia humana no Antigo Testamento, o texto de Jó 7.11, que diz:

“Por isso não reprimirei a minha boca [corpo]; falarei na angústia do meu espírito [espírito]; queixar-me-ei na amargura da minha alma [alma]”. 

Nas demais referências, ele chama a nossa atenção para o uso de alma e espírito, de forma alternada, para se referir aos dois componentes, que formam a parte imaterial do ser humano (Gn 35.18; 45.27; 1Sm 30.12; 1Rs 17.21; Sl 146.4; Ec.12.7).

No Novo Testamento também em vários textos, usa-se o termo alma para se referir aos dois componentes, como em Apocalipse 2.4: 

“... e vi as almas [Gr psychḗ] daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos…”. 

Almas neste texto, evidentemente se refere a alma e espírito, pois ambos não se separam, nem mesmo na morte. Da mesma forma, quando Jesus falou “perder a sua alma”, é uma referência a alma e espírito: 

“Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?” (Mc 8.36).

3. A tênue divisão. 

Na primeira lição deste trimestre, falamos sobre a tricotomia humana e explicamos que há outra corrente teológica no meio evangélico que crê na dicotomia. Ou seja, os dicotomistas afirmam que o ser humano é formado apenas por duas partes: uma material — o corpo — e outra imaterial — a alma ou o espírito, que consideram ser a mesma realidade. Entretanto, como vimos anteriormente, a Bíblia apresenta em vários textos que alma e espírito são distintos, embora inseparáveis.

Sobre a distinção entre alma e espírito a Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil afirma: 

“A alma e o espírito são substâncias espirituais incorpóreas e invisíveis. Apesar dessas características comuns, são entidades distintas, porém inseparáveis; são os dois lados da substância não física do ser humano, o “homem interior” (Ef 3.16). […] Ensinamos que o espírito é uma entidade distinta da alma, que, às vezes, é confundida com ela porque os dois elementos são inseparáveis e de substância imaterial”. 

Do ponto de vista humano, não é simples explicar ou determinar exatamente onde está a divisão entre alma e espírito. Por isso o comentarista usa a expressão “tênue divisão”, indicando tratar-se de algo sutil e difícil de perceber. Ainda assim, a Bíblia mostra claramente que essa divisão existe:

“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” (Hb 4.12)

“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1 Ts 5.23).

Concluímos, portanto, que apesar das discussões teológicas — com argumentos e fragilidades de ambos os lados — e da dificuldade humana de compreender exatamente onde ocorre a separação entre alma e espírito, a Palavra de Deus demonstra claramente que ambos são distintos, ainda que a divisão entre eles seja tênue.

Ev. WELIANO PIRES 

Referência: 

SOARES, Esequias. Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2017, p.42

01 dezembro 2025

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 10: ESPÍRITO — O ÂMAGO DA VIDA HUMANA

Data: 7 de dezembro de 2025

TEXTO ÁUREO:

“Peso da Palavra do Senhor sobre Israel. Fala o Senhor, o que estende o céu, e que funda a terra, e que forma o espírito do homem dentro dele.” (Zc 12.1).

VERDADE PRÁTICA:

“Uma vez livre, nossa alma recebe vida espiritual e dirige nosso corpo para adorar e servir ao Criador”. 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE:

Gênesis 2.7; Eclesiastes 12.7; Zacarias 12.1; João 4.24.


OBJETIVOS DA LIÇÃO:

I) Expor que o espírito humano foi concedido diretamente por Deus como parte essencial da natureza humana, capacitando o ser humano a ter comunhão com o Criador; II) Enfatizar que o pecado pode enraizar-se no espírito, gerando atitudes como soberba e inveja; III) Mostrar que a regeneração espiritual é a base para uma vida de adoração genuína, vivida “em espírito e em verdade”.


PALAVRA-CHAVE: ESPÍRITO

A palavra "espírito" na Bíblia é a tradução do termo hebraico ruach e de seu correspondente grego pneuma. O significado desses termos inclui vento, fôlego e espírito, sendo, portanto, uma palavra polissêmica, ou seja, com vários significados. O contexto determinará o sentido específico no texto.

No Antigo Testamento, o termo ruach aparece logo no segundo versículo de Gênesis, referindo-se ao Espírito de Deus: “... e o Espírito de Deus (Ruach Elohim) se movia sobre a face das águas”. Aqui, há uma referência clara à Pessoa do Espírito Santo.

Na ocasião da abertura do Mar Vermelho, o termo ruach se refere ao vento de forma literal e não a um espírito: “... e o Senhor fez retirar o mar por um forte vento (ruach) oriental, toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas” (Êx 14.21).

Em Eclesiastes 12.7, ruach é utilizado para se referir à parte imaterial do ser humano, composta por espírito e alma: “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito (ruach) volte a Deus, que o deu”.

Em outros textos, como Provérbios 18.14, ruach é usado para indicar o ânimo interior ou a disposição emocional: “O espírito (ruach) do homem aliviará a sua enfermidade, mas ao espírito (ruach) abatido quem o levantará?”.

O termo ruach também pode se referir aos anjos, como no Salmo 104.4: “Faz dos seus anjos espíritos (ruach), dos seus ministros (malak) um fogo abrasador”. Embora malak seja o termo mais comum para se referir aos anjos no Antigo Testamento, significando "mensageiro" ou "ministro", ruach também é utilizado para essa finalidade.

Além disso, ruach pode se referir aos demônios, que são anjos que se rebelaram contra Deus: “E o espírito do Senhor (Ruach Elohim) se retirou de Saul, e o assombrava um espírito mau (ruach rah) da parte do Senhor”. Neste caso, o adjetivo rah significa "mau" ou "maligno".

No Novo Testamento, o termo grego pneuma, correspondente ao hebraico ruach, também pode significar vento (Jo 3.8), o espírito humano (1 Co 2.11), um anjo (Hb 1.14), um espírito maligno (Mc 9.25) ou o Espírito Santo (At 13.2). Além disso, o verbo pneo significa soprar ou respirar (Mt 7.25; At 17.25).

Para esta lição, vamos focar no sentido de espírito como o âmago, o centro profundo do ser humano — a parte que transcende a vida física e se conecta com Deus.

INTRODUÇÃO

Após estudarmos três lições sobre o corpo humano e cinco sobre a alma humana e suas faculdades, iniciamos agora três lições dedicadas ao espírito humano. Nesta primeira lição, veremos que o espírito é o âmago, ou seja, a parte mais profunda do ser humano, que transcende a vida física e se conecta com Deus. 

Abordaremos como o Criador nos comunicou o espírito e faremos uma análise das distinções entre espírito e alma. Também discutiremos a importância do espírito para nossa comunhão com Deus, especialmente nos processos de santificação e adoração. 

Nas duas lições seguintes, estudaremos sobre o espírito humano e as disciplinas cristãs, e sobre a profunda comunhão entre o espírito humano e o Espírito de Deus. Por fim, teremos uma lição conclusiva, sobre o assunto estudado neste trimestre, com o título: Preparando o corpo, a alma e o espírito para a Eternidade. 

PALAVRA-CHAVE: ESPÍRITO

A palavra "espírito" na Bíblia é a tradução do termo hebraico ruach e de seu correspondente grego pneuma. O significado desses termos inclui vento, fôlego e espírito, sendo, portanto, uma palavra polissêmica, ou seja, com vários significados. O contexto determinará o sentido específico no texto.

No Antigo Testamento, o termo ruach aparece logo no segundo versículo de Gênesis, referindo-se ao Espírito de Deus: “... e o Espírito de Deus (Ruach Elohim) se movia sobre a face das águas”. Aqui, há uma referência clara à Pessoa do Espírito Santo.

Na ocasião da abertura do Mar Vermelho, o termo ruach se refere ao vento de forma literal e não a um espírito: “... e o Senhor fez retirar o mar por um forte vento (ruach) oriental, toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas” (Êx 14.21).

Em Eclesiastes 12.7, ruach é utilizado para se referir à parte imaterial do ser humano, composta por espírito e alma: “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito (ruach) volte a Deus, que o deu”.

Em outros textos, como Provérbios 18.14, ruach é usado para indicar o ânimo interior ou a disposição emocional: “O espírito (ruach) do homem aliviará a sua enfermidade, mas ao espírito (ruach) abatido quem o levantará?”.

O termo ruach também pode se referir aos anjos, como no Salmo 104.4: “Faz dos seus anjos espíritos (ruach), dos seus ministros (malak) um fogo abrasador”. Embora malak seja o termo mais comum para se referir aos anjos no Antigo Testamento, significando "mensageiro" ou "ministro", ruach também é utilizado para essa finalidade.

Além disso, ruach pode se referir aos demônios, que são anjos que se rebelaram contra Deus: “E o espírito do Senhor (Ruach Elohim) se retirou de Saul, e o assombrava um espírito mau (ruach rah) da parte do Senhor”. Neste caso, o adjetivo rah significa "mau" ou "maligno".

No Novo Testamento, o termo grego pneuma, correspondente ao hebraico ruach, também pode significar vento (Jo 3.8), o espírito humano (1 Co 2.11), um anjo (Hb 1.14), um espírito maligno (Mc 9.25) ou o Espírito Santo (At 13.2). Além disso, o verbo pneo significa soprar ou respirar (Mt 7.25; At 17.25).

Para esta lição, vamos focar no sentido de espírito como o âmago, o centro profundo do ser humano — a parte que transcende a vida física e se conecta com Deus.

TÓPICOS DA LIÇÃO

I. O SOPRO DIVINO: A CONCESSÃO DO ESPÍRITO

No primeiro tópico, temos três subtópicos que nos mostram que Deus concedeu o espírito ao primeiro homem, após soprar em suas narinas, e ele se tornou um ser espiritual, com plena condição de ter comunhão com o seu Criador. Trataremos ainda da tênue divisão entre alma e espírito. 

II. ESPÍRITO, PECADO E SANTIFICAÇÃO

Neste segundo tópico, temos também três tópicos que falam a respeito dos pecados que podem se enraizar no espírito. Trataremos também das raízes do pecado que está na parte imaterial do ser humano (alma e espírito), embora alguns se manifestem também através do corpo. Por fim, veremos como vencer a força do pecado.

III. REGENERAÇÃO E ADORAÇÃO

No terceiro tópico, temos três tópicos a respeito da regeneração e adoração. Iniciaremos com a experiência espiritual do Novo Nascimento. Veremos também que é indispensável a compreensão da obra do novo nascimento para uma correta adoração. Por fim, veremos que a verdadeira e pura adoração nasce de um espírito quebrantado, ou seja, da simplicidade, que não busca a exaltação humana.


Ev. WELIANO PIRES

ESPÍRITO — O ÂMAGO DA VIDA HUMANA

(SUBSÍDIO DA REVISTA ENSINADOR CRISTÃO/CPAD)

Nesta lição, veremos outra particularidade do interior humano. Assim como esboçamos o corpo e a alma nas lições anteriores, o espírito também constitui a tríplice formação humana. Semelhante à alma, que precisa ser cuidada a fim de que a nossa afetividade e racionalidade estejam santificados para Deus, nosso espírito também carece de estar em profunda comunhão e unidade com o Espírito de Deus. O espírito é a parte do interior humano, pelo qual, podemos ter contato com o sobrenatural divino. Essa distinção da alma pode ser notada de maneira mais clara quando oramos ou expressamos adoração a Deus. Nosso interior sente a presença do Espírito Santo e recebemos o seu fortalecimento espiritual, por exemplo, ao término de um culto. Essa experiência é uma evidência notável de que o nosso ser é constituído não apenas de corpo e alma, mas também do espírito que carece de fortalecimento e revestimento (Ef 6.10,11; Cl 3.10).

Vale destacar que nosso Senhor mencionou que os verdadeiros adoradores são aqueles que adoram em “espírito e em verdade” (cf. Jo 4.23,24). Note que a verdadeira e pura adoração é percebida de maneira transparente pelo Espírito de Deus ao sondar o nosso interior, a saber, o nosso espírito e, portanto, não há nada que possamos ocultar aos seus olhos. Assim sendo, não há como ocultar quem somos em nosso mais íntimo interior. Por essa razão, uma adoração verdadeira só pode ser oferecida por aqueles que já experimentaram do novo nascimento.

Conforme discorre o Comentário Bíblico Pentecostal — Novo Testamento (CPAD), “[...] o significado de ‘maneira verdadeiramente espiritual diz respeito à natureza do crente que Jesus criou pelo Espírito. O nascido de novo assume a natureza espiritual de Deus, e assim tem a capacidade de comunicar-se e comungar com Deus. Num estado não-regenerado, ninguém entende o ensino de Jesus, que é de cima. Além do mais, a afirmação ‘Deus é espírito’ do versículo 24 alude à essência de Deus, mas indica que Deus é de natureza espiritual. Para que as pessoas se comuniquem com Ele, elas também têm de ter uma natureza semelhante.” (Volume 1, 2003, pp.512,513). 

Nessa perspectiva, podemos entender que o nosso espírito também precisa ser santificado e consagrado a Deus. Qualquer crente que almeja servir a Deus com sinceridade e verdade, precisa abster o seu espírito de qualquer distração que o faça perder de vista a adoração completa a Deus. Afinal de contas, o Senhor não divide a sua glória com ninguém (Is 42.8). Que o nosso espírito, alma e corpo sejam dedicados com exclusividade para adorar a Deus (1Ts 5.23).

FONTE: Revista Ensinador Cristão, CPAD, Ed. 103, p.41.

EDIFICAÇÃO E FRUTO DO ESPÍRITO

(Comentário do 3º tópico da lição 12: O espírito humano e o Espírito de Deus). No terceiro e último tópico, abordaremos a edificação do espí...