13 março 2025

SOTERIOLOGIAS INADEQUADAS NA ANTIGUIDADE

(Comentário do 2° tópico da Lição 11: A Salvação não é obra humana). 

Ev. WELIANO PIRES

No segundo tópico, falaremos de algumas soteriologias inadequadas da antiguidade. A primeira delas é a doutrina da reencarnação, tão antiga quanto a humanidade, que originou-se no Hinduísmo e está presente em vários grupos religiosos. Na sequência, falaremos dos galacionistas que é outro nome dado aos legalistas judaizantes opositores do apóstolo Paulo na província da Galácia. Por último falaremos dos gnósticos, que tinham uma visão dualista do universo, o maniqueísmo.

1. Os reencarnacionistas. A reencarnação é a crença no retorno da alma ou da essência humana à vida em outro corpo. Esta crença é tão antiga quanto a humanidade e está presente em várias religiões milenares como Hinduísmo, Budismo, Jainismo e Sikhismo. Na atualidade, vários grupos religiosos têm esta doutrina como base dos seus ensinos. Segundo os adeptos da reencarnação, o ser humano retorna à vida em outro corpo para o aperfeiçoamento moral, espiritual e físico, que eles chamam de “evolução espiritual”. 


Há vários tipos de reencarnação nas religiões orientais. Algumas religiões crêem até que o ser humano pode se reencarnar em corpos de animais, como os insetos. Baseando-se nisso, os adeptos dos Hare Krishna não matam baratas, para não correr o risco de matar um antepassado que morreu. Aqui no Ocidente, a religião reencarnacionista mais conhecida é o Espiritismo Kardecista, mas estes não crêem na possibilidade de reencarnação do ser humano em animais. 


O Espiritismo se apresenta como cristão e distorce alguns textos bíblicos e negam outros, segundo as suas conveniências. Os espíritas costumam usar textos bíblicos como Mateus 17.10-13, querendo dar base bíblica à reencarnação. Com base neste texto, dizem que João Batista seria a reencarnação de Elias. Ora, Moisés morreu há cerca de 1.400 anos a.C., mas reapareceu sendo o mesmo Moisés no episódio da Transfiguração e não como uma reencarnação de Moisés. No caso de Elias, ele não morreu e, portanto, não poderia reencarnar  (2 Rs 2.11). Se tivesse morrido e reencarnasse, teria que aparecer como João Batista que seria a sua última reencarnação e não como Elias. 


O que Jesus disse neste texto é que João Batista veio na virtude e no espírito de Elias (Lc 1.1-17), pois ele se vestia como Elias: vestes de pelo e cinto de couro (2 Rs 1.8 e Mt 3.4) e ambos viveram no deserto (l Rs 19.9-10 e Lc 1.80); As pregações de ambos eram contundentes contra reis ímpios (l Rs 21.20-27 e Mt 14.1-4). O próprio João Batista, quando perguntado se era Elias, disse que não era (João 1.21). 


Os reencarnacionistas não aceitam a idéia de um salvador e não crêem que o sacrifício de Cristo tenha efeito salvífico. Acreditam que há um processo de sucessivas reencarnações até que a Lei da causa e efeito, que eles chamam de carma, seja completamente quitada, por meio das boas obras praticadas. Se não praticar boas obras em uma vida, a pessoa terá que regredir ao processo anterior para o devido aperfeiçoamento.  


São doutrinas de demônios, contrárias à Palavra de Deus, com o objetivo de negar o sacrifício vicário de Cristo e manter as pessoas na escravidão do pecado. A Bíblia ensina claramente que aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo (Hb 9.27). Além disso, a Bíblia ensina que a única forma de se obter a salvação é pela Graça de Deus, mediante a fé em Cristo. É dom de Deus e não vem de obras humanas (Ef 2.8-10). 


2. Os galacionistas. Estudamos sobre esta heresia na Lição 02. A palavra galacionista deriva do termo Galácia e se refere aos judaizantes da Galácia, que pregavam a necessidade de se guardar a Lei Mosaica para obter a salvação. Entretanto, este termo não é muito adequado, pois não eram apenas os gálatas que eram judaizantes. Os primeiros legalistas surgiram em Jerusalém. A maioria dos judeus convertidos ao cristianismo eram legalistas e precisaram ser orientados pelos apóstolos, principalmente por Paulo. Até mesmo o apóstolo Pedro tinha esse pensamento e precisou ser orientado por Deus no caso do Centurião Cornélio e depois foi repreendido por Paulo. 


Nas Epístolas aos Romanos, aos Gálatas e aos Colossenses, Paulo sempre trouxe orientações sobre isso. Em Romanos 14, Paulo dedicou todo o capítulo para falar daqueles que proibiam certos alimentos como a carne. Aos Gálatas, o apóstolo falou sobre os judaizantes que queriam impor as obras da Lei como forma de justificação e disse: “Eu protesto a todo o homem, que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei.  Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído”. (Gl 5.3,4). Da mesma forma, aos Colossenses, Paulo falou contra os legalistas dizendo: “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”. (Cl 2.18).


Na atualidade, o grupo religioso que mais pratica o legalismo como forma de se alcançar a Salvação é a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Curiosamente, o comentarista não mencionou esta seita em nenhuma das lições deste trimestre. Os adventistas pregam abertamente a necessidade de se guardar o sábado e abster-se de vários alimentos como condição para a salvação. Além disso, crêem nas profecias de Ellen Gould White como Palavra inspirada por Deus, igual às Escrituras. Vejamos o que dizem os adventistas: 


“CREMOS QUE:… Ellen White foi inspirada pelo Espírito Santo, e seus escritos, o produto dessa inspiração, têm aplicação para os Adventistas do Sétimo Dia … NEGAMOS QUE: A qualidade ou grau de inspiração dos escritos de Ellen White sejam diferentes dos encontrados nas Escrituras Sagradas. (Revista Adventista, Fevereiro de 1984, pág. 37).


Há, infelizmente, no meio evangélico, Igrejas que são legalistas e colocam vários costumes e doutrinas humanas como condição para a salvação. A nossa Igreja no passado foi muito legalista, principalmente contra as mulheres. Não podiam passar nada nas unhas ou no cabelo, apenas lavar. Não podiam usar nenhum tipo de joias, além de relógio e aliança. Os cabelos e sobrancelhas teriam que ser absolutamente naturais. Não era permitido cortar as pontas dos cabelos ou depilar nada. Televisão, cinema, futebol, praia, etc. eram terminantemente proibidos. Em algumas Igrejas ainda é assim ou é parecido. Há conjuntos de regras, sem nenhum fundamento bíblico, que se forem descumpridas geram disciplina e exclui a pessoa do Céu. 


3. Os gnósticos. O gnosticismo teve origem em várias seitas religiosas anteriores ao Cristianismo, mas nos primeiros séculos da era cristã, misturou-se ao Cristianismo. Posteriormente, foi declarado como pensamento herético. A palavra gnóstico deriva do termo grego “gnoses”, que significa conhecimento. É daí que vem as palavras portuguesas prognóstico e diagnóstico. Gnóstico, portanto, é a pessoa que adquire um suposto conhecimento especial e vive segundo esse conhecimento.


O Gnosticismo baseia-se, essencialmente, em duas premissas falsas: 


a. Dualismo em relação ao espírito e à matéria. Acreditam que a matéria é inerentemente má e que o espírito é bom. Partindo dessa premissa, acreditam que qualquer coisa feita no corpo, até mesmo o pior dos pecados, não tem valor algum, pois a vida verdadeira existe no reino espiritual apenas. Por causa desse entendimento equivocado, negam a encarnação de Cristo. Dizem que o corpo de Jesus era apenas aparente e que Ele não foi crucificado. Para combater esta heresia, o apóstolo João escreveu que "qualquer espírito que não confessa que Jesus veio em carne não é de Deus". (1 Jo 4.1). 

b. Conhecimento elevado ou uma “verdade superior", conhecida apenas por poucos.  Os gnósticos se consideravam pensadores com conhecimento profundo e tentavam explicar os mistérios relacionados à criação  e o mal. Este suposto conhecimento, que alegavam possuir, não vinha da Bíblia ou de estudos filosóficos, mas de um suposto plano místico e superior de existência. Por causa desta suposta profundidade de conhecimento, eles se opunham à simplicidade da fé cristã.


Para os gnósticos havia três tipos de pessoas no mundo:

a. Os instruídos, ou espirituais, que naturalmente eram eles mesmos;

b. Os cristãos comuns, em quem se equilibram matéria e espírito;

c. Os pagãos, ou materiais, nos quais o espírito é subjugado pela matéria.


Sobre a pessoa de Jesus, os gnósticos ensinavam que ao ser batizado, Jesus teria recebido um "eon", que eles consideravam ser uma entidade superior, que fez dele um enviado de Deus, capaz de levar os homens à verdadeira “gnose”, o evangelho da redenção através do conhecimento. Alguns defendem que há um gnosticismo pagão e um gnosticismo cristão. O fato é que o pensamento gnóstico é absolutamente incompatível com a fé cristã, sob qualquer aspecto. 


O único conhecimento que o ser humano precisa para ser salvo é a Palavra de Deus, pois é ela que testifica de Jesus Cristo, o único Salvador (Jo 5.39). Entretanto, o conhecimento da Palavra de Deus por si só, não salva ninguém do pecado. O conhecimento bíblico apenas apresenta o salvador que é Jesus Cristo, o Filho de Deus. O homem pode conhecer a Bíblia de Gênesis a Apocalipse e interpretá-la corretamente; conhecer profundamente os idiomas originais da Bíblia: hebraico, amamaico e grego; conhecer toda a patrística, os credos, confissões, tratados teológicos e ter pós doutorado em teologia. Se não crer em Jesus com e não nascer de novo não será salvo. 


REFERÊNCIAS: 

SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 

Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 41.

Bíblia de Estudo Apologia Cristã. 1ª Edição.  RIO DE JANEIRO: CPAD, 2017, pp.1878, 1866.

JUNÍOR: André Luiz Alves. Reencarnação: aspectos históricos e científicos. Publicado em: https://www.oconsolador.com.br/ano9/419/especial.html

SOARES, Esequias. Teoria da reencarnação reduzida a cinzas. Publicado em: https://www.cacp.app.br/teoria-da-reencarnacao-reduzida-a-cinzas/.

MARTINEZ, João Flávio. Adventismo: Por que alguns evangélicos consideram o Adventismo uma seita não cristã? Publicado em: https://www.cacp.app.br/category/seitas/adventismo/page/2/

12 março 2025

A SALVAÇÃO SOB A GRAÇA DE DEUS

(Comentário do 1º tópico da Lição 11: A Salvação não é obra humana). 

Ev. WELIANO PIRES 

No primeiro tópico, falaremos da Salvação como um ato da Graça de Deus. Falaremos da descrição do estado espiritual humano, com base nas expressões usadas pelo apóstolo Paulo em Efésios 2.1-3, para se referir à dura realidade do pecado. Na sequência, falaremos da expressão “mortos em ofensas e pecados”, usada por Paulo em Efésios 2.1,5, para se referir ao estado de queda espiritual do ser humano. Por último, faremos uma exegese do texto de Efésios 2.8-10, que fala da Salvação como um dom de Deus, obtida pela Graça e mediante a fé.

1. A descrição do estado espiritual humano (vv.1-3). Na lição passada vimos que o pecado de Adão e Eva trouxe consequências não apenas para eles, mas para a sua posteridade. Sendo assim, a natureza humana por completo foi corrompida pelo pecado. Sobre isso, assim está escrito na Declaração de Fé das Assembléias de Deus: 

"A Queda no Éden arruinou toda a humanidade tão profundamente que transmitiu a todos os seres humanos a tendência ou inclinação para o pecado. Não somente isso, contaminou toda a humanidade [...]. A natureza moral foi corrompida, e o coração humano tornou-se enganoso e perverso. Todas as pessoas estão mortas em ofensas e pecados; são inimigas de Deus e escravas do pecado. A corrupção do gênero humano atingiu o homem em toda a sua composição — corpo, alma e espírito [....] Isso prejudicou todas as suas faculdades, quais sejam: intelecto, emoção, vontade, consciência, razão e liberdade. Portanto, o homem por si mesmo não consegue voltar-se para Deus sem o auxílio da graça divina.”

Para se referir a esta deplorável situação espiritual em que o ser humano se encontra, o apóstolo Paulo usou algumas expressões, no capítulo 2 da Epístola aos Efésios, que retratam muito bem a condição do ser humano sem Deus: “mortos em ofensas e pecados” (v.1); andar “segundo o curso deste mundo” (v.2); “segundo o príncipe das potestades do ar” (v.2b); “do espírito que, agora, opera nos filhos da desobediência” (v.2c); “andávamos nos desejos da nossa carne” (v.3); e “éramos por natureza filhos da ira” (v.3b). 

Todas estas expressões paulinas mostram que o homem sem Deus está preso ao pecado de tal forma que jamais poderia se libertar com as suas próprias forças. Jesus disse certa vez aos judeus que “todo aquele que comete pecado é escravo do pecado” (Jo 8.34). O estado espiritual do ser humano sem Deus é desolador. É como alguém que está em uma balsa, com as mãos e pés amarrados,  no meio de um correnteza,  em direção a um precipício. Ou ainda, como alguém que está em um poço há vários metros de profundidade. Por mais que ele pule ou se esforce, não conseguirá sair dali sozinho. Se não vier alguém de fora socorrê-lo, o seu fim será trágico e não há nada que a própria pessoa possa fazer. 

2. Mortos em ofensas e pecados (vv.1,5). Antes de usar essas expressões que descrevem a situação espiritual caótica do homem sem Deus, Paulo usou outras expressões, referindo-se aos crentes de Éfeso: “E vos vivificou” (v.1) e “nos vivificou juntamente com Cristo” (v.5). Estas expressões nos mostram que a situação desesperadora deles havia ficado no passado, porém, a ação de vivificar ou dar vida aos que estavam mortos em suas ofensas e pecados é uma ação de Deus.

No versículo 3, do primeiro capítulo da Epístola aos Efésios, Paulo diz: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo…” A partir deste louvor a Deus, o apóstolo cita uma série de ações de Deus: Nos abençoou, nos elegeu, nos predestinou, etc. O capítulo 2 é uma continuação deste texto. Então, quem nos vivificou, quando estávamos irremediavelmente mortos em ofensas e pecados foi Deus, na Pessoa do Espírito Santo, que é o agente da Salvação. 

O comentarista fez questão de trazer um esclarecimento sobre as expressões paulinas “mortos em pecados e ofensas” (v.1) e “mortos em nossas ofensas” (v.5). Ele explicou que isso não deve ser entendido literalmente, como se o ser humano estivesse inerte como um corpo sem vida. Mortos aqui, significa separados de Deus. Aliás, este é o sentido de morte na Bíblia. Não significa o fim da existência, como pregam os aniquilacionistas. A morte física é a separação da parte material (corpo) e a parte imaterial (alma e espírito). Da mesma forma, a morte espiritual significa a separação entre o homem e Deus e não o seu aniquilamento. 

Esta explicação se fez necessária, porque os Calvinistas usam este texto para dizer que todo o processo da Salvação é realizado apenas por Deus, sem nenhuma participação humana, nem mesmo para aceitar a salvação. Este pensamento teológico é chamado de Monergismo, palavra derivada de dois termos gregos: “monos” (um ou único) e “ergon” (esforço, trabalho). Segundo esta visão, Deus fez tudo na mecânica da Salvação, elegendo de antemão, quem seria salvo e quem não seria (Dupla predestinação). Segundo este pensamento os que foram eleitos são salvos e não podem resistir a Deus. 

Evidentemente, o homem estando separado de Deus, não tinha condições de voltar-se para Deus. Todas as iniciativas para salvá-lo, vieram de Deus. Foi Ele quem nos amou, deu o Seu Filho para morrer por nós e o Espírito Santo nos capacita a crer em Cristo para sermos salvos. De forma preveniente, a Graça de Deus nos foi dada e nos tornou capazes de entendermos o Evangelho. Mas, Deus não decide por nós, pois Ele nos deu o livre arbítrio. 

Em vários textos bíblicos, podemos ver Deus colocando diante do ser humano, o direito de escolher, como em Lucas 9.23: “E dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me”. Vemos também situações em que as pessoas resistiram a Deus, como em Atos 7.51: “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim, vós sois como vossos pais”. 

3. A exegese dos versículos 8-10. No conhecido texto de Efésios 2.8-10, o apóstolo Paulo falou: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas”. Este é um dos mais contundentes textos bíblicos, a respeito da Salvação como uma obra divina. O texto é autoexplicativo e elimina qualquer possibilidade de mérito ou esforço humano, para alcançar a Salvação. 

Aqui, o comentarista faz uma exegese do texto bíblico e explica o significado do termo grego “Charis”, traduzido por Graça. Graça é um favor concedido a quem não merece, sem nenhuma obrigação de se fazê-lo. Portanto, quando Paulo disse: “pela graça sois salvos”, significa que fomos salvos unicamente pelo favor de Deus e não temos mérito algum nisso, como ele mesmo completa: “Isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie”. Como diz o clássico hino Amazing Grace, de John Newton:

Graça maravilhosa, doce som!
Salvou a um miserável como eu
Eu fui agraciado com este dom
Era cego e vistas Deus me deu. 

Quanto à graça ser a origem da salvação, não há divergência entre os evangélicos. Qualquer Igreja considerada evangélica concorda com isso. Entretanto, em relação à segunda parte: “Por meio da fé”, os calvinistas, ensinam que a fé também vem de Deus e que o homem não decide crer. De fato, é o Espírito que nos convence do nosso estado de miséria espiritual e nos faz entender o Evangelho e nos capacita a crer em Cristo. Mas, Ele não nos obriga a crer. Jesus usou diversas vezes a conjunção condição “se”, antes do verbo crer. Isso significa que a pessoa pode escolher crer ou não: “Não te disse, que se creres, verás a glória de Deus?”. (Jo 11.40). 

11 março 2025

Graça Maravilhosa (Amazing Grace)

 

Graça maravilhosa, doce som!
Salvou a um miserável como eu
Eu fui agraciado com este dom
Era cego e vistas Deus me deu

Perdido estava e fui encontrado
A graça de Deus, me perdoou
A temer, meu coração foi ensinado
Os meus medos, a Graça aliviou.

Esta graça pareceu tão preciosa
Quando nela resolvi acreditar
Vivi em perigos e vias dolorosas
Mas, esta Graça me fez descansar.

Jesus me fez a bendita promessa 
Sua Palavra me traz esperança
Os encantos da vida pregressa
Não me tirarão a perseverança.

Cristo será sempre o meu escudo 
Nele eu vivo e Ele vive em mim
Enquanto esta vida durar, não mudo
Pretendo andar com Ele até o fim.

Quando tudo nesta vida findar
A carne, as riquezas, o coração 
E tudo o que é mortal, enfim, cessar
No Céu, receberei eternal galardão.

Breve esta terra se dissolverá
Como a neve derrete no calor 
O brilho do sol desaparecerá
Mas, eu estarei com meu Senhor

Quando dez mil anos se passarem
Na glória, como o sol brilharmos
E todos os salvos a Deus louvarem
Não serão menos dias para adorarmos.

Weliano Pires
Minha versão em português. 
Letra em inglês de John Newton. 

10 março 2025

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 11: A SALVAÇÃO NÃO É OBRA HUMANA

 

Ev. Weliano Pires 
AD-BELÉM/São Carlos, SP.


Na lição passada estudamos sobre a doutrina do pecado, especificamente sobre a Queda do ser humano no Éden e, consequentemente, a corrupção da natureza humana pelo pecado. Apresentamos também as heresias do Pelagianismo e Semipelagianismo que, respectivamente, negam e distorcem a doutrina do advento do pecado. Vimos também como estas heresias se apresentam na atualidade, através das religiões reencarnacionistas, da Ciência Cristã, do Islamismo e outras religiões. 

Nesta lição veremos o ensino bíblico a respeito da Salvação. Esta doutrina é chamada na Teologia Sistemática de Soteriologia, palavra derivada de dois termos gregos: “soteria” (Salvação) e “logia” (estudo). Após a Queda da raça humana, todos os seres humanos nascem corrompidos pelo pecado e necessitam da Salvação. Uma das maiores discussões entre as religiões que não negam o advento do pecado é sobre o processo da salvação. 

Este foi um dos principais assuntos que deram origem à Reforma Protestante no Século XVI. Três dos cinco pilares da Reforma estão ligados a este tema: Sola Gratia (Somente a Graça), Sola Fide (Somente a Fé) e Solus Christus (Somente Cristo). A Bíblia deixa claro que a salvação é um ato da Graça divina, obtido pelos méritos de Cristo e não por obras ou méritos humanos. 

No primeiro tópico, falaremos da Salvação sob a Graça de Deus. Falaremos da descrição do estado espiritual humano, com base nas expressões usadas pelo apóstolo Paulo em Efésios 2.1-3, para se referir à dura realidade do pecado. Na sequência, falaremos da expressão “mortos em ofensas e pecados”, usada pelo apóstolo Paulo em Efésios 2.1,5, para se referir ao estado de queda espiritual do ser humano. Por último, faremos uma exegese do texto de Efésios 2.8-10, que fala da Salvação como um dom de Deus, obtida pela Graça, mediante a fé.

No segundo tópico, falaremos de algumas soteriologias inadequadas da antiguidade. A primeira delas é a doutrina da reencarnação, tão antiga quanto a humanidade, que originou-se no Hinduísmo e está presente em vários grupos religiosos. Na sequência, falaremos dos galacionistas que é outro nome dado aos legalistas judaizantes opositores do apóstolo Paulo na província da Galácia. Por último falaremos dos gnósticos, que tinham uma visão dualista do universo, o maniqueismo.

No terceiro tópico, falaremos das soteriologias inadequadas atuais. A primeira delas é o Islamismo, segundo o qual, se as boas ações de uma pessoa superarem as más, esta irá para o paraíso. Na sequência, falaremos da soteriologia das Testemunhas de Jeová, a qual ensina, entre outras coisas, que a salvação não está em Cristo, mas na organização delas. Por último, falaremos do confuso ensino do Mormonismo sobre a salvação. Eles creem numa salvação geral, na qual os não mórmons são castigados e depois liberados para a salvação; e numa perspectiva individual, em que a salvação é obtida pela fé em Jesus e pela obediência às leis e às ordenanças. 

REFERÊNCIAS: 


SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 

Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 41.

Bíblia de Estudo Apologia Cristã. 1ª Edição.  RIO DE JANEIRO: CPAD, 2017, pp.1878, 1866.

08 março 2025

O PERIGO DESSA HERESIA PARA A VIDA DO CRENTE E DA IGREJA

(Comentário do 3º tópico da Lição 10: O pecado corrompeu a Natureza Humana). 


Ev. WELIANO PIRES


No terceiro tópico, falaremos do perigo desta heresia para a vida do crente e da Igreja. Veremos os pensamentos pelagianistas da atualidade, que se manifestam nas religiões reencarnacionistas, na chamada Ciência Cristã e no Mormonismo. Por último falaremos do perigo da falta de conhecimento bíblico, que torna as pessoas vulneráveis diante de falsos ensinos que lhes parecem corretos, mas conduzem à perdição.


1. Pensamentos pelagianistas em nossos dias. Na atualidade há muitas religiões que assim como o Pelagianismo negam a Queda do homem no Éden, conforme o registro bíblico. Alguns vão muito além disso e chegam ao cúmulo de negar a existência do pecado na atualidade. Há ainda aqueles que, apesar de crer no pecado de Adão e Eva, negam que a transgressão deles tenha se transferido para a sua posteridade e, portanto, cada um é responsável apenas pelos pecados que vier a cometer. 

O Judaísmo, embora aceite que Adão e Eva desobedeceram a Deus, não crêem que isso corrompeu a natureza humana. Segundo a tradição dos rabinos, na natureza humana há uma inclinação má e outra boa. Por isso, Deus lhes deu as leis para que pudessem vencer a inclinação para o mal. No Judaísmo, o ser humano não herdou a natureza pecaminosa e é responsável apenas pelos pecados que eventualmente cometer. 

A posição do Islamismo é semelhante à do Judaismo. Embora acreditem que Adão e Eva pecaram, não creem que os seres humanos herdaram a natureza pecaminosa de Adão.  No Islamismo, o seres humanos se tornam pecadores apenas quando pecarem conscientemente. Para os muçulmanos, a vida humana na terra não foi uma punição pelo pecado, mas fazia parte do plano de Deus. Acreditam também que Adão se arrependeu e foi perdoado por Deus. 

No Espiritismo, Adão e Eva são apenas metáforas. Para os espíritas não existe o pecado original. O que existe é “a lei inexorável de causa e efeito ou cármica, presente nas escrituras sagradas de todas as religiões. Ela é chamada também de lei da colheita da semeadura, semeadura essa que é fruto do livre-arbítrio ou da nossa vontade, e cuja colheita é obrigatória.” Outras religiões reencarnacionistas pensam da mesma forma e também negam a Queda no Éden. 

O comentarista mencionou também a Ciência Cristã, que não tem nada de científico e muito menos de cristã. Trata-se de uma seita otimista dos Estados Unidos, fundada  por Mary Baker Glover Patterson Eddy, que pertenceu à Igreja Congregacional e depois de muitos problemas de depressão, teve contato com o ocultismo. Mary Eddy escreveu o livro “Ciência e saúde com a chave das Escrituras”, que se tornou a base dos ensinos desta seita. A Ciência Cristã, assim como a Seicho-No-Ie, negam a realidade da matéria e, portanto, dizem que não existe pecado, sofrimento, nem doenças. O que existe, segundo eles, é a ideia equivocada de que estas coisas existem.

Na sequência, o comentarista mencionou também a posição do Mormonismo. Embora eles não neguem o pecado de Adão e Eva, dizem que o pecado deles gerou a morte física e separou a humanidade de Deus, mas negam que todos se tornaram pecadores por causa do pecado do primeiro casal: Devido à Queda de Adão e Eva, todas as pessoas vivem em uma condição decaída, separados de Deus e sujeitos à morte física. Contudo, não estamos condenados pelo que muitos chamam de “pecado original”. Em outras palavras, não somos responsáveis pela transgressão de Adão no Jardim do Éden. O Profeta Joseph Smith disse: “Cremos que todos os homens serão punidos por seus próprios pecados e não pela transgressão de Adão” (Regras de Fé 1:2).


2. O perigo. Conforme colocou o comentarista, há um grande perigo quando não conhecemos bem as doutrinas da nossa Igreja. Isso nos torna presas fáceis dos falsos ensinos que podem ser atraentes, mas não são corretos à luz da Bíblia. Muitas pessoas em nossas Igrejas não conhecem o básico das Escrituras, pois não frequentam a Escola Dominical e os cultos de ensino. Além disso, não estudam a Bíblia e andam atrás de revelações e mensagens de autoajuda.

Há muitos ensinos errados sobre o pecado nas religiões que não seria possível estudar tudo pormenorizado em apenas um tópico. Mas o que vimos aqui, comparado com a doutrina bíblica do pecado que vimos no primeiro tópico, serve para percebermos a diferença abissal que há entre estes ensinos e a Bíblia. 

É muito importante também, nos atentarmos às coisas que alguns pregam em nosso meio sobre isso. Há muitos pregadores de autoajuda e os chamados coaching, que buscam apenas popularidade e ganhos financeiros. Estes pregadores não gostam de falar sobre pecado, para não causar mal estar em seus ouvintes. Tratam os pecadores como “pessoas boas” que “precisam despertar o bem que há em seu interior”. Isso é “outro evangelho” e deve ser considerado anátema (Gl 1.8). 


REFERÊNCIAS: 

SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 
Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 41.
Bíblia de Estudo Pentecostal. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1995, pp.34-36
GILBERTO, Antônio, et al. Teologia Sistemática Pentecostal. RIO DE JANEIRO: CPAD, p.312
CHAVES, José Reis. Respeitemos o pecado original, mas ele nada tem de teologal. Publicado em http://oconsolador.com.br/ano7/349/jose_chaves.html.
Ciência Cristã - A Seita: ICP – Instituto Cristão de Pesquisas – Série Apologética – Vol. IV. Publicado em https://teologaroficial.com.br/ciencia-crista-a-seita/
Pecado Original: Transgressão de Adão e Eva e Expiação. Publicado em: https://www.churchofjesuschrist.org/topics/original-sin?lang=por#:~:text=Contudo%2C%20n%C3%A3o%20estamos%20condenados%20pelo,de%20F%C3%A9%201%3A2%20).

07 março 2025

A HERESIA QUE NEGA O ADVENTO DO PECADO

(Comentário do 2º tópico da Lição 10: O pecado corrompeu a natureza humana)

Ev. WELIANO PIRES

No segundo tópico,  falaremos da heresia que nega o advento do pecado. Discorreremos sobre o Pelagianismo, uma heresia que surgiu no Século IV da Era Cristã e negava a universalidade do pecado, ensinando que o pecado de Adão e Eva atingiu apenas a eles próprios. Mostraremos também a refutação bíblica a esta heresia. Por último, falaremos da morte de Jesus em favor dos pecadores, mostrando a heresia do Islamismo que rejeita o necessidade do sacrifício de Cristo pelos pecados da humanidade.


1. O Pelagianismo. O Pelagianismo foi a primeira heresia em relação à doutrina do pecado na história da Igreja. Esta heresia recebeu este nome por ter sido difundida por um monge britânico, chamado Pelágio, que viveu entre os anos 360 e 420 d.C e por volta do ano 405 d.C. mudou-se para Roma. Pouco se sabe sobre Pelágio, além destes dados mencionados pelo comentarista. Sabemos que ele foi contemporâneo do bispo Agostinho de Hipona e do seu amigo Jerônimo, o tradutor da Vulgata Latina, os quais fizeram muitas críticas aos ensinos de Pelágio. 


a) Conteúdo doutrinário. Conforme mencionou o comentarista, não temos escritos originais de Pelágio com os seus ensinos. Tudo o que sabemos sobre os seus ensinos vem dos seus oponentes, principalmente de Agostinho e Jerônimo. Além disso, as controvérsias com o Pelagianismo não se deram com o próprio Pelágio e sim com um jurista romano chamado Celéstio, que era um dos principais porta-vozes dos seus ensinos. 

Pelágio ensinava que o ser humano nasce neutro e não herda a natureza pecaminosa de Adão. Segundo ele, Deus criava individualmente cada alma humana, livre do pecado, da mesma forma que criou Adão. Pelágio não negava a realidade do pecado, mas, segundo ele, o pecado seria uma escolha pessoal, que cada ser humano por sua própria conta, poderia praticar ou evitar. 

Segundo Pelágio, a única coisa que Adão transferiu aos seus descendentes foi o mau exemplo. Os seus descendentes pecam por livre escolha e não por terem uma natureza corrompida pelo pecado. Por fim, Pelágio defendia ainda que para ser salvo, o ser humano poderia alcançar a salvação crendo em Deus por iniciativa própria e evitando o pecado.  

O Pelagianismo foi condenado nos Concílios de Cartago em 397 d.C, de Éfeso em 431 d.C, de Mileve em 416 d.C e de Lião em 475 d.C. Como tentativa de conciliar os ensinos de Agostinho e o Pelagianismo, um monge chamado João Cassiano,  que viveu entre 360 e 465 d.C. formulou um meio termo que ficou conhecido como Semipelagianismo e também foi considerado heresia. 

O Semipelagianismo não negava o pecado original, mas ensinava que este não corrompeu totalmente o ser humano. Segundo este ensino, o homem poderia usar o seu livre arbítrio e iniciar o processo de salvação. O Semipelagianismo foi considerado heresia e condenado no Concílio de Orange em 529 d.C. Por crer no livre arbítrio, nós da Assembléia de Deus somos acusados pelos calvinistas de sermos semipelagianos. Mas não tem nada a ver, pois nós acreditamos na depravação total do ser humano e cremos que nenhum ser humano pode ser salvo por iniciativa própria. 


b) Resposta bíblica. A resposta bíblica tanto ao Pelagianismo como ao Semipelagianismo foi amplamente exposta no primeiro tópico desta lição. Deixamos claro com ampla fundamentação bíblica, que a natureza pecaminosa de Adão foi transmitida aos seus descendentes, de forma que todos os seres humanos já nascem com a natureza corrompida pelo pecado. Esta verdade é um fato incontestável nas Escrituras (Sl 51.5; Is 1.5,6; Rm 3.10-12). 

Diferente do que afirma o Semipelagianismo, a natureza humana não foi parcialmente corrompida. O apóstolo Paulo escreveu o seguinte aos Efésios: “E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência; entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também” (Ef 2.1-3). 

O ser humano nasce totalmente corrompido pelo pecado, sem nenhuma condição de ir a Deus por seus próprios esforços. Foi necessário Deus tomar a iniciativa de enviar o Seu Filho, o Cordeiro Imaculado, para padecer pelos nossos pecados. Feito isso, enviou o Espírito Santo que comunica a mensagem de salvação ao coração do pecador e com a sua graça preveniente, possibilita ao ser humano responder a Deus. Entretanto, a escolha continua sendo do ser humano. O mesmo Deus que busca o homem perdido e quer salvá-lo, permite que ele o rejeite. Precisamos, no entanto, tomar cuidado com pregações do tipo: “Dê um passo para Jesus e Ele dará dez em sua direção”. Isso é Semipelagianismo, pois coloca no homem a iniciativa para a salvação e não em Deus. 


2. A morte de Jesus em favor dos pecadores. Infelizmente em algumas lições deste trimestre há alguns pontos totalmente desconexos. Não sei se é a equipe de edição da CPAD, que ao resumir o livro de apoio no texto da revista, acaba deixando alguns pontos sem contexto. Este subtópico começa dizendo: “Por esta razão, o Alcorão nega a crucificação e a morte de Jesus.” Um professor ou aluno ao ler este texto, inevitavelmente fica se perguntando: Por qual razão?

No Livro de apoio o comentarista explica e diz que não existe na religião islâmica a ideia de corrupção total do gênero humano. O Islã condena a doutrina do pecado original e diz que o pecado não é herdado, mas é algo que cada um decide fazer ou não. Segundo o Islamismo, a prática das más obras são suplantadas pelas boas obras. Por esta razão, negam a necessidade da morte de Jesus pelos pecados da humanidade. Então, dentro do Islamismo há resquícios das idéias pelagianas. Infelizmente, há muitos professores e principalmente alunos, que não dispõem do livro de apoio e ficam totalmente perdidos em um ponto desconexo como este.


REFERÊNCIAS: 
SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 
Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 41.
Bíblia de Estudo Pentecostal. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1995, pp.34-36
GILBERTO, Antônio, et al. Teologia Sistemática Pentecostal. RIO DE JANEIRO: CPAD, p.312
CABRAL, Elienai. O apóstolo Paulo: Lições da vida e ministério do Apóstolo dos Gentios para a Igreja de Cristo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2021.

05 março 2025

A DOUTRINA BÍBLICA DO PECADO E SUA EXTENSÃO

(Comentário do 1º tópico da Lição 10: O pecado corrompeu a natureza humana)

Ev. WELIANO PIRES 

No primeiro tópico, estudaremos a doutrina bíblica do pecado e sua extensão. Este tópico é bem mais extenso que os demais, pois a doutrina do pecado tem uma abrangência maior do que as heresias sobre ele. Por isso, o comentarista dedicou quatro subtópicos para falar deste assunto. Inicialmente veremos quem foi o autor do pecado. Na sequência, falaremos da expressão “foram abertos os olhos de ambos” (Gn 3.7), referindo-se ao primeiro casal que desobedeceu a Deus e perceberam a sua nudez. Falaremos também das consequências da Queda do primeiro casal. Por fim, falaremos da extensão do pecado, que corrompeu o ser humano em sua totalidade: espírito, alma e corpo.


1. O autor do pecado (Gn 3.1,2). Antes de falarmos do autor do pecado, é importante esclarecer o que é pecado, do ponto de vista bíblico, pois há muitos equívocos em relação a isso. Na Bíblia, há algumas palavras hebraicas e gregas que foram usadas para se referir ao pecado:

a) O termo hebraico “chata’th” e o seu correspondente grego “hamartia”. Sgnifica “errar o alvo”. Literalmente é uma referência a um atirador que atira uma flecha e erra o seu alvo. O alvo de todo ser humano é atingir a obediência total a Deus. Se ele falha nessa obediência, “erra o alvo” e, portanto, comete pecado.

b) termo hebraico “avon” e o seu correspondente grego “adíkia”. Significa “falta de integridade”. Estas duas palavras foram traduzidas em nossas Bíblias por “injustiça” e tem o sentido de praticar coisas injustas e desonestas contra o próximo, como, por exemplo, dar um falso testemunho para condenar um inocente, ou mentir para absolver o culpado.

c) O termo hebraico “pesha” e o seu correspondente grego “parábasis”. Significa rebeldia ou uma completa rejeição e insubordinação à autoridade de Deus. Deus é o Soberano de todo o Universo. Em todos os seus atos e palavras, Deus é sempre justo. Insurgir-se contra a autoridade de Deus e querer viver segundo o próprio pensamento, portanto, é pecado.

d) O termo hebraico “resha” e o seu correspondente grego “anomia”. Significa ilegalidade, ou “fuga culposa da lei”: “Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei.” (1 Jo 3.4). Deus é o Criador de todas as coisas, inclusive do ser humano. Sendo o Criador e sustentador de todo o universo, Ele criou as próprias leis, que estão registradas na Bíblia Sagrada. A desobediência a estas leis constitui-se em pecado contra Deus. 


Sobre a autoria do pecado, há também controvérsias, inclusive entre teólogos que se dizem evangélicos. Os hiper calvinistas, superenfatizam a Soberania de Deus e anulam completamente a responsabilidade humana. Chegam ao cúmulo de dizer que Deus criou o pecado. Para justificar esta aberração, usam o texto de Isaías 45.7, que diz: “Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas”. Entretanto, a palavra traduzida por “mal” neste texto, significa “calamidade”, como está na Nova Versão Transformadora (NVT), e não mal moral ou pecado. 


O Calvinismo, embora não admita abertamente que Deus criou o pecado, ensina que Deus preordenou todas as coisas, inclusive a Queda do primeiro casal. Dizem que Deus preordenou também que um grupo de pessoas seriam salvas (os eleitos) e outro grupo, não seriam salvas (os não-eleitos). Segundo o Calvinismo, todas as coisas que acontecem no Universo, boas ou más, foram predeterminadas por Deus. Isso equivale a dizer que Deus é o autor do pecado. Na Confissão de Westminster, uma confissão de fé de orientação calvinista, está escrito: “Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, pré-ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece.” 


Atribuir a Deus a autoria do pecado é ofender o Seu caráter santo. Deus criou todas as coisas boas e perfeitas, inclusive o ser humano. O pecado é algo que afronta a santidade de Deus e jamais poderia ter origem nele. A origem do pecado no universo é anterior à criação do homem e teve início nas regiões celestiais, com um querubim ungido que era o mais exaltado entre os seres angelicais e rebelou-se contra Deus (Ez 28.12,14; Is 14.12-15). Por causa disso, ele foi expulso do Céu com uma terça parte dos anjos. 


A Bíblia não revela o nome próprio deste querubim, mas chama-o de alguns títulos que revelam a sua natureza maligna como Satanás e Diabo. A palavra Satanás é a transliteração grega do termo hebraico “Satan”, que significa “adversário”. A palavra diabo, é a transliteração portuguesa do termo grego “diabolos”, que significa “acusador”. A palavra latina “Lúcifer” é a tradução da expressão “estrela da manhã", que aparece em Isaías 14.12, e foi entendida por Jerônimo como sendo o nome próprio deste querubim. Foi este querubim rebelde, que enganou Eva e a induziu ao pecado, induzindo também o seu marido ao mesmo erro. 


2. “Foram abertos os olhos de ambos” (Gn 3.7). O inimigo em sua astúcia prometeu a Eva que eles seriam como Deus, se comessem do fruto proibido. Atraída pela possibilidade de ser igual a Deus, a mulher deu ouvidos ao inimigo e desobedeceu a Deus. Em seguida deu o fruto também ao seu marido e ele comeu. No mesmo instante, perceberam que estavam nus e tentaram se esconder da presença de Deus. Eles viviam nus anteriormente e não se envergonhavam, pois não havia nenhuma espécie de maldade em seu interior. 


Em vez de se tornarem iguais a Deus como o inimigo prometera, veio a ruptura imediata da comunhão com Deus. Após a Queda do primeiro casal, Deus deu a sentença ao homem, à mulher e à serpente, que era a personificação do inimigo. O casal foi expulso do Jardim do Éden e perdeu imediatamente a comunhão com Deus, pois Ele é absolutamente santo e não pode tolerar pecado.


Com a entrada do pecado no mundo, o corpo humano passou a ser mortal em todos os aspectos. Primeiro veio a morte espiritual, que é a perda da comunhão com Deus. Fisicamente também, o ser humano se tornou mortal e, como tal, está sujeito às doenças e à morte. O corpo humano, antes do pecado era imortal e não adoecia, pois foi criado para viver eternamente. Com o advento do pecado, o corpo humano perdeu a imortalidade e deixou de ser imune às doenças. 


Quando nasce, o ser humano começa a morrer. É como se ligasse um cronômetro com contagem regressiva. Cada dia vivido é um dia a menos no tempo de vida. Primeiro, vem a fase do crescimento, até chegar a vida adulta. Depois, vem a fase do envelhecimento, até finalmente chegar a morte. Em cada fase da vida, há riscos de várias doenças no nosso corpo e, consequentemente, o risco de morte. Mas, a pior consequência do pecado é a morte eterna. 


Junto com a sentença que Deus deu à serpente, Deus apresentou também, em Gênesis 3.15, a primeira promessa de Salvação da humanidade, que é chamada de Proto Evangelho. Nesta promessa, Deus disse que o descendente da mulher feriria a cabeça da serpente e ela lhe feriria o calcanhar. É uma referência à vinda de Cristo, para derrotar o inimigo e salvar os pecadores. Este será o assunto da próxima lição. 


3. A consequência da Queda no Éden. A Queda do primeiro casal trouxe consequências terríveis não apenas para eles, mas para a sua posteridade. O apóstolo Paulo, escrevendo aos Romanos disse: “Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Rm 5.12). No mesmo capítulo, no versículo 19, Paulo escreveu: “Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos”. 


Quando nascemos, a nossa natureza já está corrompida pelo pelo pecado. Nós não nos tornamos pecadores quando cometemos algum pecado. Ao contrário, pecamos porque somos pecadores. Davi disse: “Eis que em iniquidade fui formado e em pecado me concebeu a minha mãe”. (Sl 51.5). Isso não se refere, é claro, ao relacionamento sexual como alguns ensinam, pois este foi criado e abençoado por Deus. Significa que todos os seres humanos, sem exceção, nascem corrompidos pelo pecado e ninguém precisará ensiná-los a pecar. 


Algumas pessoas, equivocadamente, dizem que as crianças nascem sem pecado, mas isso não é verdade. Todos nascemos pecadores e separados de Deus. Entretanto, Deus não imputa o pecado às crianças e aos deficientes mentais, que não tem condições de compreender e crer no Evangelho. Quando Jesus disse: “Deixai vir a mim as crianças, porque das tais é o Reino dos Céus” (Mt 19.14), não significa que não são pecadores, mas que Deus não os responsabiliza pelo pecado, por não serem capazes de entender. É por isso que não batizamos crianças. 


4. Extensão do pecado. Conforme falamos acima, o pecado de Adão e Eva não atingiu apenas o casal, mas se estendeu à sua posteridade e corrompeu a totalidade do seu ser: espírito, alma e corpo. Deus criou o ser humano perfeito e sem maldade, e com liberdade de escolha. Mas, com a entrada do pecado no mundo, a natureza humana foi corrompida. As três faculdades interiores do ser humano: intelectual, emocional e vontade, foram corrompidas pelo pecado. 


A forma de pensar do homem foi afetada pelo pecado. O intelecto humano, sem a ação do Espírito Santo, é essencialmente mal. Muitas religiões sugerem que o homem siga o seu pensamento. Mas, isso é um grande erro. O homem, de si mesmo, não pensa coisas boas. Em Jeremias 17.9 lemos: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?”. Se vivêssemos em uma anarquia, onde cada um pudesse fazer o que bem entendesse, seria um caos generalizado. Na Igreja também, muitas pessoas querem fazer o que bem entendem e não aceitam a correção pela Palavra de Deus. Mas não pode ser assim, pois a Igreja é guiada pelo Espírito Santo.


Da mesma forma, as emoções humanas também foram afetadas pelo pecado. O homem longe de Deus tem sentimentos carnais, egoístas e malvados. O homem carnal odeia, deseja mal, inveja, cobiça e não sente nenhuma tristeza pelos pecados cometidos. Se o homem seguir as próprias emoções, cometerá toda sorte de maldade. Infelizmente, muitas pessoas na Igreja, equivocadamente, agem seguindo as próprias emoções, dizendo que estão sentindo de fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Mas, o crente deve ser guiado pela Palavra de Deus e não pelos próprios sentimentos. 


O pecado corrompeu também a vontade humana e, por isso, o ser humano se afastou da vontade de Deus e seguiu os desejos da sua natureza corrompida. O pecado corrompeu a vontade do ser humano de tal  forma que por si mesmo, ele é incapaz de buscar a Deus. Entretanto, como bem colocou o comentarista, o pecador não perdeu o livre-arbítrio que Deus lhe concedeu. 


Partindo do princípio de que a vontade humana foi corrompida pelo pecado, os calvinistas ensinam que o homem perdeu também a capacidade de escolher servir a Deus ou não. Entretanto, não é isso que a Bíblia ensina. O Espírito Santo trabalha no intelecto humano e em seus sentimentos, para levá-lo a reconhecer-se como pecador, que necessita de salvação. Mas a decisão de fazer ou não a vontade de Deus, continua sendo do homem. 


Em vários textos bíblicos, encontramos Deus colocando diante do ser humano a decisão: 

“Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência.” (Dt 30.19); “Se vos parece mal aos vossos olhos servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor.” (Js 24.’5). “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me.” (Lc 9.23); “...E quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida. (Ap 22.17c).


REFERÊNCIAS: 

SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 
Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 41.
Bíblia de Estudo Pentecostal. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1995, pp.34-36
GILBERTO,  Antônio, et al. Teologia Sistemática Pentecostal. RIO DE JANEIRO: CPAD, p.312
CABRAL, Elienai. O apóstolo Paulo: Lições da vida e ministério do Apóstolo dos Gentios para a Igreja de Cristo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2021.

03 março 2025

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 10: O PECADO CORROMPEU A NATUREZA HUMANA

Ev. WELIANO PIRES 

Nesta lição estudaremos uma matéria muito importante da teologia sistemática, que é chamada de Hamartiologia. Esta palavra deriva de dois termos gregos: “Hamartia” que significa “errar o alvo” e é usada na Bíblia para se referir ao pecado; e “logia” que significa “estudo”. Portanto, Hamartiologia é o estudo da doutrina do pecado. 

O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, perfeito e sem mácula em sua natureza, mas o pecado do primeiro casal distorceu esta imagem e interrompeu a relação entre o homem e o seu Criador. Esta doutrina bíblica foi contestada no passado pelo Pelagianismo e continua sendo negada por várias religiões da atualidade. Outras, não negam o pecado, mas ensinam que o ser humano pode livrar-se dele por obras ou esforços humanos, como veremos na próxima lição. 

A Bíblia ensina que todos pecaram e que o pecado nos separa de Deus. Isso não significa, no entanto, que não haja solução para o problema do pecado, pois Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, veio a este mundo para libertar o homem da escravidão do pecado mediante o seu sacrifício vicário na Cruz (Lc 19.10; Jo 1.29).

No primeiro tópico, estudaremos a doutrina bíblica do pecado e sua extensão.  Inicialmente falaremos do autor do pecado que é a antiga serpente, identificada em Apocalipse, como o diabo e Satanás (Ap 12.9). Na sequência, falaremos da expressão “foram abertos os olhos de ambos” (Gn 3.7), referindo-se ao primeiro casal que desobedeceu a Deus e perceberam a sua nudez. Falaremos também da principal consequência da Queda do primeiro casal, que foi a transmissão da natureza pecaminosa a todo o gênero humano. Por fim, falaremos da extensão do pecado, que corrompeu o ser humano em sua totalidade: espírito, alma e corpo. 

No segundo tópico,  falaremos da heresia que nega o advento do pecado. Discorreremos sobre o Pelagianismo, uma heresia que surgiu no Século IV da Era Cristã e negava a universalidade do pecado, ensinando que o pecado de Adão atingiu apenas a ele próprio. Mostraremos também a refutação bíblica a esta heresia. Por último, falaremos da morte de Jesus em favor dos pecadores, mostrando a heresia do Islamismo que rejeita o necessidade do sacrifício de Cristo pelos pecados da humanidade. 

No terceiro tópico, falaremos do perigo desta heresia para a vida do crente e da Igreja. Veremos os pensamentos pelagianistas da atualidade, que se manifestam nas religiões reencarnacionistas, na chamada Ciência Cristã e no Mormonismo. Por último falaremos do perigo da falta de conhecimento bíblico, que torna as pessoas vulneráveis diante de falsos ensinos que lhes parecem corretos, mas conduzem à perdição. 

REFERÊNCIAS:

SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 
Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 41.
Bíblia de Estudo Pentecostal. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1995, pp.34-36
GILBERTO, Antônio, et al. Teologia Sistemática Pentecostal. RIO DE JANEIRO: CPAD, p.312

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 7: “EU SOU A RESSUREIÇÃO E A VIDA”

Ev. WELIANO PIRES Em continuidade ao estudo do Evangelho segundo João, estudaremos nesta lição o episódio da ressurreição de Lázaro, registr...