06 setembro 2024

O PLANO: ESTER ENTRA À PRESENÇA DO REI E PROPÕE UM BANQUETE

(Comentário do 3º tópico da Lição 10: O plano de livramento e o papel de Ester) 

Ev. WELIANO PIRES


No terceiro tópico, falaremos do plano de Ester para falar com o rei. Falaremos da prudência, preparação e ação de Ester, antes de se apresentar diante do rei. Veremos também que o rei estendeu o cetro para Ester, que significava a autorização para que ela falasse, mesmo sem ter sido chamada. Por último, veremos que Ester agiu em sintonia com Deus. Mesmo tendo a autorização do rei para fazer a sua petição e denunciar o plano assassino de Hamã, Ester apenas o convidou para um banquete e esperou o momento certo para falar.


1- Prudência, preparação e ação. Ester foi convencida por Mardoqueu que teria que agir, urgentemente, para salvar o seu povo, como vimos no tópico anterior. Ela estava decidida a falar com o rei, mesmo sabendo que corria o risco de morrer, dependendo da reação dele. Depois de pedir a Mardoqueu e aos judeus que jejuassem por ela, ela estava decidida a falar com o rei e enfrentar as consequências: “... assim irei ter com o rei, ainda que não é segundo a lei; e, perecendo, pereço.” (Et 4.16). Entretanto, ela não se precipitou e não foi de qualquer maneira. O comentarista colocou a sequência de três atitudes que Ester teve, antes de falar com o rei: prudência, preparo e ação.


a. Prudência. A prudência é a virtude que faz a pessoa agir com cautela, discernimento e precaução, para evitar os perigos e, na medida do possível, fugir deles. No Livro de Provérbios, a prudência é amplamente destacada, contrapondo-se à insensatez. Por exemplo, em Provérbios 8.12, a prudência aparece como companheira da sabedoria: “Eu, a sabedoria, habito com a prudência, e acho a ciência dos conselhos”. 


Quando enviou os doze apóstolos em missão, Jesus disse que estava enviando-os como ovelhas para o meio dos Lobos, que são os seus predadores. Por isso, recomendou-lhes que fossem “prudentes como as serpentes” (Mt 10.16). As serpentes andam cuidadosamente e, ao primeiro sinal de perigo, recuam e se preparam para a autodefesa. Algumas espécies fogem rapidamente. 


Ester agiu com prudência, pois ela não foi de imediato à sala do rei, entrando sem ser convidada, mesmo sendo uma situação de emergência. Se fizesse isso, ela seria executada imediatamente. Ela analisou a situação com calma e esperou o momento certo para se aproximar do rei. O comentarista citou os casos de Ester e Abigail, como exemplos de mulheres sábias que impediram que tragédias acontecessem, agindo com sabedoria. Ester, com sabedoria, conseguiu evitar que todo o seu povo fosse exterminado. Abigail, por sua vez, humilhou-se diante de Davi e, com palavras sábias, conseguiu fazê-lo desistir de exterminar toda a família de Nabal, esposo dela (1 Sm 25.18-35).


Em Provérbios 14.1, lemos: “Toda mulher sábia edifica a sua casa, mas a tola derriba-a com as suas mãos”. A força de uma mulher não está no enfrentamento, mas no seu poder de convencimento, até sem palavras, através do bom procedimento, como disse o apóstolo Pedro (1 Pe 3.1-6). No enfrentamento ao rei, Vasti foi deposta do posto de rainha. Mas Ester, com prudência e sabedoria, conseguiu fazer o rei mudar de ideia em relação aos judeus.


b) Preparação. Depois da prudência de Ester, veio a fase do preparo. Não se pode entrar em ação em situações delicadas sem haver um preparo espiritual, físico e emocional. Ester se preparou espiritualmente, em oração e jejum. Ela não apenas pediu que os outros jejuassem por ela, mas jejuou também. Existem batalhas que são impossíveis de se vencer sem oração e jejum: “E disse-lhes: Esta casta não pode sair com coisa alguma, a não ser com oração e jejum.” (Mc 9.29). 


Depois do preparo espiritual, Ester se alimentou e se preparou emocionalmente para falar com o rei. Uma pessoa desequilibrada emocionalmente pode piorar as coisas, em situações delicadas. “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira.” (Pv 15.1). Quando a pessoa está nervosa é melhor se acalmar primeiro, antes de tentar resolver alguma coisa. Alguém já disse sabiamente: “Não faça promessas quando estiver feliz. Não discuta quando estiver com raiva. E não tome decisões quando estiver triste.”


Por último, Ester se preparou fisicamente. No capítulo 5 e versículo 1 do Livro de Ester, lemos o seguinte: “Sucedeu, pois, que, ao terceiro dia, Ester se vestiu de suas vestes reais e se pôs no pátio interior da casa do rei, defronte do aposento do rei; e o rei estava assentado sobre o seu trono real, na casa real, defronte da porta do aposento.” Antes de se aproximar do rei, Ester se embelezou, vestindo as vestes reais, certamente se perfumou e ficou defronte ao trono do rei, a fim de que ele a avistasse. Evidentemente, o rei Assuero não imaginaria que Ester daquela forma representava um perigo à sua segurança.


c) Ação. A ação de Ester foi o último estágio, depois da sua prudência e preparo. Muitas pessoas até praticam a ação correta, mas no momento errado e sem o devido preparo. Em Provérbios 25.11 está escrito: “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo.” Então, mesmo a palavra correta pode ser inconveniente se for dita fora de hora. Ester já havia conquistado o rei com a sua beleza e educação, no processo seletivo para escolher a nova rainha. Agora, quando ele a viu naqueles trajes, bela e amável, novamente ela achou graça aos seus olhos (Et 5.2). Era o momento certo para agir e fazer a sua petição. 


2- Estendendo o cetro. Ester fez tudo corretamente, como vimos acima, e agora aguardava a reação do rei, que era imprevisível. Ele tanto poderia recebê-la, como poderia mandar executá-la, por descumprir a lei. Mas, o rei vendo-a serena e bem vestida, estendeu-lhe o cetro de ouro, que era o sinal do favor do rei para que ela pudesse entrar sem correr nenhum risco. Após o rei estender-lhe o cetro, ela deveria tocar a ponta do cetro e aceitar o favor do rei. Ester respirou aliviada, pois estava salva e poderia falar ao rei tranquilamente. 


A resposta do rei foi: “Que é o que tens, rainha Ester, ou qual é a tua petição? Até metade do reino se te dará” (Et 5.3). Conforme explicou o comentarista, esta frase não deve ser entendida literalmente e não significa que o rei estava oferecendo a metade do reino a Ester. Era uma frase comum na antiguidade, que indicava que o rei atenderia ao pedido da pessoa, como aconteceu com Herodes, no episódio da execução de João Batista (Mc 6.21-23). 


Naquela situação inusitada, em que a rainha Ester comparece em trajes reais defronte ao trono do rei, sem ser convidada e espera ser chamada, coisa que ela nunca havia feito antes, certamente, o rei deduziu que algo de muito grave estava acontecendo. Ester tinha a confiança do rei, pois já era rainha havia cinco anos, e tinha demonstrado a sua lealdade e respeito para com ele, ao contrário de Vasti. Ester havia trazido a denúncia de Mardoqueu que salvou a vida do rei. O seu comportamento no palácio também era exemplar e conquistava todos à sua volta. 


3- Em sintonia com Deus.  Ester já estava praticamente com a vitória nas mãos, pois o rei além de lhe estender o cetro, deu-lhe carta branca para fazer a sua petição. Entretanto, Ester continuou agindo com prudência e de acordo com a vontade de Deus. Se ela fosse precipitada, já teria denunciado Hamã imediatamente e poderia ter colocado tudo a perder. Mas, ela soube esperar e não fez nenhuma denúncia naquele momento, apenas convidou o rei e Hamã para um banquete, que será o tema da Lição 12. 


Em situações adversas, não podemos nos deixar levar pelas emoções. Devemos sempre agir com prudência e de acordo com a vontade de Deus. Jesus quando ensinou os seus discípulos a orar, disse que eles deveriam pedir para que a “Vontade de Deus seja feita assim na terra como no Céu.” (Mt 6.10). Na mesma direção, Tiago escreveu: “Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites.” (Tg 4.4).


Antes de agir em qualquer situação, precisamos sempre pedir a direção do Senhor, pois Ele sabe o que é melhor. Até mesmo os nossos pais, se não forem servos de Deus, podem nos orientar errado. A filha de Herodias, por exemplo, teve a oportunidade de pedir o que quisesse ao rei Herodes e a sua mãe lhe orientou a pedir a cabeça de João Batista num prato. Que pedido mais insano! Poderia pedir tantas coisas boas, mas desperdiçou a oportunidade pedindo a morte de um profeta! 


Deus falou através do profeta Isaías: “Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos.” (Is 55.9). Portanto, devemos sempre agir em sintonia com Deus, pois Ele é bom e nos orienta a fazer a coisa certa em qualquer circunstância. 


REFERÊNCIAS: 


QUEIROZ, Silas. O Deus que governa o Mundo e cuida da Família: Os ensinamentos divinos nos livros de Rute e Ester para a nossa geração. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2024.

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. RIO DE JANEIRO: CPAD, 3º Trimestre de 2024. Nº 98, pág. 41. 

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p.691

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p. 692-93.

05 setembro 2024

MARDOQUEU CONVENCE ESTER

(Comentário do 2º tópico da Lição 10: O plano de livramento e o papel de Ester)

Ev. WELIANO PIRES


No segundo tópico, veremos que Mardoqueu convenceu Ester da gravidade da situação. Inicialmente, Ester confiou na providência divina e mandou dizer a Mardoqueu que não tinha permissão para falar com o rei nos próximos trinta dias. Mardoqueu não se contentou com a resposta e mandou avisá-la de que ela não escaparia por estar no palácio, mas que o socorro viria de outra parte. Ester se convenceu de que teria que se arriscar e agir. Mas, buscou a Deus em primeiro lugar, através de jejum e oração. Depois apelou para o socorro humano e foi falar com o rei. Por último, veremos que Ester confiou em Deus, mas não o tentou. Ela sabia que não tinha permissão para entrar na presença do rei naquele momento e, se desobedecesse, poderia ser executada. 


1- Confiando na providência divina. Ao receber a resposta de Ester, com a informação de que havia este obstáculo para ela falar com o rei, e que ela não tinha permissão para entrar na presença do rei nos próximos trinta dias, Mardoqueu, mais uma vez, expôs a gravidade da situação e lembrou-a de que ela também era uma judia. Até aquele momento, ninguém no palácio sabia das origens de Ester, mas certamente iriam descobrir. Mardoqueu a alertou de que ela e os seus parentes não escapariam, pelo fato dela estar no palácio. 


Em sua resposta a Ester, Mardoqueu disse que se ela resolvesse se calar, o socorro viria de outra parte para os judeus. Isso nos leva a crer que ele tinha plena confiança na providência de Deus para salvar o seu povo. Embora não haja nenhuma referência explícita a Deus no Livro de Ester, fica implícita a sua providência e a fé que Mardoqueu tinha em Deus. A confiança na providência divina consiste exatamente em saber que Ele agirá em nosso socorro, independente do tempo que passar e do seu modo de ação. Deus age quando quer, como quer e se quiser, pois Ele não deve satisfação a ninguém. 


Aqui, o comentarista alerta para a supervalorização de pessoas importantes, em busca de socorro. Isto constitui-se em um tipo de idolatria, conforme nos diz  profeta Jeremias: “Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor!” (Jr 17.5). O que o Senhor fala através do profeta Jeremias não é para não confiarmos em ninguém, como muitas pessoas interpretam erroneamente este texto. É para não fazer do ser humano o nosso escudo e instrumento de defesa. Isso vale também para o nosso emprego, o nosso dinheiro, os pais, os filhos, os amigos, os políticos, etc. Estas coisas, evidentemente, podem nos socorrer em determinadas situações. Se temos um bom emprego, uma empresa e dinheiro, teremos como bancar as nossas despesas; os nossos pais, filhos e amigos também podem nos ajudar em momentos de crise; os parlamentares, por sua vez, podem nos representar e defender as nossas causas, nas casas legislativas. 


Entretanto, jamais podemos depositar a nossa confiança nestas coisas, pois elas falham e haverá momentos, nos quais, somente Deus poderá nos socorrer. Daniel, por exemplo, era uma das três principais autoridades da Babilônia, no governo de Dario, o medo. O rei, inclusive, pensava em colocá-lo sobre todo o reino (Dn 6.3). Entretanto, os seus inimigos conseguiram aprovar um decreto para lançá-lo na cova dos leões (Dn 6.4-9). Neste caso, somente Deus poderia salvá-lo e o salvou (Dn 6.21). Quando Deus fecha as portas, ninguém abre e quando Ele abre, ninguém fecha (Ap 3.7). 


2- Primeiro Deus, depois o homem. Diante dos argumentos de Mardoqueu, Ester se convenceu da gravidade da situação e que ela precisaria agir. Mas, conforme vimos no tópico anterior, havia um obstáculo real que não dependia dela. Ela decidiu agir, mas antes de falar com o rei, entrou em um período de jejum e, certamente, de oração, pois o jejum sempre aparece na Bíblia junto com a oração. Ester conclamou também todo o povo judeu a fazerem o mesmo (Et 4.16). Antes de falar com o rei, Ester buscou a Deus. 


Esta deve ser a sequência correta das nossas ações. Primeiro buscamos a Deus, depois colocamos em prática os nossos planos. A nossa vida depende de Deus em todos os aspectos. Não temos controle sobre ela e os minutos seguintes da nossa vida, estão nas mãos de Deus. Nós fazemos planos, mas precisamos submetê-los à vontade de Deus. Isto porque podemos estar em uma direção diferente dos planos de Deus. Além de orarmos para saber a vontade de Deus, devemos orar em situações difíceis, para que Ele vá em nossa frente. Existem situações em que precisamos que Deus trabalhe nos corações das pessoas, antes de falarmos com elas. 


Neste subtópico, o comentarista chama a atenção para duas características do nosso tempo que são o secularismo e o materialismo. O secularismo é a ideia de laicidade ou separação da vida pessoal da vida religiosa, limitando a vida religiosa aos espaços de culto. O materialismo, por sua vez, consiste na limitação da vida à realidade da matéria. Estas duas crenças, por incrível que pareça, não estão presentes apenas nas pessoas que não servem a Deus. Há pessoas se dizem cristãs e vivem, como se fossem donas da própria vida e como se Deus não existisse. Confiam apenas em suas próprias aptidões e recursos, tomando decisões sérias sem buscar a Deus. 


3- Confiar em Deus não é tentá-lo. Ester confiou em Deus, mas não o tentou. Ela sabia que corria o risco de morrer e, por isso, buscou a Deus em oração e jejum. Ester ofereceu-se para salvar o seu povo, correndo o risco de ser morta, mas ela não tinha escolha. Se não fosse falar com o rei, como disse Mardoqueu, ela também não escaparia. Entretanto, ela foi prudente antes de falar com o rei e não se apresentou diretamente ao rei. Depois do período de oração e jejum, ela se aproximou do rei e aguardou ele estender o cetro, como veremos no próximo tópico. 


Infelizmente, há pessoas que tentam a Deus, agindo de forma imprudente e correndo riscos desnecessários. Eu já vi casos de pessoas que deixaram de tomar remédios, porque alguém disse que seriam curados, e tiveram sérios problemas de saúde. Outros, andam em alta velocidade, crendo que Deus irá protegê-los. Há ainda, os que exigem que Deus realize as vontades deles querendo dar ordens a Ele. Isso afronta a Soberania de Deus. Quando Deus cura alguém, não precisa parar de tomar remédios por conta própria, pois o próprio médico irá constatar a cura e suspender os medicamentos. 


REFERÊNCIAS: 


QUEIROZ, Silas. O Deus que governa o Mundo e cuida da Família: Os ensinamentos divinos nos livros de Rute e Ester para a nossa geração. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2024.

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. RIO DE JANEIRO: CPAD, 3º Trimestre de 2024. Nº 98, pág. 41. 

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p.691

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p. 692-93.

04 setembro 2024

O PERIGOSO PLANO E O TEMOR DE ESTER

(Comentário do 1º tópico da Lição 10: O plano de livramento e o papel de Ester) 

Ev. WELIANO PIRES


No primeiro tópico, veremos o plano de Mardoqueu e o temor de Ester. Inicialmente, falaremos do lamento, choro e compadecimento de Mardoqueu, após saber que o rei Assuero havia emitido um decreto para matar todos os judeus do Império Persa. Na sequência, falaremos do obstáculo real para Ester seguir o plano de Mardoqueu, pois ela não tinha permissão para falar com o rei naquele dia e corria o risco de morte, se assim o fizesse. Por último, falaremos das consequências do autoritarismo do rei Assuero, que foi o seu assassinato, que ocorreu oito anos depois dos acontecimentos narrados no Livro de Ester. 


1- Lamento, choro e compadecimento. No segundo tópico da lição passada, falamos da tristeza de Mardoqueu, de Ester e dos judeus, após saberem que o rei havia determinado o extermínio completo do povo judeu, seguindo a sugestão astuta e oportunista de Hamã. Aqui o comentarista volta ao tema, destacando exclusivamente a tristeza e o abatimento de Mardoqueu, diante desta situação trágica, e o compadecimento de Ester por ele. 


Mardoqueu era um homem íntegro e leal ao rei, como vimos na lição 08. Ao descobrir um plano de dois guardas do palácio para assassinar o rei, imediatamente ele levou a informação a Ester e salvou a vida do rei. Ele tinha princípios e não se dobrou diante do poderoso Hamã, arriscando a própria vida. Para fazer isso, tinha que ser um homem destemido, que não tinha medo de ser morto, pois naquele tempo desobedecer a uma ordem expressa do rei era gravíssimo. 


Agora a situação era gravíssima e Mardoqueu se abateu profundamente. Ele sabia que não apenas ele, mas todo o seu povo, de todas as idades seriam mortos, impiedosamente, sem terem cometido crime algum. Podemos imaginar também a frustração de Mardoqueu com o rei, cuja vida ele havia salvado com o seu ato heróico. Agora este mesmo rei assina um decreto ordenando a morte não apenas dele, mas de todo o seu povo. 


No auge da sua angústia e desespero, Mardoqueu rasgou os seus vestidos, vestiu-se de saco, saiu clamando em alta voz pelas ruas e foi até à porta do palácio. A situação de lamento se repetia em todas as províncias nas comunidades judaicas, pois todos sabiam da gravidade da situação. Mardoqueu pretendia pedir a ajuda de Ester e, possivelmente, ela não sabia da gravidade da situação, pois, ao vê-lo naquela situação, mandou roupas para que ele as vestisse e Mardoqueu recusou. 


Mardoqueu resolveu compartilhar com Ester a dor e o desespero do seu povo. Assim como ele se alegrou com ela, quando ela foi coroada rainha da Pérsia, agora ele resolveu dividir com ela a dor de todo o povo judeu, que estava condenado à morte, com dia marcado para a execução. Como disse o apóstolo Paulo aos Romanos, devemos “alegrar-nos com os que se alegram; e chorar com os que choram.” (Rm 12.15). 


Em momentos de angústia, precisamos de pessoas do nosso lado, que chorem e orem conosco. O próprio Senhor Jesus, quando estava no Getsêmani, em profunda agonia, reclamou porque os seus apóstolos mais próximos dormiram enquanto Ele estava em profunda agonia. Pouco tempo depois, o seu tesoureiro o traiu; um dos apóstolos mais próximos, o negou; e os demais fugiram. Felizes são aqueles que têm ao seu lado, pessoas que nos momentos de angústia, ficam ao seu lado para o que der e vier. Ter amigos nos momentos bons é fácil. Mas é na angústia, que conhecemos os verdadeiros amigos. 


2- Um obstáculo real. Pelas leis persas, ninguém poderia permanecer na porta do palácio ou comparecer diante do rei vestido de saco e cheio de cinzas, como Mardoqueu estava fazendo. Sem entender nada e vendo a situação de Mardoqueu, Ester enviou Hataque, um dos eunucos do rei que cuidava dela, para saber de Mardoqueu o que estava acontecendo. 


Mardoqueu contou a situação ao eunuco e enviou uma cópia do decreto do rei, contendo a ordem do para matar todos os judeus do Império Persa, com data marcada para a execução da sentença. Ele mandou dizer a Ester também que intercedesse junto ao rei pela vida dos judeus. Ester quando soube da notícia, limitou-se a responder a Mardoqueu que ninguém poderia comparecer à presença do rei sem ser chamado, inclusive ela. 


As leis persas eram rigorosas e irrevogáveis. Nem mesmo o rei poderia mudá-las. Como disse o comentarista, todo essa restrição para alguém se aproximar do rei se justificava, pois havia riscos reais de assassinato do rei, como aliás já haviam tentado Bigtã e Teres, que foram descobertos e executados antes. Sendo assim, para evitar ataques, só poderiam comparecer perante o rei, aqueles que ele convidasse, com hora marcada. Quem desobedecesse seria morto, a não ser que o rei estendesse o cetro de ouro e autorizasse. 


3- Autoritarismo e morte. Todo este rigor com a segurança do rei, não foram suficientes para evitar o seu assassinato, que acabou acontecendo oito anos depois, em 465 a.C. por um dos seus oficiais. Claro que não se pode descuidar da segurança de autoridades, pois elas contrariam interesses e são alvos potenciais de atentados. Mesmo em regimes democráticos há históricos de assassinatos ou atentados contra autoridades. Nos Estados Unidos, por exemplo, já houve casos de presidentes que foram mortos a tiros. Aqui no Brasil, um candidato à presidência da República sofreu um atentado a faca em plena campanha eleitoral e, por pouco, não foi assassinado. 


Na antiguidade não havia democracia. Os regimes eram autoritários e, em muitos casos, eram extremamente cruéis. Por causa disso, o número de inimigos e o perigo de conspirações se multiplicavam. Os reis tinham copeiros que, além de lhe servir a bebida, tinham que prová-la antes, para evitar envenenamento. 


Mesmo assim, muitos deles foram assassinados pelos próprios servos do palácio, por generais e até por irmãos, que usurpavam o trono. Até mesmo em Israel, no Reino do Norte, vários reis foram mortos por conspiradores. Em Judá também também houve assassinato de reis, embora tenha sido bem menos os casos. Atalia, a mulher do rei Jeorão, depois que o seu filho Acazias foi assassinado, ela mandou matar toda a família real, incluindo os próprios netos, e se autoproclamou rainha. 


Na atualidade, mesmo com todo aparato de segurança e perseguição implacável contra os adversários, muitos ditadores são alvos de conspiração e assassinados, como foi o caso do ex-ditador da Líbia, Muammar Gaddafi, que foi assassinado depois de passar mais de quarenta anos governando o país com braço de ferro. 


Isto acontece, porque lealdade e fidelidade não se compra e não se impõe, mas se conquista. Quanto mais autoritário o governante é, mais odiado será e acabará sendo traído e assassinado. Os reis justos e bons são amados pela maioria, mas mesmo assim, há pessoas que o odeiam, pois ninguém consegue agradar a todos. O rei Davi foi um bom rei, mas o próprio filho dele, Absalão, se rebelou  e tentou matá-lo e tomar o trono. A nossa segurança vem do Senhor. Se Ele não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela (Sl 127.1).


REFERÊNCIAS: 


QUEIROZ, Silas. O Deus que governa o Mundo e cuida da Família: Os ensinamentos divinos nos livros de Rute e Ester para a nossa geração. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2024.

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. RIO DE JANEIRO: CPAD, 3º Trimestre de 2024. Nº 98, pág. 41. 

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p.691

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p. 692-93.

02 setembro 2024

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 10: O PLANO DE LIVRAMENTO E O PAPEL DE ESTER

Ev. WELIANO PIRES

REVISÃO DA LIÇÃO PASSADA


Na lição passada, falamos da conspiração de Hamã contra os judeus. Vimos os detalhes do plano diabólico de Hamã para exterminar todo o povo judeu do império persa. Com base nessa tentativa de Hamã, de eliminar o povo judeu, falamos também do ódio ao povo judeu ao longo da história, e do antissemitismo atual.


TÓPICOS DA LIÇÃO


No primeiro tópico falamos do plano odioso de Hamã. Era um plano maligno, baseado em intrigas e patologias do poder. Falamos também da extensão do plano de Hamã, que incluía não apenas os judeus que viviam em Susã, mas de todas as províncias do Império Persa, inclusive os que haviam voltado a Jerusalém. Por último, falamos da astúcia e oportunismo de Hamã, que escondeu as suas reais motivações perante o rei, para convencê-lo a autorizar o extermínio dos judeus.


No segundo tópico, falamos da tristeza de Mardoqueu, de Ester e dos judeus, após o rei determinar o extermínio completo do povo judeu. Por um lado, Assuero e Hamã bebiam após terem enviado cartas às províncias, determinando o extermínio dos judeus. Por outro lado, Mardoqueu, Ester e todo o povo judeu se encheram de tristeza e se uniram em lamentação, oração e jejum, por livramento. 


No terceiro tópico, falamos do perigo e da crueldade do antissemitismo moderno, mostrando as três faces do antissemitismo ao longo da história: nacional, religioso e racial. Por último falamos do ressurgimento do antissemitismo na atualidade. Após os ataques do grupo terrorista Hamas contra Israel, com requintes de crueldade, assistimos ao renascimento do ódio aos judeus em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. 


LIÇÃO 10: O PLANO DE LIVRAMENTO E O PAPEL DE ESTER


INTRODUÇÃO


Nesta lição, veremos como Deus usou Mardoqueu e Ester, para dar livramento ao judeu, depois do decreto de Hamã que havia marcado o dia para exterminá-los. Sabendo que a morte de todos os judeus estava decretada, Mardoqueu rasgou as suas vestes, vestiu-se de saco, saiu pelas ruas clamando em alta voz. Mesmo estando em desespero, ele apresentou a Ester um plano para livrar os judeus, através de Ester. O plano, no entanto, era muito arriscado, pois ela não tinha permissão para falar com o rei. Ester resolveu buscar a Deus em oração e jejum, antes de colocar o plano em ação. 


TÓPICOS DA LIÇÃO


No primeiro tópico, veremos o plano de Mardoqueu e o temor de Ester. Inicialmente, falaremos do lamento, choro e compadecimento de Mardoqueu, após saber que Hamã havia emitido um decreto para matar todos os judeus do Império Persa. Ele mandou explicar a situação a Ester e pediu que ela intercedesse pelos judeus perante o rei. Entretanto, havia um obstáculo real, pois ela não tinha permissão para falar com o rei naquele dia e corria o risco de morte, se assim o fizesse. Por último, falaremos das consequências do autoritarismo do rei Assuero, que foi o seu assassinato, que ocorreu oito anos depois dos acontecimentos narrados no Livro de Ester. 


No segundo tópico, veremos que Mardoqueu convenceu Ester da gravidade da situação. Inicialmente, Ester confiou na providência divina e mandou dizer a Mardoqueu que não tinha permissão para falar com o rei nos próximos trinta dias. Mardoqueu não se contentou com a resposta e mandou avisá-la de que ela não escaparia por estar no palácio, mas que o socorro viria de outra parte. Ester se convenceu de que teria que se arriscar e agir. Mas, buscou a Deus em primeiro lugar, através de jejum e oração. Depois apelou para o socorro humano e foi falar com o rei. Por último, veremos que Ester confiou em Deus, mas não o tentou. Ela sabia que não tinha permissão para entrar na presença do rei naquele momento e se desobedecesse poderia ser executada. 


No terceiro tópico, falaremos do plano de Ester para falar com o rei. Falaremos da prudência, preparação e ação de Ester, antes de se apresentar diante do rei. Veremos também que o rei estendeu o cetro para Ester, que significava a autorização para que ela falasse, mesmo sem ter sido chamada. Por último, veremos que Ester agiu em sintonia com Deus. Mesmo após o rei recebê-la, ela agiu com cautela e não revelou o assunto, apenas convidou o rei e Hamã para um banquete, aguardando o momento certo para interceder pelo seu povo. 


REFERÊNCIAS: 


QUEIROZ, Silas. O Deus que governa o Mundo e cuida da Família: Os ensinamentos divinos nos livros de Rute e Ester para a nossa geração. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2024.

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. RIO DE JANEIRO: CPAD, 3º Trimestre de 2024. Nº 98, pág. 41. 

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p.691

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p. 692-93.


31 agosto 2024

O PERIGO E A CRUELDADE DO ANTISSEMITISMO MODERNO

(Comentário do 3º tópico da Lição 09: A conspiração de Hamã contra os judeus) 


Ev. WELIANO PIRES


No terceiro tópico, falaremos do perigo e da crueldade do antissemitismo moderno. Veremos as faces do antissemitismo ao longo da história. Na sequência, falaremos das três faces do antissemitismo que são: nacional, religioso e racial. Por último, falaremos do Antissemitismo moderno. Lamentavelmente, após os ataques do grupo terrorista Hamas contra Israel em 2023, vemos o renascimento do ódio aos judeus, principalmente por parte de intelectuais de esquerda e autoridades brasileiras.  


1- Faces do antissemitismo. A palavra antissemitismo literalmente significa a hostilidade aos povos semitas, ou aos descendentes de Sem, que era um dos filhos de Noé. Entretanto, o uso recorrente desta palavra está relacionado ao ódio, preconceito e aversão ao povo judeu. É uma forma de xenofobia, intolerância religiosa e racismo. O termo antissemitismo foi criado no final do Século XIX, para explicar, de forma científica, o ódio aos judeus. Devido à confusão que o termo antissemita poderia causar, pois englobaria todos os povos semitas e não apenas o povo judeu, alguns autores preferem usar o temo Judeufobia, que seria o ódio aos judeus. 


O ódio ao povo de Israel e as tentativas de exterminá-lo não é novo. Ao longo da história, várias nações já tentaram exterminar este povo. Mesmo antes de Israel se tornar uma nação, quando era apenas uma povo que veio de Canaã para o Egito, houve a tentativa de Faraó de impedir o crescimento deste povo, ordenando o assassinato de todas as crianças israelitas do sexo masculino, logo no nascimento. 


Deus, através de Moisés, libertou Israel da escravidão no Egito e o conduziu à terra prometida. Ainda no deserto, Israel enfrentou o ódio de Moabe, Amaleque e outros reis. Depois que entrou na terra prometida, por causa da desobediência de Israel, Deus permitiu que várias nações subjugassem a Israel, no período dos juízes. No período da monarquia, vários reinos destilaram ódio contra Israel e intentaram destruir este povo. Enquanto eles obedeceram a Deus, foram poupados, mas foram alertados de que a desobediência os levaria ao cativeiro. 


Com a divisão do reino, após a morte de Salomão, todos os reis do Reino do Norte foram ímpios e sofreram muitas derrotas. Finalmente, em 722 a.C. quando Salmaneser, rei da Assíria, dominou Israel, durante o reinado de Oséias por três anos e, depois de notar que havia conspiração por parte do rei de Israel, transportou todo o povo para a Assíria. Além de transportar o povo de Israel para o cativeiro, o rei da Assíria trouxe outros povos, para habitarem na região. Estes povos deram origem aos samaritanos. (2 Rs 17.3-6; 24). 


No Reino do Sul, houve vários reis piedosos, como Asa, Josafá, Jotão, Ezequias e Josias. Mas alguns foram ímpios como Roboão, Jeorão, Acaz, Manassés Amom, Jeoaquim e Zedequias.  Por causa disso, Nabucodonosor, rei da Babilônia, dominou o povo de Judá, em 605 a.C. Nesta ocasião, foram levados para a Babilônia o rei Jeoaquim, Daniel, os seus companheiros e outros membros da família real. No lugar de Jeoaquim, Nabucodonosor deixou o seu filho Joaquim, como um vassalo da Babilônia em Jerusalém. Porém, ele se rebelou e também foi levado para a Babilônia em 597 a.C. Com o rei Joaquim foram levados mais sete mil judeus, entre eles, o profeta Ezequiel. No lugar de Joaquim, Nabucodonosor deixou o seu tio Zedequias como vassalo da Babilônia. Por último, em 586 a.C., o exército babilônico invadiu Jerusalém, queimou a cidade, destruiu o templo, deixando milhares de mortos e levou o povo para o cativeiro. Ficaram na terra de Judá apenas alguns idosos e deficientes na mais absoluta miséria. 


Este cativeiro do Reino do Sul durou setenta anos, até o ano 539 a.C., quando o imperador Ciro, da Pérsia, emitiu um decreto e os judeus foram autorizados a voltarem para a sua terra. Não era ainda a liberdade e a independência, pois eles continuaram sob o domínio persa. Muitos deles se adaptaram à vida no exílio e continuaram vivendo em comunidades judaicas, fora da sua pátria. Isso continuou com os domínios grego e romano, que vieram depois da Pérsia. Foi neste contexto, que os judeus se depararam com o ódio descomunal de Hamã contra eles, a ponto de querer exterminá-los em único dia, sem causa. 


Durante o período interbíblico, o povo judeu foi vítima do ódio de Antíoco Epifânio IV,  que era da dinastia selêucida e governou a Síria entre 175 a.C. e 164 a.C. Este governante tinha um ódio terrível dos judeus e tentou o unificar o seu reino, proibindo a religião judaica e impondo a adoração aos deuses gregos. No ano 168 a.C., ele invadiu Jerusalém, ergueu um altar a Zeus no templo e mandou sacrificar um porco, animal considerado imundo pela Lei mosaica. Os judeus zelosos se recusaram a praticar estas abominações e foram mortos impiedosamente. Isso provocou a chamada revolta dos Macabeus, que recebeu este nome por causa de Judas Macabeus, líder desta revolta. 


A última diáspora do povo judeu aconteceu no ano 70 d.C. Depois de uma revolta iniciada em 66 d.C., pelo grupo dos Zelotes contra Roma, com vários assassinatos e atentados terroristas, o general romano Tito invadiu Jerusalém e destruiu a cidade. Os judeus que não foram mortos fugiram e se espalharam pelo mundo. Os israelitas que fugiram permaneceram espalhados pelo mundo por 1878 anos, até o ano de 1948, quando foi criado o Estado de Israel. 


Esta, sem dúvida, foi a maior e mais longa diáspora judaica, pois permanece até aos dias atuais. Mesmo depois do ressurgimento do estado de Israel, ainda há mais judeus vivendo fora, do que na terra de Israel. Depois da destruição de Jerusalém pelos romanos e expulsão dos judeus da sua terra, este povo ficou sem pátria, espalhado pelo mundo. 


2- Antissemitismo religioso, nacionalista e racial. Durante o período que o povo judeu permaneceu espalhado pelo mundo sem pátria, eles foram vítimas do antisemitismo, por motivos diferentes. O comentarista nos apresentou aqui as três faces do antissemitismo que são: antissemitismo religioso, nacionalista e racial. No tópico anterior, o Comentarista falou apenas do antissemitismo religioso, deixando os outros dois para este tópico. Eu preferi reunir as três faces do antissemitismo aqui, para facilitar o entendimento. 


a. Antissemitismo religioso. É o ódio contra o povo judeu por causa da sua religião, ou por eles se recusarem a seguir outra religião. Neste aspecto, após perderem a sua pátria, os judeus já sofreram muitas perseguições religiosas e foram considerados culpados de vários acontecimentos trágicos. O principal deles foi a morte de Cristo. O ódio aos judeus por este motivo é chamado de deicídio, ou seja, são acusados pela morte do Filho de Deus. 


Em 1349, os judeus foram acusados também de serem responsáveis pela peste negra. Ao longo da história, surgiram também lendas contra judeus, como a de que eles sacrificavam crianças. Estas lendas se propagaram pela Europa, fazendo a população os odiar. Por causa disso, os judeus eram expulsos de  cidades européias. 


Os judeus também foram vítimas da chamada Santa Inquisição, ou Tribunal do Santo Ofício, da Igreja Católica. Na tentativa de combater o que a Igreja considerava heresia e forçar a conversão ao Cristianismo, o Papa mandava torturar pessoas de outras religiões para forçá-los a negar a sua fé. Os que não negavam eram queimados vivos. Nesta ocasião, muitos judeus foram torturados e mortos. 


O antissemitismo religioso nasceu, principalmente, a partir de interpretações equivocadas da Bíblia. Neste aspecto, não se limitou aos católicos. Mesmo após a Reforma Protestante, o ódio aos judeus continuou. Martinho Lutero também odiava os judeus e defendeu em um tratado de 1543, a perseguição aos judeus, a queima de sinagogas e escolas judaicas, a destruição de símbolos religiosos judaicos e a proibição de pregações de rabinos.


b. O antissemitismo nacionalista. Esta face do antissemitismo se desenvolveu a partir do final do Século XIX e início do Século XX, nos países do leste europeu. Neste aspecto, o antissemitismo é uma espécie de xenofobia, que é a aversão ao estrangeiro, com a argumentação de que eles estão tomando os nossos empregos e prejudicando a nossa economia. Os judeus foram considerados culpados pelos problemas econômicos de vários países do leste europeu e, por isso, sofriam represálias nestes países. 


c. O antissemitismo racial. Esta face do antissemitismo, assim como os demais tipos de racismo, tem origem na famigerada ideia de que existem raças superiores a outras. Aliás a ideia de raças deve ser rechaçada, pois só existe uma raça, que é a humana. Este tipo de antissemitismo chegou ao seu clímax com o Nazismo de Adolf Hitler, na Alemanha. 


Hitler tinha a ideia maligna de uma raça superior, chamada de ariana. Com essa ideia, ele tinha em mente, “purificar" a sociedade alemã, de seres indesejáveis como deficientes físicos, esquizofrênicos, epiléticos, paralíticos e psicopatas. Para isso, elaborava listas destas pessoas e as transferia dos hospitais para os centros de eutanásia, onde eram mortos através da inalação de gases tóxicos. 


A ideia de purificar a raça humana é chamada de “eugenia”, que é a seleção de seres humanos com base nas características hereditárias, com o objetivo de “melhorar” as futuras gerações. A palavra “eugenia” é de origem grega e significa “bem nascido”. A eugenia estava presente não apenas na Alemanha, mas em vários países, inclusive no Brasil. Nos Estados Unidos, a eugenia estava prevista na Constituição. 


Partindo da ideia de raça superior, o Nazismo considerou os judeus como uma raça que deveria ser eliminada, assim como os negros, ciganos e outros. Quando assumiram o poder, os nazistas saíram do discurso antissemita para a perseguição aos judeus. O primeiro passo foi retirar a cidadania de todos os judeus. Depois passaram a boicotar os negócios dos judeus e, na chamada “Noite dos Cristais”, os alemães foram autorizados pelo governo a atacar residências judaicas e destruir sinagogas. Por fim, os nazistas aprisionaram os judeus em campos de trabalhos escravos em condições precárias. Aos poucos, eles eram mortos por fuzilamento e por inalação de gases tóxicos. Estima-se que o número de judeus pelos nazistas chegou aos seis milhões de pessoas. 


Além da questão racial, havia também outros fatores que disseminaram o ódio dos alemães pelo povo judeu, como o fato deles serem minoria na Alemanha, mas terem um alto poder aquisivo e elevado nível cultural. Além disso, havia teorias conspiratórias, que diziam que havia um complô internacional de judeus para dominar o mundo. Por isso, os alemães culparam os judeus pela derrota na Primeira Guerra Mundial. 


3- Antissemitismo hoje. Do ano 70 d.C. a 1948, os judeus não tinham pátria e viviam espalhados em comunidades judaicas, em vários países. Neste espaço de tempo, eles foram vítimas do ódio por vários motivos, como já vimos, até a tentativa cruel de eliminação, pelos nazistas. No final do Século XIX, devido ao crescimento do antissemitismo, surgiu na Europa um movimento político chamado Sionismo, que defendia a criação de um estado, para abrigar o povo judeu na terra que pertenceu a eles durante muitos séculos. O idealizador deste movimento foi o jornalista húngaro, Theodor Herzl, com a sua obra "O Estado Judeu". 


Em 1897, foi organizado na Suíça, o primeiro Congresso Mundial Sionista para debater o assunto. Foi aprovado neste congresso: o envio de uma comissão para a Palestina, para avaliar a possibilidade de ocupação da terra; os judeus deveriam ocupar a mesma terra, da qual haviam fugido; e a compra das terras que seriam ocupadas. Finalmente, em 27 de novembro de 1947, na primeira Assembleia Geral das Nações Unidas, presidida pelo brasileiro, Osvaldo Aranha, foi aprovada a criação do Estado de Israel. Em 14 de maio de 1948 foi publicado o primeiro Diário Oficial de Israel. As tropas britânicas deixaram o local e Israel tornou-se novamente um estado independente.


Esperava-se que, após a criação do Estado de Israel, finalmente este povo tivesse o direito de viver em paz. Mas, infelizmente, não foi o que aconteceu. Desde a fundação do Estado de Israel, as nações árabes tentam, a todo custo, eliminá-lo. A primeira tentativa foi em 1967, na chamada “Guerra dos seis dias”, quando dez países árabes se uniram para destruir Israel e foram derrotados. Depois disso, Israel já sofreu vários ataques de grupos terroristas e precisa estar atento a todo instante  e reforçar a sua defesa, para não ser varrido do mapa. Recentemente, o então presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que nega o Holocausto, chegou a sugerir que Israel se mudasse para a Europa. O Irã, Iraque, Líbano e outros países do Oriente Médio não apenas odeiam Israel, como apoiam e fornecem armas para grupos terroristas o atacarem. 


O mais recente ataque cruel e chocante contra Israel aconteceu em outubro de 2023, quando o grupo terrorista Hamas, em um dia de paz em Israel, atacou covardemente vários alvos civis israelenses. Neste ataque, invadiram residências, mataram idosos e crianças e levaram mais de 200 pessoas reféns. Alguns ainda permanecem reféns e outros foram mortos. Neste e em outros ataques praticados contra Israel, as críticas são sempre dirigidas à reação de Israel e nunca aos seus inimigos. O governo brasileiro, por exemplo, além de nunca se referir ao Hamas como um grupo terrorista, condenou duramente os atos de defesa de Israel. O atual presidente brasileiro chegou ao cúmulo de comparar as ações de Israel contra o terrorismo, ao holocausto. Isso provocou a revolta do primeiro ministro de Israel que o considerou persona non grata em Israel. 


O antissemitismo tem se acentuado principalmente entre políticos de esquerda, não apenas no meio político, mas também no meio acadêmico, sindical e na imprensa. Intelectuais, sindicalistas e jornalistas defendem abertamente o Hamas e outros inimigos do povo judeu. Em alguns lugares, aconteceram ataques gratuitos contra alvos judeus. Na Bahia, por exemplo, uma comerciante judia sofreu um ataque dentro da sua loja. Mais grave ainda é ver pessoas que se dizem evangélicas, atacando Israel em nome de uma ideologia política. Não é isso que a Bíblia nos recomenda. Temos a recomendação bíblica de orar por Israel (Sl 122.6).


REFERÊNCIAS: 


QUEIROZ, Silas. O Deus que governa o Mundo e cuida da Família: Os ensinamentos divinos nos livros de Rute e Ester para a nossa geração. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2024.

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. RIO DE JANEIRO: CPAD, 3º Trimestre de 2024. Nº 98, pág. 40. 

Bíblia de Estudo Pentecostal: Edição Global, editada pela CPAD, pp.838-40.

HAGEE, John. Em Defesa de Israel. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, pp.109-10. 

A DOUTRINA BÍBLICA DA RESSURREIÇÃO DO CORPO

(Comentário do 3º  tópico da lição 07: “EU SOU A RESSUREIÇÃO E A VIDA”. Ev. WELIANO PIRES No terceiro tópico, falaremos da doutrina bíblica ...