02 março 2023

A VIDA PESSOAL E FAMILIAR DO CRENTE AVIVADO


(Comentário do 3º tópico da Lição 10: O avivamento na vida pessoal)

Ev. WELIANO PIRES

No terceiro tópico falaremos sobre a vida individual e familiar do crente avivado. O avivamento na vida do crente não se limita ao ambiente religioso, dentro dos templos. Precisa refletir também em sua vida pessoal, conjugal, social e profissional. Por isso, neste tópico falaremos dos efeitos de uma vida avivada, no relacionamento com o cônjuge, na criação dos filhos e na santificação do crente.

1- A vida pessoal. Há um grande equívoco por parte de alguns cristãos, inclusive obreiros, em relação ao cuidado pessoal. Estas pessoas acham que o crente deve cuidar apenas das coisas espirituais e pensam que um crente espiritual vive em outra dimensão, como se fosse um anjo, totalmente desconexo da vida terrena. Entretanto, o avivamento espiritual compreende também os aspectos emocionais, relacionais e emocionais. O apóstolo Paulo escrevendo ao jovem pastor Timóteo recomendou:  “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persevera nestas coisas; porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.” (1 Tm 4.16). Ou seja, antes de cuidar da doutrina ou de outras pessoas, o obreiro precisa cuidar de si mesmo. 

Este cuidado de nós mesmos envolve todos os aspectos da nossa vida. O crente precisa, em primeiro lugar, cuidar da própria espiritualidade, exercitando-se nas disciplinas da vida cristã, como a oração e meditação diária na Palavra de Deus, conforme vimos no tópico anterior. Se não alimentarmos o nosso espírito com as coisas de Deus morreremos espiritualmente de inanição. Em outra recomendação a Timóteo, Paulo diz: “...exercita-te a ti mesmo em piedade.” (1 Tm 4.7). 

Ter cuidado de si mesmo envolve também o cuidado com a própria saúde. Paulo recomendou a Timóteo que não bebesse apenas água, mas tomasse também um pouco de vinho, por causa das frequentes enfermidades no estômago (1 Tm 5.23). Naquela época, não havia medicina como hoje. O que havia era apenas remédios caseiros e tratamentos primitivos. Hoje, no entanto, a medicina avançou muito. Além dos tratamentos para várias doenças, temos a medicina preventiva, a educação alimentar e a educação física, que são essenciais para uma vida saudável. Quem descuida da própria saúde, além de correr o risco de morte prematura, pode sofrer muito com doenças que poderiam ser evitadas. Um crente, principalmente um obreiro doente traz prejuízos à obra de Deus. 

O crente também deve cuidar da sua santificação, fugindo do pecado e de toda aparência do mal. O pecado jaz à nossa porta, à espreita, como instrumento do inimigo para nos destruir. Por isso, o crente além de exercitar-se na piedade, deve vigiar o tempo todo, para cair em tentação. Um momento de distração pode ser fatal. Neste aspecto, precisamos cuidar também da nossa reputação, para não escandalizar o Evangelho. 

2- A vida com o cônjuge. Não é possível dissociar a vida cheia do Espírito Santo da vida conjugal, no caso dos casados. Escrevendo a Timóteo, o apóstolo Paulo deu a seguinte recomendação: “Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel.” (1 Tm 5.8). O apóstolo Pedro, por sua vez, alertou que se o marido não tratar bem a esposa, as suas orações serão impedidas: “Igualmente vós, maridos, coabitai com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais fraco; como sendo vós os seus co-herdeiros da graça da vida; para que não sejam impedidas as vossas orações.” (1 Pe 3.7).

Escrevendo aos Efésios, Paulo estabeleceu as bases do relacionamento conjugal, que são o amor e a submissão e comparou-o com o relacionamento entre Cristo e a Sua Igreja. Paulo recomendou que a mulher seja submissa ao marido, no Senhor, como a Igreja está sujeita a Cristo. Na Bíblia não há espaço para o feminismo que promove uma verdadeira guerra das mulheres contra os homens e é radicalmente contrário à submissão da mulher ao seu marido. 

A submissão da esposa ao marido deve ser voluntária e alegre, com base no amor. Deve estar condicionada à missão do marido como líder da família. Ser submissa ao marido, no Senhor, significa submeter-se à missão que o Senhor lhe confiou. É importante esclarecer também que a submissão da mulher ao marido não é absoluta e não está acima da sua submissão a Cristo. Se o marido quiser impedir a esposa de servir ao Senhor, ela tem a obrigação de contrariá-lo, pois Cristo é Senhor absoluto da vida dela e está acima da liderança do marido. 

O apóstolo reafirmou também a liderança do homem na família, da mesma forma que Cristo é o líder da Igreja. Entretanto, esta liderança deve ser uma liderança servidora e sacrificial. O marido deve amar a esposa como Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela. (Ef 5.22-25). O marido cristão tem a obrigação de prover o sustento do lar e sacrificar-se pela família até com a própria vida, se for o caso. Ser o líder, do ponto de vista de Deus, não significa ser superior ou ditador. Significa que tem uma responsabilidade maior e é aquele que serve. O marido deve ser o líder da casa segundo o modelo de liderança de Cristo, que sacrificou-se voluntariamente por nós. 

3- A vida com os filhos. Os filhos são herança do Senhor, que Ele nos confiou para criarmos e educarmos segundo os valores dele. O avivamento na vida do crente também deve repercutir no seu relacionamento com os filhos. Se por um lado há mandamentos no Antigo e no Novo Testamento para que os filhos honrem e obedeçam aos seus pais, há inúmeros mandamentos para que os pais criem os instruam os seus filhos nos caminhos do Senhor (Dt 6.6,7; Pv 22.6) e não lhes provoquem a ira (Ef 6.4). William Hendriksen aborda seis atitudes dos pais que provocam ira nos filhos: 1) excesso de proteção; 2) favoritismo; 3) desestímulo; 4) não reconhecimento do fato de que o filho está crescendo e, portanto, tem o direito de ter suas próprias ideias e de que não precisa ser uma cópia exata do pai para ter êxito na vida; 5) negligência; e 6) palavras ásperas e crueldade física.

Infelizmente há pais cristãos que são verdadeiros empecilhos para que os seus filhos sirvam ao Senhor, pois não expressam o amor, o carinho, o respeito e o temor a Deus, dentro de casa. São agressivos, arrogantes e desrespeitosos com o cônjuge e com os filhos. Outros, tratam bem os filhos, mas não cuidam da vida espiritual deles. Não oram com eles, não ensinam a Palavra de Deus e não os levam para a casa do Senhor. Há ainda os que são coniventes com os erros praticados pelos filhos e estes acabam enveredando por caminhos errados. É verdade que nem sempre a culpa é dos pais quando os filhos se desviam. Há filhos que os pais ensinam-lhes a Palavra de Deus desde pequenos, dão bons exemplos, mas, quando crescem eles se rebelam contra Deus, influenciados pelo mundo. Cuidemos da vida espiritual dos nossos filhos, ensinando desde cedo a Palavra do Senhor, principalmente com o nosso exemplo de vida. 

4- Os efeitos do avivamento na vida pessoal. Não basta o crente dizer que é avivado e não se identifica um crente avivado pelo barulho que faz em um culto, pelas profecias, ou pela quantidade de palavras proferidas em língua estranha. Conforme vimos na primeira lição, o avivamento é obra de Deus. Então, se um crente é avivado pelo Espírito Santo, os efeitos deste avivamento aparecem e os que estão ao seu redor irão perceber. 

O comentarista coloca pelo menos quatro efeitos de um autêntico avivamento na vida de um crente:

a. O crente avivado é alegre. Isto não significa a ausência de tristeza, mas que a alegria dele independe das circunstâncias, pois ela vem de Deus. Paulo escrevendo aos Filipenses, disse: "Regozijai-vos sempre no Senhor…" (Fp 4.4). Aos Romanos, ele escreveu: "Alegrai-vos na esperança…" (Rm 12.12a). Vemos, portanto, que a alegria do crente avivado está no Senhor e na esperança que temos nele, independente daquilo que estamos passando.

b. O crente avivado é forte (Ne 8.10). A alegria que vem do Senhor e a força do Seu poder nos fazem fortes. Neemias diz neste versículo que "a alegria do Senhor é a nossa força".  Paulo escrevendo aos Efésios mandou que eles se fortalecessem no Senhor e na força do seu poder. (Ef 6.10). O crente avivado recebe forças do Senhor para enfrentar as lutas, o inimigo e não recua. 

c. O crente avivado não teme a morte  (Dn 3.12; 19-26; Dn 6.1-10). Temos aí os exemplos de Sadraque, Mesaque e Abedenego, companheiros de Daniel que não adoraram a imagem do rei Nabucodonosor, mesmo sob ameaça de serem queimados vivos, e Deus os livrou da morte. Temos também o exemplo do próprio Daniel, que não se intimidou com a ameaça de ser lançado na cova dos leões, caso fizesse oração a Deus, por um período de 30 dias. Ele foi lançado na cova dos leões e Deus não permitiu que os leões lhe fizessem nenhum mal. 

d. O crente avivado é santo. Deus é absolutamente santo e exige santidade dos seus servos. Logo, um crente que foi avivado pelo Espírito Santo, também é santo é toda a sua maneira de viver. Santidade é o ato de afastar-se do pecado e dedicar-se a Deus. Se alguém vive na prática do pecado é porque não experimentou um avivamento da parte de Deus. 


REFERÊNCIAS:


RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

LOPES, Hernandes Dias. EFÉSIOS: Igreja, A Noiva Gloriosa de Cristo. Editora Hagnos. págs. 152-.159.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 4. pág. 328.

AIRHART, .Arnold E. Comentário Bíblico Beacon. I e II Timóteo.  Editora CPAD. Vol. 9. pág. 485.

LOPES, Hernandes Dias. HEBREUS: A Superioridade de Cristo. Editora Hagnos. 1 Ed. 2018.


01 março 2023

O AVIVAMENTO ESPIRITUAL DO CRENTE

(Comentário do 2⁰ tópico da Lição 10: O avivamento na vida pessoal)

No segundo tópico, falaremos do avivamento espiritual do crente. Não há outra forma do crente experimentar um avivamento pessoal, se não reservar uma agenda de piedade, através das disciplinas da vida cristã. A principal destas disciplinas é a prática da oração, que deve ser um exercício diário, na vida de um crente que busca o avivamento em sua vida. Neste tópico veremos os exemplos de Davi, Daniel e Jesus que viviam em constante oração. A segunda disciplina na vida do crente é a leitura devocional da Bíblia, que é o nosso único manual de fé e conduta. A Palavra de Deus é a nossa arma de defesa, portanto, devemos conhecê-la bem e está sempre nos alimentando dela. Jesus venceu a tentação do inimigo no deserto com a Palavra de Deus.


1- Reservando uma agenda de piedade. A nossa vida espiritual deve ser um exercício diário. Para isso, inevitavelmente, teremos que ter um espaço em nossa agenda para aprofundar a nossa comunhão com Deus, através da oração e da meditação nas Escrituras. Não se trata de ascetismo ou  de sacrifício para obter o favor de Deus. Esta é a forma bíblica de crescimento espiritual e estreitamento da nossa comunhão com Deus. 

É muito comum vermos pessoas reclamando que não tem tempo para orar ou ler a Bíblia. Entretanto, todos nós dispomos de 24 horas por dia. O que nos falta não é tempo e sim, administração do tempo, priorizando o que é indispensável. O livro do Eclesiastes, no capítulo 3 diz que 'há tempo para todas as coisas". Na vida, temos coisas que são indispensáveis, coisas importantes, coisas que podem ser adiadas  e coisas que são fúteis e desnecessárias. Não podemos fazer tudo o que gostaríamos em 24 horas. Por isso, precisamos administrar o nosso tempo e dar prioridade ao que é essencial. 

O ser humano é um ser tricotômico, formado por espírito, alma e corpo. O nosso corpo é a parte material e precisa de alimentação, sol, água, oxigênio, movimento e descanso para sobreviver. Se eliminarmos qualquer um destes itens, o corpo sofrerá sérios prejuízos e pode morrer. A nossa alma é a sede das emoções e precisa de bons relacionamentos com outras pessoas, diversão, boas leituras, amor, paz, alegria e descanso. O espírito humano, por sua vez, é a parte capaz de se relacionar com Deus e precisa justamente deste relacionamento com o Criador, para estar bem. Este relacionamento com Deus não pode ser desenvolvido de outra forma, que não seja a oração e a leitura da Palavra de Deus. Na oração, nós falamos com Deus e através da Palavra de Deus, nós conhecemos Deus e a sua vontade para a nossa vida. 

Estas três partes necessitam de cuidados especiais e não podemos descuidar de nenhum deles. Também não podemos cuidar apenas de um deles e abandonar os outros. Entretanto, o espírito e a alma são inseparáveis e imortais, portanto, devem ter prioridade. O Senhor Jesus disse: "Do que adianta o homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc 8.36). O apóstolo Paulo também falou: ".Porque para mim, o viver é Cristo e o morrer [morte do corpo] é lucro”. (Fp 1.21). Isto significa que, embora devamos também cuidar do nosso corpo, devemos priorizar a vida espiritual. 

2- A prática da oração. Nos tempos bíblicos, os judeus costumavam orar três vezes ao dia: à tarde, pela manhã e ao meio dia. A tarde é mencionada em primeiro lugar nesta lista,  porque os hebreus começavam a contar os seus dias a partir das 18:00 e não às 00:00, como acontece em nossos dias. Sendo assim, os judeus começavam o dia orando, oravam no meio dele e terminavam-no em oração.  

Davi, um homem segundo o coração de Deus, tinha o costume de começar o dia orando e vigiando. Ele orava pelo menos três vezes ao dia: “De tarde e de manhã e ao meio-dia orarei; e clamarei, e ele ouvirá a minha voz.” (Sl 55.17). Entretanto, esta rotina de oração de Davi, não se limitava a um ritual formalista, como faziam os fariseus. Davi tinha um relacionamento pessoal com Deus. Ele orava confessando os seus pecados (Sl 51); orava antes de tomar decisões importantes (2 Sm 5.19); agradecia a Deus por suas vitórias (2 Cr 29.10-13); compunha salmos de louvor a Deus (2 Sm 22.1) e o adorava também nos momentos de perdas (2 Sm 12.20). 

Daniel foi outro exemplo marcante de um homem de Deus que tinha uma vida de constante oração. Ele também tinha o hábito de orar três vezes ao dia (Dn 6.10) e continuou com esta prática, mesmo estando no cativeiro, em terra estranha, em um ambiente hostil e desfavorável à vida piedosa. Assim como Davi, Daniel não orava apenas por obrigação ou como um ritual. Ele orava a Deus em situações difíceis, como no caso em que o rei Nabucodonosor  teve um sonho e exigiu dos sábios que revelassem o sonho e a sua interpretação. Se não o fizessem, seriam mortos. Daniel quando soube disso, pediu um tempo ao rei e foi orar para que Deus revelasse o segredo. Deus atendeu o seu pedido, revelou -lhe o segredo do rei e o livrou da morte. Em outra situação, mesmo sabendo que não seria permitido orar por um espaço de 30 dias, ele continuou orando e foi jogado na cova dos leões. Mais uma vez, Deus o livrou da morte. Quando desejou entender as visões de Deus, Daniel orou por 21 dias até a resposta chegar. 

O nosso maior exemplo de oração é o Senhor Jesus. O ministério terreno do Senhor Jesus foi marcado pela oração. Além de ensinar a orar, Jesus foi também um exemplo na prática da oração. Mesmo sendo Deus, na condição humana Ele buscou ao Pai em diversas ocasiões. O Mestre orava sem cessar. Jesus falava constantemente com o Pai, em público e em particular. Ele orava ao amanhecer, ainda escuro: “Levantando-se de manhã muito cedo, fazendo ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava” (Mc 1.35). Antes de escolher os seus apóstolos, Ele passou a noite em oração: "E aconteceu que, naqueles dias, subiu ao monte a orar e passou a noite em oração a Deus." (Lc 6.12). No capítulo 17 de João, vemos a chamada Oração Sacerdotal de Jesus, onde Ele intercede ao Pai pelos seus discípulos. No Jardim do Getsêmani, em profunda agonia, a ponto de suar gotas de sangue, o Mestre também orou ao Pai, dizendo: “Meu Pai, se é possível, passa de mim este cálice; todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres.” (Mt 26.39). 

Ao longo da história da Igreja também, homens e mulheres de Deus mantiveram-se em oração diante de Deus. Os apóstolos, no início da Igreja Primitiva, viviam em constante oração: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.” (At 2.42). Eles oravam em momentos de grandes dificuldades: “Pedro, pois, era guardado na prisão; mas a igreja fazia contínua oração por ele a Deus. (At 12.5); Oravam antes de enviar missionários: “Então, jejuando e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram.” (At 13.3); oravam até nas prisões: “E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam.” (At 16.25). 

Os homens de Deus que experimentaram grandes avivamentos ao longo da história, como John Wesley, D. L. Moody, Jonathan Edwards, Charles Finney, William J. Seymour e outros, também tiveram as suas vidas dedicadas à oração.  Daniel Berg, Gunnar Vingren e os seus sucessores na Assembléia de Deus também viviam em constante oração.  

3- A leitura devocional da Bíblia. Se por um lado, a oração é indispensável à vida do crente, como vimos acima, a leitura devocional e o estudo da palavra de Deus também o são. Uma coisa não substitui a outra. Infelizmente, no meio pentecostal há muitos crentes que, apesar de orarem muito, não conhecem a Palavra de Deus e ainda desprezam aqueles que procuram conhecê-la. A oração sem o conhecimento bíblico leva o crente ao fanatismo, ao zelo sem entendimento e às heresias. 

Infelizmente, muitas pessoas na atualidade não gostam ou tem preguiça de ler. Esta preguiça de ler e a busca por respostas prontas e curtas, também chegaram ao meio evangélico. Muitos evangélicos atualmente usam a Bíblia apenas nos templos. Mesmo assim, é possível perceber que alguns nem abrem a Bíblia durante as leituras e pregações. Um número muito grande de evangélicos, inclusive pastores, nunca leram a Bíblia inteira. O resultado disso é trágico. Há um analfabetismo bíblico enorme em nosso meio. A prática da leitura bíblica deve ser um exercício diário para o cristão. Isso, claro, deve ser feito com disciplina, devoção e estudo. 

A leitura diária da Bíblia é fundamental para a vida cristã. Esta leitura tem objetivos diferentes. Devemos ler a Bíblia para aprender o seu conteúdo, de forma devocional na meditação e como pesquisa, em temas específicos. Somos discípulos de Cristo e o aprendizado é a base de todo discípulo, pois a própria palavra discípulo significa "aprendiz".

Além de ler diariamente a Palavra de Deus, é muito importante também entender aquilo que lemos, pois, muitas heresias nascem de interpretações equivocadas ou distorções dos textos bíblicos. A Bíblia foi escrita em um contexto muito distante e diferente da época em que vivemos. Por isso, é preciso interpretá-la corretamente, para a entendermos. Esta interpretação envolve a exegese e a hermenêutica, que são ferramentas muito importantes na interpretação de textos.


REFERÊNCIAS: 

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 2229.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento:Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. 1 Ed. 2010. pág. 404.

BRANDT, Robert L. e BICKET, Zenas J. Teologia Bíblica da Oração. Editora CPAD. pag. 152-153.

28 fevereiro 2023

O AVIVAMENTO NA VIDA DO SALMISTA

(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 10: O avivamento na vida pessoal). 

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, falaremos a respeito do avivamento na vida do salmista, que neste caso é o Rei Davi. O Livro dos Salmos é uma compilação de diversos cânticos e poesias judaicas, que eram usados na devoção particular e nos cultos. Estes cânticos expressavam os mais profundos sentimentos dos seus autores, em várias circunstâncias: alegria, tristeza, desespero, lamentações, orações, louvor, etc. O livro dos Salmos é chamado em hebraico de Sepher Tehilim, "Livro dos louvores". O título "Salmos", que aparece em nossas Bíblias vem do grego "Psalmós", que significa "cântico com acompanhamento de um instrumento musical" conforme está na versão grega Septuaginta. O livro dos Salmos está dividido em cinco partes: 

Livro I. Do Salmo 1 ao 41 com a maioria dos cânticos de autoria de Davi;

Livro II. Do Salmo 42 ao 72, com vários cânticos de Davi, Asafe e Salomão; 

Livro III. Do Salmo 73 ao 89, com vários salmos de Asafe;

Livro IV. Do Salmo 90 ao 106, com a maioria dos Salmos anônimos e alguns atribuídos a Moisés, Davi e Salomão;

Livro V: Do Salmo 107 ao 150. Neste livro temos a coleção chamada de Hallel egípcio, que vai do Salmo 113 ao 118. Temos também o chamado Grande Hallel, que vai do 146 ao 118, onde cada cântico começa com a expressão hebraica Halleluyah, que significa “Louvai ao Senhor”. 

Os salmos eram poesias, compostas em forma de canto, que expressavam os mais profundos sentimentos dos salmistas, nas mais diversas situações. Neste Salmo 63 e em muitos outros, Davi expressa uma busca sincera pelo Senhor. Outrossim, em um momento difícil que ele atravessava, o salmista manifesta o seu desejo de contemplar a fortaleza e a glória do Senhor. Por fim, o salmista conclui que esta busca por Deus e contemplação da glória de Deus o levaria à segurança, pois Deus é o nosso auxílio. 

O Salmo 63, que é o objeto do nosso estudo aqui, traz em seu título a informação "Salmo de Davi, quando ele estava no deserto de Judá". Os títulos dos Salmos, embora não façam parte do texto sagrado, trazem informações sobre a autoria e as circunstâncias em que foram escritos. O deserto de Judá, chamado de "deserto da Judéia" no Novo Testamento era uma região selvagem e não cultivada, que fica no Leste do território de Judá. Davi esteve nesta região algumas vezes, quando fugia de Saul e quando fugiu do seu filho Absalão. A menção a ele como "rei", mostra que o Salmo foi escrito no tempo de Absalão. 

1- Uma busca sincera. No primeiro verso, o salmista assim se expressou: “Ó Deus, tu és o meu Deus; de madrugada te buscarei; a minha alma tem sede de ti; a minha carne te deseja muito em uma terra seca e cansada, onde não há água”. Estas afirmações são profundas e tem um grande significado teológico. Na primeira frase, o poeta afirma a sua fé monoteísta no Deus de Israel: "... Tu és o meu Deus". O primeiro dos mandamentos dados por Deus a Moisés foi exatamente este: "Não terás outros deuses diante de mim". (Ex 20.3).  Deus não divide a sua glória com mais ninguém e exige fidelidade. Não é possível servir a Deus e a outros deuses ao mesmo tempo. Nesta frase Davi afirma também o seu relacionamento pessoal com Deus: "... o meu Deus". O salmista não se referiu ao Deus do seu pai ou de quem ele ouviu falar, mas se referiu a Deus como "o meu Deus". Em outros salmos de autoria de Davi também podemos notar que ele tinha um relacionamento pessoal com Deus. 

Na segunda parte do versículo, o salmista declara o seu desejo sincero de buscar a Deus e o anseio que a sua alma tem por Deus. Para isso, ele usa a linguagem figurada de uma pessoa sedenta em uma terra onde não há água. A maior parte do corpo humano é formado de água e ele necessita constantemente de água para sobreviver. Em outro salmo, o salmista usa o exemplo do cervo que brama por água, para expressar o anseio que ele sentia por Deus (Sl 42.1). A falta de água causa desidratação e provoca uma ansiedade profunda no corpo. Da mesma forma que nenhum ser humano sobrevive sem água e sente muita falta dela, nenhum ser humano vive sem Deus e busca saciar a sua sede de Deus com outras coisas. 

2- Contemplando e bendizendo ao Senhor. Conforme falamos no início, o salmista fugia do seu filho Absalão e estava em grande aflição. Mas ele não expressou nenhuma sede por algum benefício ou alívio para si. O seu anelo era pela presença de Deus. Que coisa gloriosa! O  crente verdadeiro busca a presença de Deus e não apenas aquilo que Ele pode conceder. Quem serve a Deus por aquilo que Ele dá, trocaria Deus por outra pessoa, se a oferta fosse maior. 

O que o salmista desejava, em sua fuga, solidão e aflição no deserto, era poder contemplar novamente a glória de Deus e poder louvá-lo. Quem ama a Deus de verdade, sente prazer em cultuar a Deus e sentir a sua presença. Davi desejava ardentemente contemplar a glória do Senhor, como anteriormente nas festividades de Israel. Infelizmente, muitos crentes não têm mais prazer em cultuar a Deus e quando vão ao templo é por mera obrigação ou formalismo. Oremos para que o Espírito Santo produza em nós um desejo ardente de estar na presença do Senhor e adorá-lo na beleza da Sua Santidade! 

3- Deus é o nosso auxílio. Por fim, o salmista declara a sua total dependência de Deus, reconhecendo que Deus é o seu auxílio, refúgio e sustento. O verdadeiro avivamento produz no crente, confiança plena em Deus, que o faz descansar nEle. Em muitos salmos encontramos declarações dos salmistas nesse sentido. No Salmo 4, lemos uma declaração de confiança em Deus ao dormir: “Em paz também me deitarei e dormirei, porque só tu, Senhor, me fazes habitar em segurança.” (Sl 4.8). Já no Salmo 46, vemos a fé perfeita em Deus, em meio a várias situações de caos: “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. Pelo que não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares. Ainda que as águas rujam e se perturbem, ainda que os montes se abalem pela sua braveza.” (Sl 46.1-3). 

Somente quem tem plena confiança no caráter bondoso de Deus, pode manter-se tranquilo em meio ainda que haja catástrofes a ponto de a terra se mudar e os montes se transportarem para o meio dos mares. Quem confia plenamente em Deus, não murmura e não se desespera, pois sabe que Deus tudo pode, sabe o que o faz, está no controle de tudo e nos ama com amor incomparável. 


REFERÊNCIAS: 

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 2243-2244.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. 1 Ed. 2010. pág. 426, 427.

27 fevereiro 2023

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 10: O AVIVAMENTO NA VIDA PESSOAL


Ev. WELIANO PIRES

Nas lições anteriores falamos de avivamentos que aconteceram de forma coletiva, em Israel, na Igreja Primitiva e na história da Igreja. Falamos também de avivamento de forma individual no ministério de Jesus e vidas vidas de Pedro e Estêvão. Nesta lição falaremos sobre avivamento pessoal e diário em cada um de nós. Não podemos nos contentar com experiências gloriosas de avivamentos na história da Igreja, se isso não for uma realidade em nossa própria vida. Precisamos buscar ao Senhor individualmente, através da oração, jejum e meditação diária em sua Palavra.  


No primeiro tópico, falaremos a respeito do avivamento na vida do salmista, que neste caso é o Rei Davi. Os salmos eram poesias, compostas em forma de canto, que expressavam os mais profundos sentimentos dos salmistas, nas mais diversas situações. Neste Salmo 63 e em muitos outros, Davi expressa uma busca sincera pelo Senhor. Outrossim, em um momento difícil que ele atravessava, o salmista manifesta o seu desejo de contemplar a fortaleza e a glória do Senhor. Por fim, o salmista conclui que esta busca por Deus e contemplação da glória de Deus o levaria à segurança, pois Deus é o nosso auxílio. 


No segundo tópico, falaremos do avivamento espiritual do crente. Não há outra forma do crente experimentar um avivamento pessoal, se não reservar uma agenda de piedade, através das disciplinas da vida cristã. A principal destas disciplinas é a prática da oração, que deve ser um exercício diário, na vida de um crente que busca o avivamento em sua vida. Neste tópico veremos os exemplos de Davi, Daniel e Jesus que viviam em constante oração. A segunda disciplina na vida do crente é a leitura devocional da Bíblia, que é o nosso único manual de fé e conduta. A Palavra de Deus é a nossa arma de defesa, portanto, devemos conhecê-la bem e está sempre nos alimentando dela. Jesus venceu a tentação do inimigo no deserto com a Palavra de Deus. 


No terceiro tópico falaremos sobre a vida individual e familiar do crente avivado. O avivamento na vida do crente não se limita ao ambiente religioso, dentro dos templos. Precisa refletir também em sua vida pessoal, conjugal, social e profissional. Por isso, neste tópico falaremos dos efeitos de uma vida avivada, no relacionamento com o cônjuge, na criação dos filhos e na santificação do crente.


REFERÊNCIAS: 

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

LOPES, Hernandes Dias. EFÉSIOS: Igreja, a noiva gloriosa de Cristo. Editora Hagnos. pag. 149.

24 fevereiro 2023

A EXPANSÃO DO AVIVAMENTO PENTECOSTAL

(Comentário do 3º tópico da Lição 09: O avivamento pentecostal no Brasil)

Ev. WELIANO PIRES

A Assembléia de Deus se espalhava por todo o país, pregando que Jesus salva, batiza no Espírito Santo, cura enfermidades e em breve voltará. Em sua grande maioria, os obreiros assembleianos eram homens simples, com pouca instrução e inexperientes. Devido à grande carência de obreiros para iniciar novos trabalhos e pastorear os que já existiam, muitos crentes com dois anos de fé eram consagrados ao ministério pastoral. Entretanto, estes homens eram homens que tinham vidas consagradas a Deus e conduziam a obra em total dependência do Espírito Santo.

1- Um modelo centrífugo. O modelo de crescimento da Assembléia de Deus no Brasil foi centrífugo, ou seja, de dentro para fora. Cada novo crente, começava a realizar cultos em sua casa e conforme acontecia as conversões, buscavam um lugar maior, até finalmente construir um templo. Este movimento alcançou um crescimento acentuado, não buscando membros de outras Igrejas, mas, buscando os perdidos pelas ruas, através da evangelização, no poder do Espírito Santo. 

Devido à nacionalidade dos missionários suecos, a Igreja Sueca passou a dar apoio à missão no Brasil. A Igreja Filadélfia de Estocolmo, fundada pelo pastor Lewi Pethrus, assumiu o sustento de Gunnar Vingren e Daniel Berg e enviou outros missionários para dar suporte aos novos membros e ensinar a Palavra de Deus. Entre estes missionários está o pastor Samuel Nystron, que veio para o Brasil em 1916 e foi o pioneiro da literatura assembleiana, criando a tipografia onde eram impressos o Jornal Boa Semente, calendários, revistas da Escola Dominical e a Harpa Cristã. Dirigiu também os estudos da primeira Escola Bíblica de Obreiros em Belém e lançou a pedra fundamental do primeiro templo da Igreja em Belém-PA. Foi também o segundo presidente do Ministério do Belém, depois de Daniel Berg, que começou o trabalho. 

a. A colaboração de outros missionários. A Igreja Filadélfia de Estocolmo enviou também o casal de missionários Joel e Signe Carlson para o Brasil, em 1918. Este casal foram os pioneiros da Assembléia de Deus em Pernambuco. Outros missionários suecos também atuaram no Brasil, nos primeiros anos da Assembléia de Deus: 

Otto Nelson: Veio ao Brasil em 1914 e iniciou trabalhos de evangelização em Belém do Pará. Depois, em 1915 foi com a família para Maceió/AL;

Charles Leonard Simon Lundgren: Chegou ao Brasil em 11 de dezembro de 1924, para ajudar o missionário Otto Nelson em Maceió/AL.

Nels Julius Nelson: Chegou ao Brasil em 21 de março de 1921, no Belém/PA, aos 26 anos.

Gustav Nordlund: Veio dos Estados Unidos para Belém/PA e foi um grande líder da Assembleia de Deus gaúcha. 

Depois houve grande participação de missionários estrangeiros, como os norte-americanos Orlando Boyer, Bernhard Johnson, Lawrence Olson, John Peter Kolenda, além do finlandês Eurico Bergstén e o polonês Bruno Skolimowski, que veio ao Brasil em busca de trabalho, aqui se converteu ao Evangelho e foi um dos pioneiros das Assembleias de Deus no Paraná e São Paulo. O missionário Bruno Skolimowski também foi presidente do Ministério do Belém em São Paulo. 

b. Os primeiros pastores brasileiros. Os primeiros pastores ordenados aqui no Brasil foram: Isidoro Filho (1912); Absalão Piano (1913); Crispiniano de Melo; Pedro Trajano; Adriano Nobre; Clímaco Bueno Aza (1918); José Paulino Estumano de Morais (1919); Bruno Skolimowski (1921). Depois, outros importantes pioneiros da Assembleia de Deus foram ordenados ao ministério pastoral, como Cícero Canuto de Lima, que foi ordenado em 1923 pelo missionário Gunnar Vingren. Este foi pastor em João Pessoa/PB, São Cristóvão/RJ. Foi também presidente do Ministério do Belém de 1946 a 1980 e presidente da Convenção Geral. Outro importante pioneiro da Assembleia de Deus, foi o Pr. Paulo Leivas Macalão, ordenado ao ministério pastoral em 1930, por Gunnar Vingren. Pr. Paulo Leivas Macalão era um militar e músico, que compôs 244 hinos da Harpa Cristã, entre autoria, tradução e adaptação. Foi também o fundador do Ministério de Madureira. 

Depois destes vieram muitos pastores que desbravaram campos difíceis e fundaram a Assembleia de Deus em vários lugares como Anselmo Sylvestre (MG), José Pimentel de Carvalho (PR), Alcebíades Pereira de Vasconcelos (AM), Firmino da Anunciação Gouveia (PA), José Amaro da Silva (PE), Estevão Ângelo de Souza (MA), Emílio Conde (RJ), Armando Chaves Cohen (PA), Alfredo Reikdal (SP) João Alves Correia (SP), Rodrigo Silva Santana (BA), José Leôncio da Silva (PE), José Wellington Bezerra da Costa (SP), Manoel Ferreira (SP e RJ), Lupércio Vergniano (SP) e muitos outros, que o espaço não me permite mencionar. Mas o trabalho destes homens de Deus está registrado nos Céus. 

2. Um crescimento acentuado. Ao longo dos anos, a Assembléia de Deus cresceu exponencialmente e ultrapassou Igrejas históricas que já estavam no Brasil quando ela começou. Além do próprio crescimento, muitas outras denominações pentecostais surgiram a partir de crentes que se converteram na Assembléia de Deus. Este crescimento é fruto da evangelização de casa em casa, cultos ao ar livre, cultos nos lares, discipulado e Escola Dominical, que são marcas registradas da Assembléia de Deus. 

Os censos do IBGE ao longo dos anos comprovam o crescimento da Assembléia de Deus. De um pequeno ponto de pregação na casa da irmã Celina de Albuquerque, esta Igreja se tornou a maior denominação evangélica da América latina e uma das maiores do mundo. Este crescimento não é apenas numérico, mas também em realizações. A Assembléia de Deus é também uma Igreja missionária, que investe em missões e mantém missionários em vários países do mundo. 

3. A segunda onda pentecostal do Brasil. Nos primeiros 50 anos do século XX, a Assembléia de Deus e Congregação Cristã se mantiveram como as únicas Igrejas pentecostais no Brasil, embora como já falamos anteriormente, a Congregação Cristã recusa a denominação de pentecostal, mesmo crendo na atualidade dos dons espirituais. Estas duas denominações, embora muito diferentes na organização, nas doutrinas e tendo muitas críticas mútuas, possuíam pelo menos duas características em comum nos primórdios: a ultravalorização dos usos e costumes, confundindo-os com “doutrinas” e a aversão ao estudo teológico. A Assembléia de Deus, pelo menos, ensinava a Palavra de Deus por através das Escolas Dominicais e Escolas Bíblicas de Obreiros. A Congregação Cristã, nem isso fazia, pois entende que basta abrir a Bíblia, ler e aplicá-la àquele momento, sem nenhuma regra de interpretação. 

Entre os anos de 1950 e 1962 surgiram, quase simultaneamente em São Paulo, três grupos pentecostais no país: a Igreja do Evangelho Quadrangular (1951), a Igreja Pentecostal o Brasil para Cristo (1955) e a Igreja Pentecostal Deus é Amor (1961). Estas Igrejas quebraram alguns paradigmas das pioneiras do pentecostalismo e ocuparam espaços considerados mundanos por elas, como estádios de futebol, rádios e teatros. Faziam também grandes cruzadas e davam muita ênfase aos testemunhos de curas e milagres, o que acabava atraindo muitos adeptos. Estas Igrejas, no entanto, tinham enormes diferenças entre si. 

4. O Neopentecostalismo. Paralelo a esta segunda onda pentecostal, que dava muita ênfase aos milagre, libertação e curas, foi importado dos Estados Unidos para o Brasil, a teologia controversa do movimento da fé, propagado por Kenneth Haggin, mais conhecido como teologia da prosperidade, que apregoa o bem estar físico, o triunfalismo e a prosperidade financeira, como resultado da fé em Deus e que o oposto disso seria falta de fé e ação demoníaca. 

Neste contexto nasce o chamado Movimento Neopentecostal, que é uma completa distorção do Movimento Pentecostal. O pioneiro deste movimento no Brasil foi Edir Macedo, que pertencia à Igreja Pentecostal Nova Vida no Rio de Janeiro e fundou a Igreja Universal do Reino de Deus. Posteriormente, o seu cunhado, Romildo Ribeiro Soares, conhecido como R. R. Soares, que também passou pela Igreja Nova Vida e depois pela Casa da Bênção, fundou a Igreja Internacional da Graça de Deus, nos mesmos moldes da Universal. Um bispo muito popular da Universal, chamado Valdemiro Santiago de Oliveira, também rompeu com Edir Macedo e fundou a Igreja Mundial do Poder de Deus. Outra Igreja famosa, do meio neopentecostal, é a Igreja Renascer em Cristo, fundada em 1985 pelo casal  Estevam Hernandes Filho e sua esposa, Sônia Haddad Moraes Hernandes. A Renascer é proprietária da Rede Gospel de Comunicação e por algum tempo tentou assumir o controle da extinta Rede Manchete de Televisão. 

Estes são os principais expoentes do neopentecostalismo no Brasil, cujas Igrejas se cresceram mediante programas de televisão, com exposição pública de testemunhos de milagres, curas e prosperidade financeira, além de exorcismos. Há também muitas igrejas e comunidades neopentecostais de menor porte, que também estão nas rádios e televisões do Brasil.

REFERÊNCIAS:


RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

ROMEIRO, Paulo. Super Crentes – O evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os profetas da prosperidade. Mundo Cristão. São Paulo. 4ª reimpressão. 2012.

BERG, David. Daniel Berg, Enviado por Deus: A história de Daniel Berg, um simples aldeão que ajudou a deflagrar o maior movimento pentecostal da história da Igreja, as Assembleias de Deus no Brasil. Editora CPAD. 1 Ed 1995.

VINGREN, Ivar. O Diário do Pioneiro: Gunnar Vingren. Editora CPAD. 5ª Ed 2000.

23 fevereiro 2023

O NASCIMENTO DE UM NOVO MOVIMENTO


(Comentário do 2º tópico da Lição 10: O Avivamento Pentecostal no Brasil)

Ev. WELIANO PIRES

Devido aos conflitos originários da Reforma Protestante com a Igreja Católica, que se espalharam por vários países, os portugueses que eram em sua maioria católicos, não viam com bons olhos o Protestantismo e não permitiam a implantação de Igrejas Protestantes no Brasil. Houve tentativas, no período colonial, mas não obtiveram êxito. Durante a ocupação holandesa, houve uma “Igreja Reformada Potiguara”, fundada em 1630 na Paraíba. 

Com a vinda da família real ao Brasil, no final de 1807 e início de 1808, muitos estrangeiros entraram no país e foi necessário fazer o Tratado  de comércio e navegação, em 1810. Neste tratado foi garantido a todos o direito de praticar a sua religião, desde que não causassem perturbações e não fizessem proselitismo entre católicos. Em 1817, os ingleses tiveram permissão para construir o primeiro templo, mas era uma espécie de capelania, que tinha permissão para pregar aos funcionários da embaixada, comerciantes, marinheiros e viajantes. Não podiam evangelizar os brasileiros. 

Mesmo após a independência do Brasil, em 1822, a liberdade das outras religiões ainda era muito restrita. O artigo 5º da Constituição de 1824 trazia a seguinte redação: 

A religião Católica Romana continuará a ser a religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo.

Em 1824, foi realizado o primeiro culto no Brasil, dirigido apenas para os imigrantes. Somente em 1858 foi aberta a primeira igreja protestante no Brasil de língua portuguesa, chamada atualmente “Igreja Evangélica Fluminense”. Em 1862, foi fundada a primeira Igreja Presbiteriana Brasileira, também no Rio de Janeiro. Depois vieram as Igrejas metodistas, batistas e luteranas. Mas, nenhuma delas aceitava a doutrina pentecostal. 

A doutrina pentecostal, que os missionários suecos pregavam, incomodou os batistas tradicionais. Em uma reunião, a direção da Igreja decidiu expulsar os dois missionários e 19 irmãos que concordaram com a doutrina que eles pregavam. Após esta expulsão, Daniel Berg, Gunnar Vingren e os outros 19 irmãos que foram expulsos com eles, passaram a se reunir na casa da irmã Celina de Albuquerque, a primeira brasileira a receber batismo no Espírito Santo. Deus abençoou e várias pessoas se converteram, muitos foram curados e outros batizados no Espírito. Este novo trabalho adotou o nome de Missão da Fé Apostólica, que em 1918, passou a se chamar Assembléia de Deus. 

1- A pregação do avivamento pentecostal. As primeiras Igrejas Pentecostais do Brasil foram a Congregação Cristã no Brasil e a Assembleia de Deus. Os fundadores destas duas denominações chegaram ao Brasil no ano de 1910. 

a. A Congregação Cristã no Brasil. O italiano Louis Francescon [Luigi Francesconi, em italiano], que vivia em Chicago, nos Estados Unidos, iniciou a Congregação Cristã no Brasil, no Paraná. Há poucas informações históricas sobre as origens da Congregação Cristã, pois eles têm o costume desde o início, de não registrar nada. Eles se recusavam, inclusive, a ter um um nome ou placa. Devido aos brados de glória durante os cultos, eram chamados de “Igreja dos glórias” ou “povo dos glórias”. Algumas Congregações no início colocavam a placa: “Reunidos em Nome do Senhor Jesus.” Somente em 1936, foi adotado o nome Congregação Cristã no Brasil, devido à necessidade de se ter o registro de uma pessoa jurídica para a denominação. Recusam-se também o nome de pentecostais e preferem ser chamados apenas de “cristãos”. 

Francescon pertencia à Igreja Presbiteriana na Itália. Por discordar do batismo por aspersão, ele resolveu ser batizado por imersão e acabou se desligando da Igreja Presbiteriana e, junto com outros irmãos que pensavam como ele, fundaram uma comunidade evangélica livre. Depois, tomaram conhecimento do Movimento Pentecostal dos Estados Unidos. 

Louis Francescon foi batizado no Espírito Santo e, depois disso, passou a realizar trabalhos missionários nas colônias italianas na Argentina. Em março de 1910, veio para o Brasil e deu início à Congregação Cristã. Inicialmente, a Congregação Cristã era uma Igreja Pentecostal, ortodoxa como a Assembleia de Deus. Mas, ao longo dos anos, por não estudar a Bíblia, foram criando doutrinas heterodoxas e não tem comunhão com nenhuma Igreja Evangélica. Consideram que a Congregação Cristã é o único caminho e são exclusivistas. 

b. A Assembléia de Deus. Os missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren foram os fundadores da Assembleia de Deus no Brasil. Ambos pertenciam à Igreja Batista nos Estados Unidos, mas creram na doutrina pentecostal e foram batizados no Espírito Santo. Em 19 de novembro de 1910, estes dois jovens desembarcaram em Belém-PA, sem saber falar português e sem conhecer nada sobre o Brasil. 

Após chegarem ao Brasil, sem recursos, sem conhecerem o país, nem mesmo o idioma, os missionários ficaram na total dependência do Espírito Santo. Pararam na Praça da República, em Belém-PA, e ficaram aguardando orientações da parte de Deus. Passou uma família no local, que falava inglês, e perguntaram aos missionários se já haviam encontrado hospedagem. Eles responderam que não e foram convidados a acompanhá-los ao local onde estavam hospedados. Lá encontraram outra pessoa que falava inglês e eles lhe perguntaram se conheciam algum protestante na cidade. Foi indicado o endereço do pastor metodista Justus Nelson, que também era americano. 

Imediatamente os missionários o procuraram e ele os encaminhou à Igreja Batista. Como eram vinculados à Igreja Batista nos Estados Unidos, os dois missionários suecos procuram a Igreja Batista de Belém para congregar lá. A partir daí, eles passaram a morar nas dependências da Igreja, em um porão úmido, cheio de mosquitos e com muitas dificuldades. Como não conheciam o idioma, Gunnar Vingren foi estudar a língua portuguesa durante o dia e transmitia o que havia aprendido a Daniel Berg, quando chegava em casa. 

A doutrina pentecostal, que eles pregavam, no entanto, incomodou os batistas tradicionais. Havia naquela Igreja, uma irmã chamada Celina de Albuquerque, uma crente fiel, dedicada à Escola Dominical, que encontrava-se enferma e os médicos deram-lhe o diagnóstico de que aquela doença era incurável. O missionário Gunnar Vingren foi visitá-la e perguntou se ela cria que Jesus poderia curá-la. Ela respondeu que sim, ele orou por ela e foi curada daquela enfermidade. 

Após a cura, a irmã Celina e a sua amiga Maria de Nazaré passaram a buscar a Deus com jejum e oração e decidiram que não sairiam de casa até receberem a confirmação de Deus de que o ensino dos missionários era correto. Depois de cinco dias de oração, na madrugada do dia 9 de junho de 1911, a irmã Celina foi batizada no Espírito Santo. 

Após este episódio a notícia se espalhou e a direção da Igreja fez uma reunião em 18 de junho de 1911, para discutir o assunto. Na reunião, o dirigente perguntou quem estava de acordo com o ensino dos missionários. Os que concordaram foram convidados a sair da Igreja e 19 irmãos, além de Daniel Berg e Gunnar Vingren foram expulsos. Após a expulsão, Daniel Berg, Gunnar Vingren e os outros 19 irmãos que foram expulsos com eles, passaram a se reunir na casa da irmã Celina. Deus abençoou e várias pessoas se converteram, muitos foram curados e outros batizados no Espírito. Este novo trabalho adotou o nome de Missão da Fé Apostólica, seguindo o nome da Missão de Los Angeles. Por sugestão de Gunnar Vingren, em 1918 a Missão da Fé Apostólica passou a chamar-se Assembleia de Deus, em virtude da fundação das Assembleias de Deus nos Estados Unidos, em 1914. Mas, não havia nenhuma ligação institucional entre esta igrejas. 

2- Crescimento e perseguição. Muitos irmãos de Igrejas tradicionais creram na doutrina pentecostal e foram batizados no Espírito Santo. Entre eles está o irmão Adriano Nobre, que era da Igreja Presbiteriana. Outros, que se converteram através da pregação dos missionários suecos, também receberam o batismo no Espírito Santo e seguiam testificando de Jesus por onde chegavam. Em pouco tempo, o trabalho se espalhou para outros estados do Norte e Nordeste do país. Alguns destes irmãos que se converteram no Norte e Nordeste, vindo para o Sudeste anunciavam o Evangelho onde chegavam. Por volta de 1922, a Assembléia de Deus chegou ao bairro de São Cristóvão no Rio de Janeiro, que era a capital do país naquela época. O missionário Gunnar Vingren foi enviado ao Rio de Janeiro para pastorear a Igreja na capital. 

Apesar do crescimento exponencial que a Igreja vivia, com muitas conversões, milagres e batismos no Espírito Santo, eles não viviam só de bênçãos. As perseguições eram intensas naqueles tempos, por parte dos católicos e até de evangélicos tradicionais que não aceitavam a doutrina pentecostal. Os primeiros batismos precisavam ser feitos em sigilo, à noite, pois não possuíam templos e tanques batismais. Os batismos eram realizados nos rios e à beira mar. Em um destes os inimigos cercaram os crentes e tentaram impedir a realização do batismo. Um meliante tentou matar o missionário Gunnar Vingren e a irmã Celina entrou na frente e impediu o crime. 

Muitas vezes os locais de culto eram apedrejados. Os padres orientavam as pessoas a não alugar casas para os protestantes. Os jovens que se convertiam ao Evangelho eram eram agredidos e expulsos de casa pelos pais. Da mesma sorte, as mulheres casadas eram agredidas pelos maridos e proibidas de frequentar os cultos. 

3. Curas divinas. Se por um lado as dificuldades e perseguições eram muitas, por outro lado, o Senhor operava sinais extraordinários. No livro “O Diário do Pioneiro Gunnar Vingren”, escrito pelo seu filho Ivar Vingren, o missionário conta muitos milagres que ele presenciou. Deus agiu poderosamente em algumas situações contra os inimigos da Obra de Deus, que zombavam ou tentavam impedir o trabalho. Em outros casos, houve muitas curas divinas e até ressurreição de mortos. Eis abaixo, alguns dos relatos registrados por Ivar Vingren, que foram testemunhados por seu pai: 

Um irmão foi curado de enfermidade muito grave na perna. Uma irmã foi curada de uma enfermidade incurável no lábio. Um outro que tivera dor de cabeça, durante dez anos, foi curado. Um homem paralítico que estava moribundo, e não podia mais falar, foi curado e veio depois para nossos cultos. Uma criança que estava moribunda com febre, foi curada. Um homem de idade, que sofrera com hérnia por nove anos, foi curado. Um outro homem, que havia estado enfermo muitos meses com febre e tinha todo o seu corpo inchado, foi tanto curado, como batizado com o Espírito Santo, além de ter recebido o dom de profecia. Um homem que viu seu filho morrer, tomou-o nos braços e começou a invocar o nome do Senhor. Imediatamente a criança voltou à vida. A esposa, quando viu o que aconteceu, se entregou ao Senhor.


Daniel Berg também foi usado por Deus em muitos milagres. Em um dos muitos que dirigiu, ele conta que muitas pessoas doentes vieram pedir-lhe oração para que o Senhor as curasse. Um irmão testemunhou que tinha sido mordido por uma cobra. A carne ressecada pelo veneno cresceu novamente até desaparecer completamente a ferida. Este testemunho se tornou conhecido na região e através dele muitas pessoas vieram buscar ajuda de Deus. 

REFERÊNCIAS: 

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

GUSSO, Profª. Drª. Sandra de Fátima Krüger. O Início do Protestantismo Histórico no Brasil Luta por Direitos, Evangelismo e Educação. Revista Via Teológica. Faculdade Batista do Paraná. 

ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Fundamentos bíblicos de um autêntico avivamento. Editora CPAD. 1ª edição: 2014. pág. 9-10.

GIAMARCO, Josué; e FONSECA, Alberto Alves da. Congregação Cristã no Brasil. Seita ou movimento contraditório?. Revista Defesa da Fé, Edição 07. Instituto Cristão de Pesquisas.

BERG, David. Daniel Berg, Enviado por Deus: A história de Daniel Berg, um simples aldeão que ajudou a deflagrar o maior movimento pentecostal da história da Igreja, as Assembleias de Deus no Brasil. Editora CPAD. 1 Ed 1995.

VINGREN, Ivar. O Diário do Pioneiro: Gunnar Vingren. Editora CPAD. 5ª Ed 2000. pág. 28-29.

A RESSURREIÇÃO DE JESUS

(Comentário do 3° tópico da Lição 12: Do julgamento à ressurreição) Ev. WELIANO PIRES O terceiro tópico nos fala da Ressurreição de Jesus, q...