08 novembro 2022

SOBRE A MÁXIMA USADA EM ISRAEL


(Comentário do 1º tópico da Lição 07: A responsabilidade é individual).

Havia um ditado popular em Israel que dizia: "Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram”. Este primeiro tópico nos mostra que este ditado é equivocado. O povo interpretava equivocadamente o texto de Êxodo 20.5, para defender a maldição hereditária. Mas, o texto do Decálogo não defende isso. O final do texto diz que Deus visitará a maldade dos pais nos filhos “...daqueles que me aborrecem”. Ou seja, os filhos só serão punidos se continuarem nas mesmas práticas dos pais. Jeremias e Ezequiel foram usados por Deus para explicar que a responsabilidade pelo pecado é individual (Jr 31.29,30; Ez 18.2,3). Na atualidade também há muitos crentes defendendo essa ideia de maldição hereditária, com o mesmo argumento. 


1- Uma máxima equivocada. No segundo mandamento do Decálogo (Dez mandamentos), quando Deus proibiu a confecção e a adoração às imagens de escultura, o Senhor disse: “...Porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.” (Ex 20.5b). Os israelitas interpretaram erroneamente este texto e entenderam que Deus havia estabelecido a maldição hereditária e, portanto, os filhos seriam punidos pelos pecados dos pais. Entretanto, não foi isso que o Senhor falou. Ele estava se referindo à geração daqueles que aborrecem a Deus. Se alguém é filho de pais ímpios, mas serve a Deus, deixou de ser alguém que aborrece a Deus e está livre de qualquer maldição. 


Para explicar esse entendimento que eles tinham da Lei, eles usavam um ditado popular metafórico que dizia: "Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos se embotaram”. O sentido de "dentes embotados" é pouco conhecido atualmente, usa-se mais a expressão "dentes cariados" ou "dentes sensíveis". As bactérias fazem furos imperceptíveis a olho nu, que posteriormente crescem e se transformam em cáries visíveis. Estes furos minúsculos tornam os dentes sensíveis e o ácido das uvas verdes causam dores e irritações. O povo de Israel usava esta metáfora para dizer que eles estavam sendo injustiçados, sendo punidos pelos pecados dos seus pais. Mas, não era verdade. Embora os seus pais também tivessem pecado, eles pecaram também. 


O Código de Hamurabi, antigo código penal da região da Mesopotâmia, permitia a morte de um filho no lugar do pai, ou vice-versa, por crimes cometidos, mas não se tem notícia de que tenha sido aplicada alguma pena nesse sentido. Entretanto, isso era expressamente proibido na Lei de Israel. O próprio Deus já havia esclarecido isso na Lei mosaica: “Os pais não morrerão pelos filhos, nem os filhos, pelos pais; cada qual morrerá pelo seu pecado.” (Dt 24.16). Em alguns casos, Deus puniu toda a família por causa de um pecado, mas, certamente é porque toda a família estava envolvida e concordava.


É verdade que o pecado de uma geração traz consequências para a nação e para as próximas gerações. Mas, isso não se confunde com punição divina a uma geração, por causa do pecado de outra. Se uma geração se afasta de Deus e se entrega completamente ao pecado, perde-se os valores de Deus que trazem benefícios e adotam-se os valores do maligno, que causam destruição. Da mesma forma, se uma geração busca a Deus e promove a honestidade, o amor ao próximo, os valores da família, o trabalho e a justiça, isso trará prosperidade e segurança à próxima geração. O mesmo acontece com uma família, que se afasta de Deus e não ensina os seus filhos a servirem a Deus. Isso produz neles ideologias, costumes e práticas que os levam à destruição.


Os exilados pareciam crer no fatalismo, que é a doutrina que afirma que tudo o que acontece, já está predeterminado por Deus ou por outras forças espirituais e nada pode ser feito para alterar isso. A crença no fatalismo acaba fazendo com que as pessoas não assumam as suas culpas e responsabilidades, colocando sempre a culpa nos outros ou até em Deus. É verdade que o ser humano colhe aquilo que planta, mas, se ele se chegar a Deus com arrependimento, a sua sentença poderá ser mudada. 


2- Jeremias e Ezequiel trataram do assunto. O profeta Jeremias também tratou do mesmo assunto, nos capítulos 30 a 33 do seu livro, quando falava da restauração de Judá e do retorno do cativeiro. No capítulo 31.29,30, Jeremias diz: “Naqueles dias, nunca mais dirão: Os pais comeram uvas verdes, mas foram os dentes dos filhos que se embotaram. Ao contrário, cada um morrerá pela sua iniquidade, e de todo homem que comer uvas verdes os dentes se embotarão”. Portanto, a mensagem de Jeremias era escatológica, ou seja, era para o futuro. Deus usou Jeremias para dizer ao povo de Judá, antes do cativeiro, que eles iriam para o cativeiro, mas, seriam restaurados. Quando voltassem para a sua terra, nunca mais este provérbio seria repetido. 


A referência a este provérbio feita por Ezequiel, no entanto, era para o tempo em que eles viviam no cativeiro. Embora haja também em Ezequiel a mesma referência escatológica que há em Jeremias, há uma repreensão de Deus ao povo do cativeiro, quanto a este provérbio, pois ele traz uma acusação injusta contra Deus (Ez 18.2,3). Deus não estava punindo uma geração pelos pecados dos seus pais. O Senhor deixa claro, através de Ezequiel, que todas as almas (pessoas) são dele e que cada um seria punido pelos próprios pecados “... a alma que pecar, esta morrerá”. (Ez 18.4c). Alma neste texto não tem o sentido da parte imaterial, como dizem os aniquilacionistas, que pregam que as almas dos ímpios deixarão de existir. Alma aqui é uma referência à própria pessoa. 


3- O problema em nosso tempo. Esta mesma interpretação equivocada que o povo de Israel fazia, também tem sido feita em nossos dias, pelos adeptos de um movimento chamado “Batalha Espiritual”. Este movimento supervaloriza as ações do inimigo e atribui tudo de errado que acontece a ações demoníacas. Os ensinos deste movimento reúnem práticas e ensinos oriundos do ocultismo e do misticismo. Um dos ensinos deste movimento é a doutrina da maldição hereditária. 


Este ensino herético afirma que a maldição adquirida pelos pais, seja por causa de pecado ou de pactos realizados, passa para os filhos e para as próximas gerações. Por causa disso, ensinam outra doutrina herética, que é a quebra de maldição. Segundo os adeptos desse movimento, há vários tipos de maldições que precisam ser quebradas: maldição oriunda dos pecados dos antepassados, maldição oriunda de uma palavra de maldição que fora lançada, maldição ocasionada por causa de algum pacto feito com entidades malignas, etc. Acreditam também que territórios são dominados por certos tipos de demônios e, por isso, fazem 'mapeamento espiritual' para subjugar tais demônios e quebrar as maldições.  


O mais grave é que estes hereges defendem que um crente verdadeiro pode estar debaixo de maldição, ou mesmo em possessões demoníacas. Para desfazer tais maldições, dizem que o sacrifício de Cristo na Cruz não seria suficiente. Seria necessário fazer trabalhos de libertação, com regressão psicológica, anular, repreender e desfazer os pactos feitos e as maldições. Ora, isso é muito parecido com o que fazem os adeptos das religiões afrodescendentes, que acreditam em fazer e desfazer trabalhos espirituais. 


A Bíblia ensina o contrário disso. Durante todo o seu ministério terreno, Jesus ensinou que é Ele que liberta o pecador: “Vinde a mim todos os que estais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei” (Mt 11.28); “Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida”. (Jo 5.24); “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”  (Jo 8.36). 

Os apóstolos deram sequência ao Ministério de Jesus e também ensinaram que é Cristo que nos liberta do pecado e de qualquer maldição: “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8.1). “Portanto, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram, tudo se fez novo” (2 Co 5.17). “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” (Gl 3.13). 


Concluímos, portanto, dizendo que toda e qualquer maldição ou pacto são desfeitos, a partir do momento que a pessoa vem a Cristo. A Cruz de Cristo é suficiente para pagar o preço da nossa redenção e qualquer acréscimo a ela para a salvação ou libertação é antibíblico e deve ser rejeitado. 


REFERÊNCIAS: 


SOARES, Esequias; SOARES, Daniele. A Justiça Divina: A preparação do povo de Deus para os últimos dias no livro de Ezequiel. Editora CPAD. 1 Ed. 2022. pag. 87.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 391; 845; 3245.

BLOCK, Daniel. Comentário do Antigo Testamento Ezequiel. Vol. 1. Editora Cultura Cristã. pág. 515.

LIMA, Paulo Cesar. O que está por trás do G-12. Editora CPAD: 1 Ed 2000. pág. 93-96.


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Ev. Weliano Pires


07 novembro 2022

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 07: A RESPONSABILIDADE É INDIVIDUAL


Esta lição tem como base o texto de Ezequiel 18.20-28 e trata da responsabilidade pessoal pelos pecados cometidos. Havia um adágio popular em Israel nos dias de Ezequiel que dizia: “Os pais comeram uvas verdes e os dentes dos filhos se embotaram”. Os exilados de Judá usavam este dito popular para dizer que estavam sendo punidos pelos pecados dos seus antepassados. 


A lição está dividida em três tópicos: 


O primeiro tópico mostra que este provérbio usado em Israel era equivocado. O povo interpretava equivocadamente o texto de Êxodo 20.5, para defender a maldição hereditária. Mas, o texto do Decálogo não defende maldição hereditária. O final do texto diz que Deus visitará a maldade dos pais nos filhos “...daqueles que me aborrecem”. Ou seja, os filhos só serão punidos se continuarem nas mesmas práticas dos pais. Jeremias e Ezequiel foram usados por Deus para explicar que a responsabilidade pelo pecado é individual (Jr 31.29,30; Ez 18.2,3). Na atualidade também há muitos crentes defendendo essa ideia de maldição hereditária, com o mesmo argumento. 


O segundo tópico fala sobre a universalidade da salvação. A vontade de Deus é que todos cheguem ao arrependimento e sejam salvos. Este tópico nos apresenta também uma contestação ao pensamento fatalista que diz que todas as coisas são previamente determinadas e não há como mudar. Este texto de Ezequiel mostra que se o pecador se arrepender será salvo e se o justo abandonar a sua justiça perecerá. 


O terceiro tópico trata da reação de Israel a Deus, por causa do cativeiro. O povo no cativeiro se achava injustiçado por Deus. Mas Deus lançou-lhes duas perguntas retóricas, que são afirmações em forma de perguntas. Deus disse: Não é o meu caminho direito? E  não são os vossos caminhos tortuosos? As respostas para ambos os questionamentos eram obviamente sim e eles sabiam disso. Vemos ainda neste tópico que Deus é justo em tudo o que faz e é misericordioso para com o pecador arrependido.


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Ev. Weliano Pires


04 novembro 2022

SOBRE A PETIÇÃO QUE DEUS NÃO ATENDE


(Comentário do 2º tópico da Lição 06: A Justiça de Deus)

Há um grande equívoco no meio evangélico, que diz que Deus não rejeita a oração feita por um justo. Mas neste tópico, a lição nos mostra os exemplos de pessoas justas que intercederam para que Deus não punisse pessoas rebeldes, mas, não foram ouvidos, pois o castigo era inevitável. A medida da tolerância de Deus estava completa e o juízo era inevitável.


Mesmo com a presença de homens justos como Noé, Daniel e Jó, eles não conseguiriam salvar a nação dos juízos de Deus. Isto nos ensina que há orações que Deus não atende. Deus ouve toda e qualquer oração, mas a resposta de Deus é de acordo com a Soberania divina. Deus responde sim, não, espere ou fica em silêncio. O apóstolo João assim escreveu: “E esta é a confiança que temos nele: que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve.” (1 Jo 5.14).


1- Exemplos de intercessão pelo pecador. Temos na Bíblia vários exemplos de servos de Deus que intercederam pelos pecadores. Uns foram atendidos e outros não. Temos o caso de Abraão que intercedeu pelas cidades de Sodoma e Gomorra, para que o Senhor não as destruísse, principalmente, porque o seu sobrinho Ló vivia na cidade de Sodoma. Deus anunciou a Abraão que iria destruir aquelas cidades por causa do pecado, que havia se agravado muito. (Gn 18.18-21). Abraão passou, então, a argumentar com Deus, perguntando se Ele iria destruir o justo com o ímpio e se o Senhor a destruiria, caso houvesse ali 50 justos (Gn 18.23). Deus respondeu que, longe dEle fazer tal coisa, destruindo o justo com o ímpio, pois Ele é Juiz de toda a terra e, como tal, faz justiça. Abraão continuou, reduzindo o número de justos até chegar a dez justos e Deus disse que não destruiria se houvesse dez justos. Mas não havia e dez justos e a cidade foi destruída. 


O povo de Israel pressionou Aarão e este fez um bezerro de ouro para adoração. Deus se irou contra aquele povo e falou para Moisés que iria destruí-los e faria dele uma grande nação. (Ex 32.9,10). Entretanto, Moisés clamou ao Senhor em favor do povo de Israel (Êx 32.11-13). Deus, ouviu a oração de Moisés e não destruiu o povo. Em Números 14, após ouvir o relatório negativo de dez dos doze espias, o povo levantou a voz contra Moisés e Aarão e decidiu voltar ao Egito. Josué e Calebe tentaram apaziguar e o povo quis apedrejá-los. (Nm 14.11-10). Ouvindo aquela murmuração, o Senhor disse a Moisés que iria ferir o povo com pestilências e destruí-los. (Nm 14.11,12). Moisés mais uma vez intercedeu pelo povo e foi atendido por Deus. (Nm 14.20). 


Outro homem de Deus que foi um intercessor do povo foi Samuel. Os filisteus venceram Israel nos dias de Eli e levaram a Arca da Aliança para a sua terra. Nesta guerra morreram os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias, que eram ímpios, e com a notícia destas mortes, morreram também Eli e a sua nora. A Arca ficou na terra dos filisteus por 20 anos e o povo de Israel se lamentava por causa disso. O povo, resolveu pedir a Samuel que intercedesse por eles e ele assim o fez. (1 Sm 7.1-9). O Senhor atendeu à oração de Samuel e deu vitória a Israel contra os filisteus (1 Sm 7.10-13). 


2- Um castigo inevitável. De tanto o povo de Israel murmurar, se rebelar, praticar a idolatria e a imoralidade, mesmo tendo sido muitas vezes repreendido pelos profetas do Senhor, chegou um ponto em que o castigo de Deus era inevitável. Já não adiantava mais ninguém interceder. No livro de Provérbios está escrito: "O Homem que muitas vezes repreendido endurece a cerviz, de repente será destruído sem que haja remédio." (Pv 29.1). 


Desde o tempo do profeta Jeremias, a apostasia era generalizada em Judá e não havia mais a possibilidade de se evitar o juízo de Deus contra a nação. No último capítulo do segundo Livro das Crônicas, lemos que nos dias do rei Zedequias, o rei endureceu o seu coração e não deu ouvidos às palavras do profeta Jeremias, que falava da parte do Senhor. Os chefes dos sacerdotes e o povo também aumentaram demais as suas transgressões e contaminaram a casa do Senhor. Mesmo assim, o Senhor se compadeceu do seu povo e enviou os seus profetas para os alertar. Mas eles zombaram dia mensageiros de Deus e desprezaram as suas profecias que vinham de Deus. Provocaram tanto a ira de Deus, até que chegou a um ponto em que não houve mais remédio. (2 Cr 36.11,16). 


3- Quando Deus não atende a oração intercessória de um justo.  vários textos bíblicos que nos mostram que Deus atende a oração de um justo. Deus falou para Jeremias: "Clama a mim e responder-te-ei e anunciar-te-ei, coisas grandes e firmes que não sabem". (Jr 33.3). Este é um dos textos bíblicos mais citados, quando falamos de oração. Jesus também falou: "Pedi e dar-se-vos-á. Batei e abrir-se-vos-á". (Mt 7.1). Paulo falou para orarmos sem cessar (1 Ts 5.17). Tiago falou que a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos (Tg 5.16). Entretanto, nas situações em que o pecado ultrapassa os limites, Deus rejeita a intercessão, mesmo que ela seja feita por um justo. 


Muitas pessoas dizem que "não há pecadinho e pecadão", pois qualquer tipo de pecado ofende a Deus. De fato, Deus não se agrada de nenhum tipo de pecado. Mas há graus diferentes de pecados. A Bíblia nos ensina que há pecados que não são para a morte e pecados que são para a morte (1 Jo 5.16,17); e há o pecado imperdoável, que é a blasfêmia contra o Espírito Santo (Mc 3.28-30). Quando a pessoa cai na apostasia, negando a fé que antes praticava e blasfemando contra o Espírito Santo, não há mais perdão, independente da intercessão que se fizer. 


REFERÊNCIAS: 


CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 137-138.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. 1 Ed. 2010. pág. 106.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento: Isaías a Malaquias. Editora CPAD. 1 Ed. 2010. pag. 679.

BLOCK, Daniel. Comentário do Antigo Testamento Ezequiel. Editora Cultura Cristã. pág. 421.

GRIDER, Kenneth. Comentário Bíblico Beacon: Ezequiel. Editora CPAD. Vol. 4. pág. 453.


03 novembro 2022

SOBRE A IDENTIFICAÇÃO DO JUÍZO DIVINO


(Comentário do 1º tópico da lição 06: A Justiça de Deus)

Muitas pessoas têm dificuldade de compreender os juízos de Deus, pois atentam apenas para o seu infinito amor. Esquecem que Deus é amoroso, compassivo e bom, mas também é o Juiz de toda a terra (Gn 18.26). Os discursos proféticos do Antigo Testamento nos mostram as ações de Deus que nos fazem entender os juízos divinos.


1- O discurso profético. Conforme vimos na lição passada, os profetas no Antigo Testamento eram pessoas levantadas por Deus, para entregar as Suas Palavras. O profeta era um porta-voz de Deus, que entregava fielmente as palavras de Deus, onde, quando e a quem Deus mandasse. Os discursos destes profetas continham os avisos de Deus ao seu povo, para que se arrependesse e as advertências sobre os juízos que viriam, caso não abandonassem o pecado.


A primeira coisa que devemos ter em mente sobre o juízo divino é que ele nunca acontece sem aviso prévio. Vejamos o que disse o profeta Amós:Certamente o Senhor Jeová não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas.” (Am 3.7). Em qualquer época, Deus nunca irá executar os seus juízos contra uma nação sem que haja avisos da parte dele, seja através dos profetas, das Escrituras ou da pregação do Evangelho (Lc 21.21-24). Nenhum pecador impenitente terá o direito de dizer que não sabia, pois Deus sempre avisa. 


A segunda coisa que precisamos saber sobre os juízos de Deus é que eles não acontecem sem que haja uma causa justa. Deus é o Juiz de toda a terra (Gn 18.26) e é absolutamente justo. Ele jamais puniria os inocentes: “Ele julga o mundo com justiça, governa os povos com retidão.” (Sl 9.8); “Os rios batam palmas; regozijem-se também as montanhas, perante a face do Senhor, porque vem a julgar a terra; com justiça julgará o mundo e o povo, com equidade.” (Sl 98.8,9). Em muitos outros textos da Bíblia é demonstrado que o Senhor julga com justiça e equidade (retidão). 


A terceira coisa que precisamos entender sobre os juízos de Deus é que, antes de virem os juízos, Deus sempre oferece oportunidades para que se arrependam e estas oportunidades são muitas, pois Deus é longânimo e tardio em irar-se: “E dei-lhe tempo para que se arrependesse da sua prostituição; e não se arrependeu.” (Ap 2.21). “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para convosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.” (2 Pe 3.9). Tanto no cativeiro do Reino do Norte, que foi levado para a Assíria, como no Reino do Sul, que foi levado para a Babilônia, Deus foi extremamente paciente com o seu povo e usou os seus profetas para os advertir. Mas, os  profetas além de não serem ouvidos, ainda foram duramente perseguidos pelos governantes ímpios, que preferiam dar ouvidos aos falsos profetas.


2- A primeira parte do oráculo (v.13). Nesta primeira parte da profecia, a expressão: “Quando uma terra pecar contra mim”, indica que esta advertência não se restringia ao povo de Israel. São princípios que valem para qualquer povo em qualquer época. Por isso, é muito importante exercermos o nosso papel como cidadãos e escolher candidatos que respeitem os nossos princípios, pois se não o fizerem, nós sofreremos as consequências das suas ações malignas.


Deus é o Criador e sustentador do Universo. Todas as coisas pertencem a Ele e, portanto, cabe a Ele julgar as nações. (Êx 19.5; Sl 24.1; Mt 11.25; Ap 4.11). Embora Deus tenha concedido aos seres humanos o livre arbítrio, ou seja, o direito de fazer escolhas, há limites para isso, pois algumas práticas além de afrontarem a santidade de Deus, ameaçam a própria criação. Evidentemente, no Juízo final Deus irá julgar individualmente todos os ímpios e retribuir a cada um segundo as suas obras. Porém, há juízos neste mundo para punir nações ímpias e impedir que destruam os projetos de Deus.  


3- Descrição dos agentes do juízo divino (vv. 17,21). Deus usa vários instrumentos para castigar uma nação rebelde, que mesmo sendo alertada, não dá ouvidos à Palavra de Deus e não abandona o pecado. A profecia de Ezequiel nos mostra que Deus torna “instável o sustento do pão”. (v.13; 4.16; 5.16). Os principais agentes de Deus para castigar uma nação eram a seca, a fome, a espada e as pestes (doenças). Estes quatro aspectos dos juízos de Deus estão relacionados entre si. A seca gera fome e escassez. A guerra (espada) também gera fome, escassez, pestes e epidemias. 


Naquele tempo, a economia de Israel era baseada na agricultura e pecuária. Estas atividades eram realizadas de forma primitiva. Não havia irrigação e dependiam exclusivamente das chuvas. Portanto, se Deus não mandasse chuvas eles estariam arruinados economicamente e a fome era inevitável. Os israelitas, mesmo conhecendo a Deus e sabendo que é Ele que manda a chuva, praticavam cultos a Baal, pedindo e agradecendo a esta divindade cananéia pelas chuvas. 


As guerras e invasões territoriais naqueles tempos também eram frequentes e sem limites. Uma nação invadia a outra, tomava os seus bens e lhes impunha cobranças de pesados tributos. Isso, evidentemente, levava a nação dominada à ruína econômica. As consequências destas guerras eram desoladoras: geravam milhares de órfãos, pessoas mutiladas, fome e doenças. Quando Israel servia a Deus com fidelidade, contava com a sua proteção. Entretanto, quando se entregava ao pecado, como punição Deus os entregava nas mãos dos inimigos. 

 

REFERÊNCIAS: 

SOARES, Esequias; SOARES, Daniele. A Justiça Divina: A Preparação do povo de Deus Para os últimos dias no livro de Ezequiel. Editora CPAD. 1 Ed. 2022. pág. 77-82.

TAYLOR, John B. Ezequiel: Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão. pag. 116-118.

LOPES, Hernandes Dias. Amós: Um clamor pela justiça social. Editora Hagnos. pág. 108-111.

REED, Oscar F. Comentário Bíblico Beacon: Amós. Editora CPAD. Vol. 5. pág. 108-109.

DAVIDSON. F. Novo Comentário da Bíblia. Amos. pag. 24-25.

BLOCK, Daniel. Comentário do Antigo Testamento: Ezequiel. Editora Cultura Cristã. pag. 418,420.

WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. A.T. Vol. IV. Editora Central Gospel. pag. 232-233.


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Ev. Weliano Pires


01 novembro 2022

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 06: A JUSTIÇA DE DEUS


Esta lição nos fala sobre a Justiça de Deus, com base no texto de Ezequiel 14.12-21. O objetivo principal da lição é mostrar que Deus é absolutamente santo e justo e, portanto, dará a devida retribuição pelos pecados cometidos. A lição se divide em três tópicos:


O primeiro tópico fala sobre a identificação dos julgamentos de Deus. Através das profecias, entendemos que os juízos de Deus não acontecem sem causa e sem a oportunidade do pecador se arrepender. Vemos também neste tópicos várias formas usadas por Deus para punir uma nação que vive em constante desobediência e se recusa a ouvir os alertas de Deus: escassez de alimentos por causa de secas e crises econômicas, guerras e epidemias. 


O segundo tópico nos mostra alguns casos de orações intercessórias, feitas por pessoas justas, que não foram respondidas. Há um grande equívoco no meio evangélico, que diz que Deus não rejeita a oração feita por um justo. Mas neste tópico, a lição nos mostra os exemplos de Abraão, Moisés e Samuel, que intercederam para que Deus não punisse pessoas rebeldes, mas, não foram ouvidos, pois o castigo era inevitável. 


O terceiro tópico fala sobre as intercessões de três homens de Deus, que foram justos em suas épocas: Noé, Daniel e Jó. Deus falou para Ezequiel que, se Ele decidisse destruir uma terra por causa do pecado, se estes três homens estivessem no meio dela, salvariam apenas a si mesmos e não impediriam a destruição dos ímpios. Vemos ainda neste tópico que a geração de Ezequiel e Jeremias conhecia perfeitamente o relato da destruição de Sodoma e Gomorra e mesmo assim, atingiram um nível de rebeldia muito maior, pois, apesar do conhecimento que tinham de Deus, não criam nos seus julgamentos.


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Ev. Weliano Pires

28 outubro 2022

SOBRE A GERAÇÃO DAS MENSAGENS FALSAS

(Comentário do 3⁰ tópico da Lição 05: Contra os falsos profetas).

Neste terceiro e último tópico falaremos sobre a geração de mensagens falsas. Nos dias de Jeremias e Ezequiel, havia uma forte tendência do povo a acreditar em falsas profecias, como aliás, acontece atualmente. Os falsos profetas, no entanto, sempre profetizam mentiras e falsidades. Falaremos também neste tópico, sobre a ira de Deus contra os falsos profetas, no Antigo e no Novo Testamento.


1- O profeta no Antigo Testamento. Embora, como já falamos, as palavras usadas para profetas falsos e verdadeiros sejam as mesmas, há um diferencial no Antigo Testamento, quando se trata de um profeta verdadeiro. Normalmente aparecem alguns adjetivos que servem para diferenciá-los dos falsos. Os verdadeiros profetas são chamados de mensageiros de Deus, meus servos os profetas, o homem de Deus, etc. 


Os profetas no Antigo Testamento eram pessoas levantadas por Deus, para entregar as Suas Palavras. Diferente dos sacerdotes, os profetas não pertenciam a uma família exclusiva deste ofício. Eram chamados pelo próprio Deus para este ministério. As suas mensagens não eram fruto de estudo ou do seu próprio entendimento. Deus lhes revelava por sonhos, visões ou outras formas de revelação. O profeta era um porta-voz de Deus, que entregava fielmente as palavras de Deus, onde, quando e a quem Deus mandasse. Muitos não recebiam as suas mensagens e até os matavam. O profeta Jeremias, por exemplo, sofreu muito por entregar a mensagem de Deus a reis ímpios. Mas as suas profecias se cumpriram fielmente.


No antigo Testamento havia três tipos de profetas: 


a. Profetas literários ou canônicos. São os que deixaram as suas profecias escritas. 

b. Profetas não literários ou profetas orais. São os que profetizaram, mas não escreveram, ou os seus escritos se perderam.

c. Profetas cúlticos. São aqueles cujas profecias estavam ligadas ao culto. (2 Cr 29.21-24). Em alguns salmos aparece esta categoria de profeta. 


2- Os portadores de mensagens falsas (vv.6-8). Os falsos profetas, destinatários da profecia de Ezequiel, não eram profetas de outros deuses. Eles se apresentavam como profetas de Deus, porém eram falsos, porque Deus não os havia chamado para o ministério profético. Na verdade, eles praticavam um sincretismo religioso, misturando o culto a Yahweh, com elementos de religiões pagãs. 


Além de serem impostores e usurpadores de um ministério que não lhes pertencia, as suas mensagens também eram falsas. Eram adivinhações mentirosas (Ez 13.6,7). As suas profecias poderiam ser classificadas como "fake news" e "desinformação", para usar duas expressões que estão em alta atualmente. Estes embusteiros, além de propagarem mentiras que contrariavam à Lei do Senhor, traziam também informações falsas, do ponto de vista político, militar e administrativo.   


Isso, evidentemente, contribuiu para levar o povo de Judá à ruína, pois acreditaram em informações falsas em nome de Deus. Na vida secular, as pessoas tomam decisões com base em informações que lhes chegam e julgam serem verdadeiras. Investidores, buscam informações sobre balanços de empresas e dados do governo, para fazerem as suas previsões econômicas e investir o seu dinheiro onde há possibilidades reais de lucros. Entretanto, se as informações das empresas e dos órgãos oficiais forem falsas, configura-se fraude e os responsáveis podem ser punidos. 


Da mesma forma, os profetas que entregam falsas profecias em nome de Deus, induzem as pessoas a confiarem e mentiras. Isso é gravíssimo e, por isso, esta prática era punida com a morte na Lei mosaica. Entretanto, os governantes inescrupulosos, davam proteção a esse tipo de profeta e até os contratavam para servir aos seus interesses espúrios.


3- A ira de Deus contra os falsos profetas (v.10). Nos versículos 8 e 9, de Ezequiel 13, o Senhor mostra sua indignação contra os falsos profetas e se coloca contra eles: "Portanto, assim diz o Senhor JEOVÁ: Como falais vaidade e vedes a mentira, portanto, eis que eu sou contra vós, diz o Senhor JEOVÁ. E a minha mão será contra os profetas que veem vaidade e que adivinham mentira; na congregação do meu povo, não estarão, nem nos registros da casa de Israel se escreverão, nem entrarão na terra de Israel; e sabereis que eu sou o Senhor JEOVÁ." 


Na verdade, a ira de Deus contra falsos profetas vem desde o estabelecimento da nação de Israel. Deus ordenou a Moisés que deixasse escrito na Lei a sentença contra aqueles que falassem em nome de Deus, sem que Ele tivesse autorizado.  (Dt 13.1-5; 18.20-22). A sentença era severa: Quem fizesse tal coisa deveria ser executado.  O mesmo valia para um profeta enviado por Deus, que fosse rebelde e entregasse uma mensagem de Deus pela metade ou com distorções. Podemos ver isso, quando Deus diz que levantou Ezequiel como atalaia de Israel. Deus falou para Ezequiel que se ele não avisasse ao ímpio, como Deus mandou, o ímpio morreria em seus pecados, mas Deus cobraria do profeta a responsabilidade.


É uma responsabilidade muito grande, alguém abrir a boca para fazer: Assim diz o Senhor, ou Deus manda te dizer. Mesmo se for verdade o que estamos falando, se Deus não mandou falar, devemos falar em nosso próprio nome e não usar o nome de Deus. Paulo fez esta distinção em 1 Coríntios 7. Em alguns trechos, ele diz: "Mando não eu, mas o Senhor." Em outros, ele diz: "Digo eu, não o Senhor". Infelizmente, algumas pessoas atualmente, talvez para parecer espiritual ou para ganhar popularidade, entregam profecias em nome de Deus, que não se cumprem, ou contém informações mentirosas. Eu me lembro que teve um pastor que profetizou que o Pr. Samuel Câmara ganharia a eleição para presidente da Convenção Geral contra o Pr. José Wellington. Entretanto, o Pr. Samuel Câmara não apenas perdeu aquela eleição, como saiu da Convenção Geral pouco tempo depois. Outros profetizam bençãos que não chegam, desastres e caos que não acontecem, vitórias ou derrotas de políticos que não acontecem, etc. Estas pessoas irão se ver com Deus, por profetizarem mentiras em seu nome. 


REFERÊNCIAS: 


PFEIFFER. Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. 2 Ed. 2007. pag. 1607.

CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 5. 11 ed. 2013. pag. 424-425.

BLOCK, Daniel. Comentário do Antigo Testamento Ezequiel. Editora Cultura Cristã. pág. 379-380.

TAYLOR, John B. Ezequiel. Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão. pag. 384-385.


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Ev. Weliano Pires



26 outubro 2022

SOBRE OS FALSOS PROFETAS EM EZEQUIEL

(Comentário do 2⁰ tópico da Lição 5: Contra os falsos profetas).

No segundo tópico apresentaremos as designações usadas por Ezequiel para se referir aos falsos profetas, como “profetas de Israel” e “os que profetizam”. Ezequiel diz que eles são loucos, que profetizam o que o seu próprio coração vê. O profeta usa também a figura das “raposas do deserto”, para se referir ao caráter destrutivo desses embusteiros. Assim como há profetas verdadeiros, que falam apenas aquilo que Deus manda, há também os falsos profetas que falam aquilo que o povo quer ouvir e que lhes rende vantagens. 


1- Os dois lados. Conforme colocou o comentarista da lição, nesta vida há vários contrastes e tudo tem o lado positivo e o negativo. Assim como há as coisas verdadeiras, há também as falsas. Há um só Deus Verdadeiro, mas há também os falsos deuses, criados pela mente humana. Há a verdade, que procede de Deus, mas há também a mentira e a falsidade que procede do diabo. Sendo assim, há os profetas verdadeiros, que são enviados por Deus para falar em nome dele e há também os falsos profetas, que estão a serviço do inimigo. 


Há dois tipos de profetas falsos. O primeiro tipo é o profeta de deuses pagãos, como os profetas de Baal e Aserá, que falam em nome de outras divindades. O segundo tipo de falso profeta é aquele que fala em nome do Deus Verdadeiro, sem que Ele tenha mandado. Este segundo tipo de falso profeta é o mais perigoso, pois está entre nós. Certa vez, eu ouvi um pastor dizer que é muito fácil enganar em nome de Deus, por causa do temor que as pessoas têm. Se alguém viesse até nós dizendo que tem uma mensagem do diabo, ninguém ouviria. Mas, se vem dizendo que Deus mandou falar alguma coisa, temos receio de não ouvir o que Deus mandou falar. Por isso, é muito importante pedir discernimento ao Senhor e conhecer a Sua Palavra para não ser enganado por charlatães, que falam em nome de Deus. É a este segundo grupo que Ezequiel destina a sua profecia. Eram profetas que falavam falsamente em nome de Yahweh. 


2- Apresentação (v.2). Conforme falamos no tópico anterior, a palavra traduzida por profeta no hebraico é a mesma, para os verdadeiros e para os falsos profetas. Para saber se a referência é a profeta do Senhor ou a um falso profeta é preciso analisar o contexto. Nesta profecia, Ezequiel usa algumas expressões que demonstram que estes profetas eram embusteiros e falsos. Ele inicia a sua profecia com a introdução profética tradicional, que identifica a sua profecia como vindo de Deus:  A palavra do Senhor veio a mim (Ez 13.1). Na sequência, ele identifica os destinatários como “profetas de Israel”. Esta expressão só aparece três vezes no Antigo Testamento, exatamente no Livro de Ezequiel (Ez 13.2,16; 38.17). 


Ezequiel também faz menção ao tipo profecia, que estes falsos profetas entregavam: “...só profetizam o que vê o seu coração”. (Ez 13.2b). Eles entregavam mensagens da própria mente e não aquilo que o Espírito de Deus mandava. A mente humana tem a capacidade de produzir vários tipos de manifestações. Alguns fazem isso por confundirem a própria imaginação com mensagens de Deus. Outros, no entanto, são soberbos e, para ganharem popularidade, falam aquilo que as pessoas querem ouvir. Profetizam paz e prosperidade, em tempos de julgamento divino, para agradar aos seus ouvintes e obter deles vantagens indevidas. 

  

3- O desserviço dos falsos profetas (v.3). No versículo 3, Ezequiel entrega a dura mensagem de Deus a estes farsantes: “Ai dos profetas loucos que seguem o seu próprio espírito e coisas que não viram!” A palavra “ai”, em hebraico é hôy. Trata-se de uma interjeição muito usada pelos profetas. É citada 50 vezes pelos profetas, como lamento e dor, e 40 vezes como advertências ou ameaças de castigos da parte de Deus. 


O adjetivo “louco” usado por Ezequiel, no hebraico é “nabal”. Não é uma referência a alguém com problemas mentais ou um tolo que falam coisas sem sentido. O “nabal” é alguém que afronta a Deus (Sl 74.22); zomba dos que confiam em Deus (Sl 39.8) e não acredita em Deus (Sl 14.1; 52.1); não acredita em Deus (Sl 14.1; 53.1); e até blasfema contra Deus (Sl 74.18). 


Quando Davi fugia de Saul, havia um rico criador de ovelhas e cabras no Carmelo, que tinha o nome de Nabal. Ele era arrogante e sovina. Foi ajudado por Davi, que protegeu os seus rebanhos, mas, quando Davi lhe pediu uma ajuda, ele mandou um recado desaforado, cheio de grosserias. Davi, imediatamente, preparou o grupo para destruir completamente a casa de Nabal, mas, foi demovido da ideia pela sábia Abigail, esposa de Nabal. Depois de dez dias, o Senhor o feriu e ele morreu. (1 Sm 25.1-38).


Ezequiel também diz que os falsos profetas “seguem o seu próprio espírito e falam coisas que não viram”. Isto mostra que as profecias eram criações da própria mente deles e o Espírito Santo não teve nenhuma participação. O verbo “ver” nessa passagem, em hebraico é rā’âh, de onde vem a palavra rō’eh, que significa “vidente ou aquele que vê as coisas divinas”. Geralmente este verbo é usado nos livros proféticos para indicar que o profeta recebeu a profecia de Deus através de uma visão (Is 30.10; Am 7.8; 8.2). Não era o caso destes falsos profetas, pois Deus não havia dado visão nenhuma a eles. 


Champlin cita sete características destes falsos profetas, que também nos ajudam a identificar falsos profetas na atualidade:

a. Sua fonte de informação não era Yahweh. 

b. Andam em sua própria sabedoria e não na sabedoria de Yahweh. 

c. São frequentemente corruptos moralmente. 

d. Suas profecias não se cumprem, revelando-se mentirosas. 

e. Suas mensagens não melhoram as pessoas moral e espiritualmente. 

f. São autoglorificados, homens arrogantes e orgulhosos. 

g. São autodestruidores.


4- As “raposas do deserto” (v.4). Esta metáfora usada por Ezequiel foi traduzida na Almeida Revista e Corrigida (ARC), por "raposas do deserto". Versões mais atualizadas como a Nova Almeida Atualizada (NAA). traduz por "chacais de ruínas". Em outros textos do Antigo Testamento, os chacais também são associados a ruínas em (Is 13.22; 34.13; Jr 9.11; 10.22; 49.33; 50.39; 51.37; Ml 1.3). 


Isto demonstra o poder destrutivo dos falsos profetas, pois os chacais são animais da classe dos canídeos onívoros, ou seja, que comem tudo o que aparece pela frente, principalmente os restos deixados por animais maiores. Os verdadeiros profetas do Senhor são usados por Ele para alertar o povo de Deus e evitar a sua destruição. Mesmo quando entregam uma mensagem de julgamento, tem o objetivo de levar o povo ao arrependimento, para evitar a destruição. Os falsos profetas, por sua vez, são como os chacais que armam emboscadas para as ovelhas, para se alimentarem delas.


REFERÊNCIAS: 


Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Editora CPAD. pág. 1045.

SOARES, Esequias; SOARES, Daniele. A Justiça Divina: A preparação do povo de Deus para os últimos dias no livro de Ezequiel. Editora CPAD. 1 Ed. 2022. pág. 64-67..

PFEIFFER, Charles F. Comentário Bíblico Moody: Ezequiel. Editora Batista Regular. pág. 55-56.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 3228.

Charles F. Pfeiffer. Comentário Bíblico Moody. Ezequiel. Editora Batista Regular. pág. 56.

TAYLOR, John B. Ezequiel: Introdução e Comentário. Editora Mundo Cristão. pag. 110-111.

ZUCK, Roy. (Ed). Teologia do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, pp.401-02).

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Ev. Weliano Pires

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