(Comentário do 2°tópico da Lição 02: Somos Cristãos)
Ev. WELIANO PIRES
No segundo tópico, falaremos das tendências judaizantes no início da Igreja Cristã. Falaremos do espanto do apóstolo Paulo diante da mudança rápida dos crentes da Galácia para o evangelho judaizante. Na sequência, veremos quem eram judaizantes daquela época e as suas características. Por último, falaremos do clima de tensão de Paulo e Barnabé contra os judaizantes, que entraram na reunião sem serem convidados e os pressionaram perante os demais apóstolos.
1. O espanto do apóstolo. A Epístola de Paulo aos Gálatas é considerada um dos escritos mais antigos do Novo Testamento, escrita entre 49 e 55 d.c. Paulo não expressa ações de graças no início desta epístola, não faz menção a orações dele pelos gálatas e vai direto ao assunto principal da epístola, que é o retrocesso dos gálatas ao deixarem a mensagem do Evangelho da Graça pregado por ele, para cederem aos apelos dos judaizantes.
No versículo 6, do primeiro capítulo, Paulo mostra-se espantado pela rapidez com que os crentes da Galácia deixaram o Evangelho por ele pregado, atraídos por “outro evangelho”: “Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho.” Duas palavras-chaves são fundamentais para a compreensão do que Paulo quis dizer:
a) O verbo “passásseis”. Tradução do grego metatithesthe, que significa “deixar, abandonar, desertar, mudar de pensamento, virar a casaca”, conforme explicou o comentarista. Esta palavra traz a idéia de abandonar, como um soldado que desertou e fugiu do quartel, ou uma mudança radical de pensamento. É uma espécie de mudança da água para o vinho.
b) O pronome indefinido “outro”. Tradução do grego “heteros”, que significa outro diferente. Esta palavra deu origem às palavras portuguesas heterossexual, heterogêneo, heterodoxo, etc. É diferente de “allos”, que é outro da mesma espécie.
Paulo espantou-se, primeiro pela rapidez com que eles abandonaram o Evangelho que ele lhes havia ensinado. Fazia menos de dois anos que Paulo havia lhes ensinado o Evangelho e eles “desertaram” para um falso evangelho. Segundo, pela mudança radical para “outro evangelho”, diferente daquele que ele lhes havia pregado.
Na sequência deste texto, Paulo diz: “Mas ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema (maldito).” (Gl 1.8). Esta declaração de Paulo é muito importante e nos ensina que ninguém está autorizado a acrescentar, diminuir ou modificar o Evangelho. Qualquer coisa nesse sentido deve ser considerado anátema ou maldito.
2. Quem eram os judaizantes (v.4)? Os judaizantes eram judeus convertidos ao Cristianismo. A maioria deles pertenciam ao partido [hairesis] dos fariseus, que era o mais conservador do Judaísmo, no tocante ao cumprimento das ordenanças da Lei. Mesmo tendo crido que Jesus era o Messias prometido a Israel e o Filho de Deus, estes cristãos judeus não haviam se desvencilhado da Lei e insistiam que os cristãos deveriam guardar a Lei Mosaica, como condição para a salvação.
Não se tratava apenas de guardar os princípios morais da Lei, como não servir a outros deuses, honrar aos pais, não cobiçar as coisas do próximo, não matar, não furtar, etc. Eles ensinavam que os cristãos, inclusive os gentios, deveriam ser circuncidados, guardar o sábado e seguir as regras dietéticas previstas na Lei.
Os judaizantes eram maioria na Igreja de Jerusalém que era majoritariamente formada por judeus. Na verdade, a Igreja de Jerusalém, inclusive os apóstolos, tiveram dificuldades para compreender a salvação dos gentios unicamente pela fé em Cristo. Pedro, por exemplo, antes de ir pregar na casa de Cornélio, precisou que Deus lhe desse uma visão de vários animais considerados imundos pela Lei. Mesmo ouvindo uma voz do Céu dizendo para ele comer, ele insistiu que nunca havia comido nada comum ou imundo. A voz lhe disse para não considerar imundo o que Deus purificou.
Pedro foi orientado a ir com os emissários do centurião Cornélio, sem duvidar. Ele foi e ao iniciar a sua pregação, disse: “Vós bem sabeis que não é lícito a um judeu ajuntar-se a estrangeiros…”. (At 10.28). Em seguida pregou que Deus havia lhe mostrado para não considerar nenhum homem comum ou imundo. Ou seja, alguns anos após o Pentecostes, tendo visto várias conversões de gentios em Samaria e em outras regiões, Pedro ainda continuava preso ao Judaísmo.
Em seu discurso, Pedro falou ousadamente sobre Jesus e, durante a sua pregação, o Espírito Santo desceu sobre os seus ouvintes e eles falaram em línguas e profetizaram. Os cristãos judeus que faziam parte da comitiva de Pedro vendo aquilo, se admiraram pelo fato do Espírito Santo descer sobre os gentios, da mesma forma que descera sobre eles no Pentecostes.
Depois de ter visto os seus ouvintes sendo batizados no Espírito Santo, Pedro os batizou nas águas. Entretanto, quando chegou a Jerusalém, foi convocado pela Igreja para dar explicações pelo fato de haver entrado na casa de pessoas incircuncisas e ter comido com eles. Pedro, então, contou toda a história desde a visão que ele teve, até o momento em que os gentios foram cheios do Espírito Santo. Somente assim, os cristãos judeus se acalmaram e glorificaram a Deus dizendo: “Na verdade, até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida.”
Mesmo após este episódio e após as inúmeras conversões de gentios, principalmente em Antioquia da Síria, que se tornou a primeira Igreja missionária, os judaizantes insistiam no ensino de que era necessário guardar a Lei para ser salvo. Eles se tornaram ferrenhos opositores de Paulo, que os chamava de “falsos irmãos”. Se apresentavam também como “enviados da Igreja de Jerusalém”, mas Tiago negou esta informação no primeiro Concílio da Igreja em Atos 15.
3. O clima de tensão (vv. 3-5). Conforme falamos no tópico anterior, esta reunião era para ser apenas entre Paulo, Barnabé, Tito, Pedro, Tiago e João. Entretanto, os judaizantes vieram para a reunião, sem serem convidados, e tentaram se impor a Paulo e Barnabé perante os demais apóstolos. Eles eram influentes na Igreja de Jerusalém, que era majoritariamente judaica e eram inimigos da liberdade cristã. Em um ambiente assim, naturalmente o clima ficou tenso para Paulo e Barnabé, mas eles não cederam, pois sabiam que o futuro da fé cristã estava em jogo. Se eles cedessem, o Cristianismo seria reduzido a mais uma seita judaica.
Os pastores e mestres da Igreja atual precisam ter a mesma firmeza e coragem em situações como esta. Não podemos ceder um milímetro em questões fundamentais que norteiam a conduta cristã. O nosso manual de fé e prática é a Palavra de Deus e, portanto, não podemos nos curvar diante de inovações, modismos e falsas doutrinas, sejam de homens ou de demônios.
Evidentemente, quando falamos em questões fundamentais da fé cristã, não estamos nos referindo a usos e costumes ou a estatutos e regras denominacionais. Isso são questões locais, temporais e culturais, que não interferem na salvação. Há também divergências teológicas, que são questões secundárias e não podem ser consideradas heresias de perdição, como vimos na lição passada. Nestas questões secundárias, cada denominação tem o seu posicionamento e não devemos combater.
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