(Comentário do 2° tópico da Lição 5: Jesus é Deus)
Ev. Weliano Pires
No segundo tópico, falaremos da principal heresia que negava a divindade de Cristo nos primeiros séculos da Igreja, que era chamada de Arianismo. Traremos informações históricas sobre o presbítero Ário de Alexandria, que abalou os fundamentos da Igreja com esta heresia e tinha muitos seguidores. Na sequência falaremos das explicações de Ário e seus seguidores para negar a divindade de Cristo. Por fim, mostraremos as explicações bíblicas para as controvérsias do Arianismo.
1.
Arianismo. Conforme mencionou o comentarista, os ebionitas foram o
primeiro grupo a negar a divindade de Cristo. O título Ebionitas deriva,
provavelmente, do termo hebraico Ebiyonim, que significa “pobres”, que nos
primórdios da Igreja era um conceito honroso. Os ebionitas eram um grupo de
judeus convertidos ao Cristianismo, porém eram judaizantes e não criam na
divindade de Jesus. Para eles, Jesus de Nazaré era o Messias, mas não criam em
seu nascimento virginal, nem tampouco que Ele era preexistente e divino. Para
os ebionitas, Jesus era um judeu piedoso e um mestre inigualável, mas era do
mesmo nível dos demais profetas de Israel.
Depois
dos Ebionitas, surgiram os chamados monarquistas dinâmicos, dos quais
falamos na lição passada. Esta heresia foi desenvolvida por Teodoto de
Bizâncio, com o objetivo de resguardar a Unidade de Deus. Os monarquistas
dinâmicos ensinavam que somente o Pai é Deus e que Jesus nasceu como um homem
comum. Somente após o batismo, Ele teria recebido o Espírito Santo para operar
milagres. Pouco antes da crucificação, o Espírito Santo teria se retirado dele
e Ele morreu como um homem comum.
A
heresia mais forte que negava a divindade de Jesus, sem dúvida nenhuma, foi o
Arianismo. Esta heresia recebeu este nome por ter sido difundida por Ário,
presbítero de Alexandria, que enfrentou Alexandre, bispo de Alexandria, e foi
excluído da comunhão da Igreja. Ário dizia que Jesus foi a primeira criatura de
Deus e depois todas as coisas foram criadas. Ário era um pregador eloquente e
popular e, por isso, alcançou muitos seguidores.
O
bispo Alexandre convocou um sínodo para excluir Ário da comunhão da Igreja por
causa desta heresia. Apesar de ter sido excluído, Ário não se deu por vencido e
a polêmica continuou. O imperador Constantino, então, convocou os bispos para
discutirem o assunto no Concílio de Nicéia, em 325 d.C. Ário não pôde
comparecer, porque não era bispo.
O
bispo Alexandre não tinha tanto conhecimento e foi assessorado pelo notável
diácono Atanásio, que posteriormente foi nomeado bispo e foi um dos grandes
teólogos da Igreja. Neste Concílio, que deu origem ao Credo de Nicéia e maioria
esmagadora dos bispos condenaram o Arianismo. Dos mais de 300 bispos que
compareceram, somente 22 deles foram a favor do Arianismo.
2.
Suas explicações. Ário e os seus seguidores citavam textos
bíblicos fora dos respectivos contextos e manipulavam o sentido dos textos,
buscando apoio para as suas crenças. Este método de leitura da Bíblia é chamado
de “eisegese”. Consiste em ler a Bíblia, com ideias pré-concebidas,
buscando apoio no texto bíblico para as próprias ideias. É diferente da exegese,
que consistem em analisar os textos bíblicos, considerando o seu contexto e
o sentido original para, então, fazer a devida aplicação.
O
comentarista nos apresentou aqui alguns textos usados pelo Arianismo, para
dizer que Jesus foi criado e que não era Deus. O primeiro texto está em
Provérbios 8.22, que em versões mais antigas foi traduzido assim: “O Senhor
me criou como a primeira das suas obras, o princípio dos seus feitos mais
antigos”. Ário usava este texto, junto com o texto de 1 Coríntios 1.24, que
diz: “mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo, poder
de Deus, e sabedoria de Deus.” Com isso, concluía que o texto de Provérbios
8.22, que fala da sabedoria, se refere à “criação” de Jesus.
O
segundo texto usado por Ário era Colossenses 1.15 que diz: “O qual é imagem
do Deus invisível, o primogênito de toda a criação”. Ário entendia
que a expressão “o primogênito da criação” significa que Jesus foi o
primeiro a ser criado. Os arianistas criaram até uma frase que eles cantavam
dizendo: “Houve um tempo em que o Filho não existia”.
O
terceiro texto usado pelo Arianismo e mencionado pelo comentarista, é João
17.3, onde o Senhor Jesus diz ao Pai em oração: “E a vida eterna é esta: que
conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste”. Com
base nestas palavras de Jesus, concluem que somente o Pai é Deus e que Jesus
Cristo é apenas um ser criado, que foi enviado pelo Pai ao mundo. No próximo
subtópico, apresentaremos as explicações para cada um destes textos
bíblicos.
3.
Como solucionar a controvérsia? No texto de Provérbios 8.22,
em primeiro lugar, é preciso considerar o contexto. O capítulo 8 de Provérbios
é um texto poético, que fala da sabedoria e não da Pessoa de Cristo. Aplicar um
texto que se refere à sabedoria à Pessoa de Cristo, altera o sentido original
do texto bíblico. Aliás, muitos crentes fazem isso, neste mesmo capítulo, no
versículo 17, que diz: “Eu amo os que me amam, e os que de madrugada me
buscam me acharão.” Muitas pessoas se valem deste texto para defender a
oração pela madrugada, dizendo que “a fila é menor”. Mas, o texto não se refere
a buscar a Deus e sim, buscar a sabedoria. Além disso, não existe fila para
buscar a Deus, pois Ele é onipresente e pode atender a todos ao mesmo
tempo.
Em
segundo lugar, como bem explicou o comentarista, a palavra hebraica qānâ, traduzida
na Septuaginta e nas versões antigas por “criou”, significa também
possuir, obter, ou adquirir. É diferente do verbo bārā’, usado em
Gênesis 1.1, que significa criar do nada, ou trazer à existência algo que não
existia. O verbo “possuir”, se aplica melhor ao texto de Provérbios 8.22, pois,
mesmo em relação à sabedoria, não é possível imaginar que houve um tempo em que
ela não existia. Isso seria admitir que houve um período em que Deus não era
sábio, pois a sabedoria ainda não existia.
O
terceiro texto mencionado é Colossenses 1.15, que diz o seguinte: “O qual é
imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação”. A palavra grega
traduzida por primogênito aqui é “prototokos”, que significa
primogênito, primeiro ou chefe. Evidentemente, em relação a Cristo, não
significa que Ele foi o primeiro a ser criado, como dizem os arianistas.
Significa que Ele tem a primazia sobre a criação, pois tudo foi criado por Ele
e para Ele, como está bem explicado nos versículos seguintes.
Por último, o comentarista menciona o texto de João 17.3, que também era usado por Ário, para dizer que Jesus não é Deus. Neste texto, Jesus disse ao Pai: “E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” Aqui, Jesus está usando uma linguagem judaica para exaltar ao Pai como Único Deus Verdadeiro, mas não está negando a sua divindade. Basta ler todo o capítulo 17 de João, para ver que Ele se coloca em igualdade com o Pai, como no versículo 5: “E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse”. O próprio Deus usou o profeta Isaías para dizer: “...A minha glória não darei a outrem” (Is 48.11). Se Jesus não fosse Deus, como iria pedir que o Pai o glorificasse?!
Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 38.
Declaração de Fé das Assembleias de Deus. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2017, p.43.
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