(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 2: Sal da terra, luz do mundo).
Nesta seção do Sermão do Monte, em Mateus 5.13-16, Jesus usa uma figura de linguagem chamada metáfora. Esta figura de linguagem consiste na substituição de uma palavra por outra, com o objetivo de compará-las, pela semelhança que há entre elas. O Mestre usou as figuras do sal e da luz, para compará-las com a influência que os seus seguidores, devem exercer no ambiente, onde estão inseridos. Neste primeiro tópico falaremos sobre a definição de sal nos idiomas bíblicos, sobre as funções do sal naqueles tempos e porque o crente é comparado ao sal.
1– Definição. No hebraico a palavra sal é melach, que significa rasgar, dissipar, ser dispersado, ser dissipado, salgar, temperar. Esta aparece cerca de 30 vezes no Antigo Testamento.
No grego bíblico é usada a palavra halas, um substantivo neutro para sal, que tem cinco significados:
a) Tempero natural de alimentos e sacrifícios, como o sal que temos atualmente;
b) Adubo ou substância fertilizante para a terra arável;
c) Símbolo de algo duradouro. Por isso, era usado nos acordos, como sinal de que aquilo deveria durar.
d) Substância que conserva os alimentos da deterioração;
e) Em sentido figurado, como símbolo da sabedoria e graça no discurso (Cl 4.6).
2- O uso do sal ao longo da história. Nas praias do Mar Morto havia uma fonte inesgotável de sal. Havia ali uma montanha de sal, com cerca de oito quilômetros de comprimento. Em 2 Sm 8.13 e em Sf 2.9, a Bíblia faz referência ao Vale do Sal, uma provável referência a esse região, que era abundante nesse produto.
Os fenícios conseguiam sal através do processo de evaporação do Mar Mediterrâneo. O sal extraído pelos povos antigos não era puro e continha mistura de outros minerais, o que tornava uma parte dele insípida. Estas partes eram jogadas fora e consideradas imprestáveis. Foi a isso que Jesus se referiu, quando falou que "...se o sal se tornar insípido, para nada mais presta, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens." (Mt 5.13).
No Antigo Testamento há também a menção à "aliança de sal" (Lv 2.13). As ofertas de manjares tinham que ser salgadas, representando a aliança perpétua entre Deus e seu povo (Nm 18.19; Lv 2.13; 2 Cr 13,5). O sal também era usado para atacar os inimigos, como forma de tornar as suas terras improdutivas. Abimeleque, filho de Gideão, matou os seus próprios irmãos e se declarou rei. Depois de três anos, o povo de Siquém se rebelou contra ele e fez isso: "Todo aquele dia pelejou Abimeleque contra a cidade e a tomou. Matou o povo que nela havia, assolou-a e a semeou de sal” (Jz 9.45).
Havia também no antigo Oriente a prática de esfregar sal nas crianças recém nascidas, após o primeiro banho (Ez 16.4). Provavelmente atribuíam ao sal poderes medicinais ou religiosos. Entre os pagãos, usava-se o sal com a finalidade de evitar ataques demoníacos. Deve ser daí que vem a crendice de usar sal grosso para para espantar "mau olhado".
Nos tempos do império romano, o sal era usado como forma de pagamento aos soldados. Em latim, a palavra "salarium" significava "pagamento com sal". É daí que vem a palavra portuguesa "salário".
3. A importância do sal. A principal função do sal, evidentemente sempre foi dar sabor aos alimentos. Qualquer alimento, exceto os que são adocicados, não tem graça nenhuma se não tiver sal. Os que são hipertensos e necessitam comer com pouco ou nenhum sal que o digam.
Outra função muito importante do sal era a preservação da carne. Nos tempos bíblicos não havia refrigeração como hoje. Sendo assim, além da sua função principal que usamos atualmente como item de tempero para dar sabor, uma das principais funções do sal era preservar a carne da putrefação. Na minha infância, eu morei na Zona rural, onde não havia energia elétrica e refrigeradores. Para se preservar as carnes, elas eram retalhadas em camadas finas, salgadas com bastante sal e colocadas ao sol para secar.
3- O cristão como sal. Estas duas funções principais do sal, o sabor e a preservação dos alimentos, ilustram a diferença que o cristão deve fazer neste mundo, exercendo uma boa influência, através da moderação, amabilidade, paz, justiça, etc. É importante destacar que o cristão não é um sal no saleiro. Jesus falou que somos o sal na terra, para dar sabor. Neste sentido, o sal precisa se misturar aos alimentos e não ficar isolado. Durante muito tempo, alguns cristãos tinham uma postura antissocial de isolacionista. Mas Jesus nunca agiu assim. Aliás, esta era uma das razões das críticas que ele recebia dos escribas e fariseus, pelo fato de ir às casas de publicanos e pecadores.
Por outro lado, o cristão representa um empecilho ao apodrecimento moral deste mundo que jaz no maligno. As virtudes cristãs impedem que o mundo seja totalmente destruído. A Igreja é uma voz profética neste mundo, que funciona como um freio à deterioração geral do ser humano sem Deus. Não é a educação e a cultura que vai preservar o mundo da apodrecimento moral e espiritual. A segunda guerra mundial e as celebridades estão aí para provar isso.
REFERÊNCIAS:
GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 37-40.
PFEIFFER, Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1729-110.
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 6. pag. 33
LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pag. 182-186.
Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. pág. 43.
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento. Mateus. Editora Cultura Cristã. pag. 368-369.
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Pb. Weliano Pires
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