O sexto mandamento proibia o assassinato doloso (com intenção de matar) por maldade. Diferente do que muitos imaginam, não estavam inclusos no sexto mandamento matar alguém em legítima defesa, a pena capital e as mortes na guerra. Se alguém matasse por acidente, tinha direito a se abrigar em uma das cidades de refúgio. Nestas cidades, não poderia sofrer vingança, mas estaria sujeito ao julgamento dos juízes da cidade. Neste segundo tópico, veremos que a cólera é o primeiro passo para o homicídio. Falaremos sobre as implicações do sexto mandamento do decálogo. Depois abordaremos o sentimento de ira do ponto de vista bíblico. Por último falaremos sobre o valor da pessoa humana.
1 - Jesus e o sexto mandamento. Jesus não anulou o sexto mandamento que diz: "Não matarás" (Ex 20.13). Nem tampouco o amenizou. Jesus deu-lhe uma interpretação mais profunda, que vai muito além da consumação do ato do assassinato. O mestre fez a seguinte afirmação: "Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo." (Mt 5.21). A expressão "Ouvistes o que foi dito aos antigos", não é uma referência ao texto da Lei e sim à explicação que os rabinos davam a ela. Se fosse uma referência à Lei, Jesus teria dito: "Está escrito", como disse ao diabo, na ocasião da tentação. Naquela época as pessoas não tinham cópias das Escrituras em suas casas e dependiam da leitura e explicação que ouviam nas Sinagogas.
Quando Jesus diz: "Eu, porém, vos digo…" (Mt 5.21,27,33,34,43), não está demonstrando prepotência ou alterando a Lei de Deus. Ele está mostrando a própria autoridade como Filho de Deus. Os profetas do Antigo Testamento, inclusive Moisés, diziam: Assim diz o Senhor, veio a mim a Palavra do Senhor, etc. Eles não falavam em seu próprio nome, mas eram porta-vozes de Deus. Jesus, no entanto, sendo Deus, dizia: Eu, porém, vos digo, na verdade vos digo, Eu sou, etc.
Jesus não está alterando o conceito de não matarás, prescrito na Lei. Ele está colocando o verdadeiro significado da Lei, que não foi devidamente compreendido pelos escribas e fariseus. Quando a lei proíbe alguma coisa, ela está também ordenando o contrário e quando ordena alguma coisa está proibindo o contrário, mesmo que não esteja explicitamente escrito. Por exemplo, quanto Deus diz para não matar, além de proibir o assassinato, está também ordenando que façamos o possível para proteger a vida do próximo. Sendo assim, de nada adianta não matar alguém diretamente, mas causar a sua morte por omissão.
2 - A cólera no contexto bíblico. Jesus vai muito além do entendimento dos mestres judaicos sobre a Lei. O Senhor fala sobre a origem do assassinato que é a ira contra o seu irmão. Os doutores da Lei pensavam que a Lei proibia apenas a consumação do ato pecaminoso de matar. Jesus, no entanto, diz que as intenções assassinas também são condenadas.
Segundo Warren Wiersbe, "Jesus não diz que a ira conduz ao homicídio, mas sim que a ira é uma forma de homicídio”. Quando Jesus fala sobre a cólera, a palavra usada no grego é "orge", que significa uma fúria interna que se multiplica. É diferente de "thymos", que é uma ira passageira. No Salmo 4.4, o salmista diz que um servo de Deus pode irar-se, mas não deve pecar. Paulo cita este texto, escrevendo aos Efésios. Ef 4.26). Nesse caso, é uma referência à ira natural, como uma emoção humana. Muitos servos de Deus como Elias, Eliseu e o próprio Jesus ficaram irados contra o pecado. Entretanto, esta ira não é uma obra da carne que domina o homem e o leva a praticar o mal contra o próximo. Paulo recomenda que não devemos deixar que a nossa ira passe de um dia para o outro (Ef 4.26).
Jesus está se referindo à cólera "sem motivos" contra o próximo, que é capaz de fazer-lhe mal, mesmo que não chegue ao ponto de assassiná-lo fisicamente. Há pessoas que não matam por falta de coragem, ou por medo das consequências. Entretanto, caluniam, destroem reputações, causam demissões, separações, etc. porque odeiam a outra pessoa. Foi esse tipo de ira que dominou Caim e levou a assassinar o seu irmão Abel, sem motivo algum (Gn 4.5-8; 1Jo 3.12).
3- O valor da pessoa humana. Depois de colocar a ira contra um irmão no mesmo patamar de um assassinato, Jesus defende agora o valor da dignidade da pessoa humana. Nesta perspectiva, o Senhor condena o desrespeito à pessoa humana e a humilhação do próximo com palavras desdenhosas.
Jesus diz que qualquer que chamar ao seu próximo de raca, será réu do Sinédrio e, se chamá-lo de louco, será réu do fogo do inferno. A palavra transliterada por raca é "rhaká" é um substantivo de origem aramaica, que significa "vazio", "inútil", "cabeça-oca". Era uma forma de diminuir e humilhar alguém. Já a palavra traduzida por "louco" é "moros" e significa "tolo, ímpio, incrédulo, idiota, retardado mental." É uma forma de depreciar espiritualmente uma pessoa ou considerá-la moralmente desprezível. No primeiro caso, Jesus diz que que, aquele que trata o próximo dessa forma é réu do Sinédrio e no segundo caso é réu do fogo do inferno (Grego Geena, uma referência à condenação eterna).
Esta interpretação que Jesus dá à Lei nos ensina que devemos respeitar as pessoas e nunca humilhar a ninguém com palavras desprezíveis. Infelizmente, há pessoas que se dizem cristãs, que por coisas banais, ofendem, ferem e humilham os outros, com palavras de baixo calão. Isso é gravíssimo.
Pb. Weliano Pires
REFERÊNCIAS
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 4. pag. 611.
LOPES, Hernandes Dias. EFÉSIOS Igreja, A Noiva Gloriosa de Cristo. Editora Hagnos. pág. 121-122.
GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 80-81.
HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pág. 52.
LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pág. 198-199.
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