09 fevereiro 2023

A PRECIOSA MORTE DE ESTÊVÃO

(Comentário do 2º tópico da Lição 07: Estevão – Um Mártir Avivado)

EV. WELIANO PIRES


No segundo tópico falaremos da “preciosa morte de Estêvão”. Cheio do Espírito Santo, antes de ser executado, Estêvão viu os Céus abertos e Jesus em pé à direita do Pai. Ao descrever esta visão, ele despertou ainda mais a fúria dos seus algozes, os quais o retiraram para fora da cidade para o executarem por apedrejamento. Durante a execução, à semelhança de Cristo, Estêvão pediu ao Senhor Jesus que perdoasse aqueles que o matavam. 

1. Cheio do Espírito Santo. Conforme falamos no tópico anterior, uma palavra define bem a vida e o ministério de Estêvão: cheio. Ele era cheio de fé, cheio de sabedoria e cheio do Espírito Santo. Em suma, Estêvão era cheio de Deus, pois as suas atitudes diante da morte não são características humanas. Nenhum ser humano, em seu aspecto natural consegue se comportar daquela forma. 

Estêvão realizou sinais e prodígios, que somente Deus poderia fazer; pregou com uma sabedoria irresistível, que nem os mais profundos mestres da Lei conseguiram refutá-lo e apelaram para mentiras e calúnias; denunciou corajosamente os crimes praticados pelas autoridades religiosas contra Jesus; não reagiu em momento algum contra a injustiça que estava sofrendo, mesmo sabendo que seria morto; pediu o perdão de Deus para os seus algozes. 

O que faz um ser humano ter essas atitudes diante da morte? Somente alguém cheio do Espírito Santo é capaz de agir assim. Mas, o que significa ser cheio do Espírito Santo? Na atualidade vemos as pessoas dizendo que alguém é cheio do Espírito Santo, com base no seu comportamento durante o culto, onde não há nenhuma perseguição, principalmente quando a pessoa está com um microfone na mão. Entretanto, ser cheio do Espírito vai muito além do culto e envolve todos os aspectos da nossa vida. 

No capítulo 2 de Atos, no versículo 4, lemos: "E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem." Aqui, claramente se percebe que ser cheio do Espírito significa ser batizado no Espírito Santo. Entretanto, nos Evangelhos, lemos que João Batista e Jesus foram cheios do Espírito Santo. Mas não consta que eles tenham falado em línguas. (Lc 1.41; 4.1). 

O apóstolo Paulo, escrevendo aos Efésios disse: "E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito, falando entre vós com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus." (Ef 5.18-21). Ou seja, aqui Paulo diz que cheio do Espírito Santo é alguém que não vive em contendas, que louva e é grato ao Senhor, e que sujeita-se aos outros, no temor do Senhor. 

Escrevendo aos Gálatas, o apóstolo Paulo fala sobre o andar no Espírito, que se contrapõe às obras da carne, que são pecados contra Deus, contra a moral e contra o próximo, que são: imoralidade sexual, impureza, libertinagem, Idolatria, feitiçaria, ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões, facções, inveja, embriaguez, orgias e coisas semelhantes (Gl 5.19-21). Em seguida, Paulo lista nove virtudes inseparáveis, que formam o Fruto do Espírito Santo: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança (domínio próprio) (Gl 5.22). 

Portanto, ser cheio do Espírito Santo pode significar o batismo no Espírito Santo, mas não apenas isso. Ser cheio do Espírito Santo é ser controlado e viver totalmente guiado pelo Espírito Santo. Não é apenas uma ação momentânea, em que o crente é cheio do Espírito Santo hoje e, automaticamente, permanece cheio para sempre. Ser cheio do Espírito Santo é uma ação contínua, que está vinculada à comunhão diária do crente com o Senhor. Ser cheio do Espírito Santo não é uma opção para o crente, que ele pode ou não buscar. É uma necessidade vital, uma questão de sobrevivência espiritual. 

2. A violência dos acusadores. Os acusadores de Estêvão tentaram dar aparência de legalidade à sua execução: Levaram-no ao Sinédrio, para que fosse interrogado; apresentaram duas ou três testemunhas como mandava a Lei mosaica; e o conduziram para fora da cidade, como estava previsto em casos de blasfemadores (Lv 24.14-16; Nm 15.32-36). Entretanto, tanto o julgamento quanto a execução, foram completamente ilegais. Primeiro, porque eles estavam sob o domínio de Roma e não tinham mais autoridade para condenar ninguém à pena capital. Poderiam interrogar e ouvir testemunhas, mas a última palavra em caso de condenação à morte teria que vir de Roma. Segundo, as testemunhas eram falsas e arroladas mediante suborno. Terceiro, eles sequer ouviram os argumentos de Estêvão e não os contestaram mediante a Lei. Simplesmente taparam os ouvidos e violentamente o conduziram para fora da cidade. 

A apostasia e dureza de coração daqueles homens chegou a um grau tão avançado, que eles perderam completamente a racionalidade. Conforme falamos no tópico anterior, eles ignoraram os milagres realizados por Estêvão, que mostravam claramente que Deus estava com ele. Em segundo lugar, desprezaram a brilhante exposição das Escrituras, feita na sabedoria do Espírito Santo, que eles não conseguiram contrapor. Por último, ignoraram o fato de o rosto de Estêvão brilhar como o rosto de um anjo, como acontecera com Moisés, a quem eles diziam prestigiar. Estes três fatos, no mínimo, deveria tê-los levado à reflexão, como fez Gamaliel, em relação aos apóstolos: “Varões israelitas, acautelai-vos a respeito do que haveis de fazer a estes homens. Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará, mas, se é de Deus, não podereis desfazê-la, para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus.” (At 5.35, 38,39). 

Se os opositores de Estêvão tivessem adotado esta cautela, não teriam cometido tamanha injustiça e brutalidade contra o servo do Senhor, pois estava claro que aquela obra era de Deus. Entre os assassinos estava o jovem Saulo de Tarso, que é mencionado pela primeira vez na Bíblia neste triste episódio. Saulo era um fariseu, doutor da Lei e foi aluno de Gamaliel. Certamente ele conhecia a postura adotada por seu mestre no passado. Mesmo assim, possuído pelo ódio aos cristãos consentiu nesta execução violenta, mediante testemunhas falsas e um julgamento ilegal.  

Saulo conhecia tanto a Lei mosaica, quanto o direito romano, pois era doutor da lei e cidadão romano. Mesmo assim, apoiou aquela atrocidade. Depois disso, ainda empreendeu uma caçada violenta aos cristãos em Jerusalém, arrastando homens e mulheres pelas ruas e os conduzindo à prisão. Até que, em uma destas empreitadas, ele teve um encontro com o Senhor Jesus no caminho de Damasco e foi transformado por Ele. A partir daí, passou a ser perseguido. A morte de Estêvão deixou marcas profundas na consciência do jovem Saulo e, anos mais tarde, ele lembrou disso com profunda tristeza, no discurso em sua defesa, após a sua prisão (At 22.20).

3. O perdão no martírio. Estêvao foi um imitador de Cristo, tanto em sua vida, como na morte. Durante a sua vida, Estêvão foi cheio do Espírito Santo, de sabedoria, de fé e poder. Fazia sinais e prodígios e pregou ousadamente o Evangelho. Enfrentou corajosamente as autoridades religiosas, denunciando tanto a perseguição dos seus pais aos profetas, como a dos filhos que crucificaram a Jesus. Jesus também foi cheio do Espírito Santo, de sabedoria e poder, fez muitos milagres e enfrentou os escribas e fariseus muitas vezes, a ponto deles o odiarem. 

Em sua morte, Estêvão também imitou o seu Mestre. Primeiro, ele não cometeu crime algum e foi levado para o matadouro como uma ovelha, sem reclamar. Estêvão apenas pregou a Palavra de Deus e em momento algum procurou se defender, revidar ou proferir palavras de vingança. Segundo, assim como fizera Jesus em sua morte, Estêvão pediu ao Senhor Jesus que perdoasse aos seus algozes por aquele pecado. Por último, Estêvão repetiu o ato do Senhor Jesus na cruz, que entregou o seu espírito ao Pai, dizendo: "Senhor Jesus, recebe o meu espírito". Alguns estudiosos dizem também que Estêvão foi apedrejado no mesmo lugar, onde Jesus foi crucificado, no Monte Gólgota, conhecido como "Lugar da Caveira" (Calvário em latim). 

O Salmo 116 diz: “Preciosa é à vista do Senhor a morte dos seus santos” (SI 116.15). Isto não significa que Deus tem prazer em nossa morte, significa que a morte para os salvos é uma vitória. O apóstolo Paulo escrevendo aos Filipenses disse: "Porque para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro". (Fp 1.21). Aos Coríntios, Paulo escreveu: "O último inimigo a ser vencido é a morte". (1 Co 15.26). Um crente cheio do Espírito Santo, que tem certeza da sua salvação, está pronto para morrer pelo Evangelho, pois sabe que a morte, nesse caso, é uma vitória e uma partida para estar com o Senhor e é "incomparavelmente melhor". (Fp 1.26). 

REFERÊNCIAS: 

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pág. 666.

KISTEMAKER, Simon J. Comentário do Novo Testamento Atos. Volume 1. Editora Cultura Cristã. pág. 394-396.

ZIBORDI, Ciro Sanches. Estevão, o primeiro apologista do Evangelho. Editora CPAD. 1 Ed. 2018.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pág. 665-666.

LOPES, Hernandes Dias. Atos, a ação do Espírito Santo na vida da igreja. Editora Hagnos. pág. 164.


07 fevereiro 2023

O TESTEMUNHO DE ESTÊVÃO


(Comentário do 1º tópico da Lição 07: Estevão – Um Mártir Avivado)

EV. WELIANO PIRES


Neste primeiro tópico da lição, estudaremos o testemunho de Estêvão, que foi usado por Deus, de forma eloquente e fervorosa, realizando milagres entre o povo, na cidade de Jerusalém. A sua pregação, no entanto, despertou a inveja dos adversários do Cristianismo e de forma covarde, subornaram homens ímpios para acusá-lo falsamente de blasfêmia contra Moisés e contra Deus. Estêvão não se intimidou ante a fúria dos acusadores e direcionou a sua pregação contra as autoridades religiosas de Israel, acusando-os pela traição e assassinato de Jesus. 

1. Estêvão usado por Deus. Não temos maiores informações sobre a pessoa e a origem de Estêvão. O seu nome em grego é "Stéphanos" e significa “coroa”. Estevão falava fluentemente o grego e era um judeu dos chamados "helenistas", ou seja judeus que viviam fora da terra de Israel e falavam grego. Nada sabemos também sobre a sua conversão ao Cristianismo. Há uma tradição antiga que diz que ele fez parte dos setenta discípulos enviados por Jesus, mas não temos nenhuma comprovação disso. 

Estevão aparece pela primeira vez na Bíblia na ocasião da escolha dos sete diáconos, no capítulo 6 do livro de Atos dos Apóstolos. Houve uma espécie de discriminação entre cristãos que cuidavam da assistência social às viúvas, dando preferência às viúvas dos judeus da Palestina. Os cristãos de fala grega foram reclamar disso com os apóstolos. Os apóstolos se reuniram e disseram que não seria correto eles deixarem a exposição bíblica e a oração para cuidar da assistência social. Resolveram, então, que a Igreja escolhesse sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, para executarem este trabalho. 

O primeiro desta lista foi Estevão e na referência a ele, Lucas destaca que ele era “homem cheio de fé e do Espírito Santo” (At 6.5). Mais adiante, Lucas diz: “E Estêvão, cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo” (6.8). Dos sete diáconos, só temos informações na bíblica sobre os trabalhos realizados por Filipe e Estevão. O ministério evangelístico de Filipe foi em Samaria e está registrado em Atos 8. Estevão, por sua vez, foi o primeiro mártir [proto mártir] e também o primeiro apologista da Igreja Cristã. Ou seja, ele foi executado pela causa que defendia (mártir) e fez o mais longo discurso de defesa de Jesus registrado no Novo Testamento (apologia). Depois dele vieram outros mártires e apologistas, mas ele foi o primeiro. 

Alguém poderia perguntar: Jesus não foi o primeiro mártir?  A resposta é não, pois embora Jesus também tenha sido cruelmente executado, Ele não morreu por defender uma causa. Jesus veio a este mundo justamente para se oferecer em sacrifício perfeito a Deus, para salvar os pecadores. Ele mesmo disse: "Ninguém tira a minha vida; Eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai." (Jo 10.18). 

Estevão se destacou também por fazer grandes sinais e prodígios entre o povo: "E Estêvão, cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.” (At 6.8). A pregação de Estevão não se limitava a discursos bem elaborados e palavras persuasivas, mas consistia na demonstração do poder e sabedoria do Espírito Santo. Escrevendo sobre o ministério de Estevão, o pastor Hernandes Dias Lopes diz: "...Uma palavra que caracteriza a vida de Estêvão é cheio. Ele era um homem cheio de Deus. Sua vida não era apenas irrepreensível, mas também plena. [...] Estevão era cheio do Espírito Santo [...] cheio de fé [...], cheio de sabedoria [...], cheio de graça [...] e cheio de poder". O Pr. Ciro Sanches Zibordi também diz, em seu Livro "Estevão, o primeiro apologista do Evangelho": “Essas quatro qualidades decorriam de sua comunhão com o Espírito Santo e devem ser interpretadas como “manifestações particulares que o Espírito concede”.

2. Uma covarde oposição. O discurso ousado de Estevão causou grande inveja e despertou a fúria dos seus opositores. Entretanto, eles não tinham como contestá-lo honestamente. A sua vida era irrepreensível, pois ele era um homem de Deus, que tinha boa reputação e bom testemunho de todos. O seu discurso também era irrefutável, do ponto de vista teológico, pois Estevão era um hábil expositor das Escrituras e falava com a sabedoria que o Espírito Santo lhe concedia. Por último, os sinais e prodígios que ele realizava publicamente entre o povo, no poder do Espírito Santo, também eram inegáveis. 

Restou aos opositores de Estevão apelarem para a desonestidade, covardia e violência. Tentaram argumentar com Estevão dentro da Lei, mas foram vendidos, pois ele provava pelas Escrituras que estava correto. Não podiam acusá-lo de pecado ou blasfêmia, pois ele tinha uma conduta exemplar. Também não podiam acusá-lo de charlatanismo, pois os milagres eram públicos com muitas testemunhas. De forma vergonhosa, leviana e criminosa, eles contrataram falsas testemunhas para acusar Estevão de ter blasfemado contra Deus, contra Moisés e contra o templo (At 6.12). Com estas falsas acusações, eles incitaram o povo contra Estevão e o levaram ao Sinédrio, um tribunal religioso judaico, para ser interrogado pelo sumo sacerdote, que presidia aquele órgão. 

Diante das autoridades judaicas, Estevão reafirmou a sua defesa do Evangelho, com argumentos bem fundamentados nas Escrituras. Eles não tiveram a mínima chance de confrontá-lo teologicamente, pois o Espírito Santo falava através dele. No momento em que Estevão falava para uma plateia cheia de ódio contra ele, o seu rosto brilhava como o rosto de um anjo, assim com aconteceu com Moisés, quando desceu do Monte. Mais uma razão para eles se conscientizarem de que Deus aprovava o que Estevão estava falando. Mas eles estavam em um estágio de apostasia tão avançado que rangiam os dentes de ódio contra Estevão e ignoravam as evidências.  

Em outras ocasiões, o inimigo usou a mesma tática da covardia, mentiras e desonestidade contra servos de Deus. A mulher de Potifar, usou a falsa acusação para se vingar de José, por ter se recusado a cometer adultério com ela (Gn 39.7-20). Jezabel usou a falsa acusação de blasfêmia contra Nabote, para forçar o seu assassinato, por ter se recusado a vender a herança dos seus pais ao rei Acabe (1 Rs 21.7-12). Temos também o caso de Daniel, que os opositores buscavam ocasião para acusá-lo diante do rei, mas não encontraram. Então, resolveram criar uma lei absurda, para acusá-lo de deslealdade ao rei (Dn 6). Contra Jesus também os seus algozes inventaram várias acusações como a de que Ele queria ser rei e de que havia blasfemado, para condená-lo à morte. Em vários textos, a Bíblia diz que eles buscavam ocasião para condená-lo à morte. 

3. A fúria dos acusadores. Os opositores de Estêvão, que debateram com ele e não conseguiram vencê-lo, levaram-no ao Sinédrio e fizeram acusações gravíssimas dele, diante do sumo sacerdote. Ao ouvir as acusações o sumo sacerdote perguntou a Estêvão: “Porventura é isto assim?” (At 7.1). Estêvão manteve-se sereno e iniciou a sua defesa, chamando os seus ouvintes de “varões, irmãos e pais”. Em seguida fez uma brilhante exposição bíblica da história de Israel, começando com a chamada de Abrão, em Ur dos Caldeus. Falou da aliança da circuncisão, de Isaque, Jacó e José. Discorrer sobre a mudança dos descendentes de Jacó para o Egito, até que chegou em Moisés. Falou do nascimento de Moisés, do assassinato do egípcio, da sua fuga para Midiã e do manifestação de Deus a ele do meio da sarça ardente. 

Estêvão, como um bom pregador que conhece a Palavra de Deus, falou de todo o processo da libertação de Israel da escravidão do Egito, fazendo uma síntese, até chegar na profecia messiânica de Moisés, no Livro de Deuteronômio: “O Senhor vosso Deus vos levantará dentre vossos irmãos um profeta como eu; a ele ouvireis.” (At 7.37; Dt 18.15). Depois falou da conquista da terra prometida por Josué e citou resumidamente a construção do templo por Salomão. 

Na sequência, Estêvão mudou o foco da sua pregação e passou a denunciar a idolatria e apostasia de Israel, ao longo da sua história e confrontou os membros do Sinédrio, acusando-os de serem rebeldes como os seus pais e assassinos de Jesus, da mesma forma que os seus pais também perseguiram e mataram os profetas: “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim, vós sois como vossos pais. A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que anteriormente anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora fostes traidores e homicidas; vós que recebestes a lei por ordenação dos anjos e não a guardastes. E, ouvindo eles isto, enfureciam-se em seu coração e rangiam os dentes contra ele.” (At 7.51-54).

A expressão “dura cerviz” é usada em sentido figurado para se referir à teimosia e insubordinação do povo de Israel a Deus. A cerviz é a parte posterior do pescoço, que chamamos de nuca. Dura cerviz, em sentido literal era uma referência aos bois que faziam força e se debatiam, recusando-se a ser conduzido pelo cabresto do seu dono. Da mesma forma que um boi rebelde, aqueles homens, em vez se humilharem e se arrependerem, diante da exposição da Palavra de Deus e confronto com os seus pecados, rangeram os dentes de ódio contra Estêvão e, com violência o retiraram da cidade, para o matarem. 

Aquele julgamento era completamente ilegal, pois o Sinédrio não tinha poder para condenar ninguém à morte. O Sinédrio poderia até ouvir o acusado e as testemunhas, mas, precisavam do aval do Império romano para condenar alguém à morte. Além disso, as testemunhas eram falsas e Estêvão não teve direito à defesa. Ele mesmo o seu discurso em sua defesa, mas não houve contraponto ao discurso. Simplesmente, o levaram para a execução, sem que tivesse sido condenado. Entretanto, aquele servo de Deus odiado e martirizado na terra, recebia a aprovação do Céu, como veremos no próximo tópico. 

REFERÊNCIAS:

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

ZIBORDI, Ciro Sanches. Estevão, O primeiro apologista do Evangelho. Editora CPAD. 1 Ed. 2018.

LOPES, Hernandes Dias. Atos: A ação do Espírito Santo na vida da igreja. Editora Hagnos. pág. 142-143.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pág. 665.


05 fevereiro 2023

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 07: LIÇÃO 07: ESTEVÃO – UM MÁRTIR AVIVADO

EV. WELIANO PIRES

Na lição passada falamos a respeito do avivamento no ministério do apóstolo Pedro, que foi o primeiro líder da Igreja Cristã, após a ascensão de Jesus ao Céu. Falamos sobre a vida de Pedro antes e depois do batismo no Espírito Santo. Na lição desta semana falaremos sobre o avivamento na vida de Estêvão, que foi o primeiro cristão a ser martirizado por causa da sua pregação. 

Devido ao crescimento exponencial da Igreja Primitiva nos primeiros anos, houve murmuração por parte dos judeus de fala grega, convertidos ao Cristianismo, porque as suas viúvas eram preteridas na assistência social da Igreja. Os apóstolos decidiram, então, escolher sete diáconos para esta missão. Dois deles se destacaram na pregação do Evangelho: Filipe, em Samaria, e Estêvão, em Jerusalém. 

Estêvão, cheio do Espírito Santo e de fé, pregava ousadamente a Palavra de Deus e fazia muitos milagres entre o povo. Por isso, foi conduzido ao Sumo sacerdote para ser interrogado. Diante das autoridades, pregou com ousadia a Palavra de Deus, deixando-os furiosos, a ponto de o apedrejarem até à morte. 

No primeiro tópico da lição, estudaremos o testemunho de Estêvão, que foi usado por Deus, de forma eloquente e fervorosa, realizando milagres entre o povo, na cidade de Jerusalém. A sua pregação, no entanto, despertou a inveja dos adversários do Cristianismo e de forma covarde, subornaram homens ímpios para acusá-lo falsamente de blasfêmia contra Moisés e contra Deus. Estêvão não se intimidou ante a fúria dos acusadores e direcionou a sua pregação contra as autoridades religiosas de Israel, acusando-os pela traição e assassinato de Jesus. 

No segundo tópico falaremos da “preciosa morte de Estêvão”. Cheio do Espírito Santo, antes de ser executado, Estêvão viu os Céus abertos e Jesus em pé à direita do Pai. Ao descrever esta visão, ele despertou ainda mais a fúria dos seus algozes, os quais o retiraram para fora da cidade para o executarem por apedrejamento. Durante a execução, à semelhança de Cristo, Estêvão pediu ao Senhor Jesus que perdoasse aqueles que o matavam. 

No terceiro tópico, falaremos sobre o avivamento no sofrimento. Discorreremos sobre a perseguição, sofrimentos e martírio dos apóstolos pelo império romano. Eles sofreram horrores por causa da sua fé em Cristo, mas jamais negaram ao Senhor. Falaremos também sobre a relação entre avivamento e sofrimento. Jesus nunca prometeu que não passaríamos por perseguições e aflições. Ao contrário, Ele afirmou que os seus seguidores seriam odiados, perseguidos e mortos por causa do Nome dele. Mas o Espírito Santo nos capacita para enfrentar as perseguições e suportá-las. 

REFERÊNCIAS: 

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra: O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

ZIBORDI, Ciro Sanches. Estevão, o primeiro apologista do Evangelho. Editora CPAD. 1 Ed. 2018.

LOPES, Hernandes Dias. Atos: A ação do Espírito Santo na vida da igreja. Editora Hagnos. pág. 142-143.


03 fevereiro 2023

A IGREJA DE HOJE E O AVIVAMENTO DO PENTECOSTES

(Comentário do 3º tópico da Lição 06: O avivamento no Ministério de Pedro).

EV. WELIANO PIRES


No terceiro e último tópico, falaremos sobre a Igreja de hoje e o avivamento do Pentecostes. Faremos uma comparação entre o contexto da Igreja atual e o Pentecostes, destacando a necessidade urgente de um avivamento naqueles moldes. Nos dias atuais, conforme já havia predito o Senhor Jesus no Sermão profético, vivemos um tempo de multiplicação da iniquidade e o esfriamento do amor. Por último, falaremos da iminência do arrebatamento da Igreja, que é a nossa bendita esperança. Somos peregrinos e forasteiros neste mundo e estamos a caminho do nosso eterno lar celestial. 


1. A Igreja atual e o Pentecostes. Conforme vimos na lição passada, os chamados teólogos cessacionistas, que dizem que os dons espirituais cessaram com a morte do último apóstolo e insistem na tese de que o batismo no Espírito Santo e os dons espirituais são desnecessários para a Igreja atual. Entretanto, tanto Jesus como a história da Igreja, confirmam o contrário. O Senhor Jesus, antes de subir ao Céu, advertiu os seus discípulos a não saírem de Jerusalém, antes de serem revestidos de poder. Ele sabia perfeitamente que as perseguições e ameaças que os esperava e a importância dos dons espirituais para a evangelização. 


Se o revestimento de poder era indispensável à Igreja Primitiva, como disse Jesus, por que não seria para a Igreja atual? Outrossim, se os dons do Espírito Santo cessaram no primeiro século como dizem os cessacionistas, quando foi o seu fim? Onde está o registro da transição do período em que os dons estavam presentes, para o período em que eles não mais existiam? O fato é que a manifestação do Espírito Santo nunca se afastou da Igreja. Sobre isso, diz o pastor e teólogo Claudionor de Andrade: "As Escrituras Sagradas e a história do Cristianismo desmentem os cessacionistas; demonstram que a experiência pentecostal jamais se ausentou dos arraiais cristãos. É tão atual hoje, como o foi nos tempos antigos."


Este avivamento, no entanto, só virá se a Igreja atual seguir as condições que vimos na Lição 01: humilhação diante de Deus, oração e busca pela face do Senhor e conversão sincera, mediante o arrependimento e confissão dos pecados. Conforme estudamos na lição 02, o avivamento também está diretamente ligado ao ensino da Palavra de Deus, como aconteceu nos dias de Esdras e Neemias e nos dias do rei Josias. É o ensino da Palavra de Deus que leva o ser humano a conhecer a sua condição de pecador e, consequentemente, ao arrependimento. 


2. Tempos de multiplicação da iniquidade. Além da necessidade dos dons espirituais para a pregação do Evangelho, temos também a necessidade de um poderoso avivamento nos dias atuais, por causa dos tempos trabalhosos em que vivemos. Estes dias que antecedem a vinda de Jesus foram descritos por Jesus e pelos seus apóstolos como tempos de apostasia, ódio aos cristãos, aumento da iniquidade e esfriamento do amor. (Mt 24.9-12; 1 Tm 4.1-3; 2 Pe 2; Jd 1). Em um mundo assim, se a Igreja não estiver revestida de poder, não subsistirá. 


O apóstolo Paulo, em sua segunda Epístola a Timóteo, descreveu as características dos últimos dias: "Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te." (2Tm 3.1-5). 


A expressão "últimos dias", usada pelo apóstolo Paulo, pelo profeta Joel e por outros, não se refere apenas aos dias imediatamente anteriores à vinda de Jesus, mas a todo o período desta dispensação, que vai desde a ascensão de Jesus até o arrebatamento da Igreja (Jl 2.28; At 2.16-21; 1Tm 3.1; Hb 1.2). O fato de Paulo recomendar a Timóteo que se afastasse das pessoas que vivem nas práticas pecaminosas por ele citadas, indica que isso já estava acontecendo em seus dias. 


Paulo elaborou uma lista com dezoito práticas pecaminosas, que demonstram o aumento assustador da iniquidade, como consequência do afastamento de Deus. O primeiro pecado desta lista é o egoísmo (homens amantes de si mesmos). De fato vivemos uma época de egoísmo extremo, onde as pessoas só pensam em si mesmas e são indiferentes ao sofrimento alheio. O mais triste é saber que este comportamento está presente também no meio da Igreja. 


Na sequência, o apóstolo cita o materialismo (pessoas avarentas). Escrevendo aos Efésios, Paulo disse que a avareza é uma espécie de idolatria (Ef 5.5). De fato, quem ama o dinheiro é capaz de fazer qualquer coisa para obtê-lo: mata, rouba, sequestra, trai, nega a Deus, etc. Paulo escreveu também que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males (1Tm 6.10). 


Em terceiro lugar vem a presunção (presunçosos). A presunção consiste em superestimar a si mesmo e aos próprios feitos. É uma opinião demasiadamente boa e lisonjeira sobre si mesmo. Os presunçosos são narcisistas, pois sentem necessidades constantes de serem elogiados, reconhecidos e recompensados pelo que supostamente fazem. É um sentimento antagônico ao Cristianismo. 


Na mesma linha dos presunçosos, vem os soberbos, que se consideram superiores aos demais e acham que não precisam de ninguém, nem de Deus. Este foi o pecado do querubim ungido, que estava no Céu, se rebelou contra Deus, foi expulso e transformou-se em Satanás. Sendo criatura de Deus, devido à beleza e importância que ele achava que possuía, quis ser igual a Deus (Is 14.12-15; Ez 28.13-19).


Em quinto lugar está o pecado da blasfêmia. O termo grego "blasfêmia" significa linguagem injuriosa, difamatória ou ultrajante, não apenas contra Deus, mas também contra o nosso próximo. Portanto, "blasfemos" neste texto não são apenas os que proferem insultos contra Deus, são também os que agridem com palavras, caluniam e difamam outras pessoas. Atualmente, esta prática é muito abundante, principalmente nas redes sociais. 


Neste mesmo grau estão os caluniadores, que inventam mentiras contra o próximo; os irreconciliáveis, que são implacáveis e rejeitam a conciliação; os traidores, que não cumprem o que prometeram e abandonam pessoas que estão em perigos; os cruéis, que são desprovidos de qual civilidade e indomáveis como animais selvagens; os obstinados, que não medem as consequências para atingir os seus objetivos; os ingratos, que não tem nenhum sentimento de gratidão a Deus ou ao próximo, pois acham que são merecedores e todos tem a obrigação de ajudá-los; os que são inimigos dos bons, que são pessoas que preferem os maus e prejudica as pessoas que fazem o bem; os profanos, que desprezam ou consideram comuns as coisas sagradas. 


A lista de pecados cita também os incontinentes, que são aqueles que nunca se satisfazem e cometem o pecado da glutonaria, que é uma das obras da carne (Gl 5.19-21). Este pecado não se refere apenas à comida, como muitos imaginam, mas a todo tipo de apetite descontrolado. Nesta mesma categoria estão os que são mais amigos dos prazeres que de Deus. São pessoas que se tiverem que escolher entre a Palavra de Deus e os prazeres da carne, ficam com a segunda opção. Infelizmente, há muitas pessoas nestas condições, pensando em “aproveitar a vida” e somente quando envelhecer, buscar a Deus. 


Temos ainda nesta lista os que não têm afeto natural e os que são desobedientes aos pais. São pessoas que desprezam os vínculos familiares e a autoridade dos pais. A obediência e honra aos pais é o primeiro mandamento com promessa, que é a promessa de viver bem e ter longevidade. Infelizmente em nossos dias, as relações familiares têm sido banalizadas, até por aqueles que deveriam defendê-las. Muitos jovens têm perdido a vida muito cedo, por desprezar e desonrar os pais. 


3. A Igreja será arrebatada. Tomando como base a Parábola das dez virgens que aguardavam a chegada do noivo (Mt 25.1-13), o comentarista alerta para a proximidade do arrebatamento da Igreja e a necessidade da Igreja estar preparada para este evento. Nesta parábola contada por Jesus no Sermão profético, o Mestre fazia um alerta sobre a necessidade da vigilância, na iminência da sua segunda vinda. Cinco virgens eram loucas e cinco prudentes. As prudentes traziam azeite de reserva e as loucas não. Com a chegada do noivo, as cinco prudentes entraram para as bodas e as cinco loucas, que tinham ido comprar azeite em cima da hora ficaram de fora. 


Esta parábola retrata um casamento no contexto judaico daquela época, onde a noiva esperava o noivo e não o contrário como acontece nos casamentos atuais. Neste casamento havia dez virgens, que eram uma espécie de damas de honra, que iam ao encontro do noivo, com as suas lamparinas acesas. O combustível destas lamparinas era o azeite de oliva. Se o azeite acabasse, elas se apagavam. Não daria tempo para ir comprar mais azeite durante a festa, por isso tinham que ter azeite de reserva. As virgens prudentes tiveram o cuidado de levar azeite. As loucas ou insensatas, não tiveram esta preocupação. Tentaram pegar emprestado com as prudentes, mas não conseguiram. Finalmente, foram comprar, mas quando retornaram, o noivo já havia chegado e a porta estava fechada. 


Esta parábola nos alerta que a vinda do Senhor será repentina: “À meia noite ouviu-se um clamor: aí vem o noivo; saí-lhe ao encontro.” (Mt 25.6). O arrebatamento da Igreja será num momento, num abrir e fechar de olhos e não dará tempo de alguém se preparar naquele momento. Jesus deixou claro que ninguém sabe o dia nem a hora em que Ele virá. Também não sabemos o dia em que iremos morrer. Sendo assim, precisamos estar preparados a todo tempo. Esta preparação envolve oração, vigilância, santidade e trabalho na Obra do Senhor. Em vários textos, Jesus recomendou a oração e a vigilância. Os apóstolos também recomendaram oração, vigilância e santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor. 


REFERÊNCIAS:

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Fundamentos Bíblicos De Um Autêntico Avivamento. Editora CPAD. 1ª edição: 2014. págs. 103-104.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. págs. 1260; 1497-1498.

AIRHART, Arnold E. Comentário Bíblico Beacon. I e II Timóteo.  Editora CPAD. Vol. 9. págs. 525-526.

TAYLOR, Willard H. Comentário Bíblico Beacon. Efésios. Editora CPAD. Vol. 9. pág. 185.

02 fevereiro 2023

PEDRO APÓS O PENTECOSTES

(Comentário do 2⁰ tópico da lição 06: O avivamento na vida de Pedro)


Ev. WELIANO PIRES


No segundo tópico, falaremos sobre o comportamento de Pedro após o Pentecostes. Pedro foi batizado no Espírito Santo, juntamente com 120 discípulos que perseveraram em oração, aguardando a descida do Espírito Santo prometida por Jesus antes de subir ao Céu. Após esta experiência, Pedro passou por uma profunda transformação e nunca mais foi o mesmo. Falaremos também sobre o episódio da cura de um coxo de nascença na porta do templo. Por último, veremos o avivamento na vida de Pedro em outras ocasiões.


1. Pedro batizado no Espírito Santo. Após a ascensão do Senhor Jesus ao Céu, Pedro se tornou o principal protagonista entre os apóstolos, ao lado de João. Tiago, irmão de João, apesar de fazer parte do grupo dos três apóstolos mais próximos de Jesus durante o seu ministério terreno, junto com Pedro e João, praticamente não aparece no livro de Atos. A única referência que temos a ele, está no capítulo 12, quando Herodes mandou matá-lo à espada (At 12.1,2). 


Pedro, no entanto, imediatamente após a subida de Jesus ao Céu, tomou para si a responsabilidade de líder do grupo e propôs a escolha de outro apóstolo para o lugar de Judas Iscariotes, que havia traído Jesus e em seguida se matou (At 1.13-26). Foram apresentados os nomes de José, chamado Barsabás, que tinha por sobrenome o Justo, e Matias. Após orarem, fizeram um sorteio e escolheram Matias. 


No capítulo 2 do Livro de Atos temos o conhecidíssimo relato da descida do Espírito Santo. Cento e vinte pessoas estavam reunidas em um cenáculo, aguardando em oração, o cumprimento da promessa de Jesus, de que enviaria o Consolador para estar para sempre com eles. De repente, veio do Céu, um som como de um vento forte e impetuoso e encheu toda a casa. Foram vistas línguas repartidas como se fossem de fogo, descendo sobre a cabeça de cada um dos presentes, e eles falaram em outras línguas e profetizaram (At 2.1-4). 


Era o dia da festa de Pentecostes, a segunda mais importante festa de Israel depois da Páscoa, que acontecia 50 dias após a páscoa, por isso, era chamada pelo nome grego pentekosté, que significa "quinquagésimo". Era também chamada de Festa das Semanas (Êx 34.22; Dt 16.10,16; 2 Cr 8.13); Festa da Colheita, (Êx 23.16) e Dia das Primícias (Nm 28.26). Por ocasião desta festa havia uma multidão de pessoas em Jerusalém, vindas de várias partes do mundo, que falavam outros idiomas. 


O barulho dos crentes glorificando a Deus em outras línguas foi ouvido de longe e as pessoas se aproximaram para ver o que estava acontecendo. Os estrangeiros ficaram espantados, pois, cada um ouvia pessoas falarem na língua deles, das maravilhas de Deus. Diante disso, perguntaram: “Estes que estão falando não são todos galileus? Como, pois, os ouvimos falar em nossas próprias línguas?”. Outros, no entanto, zombavam dizendo: “Estes homens estão embriagados!” 


Pedro, cheio do Espírito Santo, se levantou com os demais apóstolos e fez um longo e ousado discurso, explicando que aquilo era o cumprimento da profecia de Joel, que dizia: "E acontecerá nos últimos dias, diz Deus, que derramarei o meu Espírito sobre toda a humanidade. Os filhos e as filhas de vocês profetizarão, os seus jovens terão visões, e os seus velhos sonharão. Até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei o meu Espírito naqueles dias, e profetizarão. Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e nuvens de fumaça. O sol se transformará em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo." (At 2.17-21). 


Em continuação à citação desta profecia, Pedro fez uma exposição detalhada sobre o a morte e ressurreição de Jesus, mostrando pelas Escrituras que Ele era o Messias prometido a Israel. No final da pregação de Pedro, a multidão perguntou: “Que faremos, homens irmãos?” (At 2.37). Pedro respondeu: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo. (At 2.38). Três mil almas creram na mensagem e se converteram a Cristo. 


A vida de Pedro após o batismo no Espírito Santo mudou radicalmente. Aquele discípulo precipitado, impulsivo, que algumas vezes questionava o próprio Jesus e o negou três vezes diante das autoridades religiosas, agora falava ousadamente de Cristo, diante destas mesmas autoridades, chamando-os de assassinos (At 2.23; 3.15; 5.30). O Pr. Hernandes Dias Lopes assim descreve esta mudança na vida de Pedro: “O Pentecostes foi um divisor de águas na vida de quem tantas vezes esteve dentro do mar da Galileia! Antes de ser revestido com o poder do Espírito Santo, Pedro era um homem impetuoso, mas covarde; falante, mas precipitado; ousado em suas declarações, mas frágil em suas atitudes”. 


O ministério de Pedro após o Pentecostes nos ensina que, um crente que é verdadeiramente revestido do poder do Espírito Santo, fala ousadamente o Evangelho cristocêntrico. Pedro não buscava glória para si e não falava de prosperidade e bem estar nesta vida. O tema da sua pregação era a morte e ressurreição de Jesus. O Espírito Santo nos capacita para sermos testemunhas de Cristo e não de nós mesmos, ou de alguma instituição religiosa.  


2. Pedro e a cura do coxo. Após o batismo no Espírito Santo e a pregação fervorosa de Pedro, na qual três mil pessoas se converteram, ele manteve a tradição judaica de orar três vezes ao dia. O dia judaico começava às seis horas da manhã, chamada de primeira hora, e terminava às seis horas da tarde, chamada de hora duodécima. Os três horários de oração dos judeus eram às nove da manhã (hora terceira), ao meio-dia (hora sexta) e às três da tarde (hora nona). 


O capítulo 3 de Atos nos relata que Pedro e João subiam juntos ao templo para a oração, na hora nona (às três da tarde). Chegando na porta do templo, chamada Formosa, um homem coxo de nascença estava ali mendigando e lhes pediu em esmola. Pedro fitou os olhos nele e pediu-lhe que olhasse para eles. O homem olhou, na esperança de receber alguma ajuda, e Pedro lhe disse: "Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isto e dou. Em Nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda!". Imediatamente, os pés do homem se firmaram, ele levantou e entrou com eles no templo, andando, saltando e glorificando a Deus. 


Não se sabe ao certo a localização desta porta chamada Formosa, neste Templo construído por Zorobabel e, posteriormente, restaurado e ampliado por Herodes, o grande. Alguns eruditos dizem que não havia nenhuma porta com este nome e tratava-se de uma porta em homenagem a Nicanor de Alexandria, que foi apelidada de Formosa, por ser totalmente de bronze, com revestimentos de ouro e prata. Isso a tornava altamente valiosa. 


A existência de mendigos, diante de uma porta tão valiosa, escancarava a imensa desigualdade social existente em Jerusalém naqueles dias. A situação de extrema pobreza e sofrimento dos pobres e deficientes físicos à porta do templo era completamente ignorada pelos sacerdotes, levitas e ricos, que frequentavam o templo. Quando davam esmolas, era de forma exibicionista e hipócrita, para passarem a imagem de piedosos. Esse tipo de descaso e insensibilidade para com os pobres era totalmente contrário à Lei mosaica. 


Agora, aparecem dois homens cheios do Espírito Santo, que pararam diante de um coxo e se compadeceram da sua necessidade: Olha para nós, disse Pedro. Dirigido pelo Espírito Santo, Pedro ordenou em Nome de Jesus, que o homem se levantasse e andasse. O milagre aconteceu imediatamente. Pedro não fez nenhuma manipulação, não usou amuletos e não buscou para si a honra. Posteriormente, quando indagado pelas autoridades a respeito desse milagre, Pedro esclareceu: "Homens israelitas, por que vos maravilhais disto? Ou, por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem? [...] pela fé no seu nome [Jesus] fez o seu nome fortalecer a este que vedes e conheceis; sim, a fé que vem por ele, deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde." (At 3.11,16). 


3. Pedro avivado em outras ocasiões. A partir do Dia de Pentecostes, Pedro se tornou o principal protagonista do Livro de Atos, até à conversão de Saulo no capítulo 9. Depois, os relatos se voltam novamente para Pedro no capítulo 10, no caso da conversão de Cornélio. No capítulo 11, Pedro teve que se explicar à Igreja porque havia se hospedado na casa dos gentios e por tê-los batizado. No capítulo 12, temos o relato da libertação milagrosa de Pedro da prisão. Depois, ele aparece no primeiro concílio da Igreja Cristã no capítulo 15. A partir daí, o Livro de Atos se volta completamente para o ministério do Apóstolo Paulo. 


A cura do coxo de nascença foi o primeiro milagre de cura realizado pelo Espírito Santo, através do apóstolo Pedro, após a ascensão de Jesus. Mas, não ficou somente neste. O Espírito Santo concedeu a Pedro os dons de operação de maravilhas, dons de curar e palavra da ciência. Ele foi usado por Deus para realizar muitos milagres, que deixavam as pessoas espantadas. 


Após a grande perseguição que se desencadeou contra a Igreja Cristã, depois da execução de Estêvão, os discípulos tiveram que sair de Jerusalém. Mas, por onde passavam, eles anunciavam o Evangelho. Os apóstolos iam depois, confirmando os trabalhos e dando as orientações doutrinárias aos novos convertidos. O apóstolo Pedro fez algumas viagens evangelísticas pela região, passando em Samaria e confirmando o trabalho realizado pelo diácono Filipe. 


Em uma destas viagens, Pedro passou por uma cidade chamada Lida, que ficava entre Jope e Jerusalém. Ali havia um homem chamado Enéias, que estava paralítico havia oito anos. Pedro olhou para este homem e disse: “Enéias, Jesus Cristo te dá saúde; levanta-te e faze a tua cama.” (At 9.34) .Imediatamente, o homem se levantou. Este milagre gerou muitas conversões naquele local (At 9.35). 


Depois da cura de Enéias, uma mulher muita piedosa e querida, cujo nome em aramaico era Tabita e em grego, Dorcas, adoeceu e rapidamente veio a óbito. Os crentes de Jope, sabendo que Pedro estava em Lida, que ficava próximo dali, mandaram chamá-lo. Quando Pedro chegou ao local, viu as viúvas e amigas de Tabita chorando e mostrando as roupas que ela fazia. Pedro pediu que todos saíssem e fez uma oração. Em seguida ordenou: Tabita, levanta-te! A mulher abriu os olhos e, vendo a Pedro, assentou-se. (At 9.40). Esta ressurreição foi notória em Jope e muitas pessoas se converteram a Cristo. 


Pedro também foi usado pelo Espírito Santo no dom da Palavra da Ciência, que consiste em revelar segredos que são impossíveis de se saber por meios naturais. Logo após o dia de Pentecostes, os discípulos que tinham mais de uma propriedade, vendiam-nas e traziam, voluntariamente, o dinheiro da venda aos apóstolos, para socorrer aos necessitados. Um casal chamado Ananias e Safira venderam uma propriedade e combinaram entre si, de levarem apenas uma parte do dinheiro e ficar com o restante. 


Quando Ananias chegou diante de Pedro, o Espírito Santo revelou toda a trama e Pedro lhe disse: “Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a, não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus.” (At 5.3,4). Imediatamente, o homem caiu e morreu. Alguns jovens o cobriram e o levaram para o sepultamento. 


Três horas depois, Safira, a esposa de Ananias, também foi à presença de Pedro, sem saber do que havia acontecido ao marido. Sem que ela falasse nada, Pedro lhe perguntou: “Dize-me, vendestes por tanto aquela herdade? E ela disse: Sim, por tanto.” (At 5.8). Após a confirmação da mentira, Pedro lhe respondeu: Por que é que entre vós vos concertastes para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e também te levarão a ti.” (At 5.9). A mulher também caiu e morreu. Os mesmos jovens a recolheram e sepultaram-na junto ao seu marido. 


Este episódio provocou grande temor entre as pessoas e muitos outros sinais e prodígios foram realizados pelos apóstolos, mas não foram relatados os detalhes. As pessoas traziam enfermos de todos os lados para serem curados. A fé deles era tão grande, que tentavam projetar os doentes na sombra de Pedro para que fossem curados quando a sombra os cobrisse. Isso despertou a fúria do sumo sacerdote e dos saduceus, que os conduziram à prisão. Mas de noite, o Anjo do Senhor abriu as portas da prisão e os libertou. 


Saindo da prisão, eles foram para o templo pregar e alguém foi às autoridades avisar que os homens que eles haviam prendido estavam no templo pregando. As autoridades se reuniram e mandaram os guardas verificar o que havia acontecido na prisão. Eles voltaram dizendo que a prisão estava trancada e intacta, mas não havia ninguém lá. O capitão do templo mandou buscar os apóstolos, mas sem violência, pois temia ser apedrejado pelo povo. 


Quando chegaram à presença do sumo sacerdote este perguntou por que eles não haviam cumprido a ordem dele, para que não falassem mais de Jesus. Pedro, cheio do Espírito Santo, respondeu ousadamente: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens”. (At 5.29). Em continuação, fez um discurso fervoroso e ousado sobre Jesus. As autoridades se enfureceram e decidiram matá-los. Mas, um fariseu muito respeitado, chamado Gamaliel, recomendou que tivessem cautela e liberassem aqueles homens, pois se aquilo fosse obra de homens iria se desfazer, mas se fosse de Deus, eles não iriam conseguir detê-los e estariam lutando contra Deus. (At 5.34-39). 


Eles acataram o conselho de Gamaliel e os libertaram. Mas, mandaram açoitá-los e os advertiram para que não falassem mais no Nome de Jesus. Os discípulos saíram de lá regozijando por terem sido considerados dignos de padecer por causa do Nome do Senhor! Que convicção maravilhosa, sair regozijando depois de ser açoitado por causa da sua fé! 


REFERÊNCIAS: 

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 5. 11 ed. 2013. pág. 159.

PFEIFFER. Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. 2 Ed. 2007. pág. 1490-1491;1493.

ZIBORDI, Ciro Sanches. Pedro: O primeiro pregador pentecostal. Editora CPAD. 1 Ed. 2018.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pág. 634-635.

LOPES, Hernandes Dias. Pedro: Pescador de homens. Editora Hagnos. 1 Ed. 2015. pág. 90-91.


MURMURAÇÃO: UM PECADO QUE NOS IMPEDE DE ENTRAR NA CANAÃ CELESTIAL

(Comentário do 3º tópico da Lição 07: O perigo da murmuração) Ev. WELIANO PIRES No terceiro tópico, veremos que a murmuração também nos impe...