24 outubro 2023

UMA PERSPECTIVA PENTECOSTAL DE MISSÕES

(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 05: Uma perspectiva pentecostal de missões)

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, falaremos sobre a perspectiva pentecostal de missões. Primeiro, falaremos do significado de ser evangélico, que é um termo usado para designar os adeptos da Reforma Protestante. 

Depois falaremos do termo pentecostal, que é uma referência aos evangélicos que crêem na atualidade do batismo no Espírito Santo e dos dons espirituais como aconteceu no Dia de Pentecostes. 

Por último, falaremos das contribuições pentecostais às missões, tendo como ponto principal a ênfase na presença e mover do Espírito Santo, na obra missionária. 


1. Somos evangélicos. O número de pessoas que se declaram evangélicas no Brasil está em torno de 50 milhões e cresce a cada censo. Não é difícil atualmente encontrarmos pelas ruas, pessoas que se dizem evangélicas, ou "gospel", que é o termo equivalente em inglês. Entretanto, se perguntarmos a estas pessoas o que significa ser evangélico, a maioria não saberia responder. 


O termo evangélico serve para designar os seguidores dos ideais propostos pela chamada Reforma Protestante, que aconteceu na Igreja Cristã, a partir de 1517. Na ocasião, a Igreja havia se afastado das Escrituras e estava mergulhada no paganismo, idolatria, vendas de indulgências (perdão de pecados), de relíquias (objetos que supostamente teriam pertencido aos apóstolos ou algum dos primeiros cristãos, considerados milagrosos) e outras aberrações. 


Um monge e professor de teologia da Igreja Alemã, chamado Martinho Lutero, se revoltou contra estas práticas e as condenou em seus livros. Em 31 de outubro de 1517, Lutero afixou 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, onde ele era padre, contestando estas e outras práticas antibíblicas. Por causa dos seus escritos, Lutero foi convocado a dar explicações e a se retratar em Roma. Mas, convicto das suas afirmações, ele assim respondeu:

"A menos que me convençam pelas Escrituras de que estou errado, não posso e não irei me retratar". 

As autoridades da Igreja Romana ficaram enfurecidas contra ele e o excomungaram [termo usado na Igreja Romana para se referir à exclusão da comunhão da Igreja]. Certamente, iriam condená-lo à morte, como fizeram com muitos outros, que foram considerados hereges por eles. Mas, Lutero recebeu um salvo-conduto do imperador Carlos V e poderia voltar em paz à Alemanha. Para evitar que alguém tentasse prendê-lo ou matá-lo, os amigos o raptaram no caminho de volta e o conduziram em segurança à sua terra. O governo da Alemanha deu apoio a Lutero e o colocou em segurança. A partir daí, ele traduziu a Bíblia para o alemão e as suas teses se espalharam pelo mundo. Outros teólogos como João Calvino, na França, e Ulrico Zuínglio, na Suíça,  também foram muito importantes na Reforma Protestante. 


Evangélicos, portanto, são os cristãos que reafirmam as seguintes teses bíblicas propagadas pelos reformadores: a autoridade suprema das Escrituras (Sola Scriptura), a salvação pela graça (Sola Gratia) e mediante a fé (Sola Fide), Cristo como único Salvador e Mediador entre Deus e a humanidade (Solus Christus) e o culto somente a Deus (Soli Deo Glória). Este termo, no entanto, tem sido banalizado e muitas pessoas que se dizem evangélicas, não sabem o que isso significa e não vivem de acordo com os princípios do Evangelho de Cristo. 


2. Somos pentecostais. Da mesma forma que o termo evangélicos é desconhecido de muitos dos seus adeptos, com o termo pentecostal acontece o mesmo. Nós somos denominados pentecostais, porque cremos na atualidade dos acontecimentos do Dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu sobre os primeiros cristãos no cenáculo, onde estavam reunidos em oração. 


Naquela ocasião, todos foram revestidos do poder de Deus, falaram em outras línguas e profetizaram. Por isso, nós cremos também que a evidência inicial de que alguém foi batizado no batismo no Espírito Santo é o falar em línguas. Os pentecostais, portanto, são os evangélicos que crêem na atualidade dos dons espirituais e no Batismo no Espírito Santo, como uma experiência subsequente à Salvação.


Os cessacionistas, como são chamados aqueles que dizem que os dons cessaram, dizem que o ensino da atualidade dos dons espirituais é recente. Mas, até meados do século IV, nenhum Cristão ensinava o cessacionismo. Este erro doutrinário foi introduzido na Igreja Cristã pelo bispo e teólogo Agostinho de Hipona (354-430). 


Devido à grande influência que Agostinho exerceu em sua época, este pensamento dominou a Igreja Ocidental por toda a Idade Média e nem mesmo a Reforma Protestante conseguiu atingi-lo. Os reformadores sequer discutiram este assunto. Eles se restringiram à doutrina da Salvação e combateram os ensinos de salvação pelas obras, idolatria e mediação dos santos e reafirmaram a autoridade das Escrituras.


É importante destacar que este ensino de Agostinho atingiu apenas a Igreja Ocidental. No século XI aconteceu a primeira grande divisão da Igreja Cristã, com o chamado Grande Cisma do Oriente. As Igrejas do Oriente romperam com a Igreja de Roma e a sua sede passou a ser em Constantinopla. Nas questões relacionadas ao Espírito Santo, a Igreja Oriental, que é chamada de Igreja Ortodoxa, sempre esteve à frente da Igreja Ocidental, que seguiu as ideias de Agostinho e ensinava que os dons cessaram. A Reforma Protestante não atingiu a Igreja Ocidental, pois os reformadores eram ligados à Igreja Católica Romana e não à Igreja Ortodoxa.


No início do Século XX, nos Estados Unidos, teve início o chamado Movimento Pentecostal, um movimento de reavivamento espiritual, que começou na Rua Azuza em Los Angeles, na Igreja pastoreada pelo pastor Willyam Seymour, um pastor negro e descendente de escravos. Neste movimento de oração e busca pelos dons espirituais, vinham crentes de várias denominações e eram batizados no Espírito Santo. 


O movimento cresceu nos EUA e enviou missionários para vários países, entre eles o Brasil, que recebeu os missionários suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren, que viviam nos Estados Unidos e vieram ao Brasil em 1910. Inicialmente, Berg e Vingren foram congregar na Igreja Batista, que já existia no país. Entretanto, como pregavam a doutrina pentecostal e falavam em línguas, foram expulsos da Igreja Batista em 1911, com outros irmãos brasileiros. 


Em 18 de junho de 1911, os missionários e os demais irmãos expulsos da Igreja Batista de Belém, fundaram uma Igreja denominada “Missão da Fé Apostólica”, cujo nome foi mudado para Assembléia de Deus em 1918. Em pouco tempo, a Assembléia de Deus se espalhou por todo o território nacional e se tornou a maior denominação pentecostal do mundo. 


As primeiras Igrejas pentecostais do Brasil são a Assembleia de Deus e a Congregação Cristã no Brasil, que foi fundada pelo missionário Louis Francescon, um italiano que vivia em Chicago, nos EUA. Francescon também creu na doutrina pentecostal e veio ao Brasil em 1910, pregar o Evangelho no Paraná. A CCB, embora tenha um credo ortodoxo, tem algumas práticas que são características de uma seita. Depois surgiram novas Igrejas no meio pentecostal a partir das décadas de 1950 e 1960, como O Brasil para Cristo, Igreja Pentecostal Deus é Amor e Igreja do Evangelho Quadrangular. 


A partir de 1970, surgiu um novo movimento no meio pentecostal, que é chamado pelos estudiosos do assunto, de neopentecostalismo. Este movimento é uma distorção do verdadeiro pentecostalismo. As Igrejas neopentecostais crêem na atualidade dos dons espirituais, mas, dão ênfase à prosperidade financeira e ao bem estar físico. Pregam a chamada teologia da prosperidade, a confissão positiva e o triunfalismo.


Os pioneiros deste movimento são a Igreja Universal do Reino de Deus e Internacional da Graça de Deus. Depois surgiram inúmeras denominações neopentecostais oriundas destas e também de Igrejas pentecostais. Muitas práticas neopentecostais são absolutamente antibíblicas, como o uso de objetos sagrados, supostamente milagrosos e troca de bençãos por ofertas e votos. É algo semelhante ao que acontecia na Igreja da época da Reforma Protestante. 


3. Contribuições Pentecostais às Missões. É inegável que Movimento Pentecostal, a partir do Século XX contribuiu significativamente para o crescimento da obra missionária em várias partes do mundo, principalmente em lugares onde o Evangelho ainda não havia chegado e em locais muito difíceis e hostis ao Evangelho. 


O verdadeiro pentecostalismo está intimamente ligado às missões, pois o objetivo principal do revestimento de poder na vida do cristão é exatamente ser uma testemunha de Cristo (At 1.8).  A palavra testemunha, no grego é martyria, que significa defender uma causa com tanta convicção, a ponto de morrer por ela. É  desta palavra que vem a palavra portuguesa mártir. 


A marca principal dos pentecostais é a crença de que a experiência vivida pela Igreja Primitiva no Dia de Pentecostes, continuou acontecendo em todas as Igrejas daquela época e continua acontecendo em nossos dias. A base bíblica para afirmarmos isso é que em seu discurso, o apóstolo Pedro afirmou: "Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar." (At 2.39). 


A promessa do revestimento de poder, portanto, era para os ouvintes de Pedro, para a próxima geração, para os que estão longe (não no sentido geográfico, mas no tempo) e para todos os que ainda iriam se converter. Ou seja, para todas as épocas da Igreja, enquanto ela estivesse neste mundo. Se houveram épocas da Igreja em que não se notou o batismo no Espírito Santo e os dons espirituais, não foi porque eles cessaram, mas porque deixaram de ensinar sobre isso e houve negligência em buscá-los. 


Outra grande contribuição dos pentecostais na obra missionária é a completa dependência do Espírito Santo e a confirmação da pregação com sinais e maravilhas. A pregação pentecostal não se limita a discursos bem elaborados e eloquentes. 


Quando pregamos no poder do Espírito Santo, Ele cura enfermos, opera maravilhas e trabalha no coração dos ouvintes para que eles compreendam a mensagem e se rendam a Cristo. Os pioneiros da Assembleia de Deus no Brasil, tinham pouquíssimos recursos, não falavam direito o nosso idioma e foram muito perseguidos.


Entretanto, o Senhor operou muitos sinais e maravilhas através deles, que levaram muitos incrédulos que os perseguiam a se renderem a Cristo. O Livro "O diário do Pioneiro", escrito por Ivar Vingren, filho do missionário Gunnar Vingren, traz muitos destes relatos que ele viu e ouviu dos seus pais. Da mesma forma, Daniel Berg relatou em seu Livro "Daniel Berg, enviado por Deus", muitos milagres que Deus operou através dele, de Gunnar Vingren e outros pioneiros da Assembleia de Deus no Brasil. 


REFERÊNCIAS: 


GABY, Wagner. Até os confins da terra: Pregando o Evangelho a todos os povos até a volta de Cristo. 1ª Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023. págs. 40-52.

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. Ed. 95, p.38. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023, pp. 30-41

RENOVATO, Elinaldo. Aviva a Tua Obra. O chamado das Escrituras ao quebrantamento e ao poder de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.

ROMEIRO, Paulo. Super Crentes: O evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os profetas da prosperidade. SÃO PAULO: Mundo Cristão, 4ª reimpressão, 2012.

BERG, David. Daniel Berg, Enviado por Deus: A história de Daniel Berg, um simples aldeão que ajudou a deflagrar o maior movimento pentecostal da história da Igreja, as Assembleias de Deus no Brasil. Editora CPAD. 1 Ed 1995.

VINGREN, Ivar. O Diário do Pioneiro: Gunnar Vingren. Editora CPAD. 5ª Ed 2000.

23 outubro 2023

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 05: UMA PERSPECTIVA PENTECOSTAL DE MISSÕES

Ev. WELIANO PIRES

REVISÃO DA LIÇÃO PASSADA


TEMA: MISSÕES TRANSCULTURAIS NO NOVO TESTAMENTO


Na lição passada, vimos o que o Novo Testamento nos apresenta sobre missões transculturais culturais. O Novo Testamento nos apresenta Deus enviando o Seu Filho Unigênito, como missionário para buscar e salvar a humanidade perdida (Lc 19.10; Jo 3.16). Depois que da sua morte, ressurreição e ascensão aos Céus, a Igreja assumiu esta responsabilidade de dar continuidade ao seu projeto missionário mundial.


TÓPICOS DA LIÇÃO: 


I. O Deus missionário do Novo Testamento. Em toda a Bíblia, Deus é apresentado como um missionário que envia. Ele usou Israel para cumprir os seus propósitos e depois enviou o Seu próprio Filho. A perspectiva missionária do Novo Testamento, tem como base o próprio Senhor Jesus. A Igreja tem a responsabilidade de anunciar o Evangelho ao mundo, com base na revelação de que Deus é um missionário por excelência. 


II. Missões nos Evangelhos e em Atos dos Apóstolos. Vimos que o ministério de Jesus nos Evangelhos é exclusivamente voltado para a obra missionária. Falamos das missões no Livro de Atos dos Apóstolos, sobre o trabalho de Filipe e Pedro, que foram os primeiros missionários transculturais na Igreja Primitiva. Abordamos também o trabalho missionário de Paulo e Barnabé, com as suas viagens missionárias pelo mundo, que constituem a maior parte do Livro.


III.  Missões nas Epístolas e no Apocalipse. Vimos que nas Epístolas Paulinas, o apóstolo Paulo escreveu às Igrejas que ele plantava como um missionário, para instruir e doutrinar as Igrejas. Falamos também dos testemunhos dos escritores das Epístolas Gerais. Por último, vimos como o Senhor Jesus revelou a João no Apocalipse, o desfecho da jornada da raça humana neste mundo e as sete Igrejas da Ásia como Igrejas missionárias.


LIÇÃO 05: UMA PERSPECTIVA PENTECOSTAL DE MISSÕES

OBJETIVOS DA LIÇÃO:

  • Apresentar uma perspectiva pentecostal de Missões;

  • Explicar a obra missionária após o Pentecostes;

  • Enfatizar a dependência do Espírito Santo na obra pentecostal de Missões.

TÓPICOS DA LIÇÃO:

I. Uma Perspectiva Pentecostal;

II. A obra missionária depois do pentecostes;

III. A ação do Espírito Santo e a Obra Missionária.


INTRODUÇÃO


Nesta lição, estudaremos sobre missões na perspectiva pentecostal. A relação intrínseca entre a obra missionária e o poder do Espírito Santo está estabelecida no Novo Testamento, principalmente no final do Evangelho segundo Lucas e no início de Atos dos Apóstolos: “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.” (Lc 24.49). “E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que, disse ele, de mim ouvistes.” (At 1.4).


Nestes dois textos o Senhor Jesus deixou claro para os seus discípulos que eles precisavam ser revestidos de poder, antes de iniciar a missão da Igreja em Jerusalém. Os discípulos ficaram em oração, aguardando o cumprimento da promessa, da descida do Espírito Santo. No Dia de Pentecostes, estando eles reunidos no cenáculo, em oração, todos foram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas e profetizar. A partir daquele momento, eles nunca mais foram os mesmos. Passaram a pregar ousadamente o Evangelho, sem nenhum temor. 


Ao longo da história da Igreja também não foi diferente. As missões da Igreja sempre foram mais eficientes e significativas, no meio pentecostal, pois, estes ficam na total dependência do Espírito Santo, que confirma a pregação com os sinais e maravilhas. O Movimento Pentecostal já passa dos cem anos no mundo e a sua contribuição para a obra missionária é notável em vários países, principalmente os mais difíceis. 


No primeiro tópico, falaremos sobre a perspectiva pentecostal de missões. Primeiro, falaremos do significado de ser evangélico, que é um termo usado para designar os adeptos da Reforma Protestante, que reafirmam as seguintes teses: a autoridade das Escrituras, a salvação pela graça e mediante a fé, Cristo como único Salvador e Mediador entre Deus e a humanidade, o culto somente a Deus e o sacerdócio universal dos crentes. Depois falaremos do termo pentecostal, que é uma referência aos evangélicos que crêem na atualidade do batismo no Espírito Santo e dos dons espirituais como aconteceu no Dia de Pentecostes. Por último, falaremos das contribuições pentecostais às missões, tendo como ponto principal a ênfase na presença e mover do Espírito Santo, na obra missionária. 


No segundo tópico, falaremos da obra missionária depois do pentecostes. Veremos que a causa da obra missionária da primeira igreja foi, sem dúvida nenhuma, a descida do Espírito Santo. Após o ocorrido no Dia de Pentecostes, a Igreja “encheu Jerusalém” com a mensagem do Evangelho (At 5.28), mesmo sob grandes perseguições e ameaças. Depois, falaremos da expansão missionária da primeira igreja. O Livro de Atos dos Apóstolos descreve uma Igreja atuante tanto no âmbito local, orando e pregando o Evangelho em Jerusalém, como nas missões na terra de Israel e por todo o mundo. Por último,  veremos que Deus não faz acepção de pessoas, citando como exemplo o envio do apóstolo Pedro à casa do centurião Cornélio, onde ele pregou para os gentios, depois de receber uma visão ilustrativa do Senhor, mostrando que Deus não faz acepção de pessoas.


No terceiro tópico, falaremos da ação do Espírito santo e a obra missionária. Discorreremos sobre a função do Espírito na obra missionária, como por exemplo, ungir, inspirar, separar e enviar missionários ao campo. Depois, veremos que o Espírito Santo capacita para a obra. Nós os pentecostais não fazemos missões com base em méritos humanos, mas cremos que o Espírito Santo nos dirige e nos capacita para fazer missões. Por último, veremos que Deus age por meio do Espírito Santo. O Deus dos pentecostais não é como o deus dos deístas, que criou o universo e se afastou deles. Nós cremos no Deus que criou todas as as coisas, mas também sustenta todas as coisas e intervém nas coisas criadas, principalmente na humanidade. 


REFERÊNCIAS: 


GABY, Wagner. Até os confins da terra: Pregando o Evangelho a todos os povos até a volta de Cristo. 1ª Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023. págs. 40-52.

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. Ed. 95, p.38. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023, pp. 30-41

POMERVILLE, Paul A. A Força Pentecostal em Missões: Entendendo a Contribuição dos Pentecostais na Teologia Missionária Contemporânea. 1.ed. Rio de Janeiro: 2020, pp.28-29; 122-123.

20 outubro 2023

A MISSÃO CUMPRIDA NAS CARTAS E NO APOCALIPSE

(Comentário do 3º da Lição 04: Lição 4: Missões Transculturais no Novo Testamento).

Ev. WELIANO PIRES

Veremos neste terceiro tópico que nas Epístolas Paulinas, o apóstolo Paulo escreveu às Igrejas que ele plantava como um missionário, para instruir e doutrinar as Igrejas. Na sequência, veremos os testemunhos dos escritores das Epístolas Gerais: a superioridade da Nova Aliança em relação à Antiga, em Hebreus; a sabedoria para viver o Evangelho em Tiago; e a nossa posição como povo de Deus, em Pedro. Por último, veremos como o Senhor Jesus revela a João no Apocalipse, o desfecho da jornada da raça humana neste mundo e as sete Igrejas da Ásia como Igrejas missionárias.

1. Nas Cartas Paulinas. O apóstolo Paulo foi um missionário incansável, que se sentia devedor de anunciar o Evangelho por toda parte. A partir da sua conversão, ele dedicou o resto da sua vida, única e exclusivamente à obra de Deus. Ele trabalhava construindo tendas para o próprio sustento, para sobrecarregar Igrejas pobres e não dá ocasião para os inimigos do Evangelho falarem mal dele.

Paulo era um dos doutores da Igreja de Antioquia, junto com Barnabé e outros. Após a chamada do Espírito Santo, como vimos no tópico anterior, Paulo e Barnabé seguiram pelo mundo pregando nas sinagogas e nas praças e plantando Igrejas. 

Quando as pessoas se convertiam em uma cidade, Paulo deixava um dos seus cooperadores ali e seguia viagem, levando o Evangelho a outras cidades. Depois retornava, visitando as Igrejas fundadas e confirmando a fé dos irmãos. 

Paulo se preocupava em discipular os novos crentes. Para isso adotava um método muito eficiente: primeiro, ele pregava mensagem salvífica aos pecadores. Depois da conversão, ensinava de forma sistematizada as Doutrinas Cristãs. 

O evangelismo e o discipulado precisam andar juntos. O evangelismo busca as pessoas para Cristo, com a pregação do Evangelho. O discipulado, por sua vez, fornece as bases da Doutrina Cristã, para que os novos crentes conheçam a Cristo e se tornem também discípulos do Senhor. 

Paulo também tinha muito cuidado na escolha e formação de novos obreiros, para que estes pudessem dar continuidade aos trabalhos por ele iniciados. Por isso, ele escreveu as cartas pastorais a Timóteo e a Tito, pastores mais jovens, que eram seus cooperadores, dando-lhes orientações muito importantes para o exercício do ministério pastoral. Paulo sabia que o seu martírio era iminente, pois, a perseguição à Igreja, principalmente aos líderes, era intensa. Portanto, precisava preparar líderes para dar continuidade ao seu trabalho.

Em algumas destas Igrejas surgiam dúvidas doutrinárias e problemas a serem resolvidos, após a sua partida. Outras, necessitavam de orientações, durante as prisões do apóstolo. Havia também a necessidade de orientar os pastores dessas Igrejas. Sendo assim, o apóstolo escreveu treze epístolas, que se classificam em quatro tipos:

a.    Epístolas soteriológicas: São as que enfatizam a doutrina da salvação (Romanos, 1 e 2 Coríntios e Gálatas);

b.   Epístolas escatológicas: São as que trazem ensinos sobre a doutrina dos últimos acontecimentos da humanidade (1 e 2 Tessalonicenses).

c.    Epístolas da prisão: São as que foram escritas quando o apóstolo se encontrava preso (Efésios, Colossenses, Filipenses e Filemom).

d.   Epístolas pastorais: São as que foram destinadas aos pastores, com orientações ministeriais (1 e 2 Timóteo e Tito). 2 Timóteo também é considerada epístola da prisão, pois foi redigida na prisão. 

2. Nas Cartas Gerais. As chamadas Epístolas Gerais ou Universais são aquelas que foram escritas para serem lidas em todas as Igrejas e que não tinham um destinatário específico. Foram escritas como instruções apostólicas para várias Igrejas. Destas, apenas a Epístola aos Hebreus é de autoria desconhecida. Neste grupo estão um total de oito Epístolas, agrupadas nesta ordem: Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2, 3 João e Judas.

A Epístola aos Hebreus foi escrita aos judeus helenistas, convertidos ao Cristianismo. A maior parte do conteúdo gira em torno de uma comparação entre Cristo e os elementos do Antigo Testamento. O objetivo desta comparação é estabelecer a superioridade de Cristo em relação aos personagens e rituais do Antigo Testamento: Cristo é superior aos anjos, Melquisedeque, a Moisés, ao sacerdócio levítico, aos profetas, aos sacrifícios. Então, esta Epístola tem um forte testemunho missiológico direcionado principalmente ao povo judeu. 

As Epístolas de Pedro, embora tenham um caráter pastoral, devido à importância e experiência deste apóstolo, que foi um dos três mais próximos de Jesus, em seu ministério terreno. Mas tem também um forte testemunho missiológico. 

Na primeira Epístola, Pedro faz uma longa explanação sobre o novo nascimento e a santificação. Ele explica que o preço da nossa redenção não foram coisas corruptíveis, mas foi o precioso sangue imaculado de Cristo.  O apóstolo fala também de Cristo como a Pedra Viva, rejeitada pelos homens, mas aprovada por Deus, e recomenda que os crentes como pedras vivas sejam edificados sobre Ele, a Pedra angular e os chama de geração eleita, sacerdócio real e nação santa.

Na segunda Epístola, Pedro se volta mais para a apologética e alerta os seus leitores acerca dos falsos mestres que iriam surgir entre eles. Pedro usa como exemplo os falsos profetas de Israel e diz que da mesma forma, surgiriam falsos mestres dentro da Igreja. O apóstolo recomenda também aos seus leitores, que se preparem para a Vinda do Senhor, procurando ser achados imaculados e irrepreensíveis em paz. 

A Epístola de Tiago trata das questões práticas da vida cristã e como viver uma vida com sabedoria. Tiago discorre sobre provações e tentações (1.2-18), estabelecendo a diferença entre estas duas coisas. Fala também a respeito da prática da Palavra de Deus, da necessidade de ser praticante e não apenas ouvinte (Tg 1.22-25), e ensina sobre a necessidade de refrear a língua. (Tg 1.26,17). 

Tiago aborda a questão do cumprimento da lei e a relação entre fé e obras, deixando claro que fé e obras precisam andar juntas, pois a fé sem as obras é morta (2.14-26). Tiago trata também de um tema muito importante que é a acepção de pessoas na Igreja, alertando para não tratarmos os irmãos de forma diferente, pela condição financeira. 

Tiago fala sobre dois tipos de sabedoria: a sabedoria que vem do alto e a sabedoria humana. Ele ensina que a sabedoria não se mede pelo conhecimento e sim pelas virtudes (3.13-18). Faz também uma advertência contra o mundanismo, alertando sobre as guerras interiores que causam contendas, infidelidade espiritual, orgulho e calúnia. Há também nesta Epístola, diversas exortações sobre a paciência nos sofrimentos, os juramentos, a oração da fé e os que se desviam da verdade (5.19,20).

A primeira Epístola de João tem um forte apelo evangelístico e doutrinário. João inicia testificando sobre o que viu e ouviu de Jesus, a Palavra da Vida. Ele fala que Deus é luz e nEle não há trevas. Fala também da universalidade do pecado e que, se confessarmos os nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar e nos purificar. 

Na sequência, o apóstolo fala de Jesus como o Advogado (Gr. Parakletos), que nos defende diante do Pai. Assim como Tiago, João fala sobre a prática da Palavra de Deus e diz que aquele que diz que conhece a Deus, mas não guarda os seus mandamentos é mentiroso. 

Em seguida, João traz conselhos aos pais, aos filhos e aos jovens. Faz também um alerta sobre os últimos dias, dizendo que é já a última hora e muitos anticristos se manifestarão. João fala bastante sobre o amor a Deus e aos irmãos, relacionando uma coisa à outra. Ou seja, quem não ama aos irmãos também não ama a Deus. 

Esta primeira Epístola tem também um caráter apologético. João combate as heresias do Gnosticismo, negavam a encarnação de Cristo. Por isso, João diz que todo aquele que nega que Jesus é o Cristo é mentiroso e que aquele que nega o Pai e o Filho é anticristo. 

A segunda epístola de João contém apenas um capítulo com 13 versículos. João se identifica com o Ancião (Gr. presbyteros) e identifica os destinatários como “a senhora eleita e seus filhos”. Alguns interpretam esta expressão como uma referência à Igreja. Entretanto, o mais provável é que seja mesmo uma carta pessoal do apóstolo a uma mulher cristã e seus filhos, provavelmente uma viúva, cujos filhos João teve notícia de que andavam na verdade (2 Jo 1.4).

Os temas principais da Epístola são a exortação à prática do amor fraternal e a advertência contra os falsos mestres. Como fizera na primeira epístola, João associa à obediência aos mandamentos do Senhor. O apóstolo alerta também a respeito das heresias dos gnósticos que negavam a humanidade de Jesus. Alerta também para não nos associarmos com pessoas que não trazem a Sã doutrina, nem os receber em casa pois, quem os recebe se faz participante das suas más obras. 

A terceira Epístola de João é uma carta pessoal do apóstolo a um cristão chamado “o amado Gaio”, do qual não temos informações precisas, pois este era um nome comum naquela época. Pelo contexto da epístola podemos deduzir que se tratava de um líder da Igreja. 

Nos primeiros versículos, o apóstolo faz vários elogios a Gaio, com base nos testemunhos que ouviu da sua fidelidade. Na sequência, João queixa-se de Diótrefes, que busca ter a primazia nas Igrejas e não recebe o apóstolo e espalha palavras maliciosas contra ele nas Igrejas. Por último, João elogia a postura de Demétrio, que também tinha bom testemunho das Igrejas. 

A Epístola de Judas tem apenas um capítulo com 24 versículos. Judas aborda a defesa da fé contra os falsos mestres, conforme está escrito no versículo 3: "Batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos". O assunto principal da Epístola é o alerta contra os falsos mestres que transformam a graça de Deus em libertinagem e negam a Deus, o único Dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo. 

Judas cita vários exemplos de pessoas que foram rebeldes no passado e sofreram o Juízo de Deus: os anjos caídos, Sodoma e Gomorra, Caim, Coré e Balaão. Ele cita a profecia de Enoque contra os rebeldes da sua época e das palavras do Senhor Jesus e dos seus apóstolos, que predisseram a vinda de falsos mestres. Por último, Judas exorta os seus leitores a se edificarem mutuamente e se conservarem no amor de Deus. 

3. No Apocalipse. O livro do Apocalipse, foi escrito pelo apóstolo João, por volta do ano 95 d.C. O Livro traz as revelações de Jesus ao apóstolo João, quando este se encontrava exilado na Ilha de Patmos. No prefácio, João descreve a visão que ele teve de Jesus ressuscitado. 

Depois, o Senhor mandou que escrevesse sete cartas em Seu Nome aos líderes de sete Igrejas da Ásia Menor: Éfeso, Esmirna, Sardes, Pérgamo, Tiatira, Filadélfia e Laodicéia. Estas cartas trazem a saudação do Senhor Jesus à respectiva Igreja, uma breve descrição da situação da Igreja, uma crítica (com exceção de Esmirna e Filadélfia), um elogio (com exceção de Laodicéia), uma exortação e uma promessa aos vencedores. 

Depois destas cartas, o Livro do Apocalipse traz uma série de revelações sobre os juízos de Deus sobre a humanidade na Grande Tribulação, as visões do Milênio, a Nova Jerusalém, o Juízo Final e a eternidade. O apóstolo adverte a Igreja sobre a vinda do Senhor, mostrando o cumprimento das profecias relacionadas à Sua vinda e ao final dos tempos, além de diversos avisos sobre o fim dos tempos e os julgamentos de Deus.

Podemos ver o enfoque missionário neste Livro, no trabalho de algumas Igrejas da Ásia, na revelação de fatos que irão acontecer no futuro, no período da Tribulação, no Milênio e na Eternidade e em várias advertências do próprio Senhor Jesus sobre a sua vinda, sobre o Céu e sobre o lago de fogo. 

REFERÊNCIAS:

GABY, Wagner. Até os confins da terra: Pregando o Evangelho a todos os povos até a volta de Cristo. 1ª Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023. Págs. 24-31.
REVISTA ENSINADOR CRISTÃO.
Ed. 95, p.37. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023.
PETERS, George W. Teologia Bíblica de Missões. 1. Ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2000, p.120-21.
Bíblia de Estudo Pentecostal Edição Global.
1° ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, pp. 349-50.

19 outubro 2023

MISSÕES NOS EVANGELHOS E EM ATOS DOS APÓSTOLOS

(Comentário do 2º tópico da Lição 04: Lição 4: Missões Transculturais no Novo Testamento).

Ev. WELIANO PIRES

Neste tópico, veremos que ministério de Jesus nos Evangelhos é exclusivamente voltado para a obra missionária. Tudo o que Ele pregava e fazia tinha o objetivo de buscar os perdidos. Na sequência, falaremos das missões no Livro de Atos dos Apóstolos, abordando o trabalho de Filipe e Pedro, que foram os primeiros missionários transculturais na Igreja Primitiva. Por último, ainda no Livro de Atos dos Apóstolos, abordaremos o trabalho missionário de Paulo e Barnabé, com as suas viagens missionárias pelo mundo, que constituem a maior parte do Livro.

1. Nos Evangelhos. O Novo Testamento representa o cumprimento e a explicação do Antigo Testamento. Muitas coisas que eram incompreensíveis no antigo pacto se tornam claras no Novo Testamento. Os tipos, figuras alegorias e profecias se tornam claras com o registro do Novo Testamento. Os apóstolos do Senhor e pessoas ligadas a eles como Marcos e Lucas, foram inspirados pelo Espírito Santo para escrever os registros do ministério terreno de Nosso Senhor Jesus Cristo, a descida do Espírito Santo, as doutrinas da Igreja Cristã e as revelações das últimas coisas que em breve irão acontecer. A primeira parte, que registra a vida, morte e ressurreição do Senhor Jesus, está registrada nos Evangelhos. 

Quando mencionamos "os Evangelhos", é uma referência aos quatro primeiros livros do Novo Testamento: Mateus, Marcos, Lucas e João. Na verdade, não são quatro Evangelhos, pois o Evangelho é apenas um. Então, é o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, registrado por quatro evangelistas. Por isso, os títulos de cada um deles diz: o Evangelho segundo Mateus, segundo Marcos, segundo Lucas e segundo João. A palavra "São" é uma tradição católica, para se referir à canonização destes servos de Deus e não deve ser usada. 

Estes livros registram o ministério terreno do Senhor Jesus. Encontramos  neles, a genealogia de Jesus Cristo, os registros do anúncio do nascimento de Jesus pelo Anjo Gabriel, as circunstâncias do nascimento de Jesus, os seus discursos, os milagres, a sua prisão, morte e ressurreição. Os livros de Mateus, Marcos e Lucas são chamados de "Evangelhos Sinóticos" devido à semelhança dos relatos. Já o Evangelho segundo João, destoa um pouco, pois dá ênfase ao ministério de Jesus na vida adulta e aponta para a sua divindade.  

Podemos ver as atividades missionárias nos Evangelhos na Pessoa de Jesus, o missionário enviado pelo Pai. O ministério de Jesus é marcado por ações missionárias, na proclamação do Evangelho, nas curas divinas e também no preparo e envio dos seus discípulos como missionários. Temos registros de pelo menos duas ocasiões em que o Senhor Jesus enviou os seus discípulos, com a  missão de pregar o Evangelho: a missão dos doze apóstolos (Mt 10) e a missão dos setenta discípulos (Lc 10.1-20). 

A natureza missionária nos Evangelhos se evidencia também na própria formação desses livros, sob a inspiração do Espírito Santo. Estes registros, com os discursos de Jesus, os acontecimentos da sua vida terrena, os seus milagres e as descrições das muitas profecias que se cumpriram nEle, são por si só, a proclamação da mensagem de Salvação. Sem estes registros, nada saberíamos sobre Jesus. Há casos de ateus que começaram a estudar os Evangelhos, com o objetivo de encontrar contradições e combater o Cristianismo. Mas, ao final, descobriram a Verdade e se converteram. Este foi o caso do renomado escritor Augusto Cury. 

Os quatro Evangelhos terminam com a grande comissão, embora com enfoques diferentes. Mateus registrou a ordem de Jesus para fazer discípulos de todas as nações, batizar e ensinar as doutrinas bíblicas (Mt 28.19,20); Marcos destacou apenas a ordem para anunciar o Evangelho a todos, mediante os dons do Espírito Santo (Mc 16.15-20); Lucas registrou a ordem para pregar o Evangelho no âmbito local, regional e mundial, condicionada ao revestimento de poder (Lc 24.49; At 1.4.8); João, por sua vez, não entrou em detalhes sobre a grande comissão e registrou apenas que Jesus enviou os discípulos a pregarem, da mesma forma que o Pai o enviara (Jo 20.21-23). 

2. Nos Atos dos Apóstolos: os missionários Filipe e Pedro. Atos dos apóstolos é o segundo volume de duas obras escritas por Lucas, sendo a continuidade da primeira. O Evangelho segundo Lucas termina com a recomendação de Jesus aos discípulos, para que não se ausentassem de Jerusalém, antes de serem revestidos do poder do Espírito Santo (Lc 24.49). 

O livro de Atos, por sua vez, inicia com o relato dos últimos momentos de Jesus com os seus discípulos, após a sua ressurreição e a sua ascensão ao Céu e faz menção justamente à advertência de Jesus aos discípulos, para que esperassem a promessa da descida do Espírito Santo, registrada no final do Evangelho segundo Lucas. 

Neste subtópico, o comentarista destaca as missões transculturais realizadas por Filipe e Pedro. No próximo subtópico, ele trata das missões de Paulo e Barnabé, que são os principais protagonistas do Livro de Atos, a partir do capítulo 11. Nos sete primeiros capítulos do Livro de Atos, vemos que a evangelização feita pela Igreja Primitiva foi estritamente aos judeus, na cidade de Jerusalém. 

Com o martírio do diácono Estevão, após a sua eloquente pregação registrada no capítulo 7, os discípulos foram obrigados a fugir de Jerusalém para não serem mortos também, pois a perseguição se acentuou contra todos eles naquele dia (At 8.1). Saulo, um jovem de Tarso da Cilícia, fariseu, instruído aos pés de Gamaliel, um dos mais respeitados rabinos daqueles dias, assolava a Igreja, arrastando homens e mulheres pelas ruas e conduzindo-os às prisões (At 8.3). 

Nesse contexto de caça ferrenha aos cristãos em Jerusalém, aqueles que fugiam para outras regiões, anunciavam o Evangelho aonde chegavam. O diácono Filipe seguiu para Samaria e lá anunciou o Evangelho aos samaritanos (At 8.5). Filipe foi usado por Deus naquela cidade para realizar muitas curas e expulsão de espíritos imundos. Isso fez com que as multidões prestassem a atenção em sua pregação e houve muitas conversões na cidade. 

Até um mágico impostor, chamado Simão, que havia iludido a cidade dizendo que era um grande personagem, creu na pregação de Filipe. Porém, quando viu Pedro impor as mãos para que as pessoas fossem batizadas no Espírito Santo, ofereceu suborno, tentando comprar a autoridade divina. Por isso, a prática de comprar e vender as coisas de Deus ficou conhecida como “simonia”. 

Depois de evangelizar Samaria, Filipe foi conduzido pelo anjo do Senhor, para ir ao caminho de Gaza, ao encontro do mordomo-chefe de Candace, rainha dos etíopes. Chegando lá, encontrou o homem sozinho em seu carro, lendo as Escrituras, pois vinha da festa em Jerusalém. Em um evangelismo pessoal eficiente, dirigido pelo Espírito Santo, Filipe alcançou aquele estrangeiro para Cristo. 

Filipe é considerado o primeiro missionário transcultural da história da Igreja, pois foi o primeiro a pregar o Evangelho aos não judeus. Com a conversão de muitos samaritanos, Pedro e João foram enviados para aquela cidade, para dar apoio ao trabalho iniciado por Filipe e estabelecer as bases doutrinárias da Igreja. 

Pedro ainda tinha bastante dificuldade de entender a universalidade da salvação e insistia em pregar apenas aos filhos de Israel. Foi preciso o Senhor mostrar-lhe a visão de um grande lençol, atado pelas quatro pontas, descendo do Céu com vários tipos de animais considerados impuros pela Lei mosaica. Em seguida ouviu uma voz do Céu, ordenando que os matasse e comesse. Pedro recusou, dizendo que nunca havia comido nada comum ou imundo. A voz lhe respondeu, dizendo que ele não deveria considerar comum e imundo, o que Deus purificou. 

Simultaneamente a este acontecimento, um piedoso centurião romano de Cesaréia, chamado Cornélio, que praticava regularmente orações, jejuns e esmolas, teve uma visão, na qual um anjo lhe apareceu e disse que as suas boas obras haviam subido como memória diante de Deus. Em seguida, ordenou que ele mandasse chamar Simão, conhecido como Pedro, dando-lhe o endereço exato de onde ele estava hospedado em Jope (At 10.1-8). 

Do outro lado, o Senhor falou com Pedro, dizendo que algumas pessoas iriam procurá-lo e que ele deveria ir com eles, sem duvidar (At 10.19-23). Pedro fez como o Senhor lhe ordenara e, chegando à casa de Cornélio, pregou o Evangelho aos convidados do centurião (At 10.34-43). Enquanto ele pregava, o Espírito Santo desceu sobre eles e falaram em línguas e profetizaram (At 10.46).

Este fato causou grande confusão na Igreja de Jerusalém e Pedro foi convocado para dar explicações, por ter se misturado com os gentios e comido na casa deles, pois isso era proibido pela Lei. Depois que ele contou tudo o que aconteceu e como os gentios receberam o Espírito Santo, da mesma forma que aconteceu no dia de Pentecoste, a Igreja entendeu e glorificou a Deus, por haver concedido a Salvação também aos gentios (At 11.1-18). 

3. Nos Atos dos Apóstolos: os missionários Paulo e Barnabé. Nesta segunda parte, estudaremos sobre a obra missionária no Livro de Atos, através dos missionários Paulo e Barnabé. A partir do capítulo 9 do Livro Atos, o apóstolo Paulo passa a ser o principal protagonista, com exceção do capítulo 10 e início do capítulo 11, que tratam exclusivamente da conversão do Centurião Cornélio; do capítulo 12, que relata a execução do apóstolo Tiago, a prisão e libertação de Pedro; e do capítulo 15, que relata o primeiro concílio da Igreja de Cristã, convocado para discutir a questão dos judaizantes. 

A partir do versículo 19, do capítulo 11 de Atos, Lucas relata que alguns cristãos que foram dispersos pela perseguição, anunciaram o Evangelho nas regiões da Fenícia, Chipre e Antioquia da Síria. Até então, eles pregavam somente aos judeus. Entretanto, alguns deles anunciaram o Evangelho também aos gregos em Antioquia e um grande número de pessoas se converteram. 

Quando a Igreja de Jerusalém soube destas conversões, enviou-lhes Barnabé, a fim de ensinar a Palavra de Deus. Barnabé apareceu pela primeira vez no Livro de Atos, no lamentável episódio envolvendo Ananias e Safira. O seu nome era José, mas os apóstolos o chamavam de Barnabé que significa "Filho da Consolação". Barnabé era um levita, natural de Chipre, muito amoroso. Foi um dos primeiros a vender uma propriedade e doar o dinheiro para ajudar aos necessitados da Igreja (At 4.36,37). 

Após a conversão de Saulo, que era um terrível perseguidor da Igreja, os cristãos de Jerusalém não acreditaram que ele havia se convertido e fugiam dele, achando que seria uma armadilha. Foi exatamente Barnabé que se aproximou de Saulo, ouviu-o e o integrou à Igreja de Jerusalém (At 9.27). 

A partir daí, nasceu a parceria entre os dois. Quando Barnabé foi enviado a Antioquia, ele foi a Tarso, buscar Saulo para ajudá-lo no discipulado dos novos crentes e durante um ano inteiro ensinaram a Palavra de Deus ali. (At 11.25,26). 

Em uma reunião de oração e jejum, na Igreja de Antioquia, o Espírito Santo se manifestou e ordenou que separassem Barnabé e Saulo para a obra missionária. A Igreja, então, orou por eles e os enviou para a missão (At 13.1-3). 

Barnabé e Saulo saíram em sua primeira viagem missionária, pregando o Evangelho a todos, levando consigo como cooperador, João Marcos, que era primo de Barnabé (At 13.4,5). Depois de passarem por várias cidades, sendo perseguidos pelos judeus, quando chegaram a Perge da Panfília, João Marcos se apartou deles e voltou a Jerusalém (At 13.13). 

Esta volta de João Marcos irritou profundamente Paulo e acabou causando um desentendimento entre ele e Barnabé, na segunda viagem missionária. Barnabé queria levar novamente João Marcos, mas Paulo não concordou e preferiu levar Silas consigo. Por causa disso, a equipe acabou se dividindo. Paulo seguiu por um lado com Silas e Barnabé para outro, com Marcos. 

A partir dessa separação, o Livro de Atos se dedica exclusivamente às atividades missionárias de Paulo e Silas. Depois, em Listra, o jovem Timóteo foi convidado por Paulo para integrar a equipe missionária. Outros missionários como o casal Priscila e Áquila, Apolo, Tíquico, Tito, entre outros, também foram companheiros de missões do apóstolo Paulo. 

Sem dúvida nenhuma, Paulo foi o personagem mais importante da história do Cristianismo, depois de Jesus Cristo. Até mesmo os pensadores que não são cristãos reconhecem a importância de Paulo para Cristianismo. O filósofo ateu Friedrich Nietzsche, crítico ferrenho do Cristianismo, dizia que Paulo foi o verdadeiro fundador do Cristianismo e que o Cristianismo deveria se chamar "Paulinismo". 

Paulo escreveu treze dos vinte e sete do Novo Testamento, empreendeu três viagens missionárias pelo mundo conhecido da sua época, plantando Igrejas, discipulando e formando  novos obreiros. Ele foi o responsável por sistematizar as principais doutrinas cristãs e expandir o Cristianismo para além das fronteiras de Israel. Sofreu as mais terríveis perseguições: foi apedrejado, açoitado, lutou com feras em Éfeso, enfrentou prisões e na última delas foi decapitado em Roma. Mas nunca negou Cristo, nem deixou de anunciar o Evangelho aos perdidos por onde passava. 

REFERÊNCIAS:

GABY, Wagner. Até os confins da terra: Pregando o Evangelho a todos os povos até a volta de Cristo. 1ª Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023. 

REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. Ed. 95, p.37. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2023, pp. 30-41

PETERS, George W. Teologia Bíblica de Missões. 1ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2000, pp.159,160, 175.

CABRAL, Elienai. O Apóstolo Paulo: Lições de vida e ministério do apóstolo dos gentios para a Igreja de Cristo.  1ª Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2021. 

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