18 maio 2022

O ATO DE DAR ESMOLAS E A HIPOCRISIA


(Comentário do 1º tópico da Lição 8)


Jesus iniciou esta parte do Sermão do Monte dizendo: "Guardai-vos de fazer a vossa esmola [justiça] diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus." (Mt 6.1). A palavra grega, usada por Mateus é dikaiosyne que significa justiça. Na versão Revista e Corrigida está escrito “esmolas”. Mas, nas versões mais atualizadas, foi traduzida por “justiça”, que é a palavra mais adequada para o contexto que Jesus falou. Na sequência, Jesus ensinou aos seus discípulos a, quando darem esmolas, não fazerem como os hipócritas, que faziam isso com o objetivo de serem vistos e elogiados pelos homens. 


1- Definição de hipócrita.  A palavra hipócrita, no grego é “hupókrisis”, foi transliterada como hypocrisis no latim. Inicialmente se referia à atuação de um artista de teatro, que usava máscara em uma peça teatral e interpretava um personagem. No Antigo Testamento, a palavra ḥānēp, que significa "falar poluído", "ímpio", foi traduzida para o grego como huypókritēs, como em Jó 34.30 e 36.13. 

No Evangelho segundo Mateus, Jesus usou esta palavra, no sentido de ímpio (Mt 22.18; 23.13-29; 24.51). Em Lucas, Ele usa a mesma palavra com o sentido de infiel (Lc 12.46). Já em Marcos, com o sentido de astúcia e malícia (Mc 12.15). Em Mateus 22.18 e Lucas 20.23 também a palavra significa malícia e astúcia. No Sermão do Monte, Jesus usou a palavra hipócrita para se referir aos religiosos, que praticavam atos de justiça como orações, jejuns e esmolas, não porque estivessem preocupados em agradar a Deus, ou porque se preocupavam com os pobres. A motivação deles era unicamente serem vistos pelos homens e reconhecidos por eles.


Existem pelo menos três tipos de hipócritas: 

  1. Aqueles que são maus interiormente e fingem ser bons para enganar as pessoas. São astutos e maliciosos e sempre escondem as suas verdadeiras intenções;

  2. Aqueles que falam contra algo que eles mesmos praticam às escondidas. Não querem aplicar a si mesmos, a medida com que medem os outros;

  3. Aqueles que até praticam coisas boas como dar esmolas, jejuar e orar, mas fazem  isso sempre com muita visibilidade, para obter ganhos e elogios para si. 


Estas pessoas jamais farão estas coisas, se ninguém estiver vendo. Portanto, hipócrita é todo aquele que finge ser o que não é, fala uma coisa e faz outra ou faz boas obras para obter benefícios e elogios. 


2- A justiça pessoal. Jesus não está condenando estes atos de justiça pessoal como a oração, a esmola e o jejum, pois, Ele mesmo recomendou aos seus discípulos que  fizessem isso. Também não está proibindo dar esmolas ou orar em público, como alguns ensinam. O que Jesus contesta aqui é a publicidade desses atos, para demonstrar superioridade espiritual ou obter elogios. Em Mateus 6.1, Jesus nos ensinou três coisas muito importantes, sobre a justiça pessoal: 

a. “Guardai-vos de fazer a vossa esmola [justiça] diante dos homens”. Isto significa que a justiça deve ser praticada, mas não com propaganda para nosso engrandecimento ou promoção da nossa denominação. Podemos fazer relatórios e prestação de contas das ações filantrópicas que a Igreja pratica, para justificar os gastos e incentivar os irmãos a contribuir. Mas isso não pode ser uma propaganda para nos engrandecer. Todos os atos de justiça praticados devem glorificar a Deus e não ao homem, pois, praticar a justiça para ser vista pelos homens é hipocrisia.

b. “Para serdes vistos por eles”. Toda espiritualidade que busca visibilidade humana, com o propósito de ganhar aprovação humana e não agradar a Deus, representa soberba e vai na contramão da espiritualidade cristã. 

c. “Não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus”. Se recebermos elogios ou recompensas humanas pelos nossos atos, não teremos mais nenhuma recompensa a receber de Deus. Precisamos tomar muito cuidado com a ostentação e publicidade dos nossos atos. Deus não olha apenas para aquilo que fazemos, Ele olha principalmente para as nossas intenções e motivações. 


3 - As três práticas da ética cristã. No capítulo 6 do Evangelho segundo Mateus, Jesus faz menção de três práticas da ética cristã: esmolas, oração e jejum. Nesta lição falaremos apenas das esmolas, porque a próxima lição será sobre oração e jejum. Estas três práticas envolvem os nossos bens (esmolas /ofertas), o nosso espírito (oração ) e o nosso corpo (jejum). Estas práticas estão presentes em várias religiões, principalmente nas monotéistas como o Judaísmo e o Islamismo. A fala de Jesus sobre isso, usando a palavra “quando” e não “se”, indica que esta era uma obrigação dos seus discípulos e não uma opção. O cristão não é salvo pelas obras que pratica e sim pela fé em Cristo (Ef 2.8-10). Entretanto, quem é salvo pratica boas obras a Deus e ao próximo, pois, a fé sem as obras é morta (Tg 2.17). Tiago diz também que “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo.” (Tg 1.27). 

Como vimos, estes atos de justiça são importantes, não para a nossa salvação, mas indica que fomos salvos, pois a fé e amor nos impulsionam a estas práticas. Entretanto, como já falamos no ponto anterior, estas práticas devem ser feitas com discrição, visando agradar a Deus e ajudar o próximo, sem interesses pessoais de auto glorificação. No versículo 2, da leitura bíblica em classe, lemos o seguinte: “Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.” (Mt 6.2). 

Este ensino de Jesus confronta diretamente algumas práticas e pregações da atualidade como: a divulgação de que está a tantos dias em jejum; que passou tantas noites em vigílias; que passou tantos dias no monte orando; que ora várias horas por dia; etc. Não há nenhum problema, o crente ir ao monte orar, desde que a razão seja unicamente ter privacidade com Deus. O próprio Jesus fez isso muitas vezes, por causa das multidões que não lhe davam um minuto de privacidade. Entretanto, se acharmos que a oração feita no monte tem mais poder que as que são feitas em outro lugar, constitui-se em idolatria. Da mesma forma, a ajuda aos necessitados deve ser praticada pelo cristão, mas a motivação deve ser apenas o amor pelo próximo e a compaixão pelo sofrimento alheio. Se houver publicidade para autopromoção, não haverá nenhuma recompensa de Deus. Lembrando mais uma vez, que a recompensa nesse caso não é a salvação, pois é concedida pela Graça de Deus mediante a fé. 


REFERÊNCIAS: 

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 144-147.

LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pág. 211-213.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 1. pág. 319.

STOTT, John. Contracultura cristã. A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pág. 59.

TASKER, V. G. Mateus, Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. 1 Ed 1980. pág. 57.

ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro : CPAD, 2003, pp.59,60.


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Pb. Weliano Pires



História da Harpa Cristã

1922-2022: Centenário da Harpa Cristã

Hinário oficial das Assembléias de Deus


"Salmos e hinos" foi o primeiro hinário

Usado pelos pioneiros pentecostais

Mas ele não refletia o viés doutrinário

Era o hinário das Igrejas tradicionais

Isso desagradou aos missionários

E criaram um com hinos confessionais.


Este hinário foi o "Cantor pentecostal"

Sob a supervisão de Almeida Sobrinho

Para uso em todo o território nacional

Quarenta e quatro hinos e dez corinhos

Formaram o primeiro hinário oficial

Produzido com muito amor e carinho. 


Em mil novecentos e vinte e dois 

Foi lançada a sua primeira edição 

Com trezentos hinos de Doutrina Sã

Novo hinário da nossa denominação

Que foi denominado Harpa Cristã

Tendo Adriano Nobre na supervisão.


Dez anos depois, na segunda edição

O número de hinos foi a quatrocentos

Samuel Nyström teve participação

O idioma não lhe trouxe impedimentos

Para que ele realizasse a tradução

Das letras sacras naquele momento.


Foram criadas algumas comissões

E alguns hinos foram revisados

Para simplificar as suas execuções 

Outros hinos foram acrescentados

São belíssimas poesias e canções

Os hinos pátrios foram incorporados.


Foi muito importante a participação

Do grande violonista e compositor

Saudoso Pastor Paulo Leivas Macalão

O maior autor, compositor e adaptador

Mais de duzentos, tiveram sua atuação  

Pescador de almas no mundo de horror. 


Tivemos muitos outros compositores

Que em grandes lutas e desalentos

Escreveram os seus lindos louvores

Frida Vingren, compôs em lamentos

Passando por terríveis dissabores

Hinos de renovo e encorajamento.


Há muitos pastores e missionários

Que estão na lista de compositores

Escreveram hinos extraordinários

Falando da fé, das alegrias e dores

De Jesus e seu sacrifício vicário

Para salvar os perdidos pecadores.


Emílio Conde, escritor e jornalista

Adriano Nobre, pioneiro pentecostal

Também estão presentes nesta lista

Almeida Sobrinho e Antônio Cabral

José Pimentel e outros avivalistas

Escreveram de forma magistral 


Há outros hinários certamente

Com hinos de louvor e adoração

Para mim, a Harpa Cristã mormente

Toca-me e alegra o meu coração

E creio que ela é para todo crente

Uma coletânea de profunda devoção. 


Weliano Pires é presbítero e professor da Escola Dominical

na Assembléia de Deus, Ministério do Belém, em São Carlos, SP.  


16 maio 2022

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 8: SENDO PERFEITOS


REVISÃO DA LIÇÃO PASSADA

Na lição passada estudamos o tema: Não retribua pelos padrões humanos. Falamos sobre a quinta e a sexta antítese, proferidas por Jesus no Sermão do Monte, que tratam, respectivamente, da lei do talião (Mt 5.38-42) e do amor ao próximo (v. 43-47). Jesus citou uma parte do texto de êxodo 21.24, que tratava das penas para os crimes de lesão corporal e dizia: “Olho por olho e dente por dente”. Depois falou sobre a questão do amor ao próximo, que os rabinos acrescentavam: “...odiarás ao teu inimigo”. 


Os rabinos judeus interpretavam a lei de forma distorcida, na questão do amor ao próximo, para adequá-la às suas conveniências, e diziam: “amarás o teu próximo e odiarás os teus inimigos." Mas, em parte alguma da Lei dizia para odiar os inimigos. A lei mosaica previa pena proporcional ao crime praticado, para evitar que a parte ofendida se excedesse e aplicasse a vingança. 


A lei do talião esta prevista em outros códigos penais das sociedades antigas, como no código de Hamurabi, da Mesopotâmia, que foi o primeiro código de leis da história. As penas, no entanto, eram previstas em lei e tinham que ser aplicadas por juízes, no devido processo legal. Não se tratava, portanto, de vingança. 


Jesus, apresentou o seu ensino sobre estas questões e mandou: amar os inimigos, não se vingar, dar a outra face ao que nos ferir e socorrer aos que nos pedirem ajuda. É um padrão de justiça altíssimo e inatingível pela natureza humana, corrompida pelo pecado. O natural do ser humano é se vingar e retribuir as ofensas no mesmo padrão ou até mais. Somente alguém transformado pelo Espírito Santo será capaz de esboçar estas reações apresentadas por Jesus.


LIÇÃO 8: SENDO PERFEITOS

 

Estudamos até agora, três seções principais do Sermão do Monte. Na primeira seção, em Mateus 5.3-12, falamos sobre as bem-aventuranças, que são a essência daquilo que o cristão nascido de novo deve ser. Na segunda seção, em Mateus 5.13-16, falamos sobre a influência do cristão no mundo, representada pelas figuras do sal da terra e luz do mundo. Depois, na terceira seção em Mateus 5.17-20, vimos como deve ser a relação de Jesus com a Lei mosaica. 


Na lição desta semana veremos a quarta seção do Sermão do Monte, que trata da verdadeira espiritualidade e as motivações por trás dos atos de justiça do cristão. Jesus fala a respeito de ajudar aos necessitados em público, com o objetivo de ser elogiado pelos homens e chama de hipócrita aqueles que agem dessa forma. Os fariseus praticavam esmolas, jejuns e orações. Mas o objetivo era serem vistos e tidos como piedosos. 


Jesus não condenou a prática de dar esmolas aos necessitados, que naquela época eram muito mais do que hoje. Ao contrário, Ele ensinou que, quando socorremos os necessitados, estamos fazendo isso a Ele. Entretanto, no Sermão do Monte, Jesus ensina que devemos fazê-lo sem tocar trombetas, ou seja, sem aparecer. 


Na sequência, o Senhor Jesus ensina que Deus vê tudo e recompensa a cada um. Tudo o que fazemos, seja para Deus ou para o próximo, terá recompensa. Portanto, não devemos nos preocupar se estamos sendo vistos ou não, pois a recompensa é Deus quem nos dá e Ele é justo e bom ao recompensar. 


REFERÊNCIAS:


GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 142-144.

LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pag. 211.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 1. pág. 318.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1Ed 2008. pag. 61.



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Pb. Weliano Pires

14 maio 2022

BUSCANDO A PERFEIÇÃO DE CRISTO

(Comentário do 3⁰ tópico da Lição 7)

A Lei mosaica dizia: “Não te vingarás nem guardarás ira contra os filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.” (Lv 19.18). Os rabinos judaicos mudaram este mandamento e acrescentaram, que os israelitas deviam ao próximo e aborrecer o inimigo: “Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo.” (Mt 5.43). Mas, em lugar algum da Lei havia esta recomendação para aborrecer ou odiar o inimigo. Jesus se contrapôs a este ensino e disse: “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos.” (Mt 5.44,45). Em seguida disse que não é nada de mais amar somente os irmão e aqueles que nos amam, pois os publicanos também fazem isso. Na conclusão desta seção do Sermão do Monte o Mestre diz: “Sede vós, pois, perfeitos,como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus.” (Mt 5.48). 


1. Uma justiça mais elevada. Este ensino de Jesus demonstra a imensa superioridade da sua doutrina em relação à dos escribas e fariseus. Os padrões de justiça eram apenas exteriores e interesseiros. Eles davam esmolas pensando em se autopromover e ajudavam apenas aos que eram da comunidade israelita. Faziam longas orações em pé nas sinagogas, com o objetivo de serem vistos e tidos como piedosos (Mt 6.5). Davam os dízimos das pequenas sementes como o endro e o cominho (Mt 23.23). Em contrapartida, eram cruéis e maquiavélicos. Tramavam ardilosamente contra os seus desafetos para os condenarem à morte. 

Jesus mostrou que o padrão de Justiça de Deus é infinitamente mais elevado. Ele mandou amar não apenas o próximo, mas amar também aos inimigos e àqueles que nos perseguem. 


2. O amor mais perfeito. Jesus revelou ao mundo o amor  de Deus. Deus ama, porque é próprio da Sua natureza amar e não porque o ser humano merece o seu amor. O Apóstolo João escreveu: “Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.” (1 Jo 4.8). O apóstolo Paulo, falando sobre a grandeza do amor de Deus, escreveu: “Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores.” (Rm 5.8). Ninguém tem um amor como este, de amar inimigos e morrer por quem não merece. Jesus fez isso por nós. Por isso, Ele tem autoridade moral para nos ensinar isso. Entretanto, nenhum ser humano é capaz de amar dessa forma, se não for transformado pelo Espírito Santo de Deus. 


3. Perfeitos como o Pai. Jesus ensina que devemos ser perfeitos como o vosso Pai que está no Céu. A pergunta inevitável é: seria possível algum ser humano ser perfeito como Deus é? Evidentemente, não. Mas quando Jesus disse para sermos perfeitos, é no contexto em que estava falando sobre o amor. Ele ensinou para amarmos a quem não merece, como Deus ama. O adjetivo usado por Jesus, traduzido por perfeito,  no grego é téleios. Significa "levado a seu fim, finalizado; que não carece de nada necessário para estar completo; integridade e virtude humana consumadas, adulto, maduro, maiordade." Então, Jesus não estava falando para sermos perfeitos no sentido de sermos completamente isentos de erros e falhas, como Deus é. Mas que devemos amar de forma completa, sem acepção de pessoas e sem interesses pessoais mesquinhos.


REFERÊNCIAS:

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 137-139.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1 Ed. 2008. pág. 59-60.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 1. pag. 317.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1Ed 2008. pag. 60-61.

TASKER, V. G. Mateus, Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. 1 Ed 1980. pág. 56.



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Pb. Weliano Pires

O AMOR É A EXPRESSÃO NATURAL DO REINO

(Comentário do 2⁰ tópico da Lição 7).

A mensagem central do ensino de Jesus é o amor. Quando um mestre da Lei lhe perguntou qual era o grande mandamento da Lei, o Mestre declarou: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. (Mt 22.37-39). Jesus disse que seríamos reconhecidos como seus discípulos se nos amássemos uns aos outros (Jo 13.35). Jesus pregou o amor não apenas aos que são nossos irmãos e nos fazem bem. Ele mandou amar os inimigos, orar pelos que nos perseguem e pagar o mal com o bem. Nesta parte do Sermão do Monte, Jesus fez uso de quatro ilustrações para mostrar como se deve resistir ao mal:


1. Virar a outra face (Mt 5. 39). No versículo 39 o Senhor Jesus diz: “...Se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra.” Apanhar no rosto é ultrajante e a tendência natural do ser humano é reagir e devolver a agressão. Se já é difícil suportar esta agressão e não reagir, mais difícil ainda é oferecer o outro lado da face para mais uma agressão. Na cultura judaica, o ato de ferir ou bater no rosto de alguém era considerado uma grande ofensa e era punido com uma multa de 400 sus (O equivalente a cerca de 160 dólares) e castigo. A vítima poderia reivindicar os seus direitos e cobrar a punição do agressor. 

Este ensino de Jesus não era bem visto pelos judeus. Eles estavam sob o domínio romano e esperavam a vinda do Messias para lutar contra Roma e libertá-los. Uma das características de muitos judeus daquela época era a resistência. O grupo dos Zelotes, uma seita radical judaica, praticava atentados contra os romanos. Eles pretendiam vencê-los através da luta armada e esperavam um Messias guerreiro para liderar esta libertação. Durante um período de 100 anos, eles tentaram várias rebeliões mal sucedidas contra  os romanos, que acabaram causando a destruição de Jerusalém, no ano 70 d.C. Os fariseus não eram tão radicais a ponto de adotarem a luta armada. Mas, odiavam os romanos, os publicanos e os saduceus que se misturaram com a cultura grega. Os fariseus pregavam a separação total dos não judeus. A palavra fariseu significa “separado”. Eles criticavam muito Jesus porque Ele se misturava aos publicanos e outras pessoas consideradas desprezíveis por eles. 

O que Jesus nos ensina é que as nossas ações não devem ser pautadas pelas ações e palavras dos ímpios e sim pela Palavra de Deus. Deus é o Supremo Juiz e vingará as injustiças praticadas contra os seus servos. Por isso, não é necessário reagir. A essência do amor é fazer o bem a quem não merece e nunca retribuir o mal com mal. O amor é sofredor, benigno, tudo sofre, tudo suporta, não suspeita mal e não busca os próprios interesses (1 Co 13.4-7). Paulo disse que o cumprimento da Lei é o amor (Rm 13.10). 


2. Arrastar para o tribunal (Mt 5.40). Na segunda ilustração, Jesus fala sobre uma questão judicial: “E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa.” (Mt 5.40). A referência aqui não é a alguém que está roubando uma peça importante do vestuário do outro. Jesus está se referindo a uma litigância judicial, onde uma pessoa movia uma ação judicial para tirar a túnica do outro, para pagar uma dívida que não foi paga. É como uma loja de veículos, que cobra na justiça a busca e apreensão de um veículo porque as prestações não foram pagas. Muitos devedores, para não perderem o veículo, deixam-no escondido. 

A Lei permitia que as túnicas fossem usadas como penhor, ou garantia de uma dívida. Mas, a mesma Lei dizia que se o credor se apropriasse da capa, que era a parte externa da roupa, deveria devolvê-la no final do dia, pois era usada também como coberta e como cama: “Se tomares em penhor a roupa do teu próximo, lho restituirás antes do pôr do sol, porque aquela é a sua cobertura, e o vestido da sua pele; em que se deitaria? Será pois que, quando clamar a mim, eu o ouvirei, porque sou misericordioso.” (Êx 22.26,27). Jesus, no entanto, ensina que, se o credor cobrasse a túnica como pagamento de uma dívida, os seus discípulos deveriam abrir mão também da capa. 

O ensino aqui é devemos evitar longas batalhas judiciais e fazer concessões e acordos. Infelizmente, em nossos dias, há uma corrida enorme por indenizações na Justiça. As pessoas processam as outras por coisas pequenas para receber indenizações. Até mesmo crentes processam a Igreja e o pastor, por alguma palavra mal colocada, ou porque foram disciplinados. O ensino de Jesus foi contra esse tipo de coisa. Paulo também ensinou que não deve haver litígio entre os irmãos e que os líderes da Igreja devem julgar as causas, para evitar comparecerem perantes juízes incrédulos (1 Co 6.1-8). 


3. Obrigar a fazer algo (Mt 5.41). Na terceira ilustração, o Senhor Jesus diz:  “Se alguém te obrigar a andar uma milha, vai com ele duas”. (Mt 5.41).  Uma milha romana era igual a 8 estádios, ou seja, 8 mil passos, que equivale a 1478 metros. 

No tempo de Jesus, os romanos dominavam o mundo. Era comum o império romano enviar emissários pela províncias. Quando chegavam nos locais designados, os emissários tinham autoridade para obrigar os cidadãos a carregarem as suas bagagens e até a fornecer os seus animais e carruagens para transportá-lo. Simão Cireneu, por exemplo, foi obrigado pelos soldados a carregar a cruz de Jesus (Mt 27.32).

Havia também o costume entre os judeus de acompanharem os viajantes, para oferecer-lhe segurança diante dos perigos de assalto nas estradas. Os fariseus, no entanto, só se dispunham a apanhar aos seus compatriotas e amigos. Se fosse um estranho ou "pecador" no conceito deles, não o acompanhavam. 

Seja qual for a referência de Jesus, o que Ele nos ensina é que os seus discípulos não devem fazer somente aquilo que lhes for imposto. Devem servir voluntariamente e com alegria ao próximo. Jesus nos deu o exemplo, pois, mesmo Ele sendo Deus, Mestre e Senhor, veio para servir e dar a sua vida em resgate dos pescadores. Lamentavelmente, encontramos no meio evangélico, líderes que buscam privilégios e pessoas para servi-lo, em virtude do cargo que ocupam. Não foi isso que o nosso Mestre ensinou. Ele mesmo se pôs a lavar os pés dos seus discípulos, uma tarefa que era feita pelos escravos. No Reino de Deus, o maior é o que serve e não o que manda e é servido. 


4. Fazer alguma coisa por alguém (Mt 21.42). Na quarta ilustração, Jesus diz: "Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes." (Mt 21.42). A generosidade e ajuda aos necessitados estava prevista na Lei mosaica. O Senhor mandou que os israelitas socorressem aos seus irmãos pobres: "Quando entre ti houver algum pobre, de teus irmãos, em alguma das tuas portas, na terra que o SENHOR teu Deus te dá, não endurecerás o teu coração, nem fecharás a tua mão a teu irmão que for pobre; Antes lhe abrirás de todo a tua mão, e livremente lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade." (Dt 15.7,8). Os agricultores também deviam deixar para trás as espigas menores, para que os pobres recolhessem para si. Os israelitas também eram proibidos de cobrar juros dos seus irmãos.

Naquele tempo em Israel, havia muita pobreza. A nação estava sob o domínio romano, que lhe cobrava altos impostos. Além disso, não havia previdência social e auxílios do governo para socorrer os miseráveis, idosos e deficientes físicos. Portanto, havia muitas pessoas que sobreviviam de esmolas. Os fariseus praticavam estas coisas apenas dentro do seu círculo de amizades e parentes. O ensino de Jesus, no entanto, é muito superior, pois Ele ensina que devemos ajudar a qualquer um que nos pedir e não devemos nos esquivar daqueles que quiserem emprestado. Jesus nos ensina a seguir o exemplos de Deus que é bom para com os justos e injustos, pois oferece o sol a todos e não apenas aos que merecem.

Nos dias de hoje, podemos e devemos ajudar a quem precisa. Entretanto, o contexto é muito diferente. Hoje há aposentadoria, programas sociais e vários auxílios do governo, para socorrer os necessitados. Além disso há empresas e organizações sociais e religiosas que promovem ações para ajudar os necessitados. Por outro lado, há pessoas que não querem trabalhar e vivem pedindo esmolas nas ruas para comprar drogas. Por isso, não é recomendável que se dê esmolas sem critérios. Há outras formas de ajudar, através de instituições sérias, ou buscando informações sobre a real situação dos necessitados. 


REFERÊNCIAS: 

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 133-135.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. 1 Ed. 2008. pág. 58.

RIENECKER, Fritz. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica Esperança.

CHILDERS, Charles L.; EARLE, Ralph; SANNER, A. Elwood (Eds.) Comentário Bíblico Beacon: Mateus a Lucas. Volume 6. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p.61).


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Pb. Weliano Pires