(Comentário do 1º tópico da Lição 8)
Jesus iniciou esta parte do Sermão do Monte dizendo: "Guardai-vos de fazer a vossa esmola [justiça] diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus." (Mt 6.1). A palavra grega, usada por Mateus é dikaiosyne que significa justiça. Na versão Revista e Corrigida está escrito “esmolas”. Mas, nas versões mais atualizadas, foi traduzida por “justiça”, que é a palavra mais adequada para o contexto que Jesus falou. Na sequência, Jesus ensinou aos seus discípulos a, quando darem esmolas, não fazerem como os hipócritas, que faziam isso com o objetivo de serem vistos e elogiados pelos homens.
1- Definição de hipócrita. A palavra hipócrita, no grego é “hupókrisis”, foi transliterada como hypocrisis no latim. Inicialmente se referia à atuação de um artista de teatro, que usava máscara em uma peça teatral e interpretava um personagem. No Antigo Testamento, a palavra ḥānēp, que significa "falar poluído", "ímpio", foi traduzida para o grego como huypókritēs, como em Jó 34.30 e 36.13.
No Evangelho segundo Mateus, Jesus usou esta palavra, no sentido de ímpio (Mt 22.18; 23.13-29; 24.51). Em Lucas, Ele usa a mesma palavra com o sentido de infiel (Lc 12.46). Já em Marcos, com o sentido de astúcia e malícia (Mc 12.15). Em Mateus 22.18 e Lucas 20.23 também a palavra significa malícia e astúcia. No Sermão do Monte, Jesus usou a palavra hipócrita para se referir aos religiosos, que praticavam atos de justiça como orações, jejuns e esmolas, não porque estivessem preocupados em agradar a Deus, ou porque se preocupavam com os pobres. A motivação deles era unicamente serem vistos pelos homens e reconhecidos por eles.
Existem pelo menos três tipos de hipócritas:
Aqueles que são maus interiormente e fingem ser bons para enganar as pessoas. São astutos e maliciosos e sempre escondem as suas verdadeiras intenções;
Aqueles que falam contra algo que eles mesmos praticam às escondidas. Não querem aplicar a si mesmos, a medida com que medem os outros;
Aqueles que até praticam coisas boas como dar esmolas, jejuar e orar, mas fazem isso sempre com muita visibilidade, para obter ganhos e elogios para si.
Estas pessoas jamais farão estas coisas, se ninguém estiver vendo. Portanto, hipócrita é todo aquele que finge ser o que não é, fala uma coisa e faz outra ou faz boas obras para obter benefícios e elogios.
2- A justiça pessoal. Jesus não está condenando estes atos de justiça pessoal como a oração, a esmola e o jejum, pois, Ele mesmo recomendou aos seus discípulos que fizessem isso. Também não está proibindo dar esmolas ou orar em público, como alguns ensinam. O que Jesus contesta aqui é a publicidade desses atos, para demonstrar superioridade espiritual ou obter elogios. Em Mateus 6.1, Jesus nos ensinou três coisas muito importantes, sobre a justiça pessoal:
a. “Guardai-vos de fazer a vossa esmola [justiça] diante dos homens”. Isto significa que a justiça deve ser praticada, mas não com propaganda para nosso engrandecimento ou promoção da nossa denominação. Podemos fazer relatórios e prestação de contas das ações filantrópicas que a Igreja pratica, para justificar os gastos e incentivar os irmãos a contribuir. Mas isso não pode ser uma propaganda para nos engrandecer. Todos os atos de justiça praticados devem glorificar a Deus e não ao homem, pois, praticar a justiça para ser vista pelos homens é hipocrisia.
b. “Para serdes vistos por eles”. Toda espiritualidade que busca visibilidade humana, com o propósito de ganhar aprovação humana e não agradar a Deus, representa soberba e vai na contramão da espiritualidade cristã.
c. “Não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus”. Se recebermos elogios ou recompensas humanas pelos nossos atos, não teremos mais nenhuma recompensa a receber de Deus. Precisamos tomar muito cuidado com a ostentação e publicidade dos nossos atos. Deus não olha apenas para aquilo que fazemos, Ele olha principalmente para as nossas intenções e motivações.
3 - As três práticas da ética cristã. No capítulo 6 do Evangelho segundo Mateus, Jesus faz menção de três práticas da ética cristã: esmolas, oração e jejum. Nesta lição falaremos apenas das esmolas, porque a próxima lição será sobre oração e jejum. Estas três práticas envolvem os nossos bens (esmolas /ofertas), o nosso espírito (oração ) e o nosso corpo (jejum). Estas práticas estão presentes em várias religiões, principalmente nas monotéistas como o Judaísmo e o Islamismo. A fala de Jesus sobre isso, usando a palavra “quando” e não “se”, indica que esta era uma obrigação dos seus discípulos e não uma opção. O cristão não é salvo pelas obras que pratica e sim pela fé em Cristo (Ef 2.8-10). Entretanto, quem é salvo pratica boas obras a Deus e ao próximo, pois, a fé sem as obras é morta (Tg 2.17). Tiago diz também que “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo.” (Tg 1.27).
Como vimos, estes atos de justiça são importantes, não para a nossa salvação, mas indica que fomos salvos, pois a fé e amor nos impulsionam a estas práticas. Entretanto, como já falamos no ponto anterior, estas práticas devem ser feitas com discrição, visando agradar a Deus e ajudar o próximo, sem interesses pessoais de auto glorificação. No versículo 2, da leitura bíblica em classe, lemos o seguinte: “Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.” (Mt 6.2).
Este ensino de Jesus confronta diretamente algumas práticas e pregações da atualidade como: a divulgação de que está a tantos dias em jejum; que passou tantas noites em vigílias; que passou tantos dias no monte orando; que ora várias horas por dia; etc. Não há nenhum problema, o crente ir ao monte orar, desde que a razão seja unicamente ter privacidade com Deus. O próprio Jesus fez isso muitas vezes, por causa das multidões que não lhe davam um minuto de privacidade. Entretanto, se acharmos que a oração feita no monte tem mais poder que as que são feitas em outro lugar, constitui-se em idolatria. Da mesma forma, a ajuda aos necessitados deve ser praticada pelo cristão, mas a motivação deve ser apenas o amor pelo próximo e a compaixão pelo sofrimento alheio. Se houver publicidade para autopromoção, não haverá nenhuma recompensa de Deus. Lembrando mais uma vez, que a recompensa nesse caso não é a salvação, pois é concedida pela Graça de Deus mediante a fé.
REFERÊNCIAS:
GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 144-147.
LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pág. 211-213.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 1. pág. 319.
STOTT, John. Contracultura cristã. A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pág. 59.
TASKER, V. G. Mateus, Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. 1 Ed 1980. pág. 57.
ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro : CPAD, 2003, pp.59,60.
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Pb. Weliano Pires