30 abril 2022

A INDISSOLUBILIDADE DO CASAMENTO


Comentário do 3º tópico da Lição 5: O casamento é para sempre.

O casamento foi instituído por Deus, com regras e objetivos bem definidos. Com a entrada do pecado no mundo, como em todas as outras áreas, aquilo que Deus instituiu foi corrompido pela natureza pecaminosa do ser humano. Assim, teve início a poligamia, o homossexualismo, o divórcio, a prostituição e outras coisas que contrariam a vontade de Deus para o relacionamento conjugal.  


1- O casamento na perspectiva bíblica. No princípio Deus criou um homem e uma mulher e os uniu, tornando-os uma só carne. Ao contemplar Eva pela primeira vez e recebê-la das mãos de Deus como sua esposa, Adão declarou: "Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem, o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne." (Gn 2.23,24). A partir da criação do primeiro casal e desta declaração de Adão que foi citada por Paulo aos Efésios (Ef 5.31), podemos compreender que Deus colocou os seguintes princípios para o casamento: 

a) Dever heterossexual. Deus criou e uniu um homem e uma mulher e não dois homens ou duas mulheres. Portanto, homossexualismo, bissexualismo, polissexualismo, pansexualismo e coisas do tipo não fazem parte do plano de Deus. 

b) Deve ser monogâmico. Deus criou e uniu apenas um homem e uma mulher e não um homem para várias mulheres e vice-versa. Por isso Deus abomina a infidelidade conjugal. O casamento é comparado à relação entre Cristo e a sua Igreja. Sendo assim, da mesma forma que Ele não aceita a idolatria, também não tolera o adultério.

c) Os cônjuges devem deixar pai e mãe e unir-se um ao outro. Deus não criou o casamento para os pais e sogros continuarem liderando e se intrometendo na nova família. Podem e devem aconselhar, pois tem mais experiência, mas não querer que os filhos vivam de acordo a vontade deles. 

d) Deve ser vitalício. Deus criou o casamento para durar até que a morte os separe. Paulo disse que "a mulher está ligada ao marido pelo casamento enquanto ele viver." (Rm 7.2). Há também outras duas exceções que veremos abaixo, que podem dissolver o casamento. 


2- O que fazer para que o casamento seja para sempre? Não é fácil ter um casamento bem sucedido e fazê-lo perdurar até à morte, como a Palavra de Deus ordena. Isto porque, embora seja uma instituição divina, o casamento é formado por seres humanos, que têm suas falhas e imperfeições. Além disso, ao contrário do que dizem os filmes e as poesias românticas, não existem ‘almas gêmeas’, que nasceram um para o outro e que correspondem, perfeitamente, aos anseios do outro. Vejamos abaixo, algumas recomendações importantes para um casamento duradouro:

a) Escolha bem. Deus nos deu o livre-arbítrio. Podemos e devemos escolher o que fazer, como fazer, se queremos e com quem fazer. No caso do casamento, não é diferente. Precisamos responder às seguintes perguntas para nós mesmos: Quero casar? Nem todos tem essa vocação. Quem não gosta de dar satisfações da sua vida ou gosta de dormir sozinho, ir pra onde quer, etc. não deve casar. Com quem? Não devemos nos prender a um jugo desigual.

b) Cultive o amor. Nenhum casamento sobrevive se não houver amor. Mas, amor é diferente de paixão ou afeição. Amor está relacionado ao compromisso que temos com a pessoa amada. A paixão é passageira e normalmente está relacionada ao objeto apaixonante. Seja a beleza física, a voz, os cabelos ou a curiosidade pelo desconhecido. Quando o objeto apaixonante varia, a paixão vai embora e apaixonado diz: “Não amo mais”. Na verdade, ele não está mais apaixonado. O amor é uma escolha que fazemos de buscar identificar e satisfazer as necessidades (não as vontades) da pessoa amada, sem esperar nada em troca.


c) Ore pelo casamento. Ore antes de casar e durante o casamento. Apesar de termos o livre-arbítrio, não somos oniscientes. Precisamos orar, para não comprar gato por lebre. Durante o casamento, o inimigo atua ferozmente, para destruir o projeto de Deus. Se não orarmos, ele lança tropeços e destrói o casamento.

d) Cumpra as suas responsabilidades no casamento: 

1 - Homem: Ame a sua esposa como Cristo amou a Igreja e a Si mesmo se entregou por ela. "Coabite" com ela com entendimento, como ensinou o apóstolo Pedro (1 Pe 3.7).  Esta expressão "coabitar com entendimento", usada por Pedro, refere-se ao relacionamento sexual. Não seja machista. A mulher não foi criada para ser escrava do homem ou ser humilhada por ele. Proveja o sustento do lar, na medida do possível. Não é tolerável, um homem casar e esperar que a mulher o sustente. Ela até pode ajudá-lo, mas essa responsabilidade é do homem. 

2 - Mulher: Seja submissa ao seu marido no Senhor. Deus constituiu o seu marido como líder do lar. Esta submissão, no entanto, deve ser voluntária e por amor. Uma coisa que tem destruído muitos casamentos na atualidade é a falta de submissão das mulheres à autoridade do marido. Influenciadas pelo feminismo, muitas têm desrespeitado o marido e consequentemente, separam-se dele.

e) Tenham projetos em comum. Troque o “EU” pelo “NÓS” e o "MEU'' pelo “NOSSO”. Depois que casamos, os projetos passam a incluir os dois e não mais um. É inadmissível um marido ter posses separadas da esposa. Tudo deve ser dos dois. Pode ser administrado por ele, mas pertence a ambos. No momento de decidir o que fazer, tem que haver concordância.


3 - Casamento: uma união indissolúvel. Em Mateus 19, os fariseus resolveram tentar Jesus e questionaram-lhe sobre o divórcio. Eles perguntaram se era correto o homem repudiar a sua mulher por qualquer motivo. Na verdade, eles não estavam interessados em debater a questão. Queriam apenas arrancar de Jesus, uma resposta comprometedora, para que pudessem avisá-lo de estar violando lei. 

Nesta questão do divórcio, havia muitos debates. O texto de Deuteronômio 24, que trata deste assunto, diz que o homem poderia repudia a sua mulher, caso encontrasse nela, "coisa vergonhosa". Entre os rabinos judaicos havia dois pensamentos sobre isso: os que eram da escola de Shammai eram mais radicais e entendiam que isso envolvia algo que fosse grandemente vergonhoso, ou seja, o adultério. Por outro lado os que seguiam a escola de Hillel, eram mais liberais e ensinavam que o divórcio poderia ser permitido por qualquer coisa banal, como por exemplo, a esposa deixar a comida queimar.

O Senhor Jesus fez a seguinte afirmação o divórcio: “Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de prostituição, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério. (Mt 19.9). O apóstolo Paulo também recomenda que os casais cristãos não devem se separar. Se a separação for inevitável, não devem se casar com outra pessoa: “Todavia, aos casados, mando, não eu, mas o Senhor, que a mulher não se aparte do marido. Se, porém, se apartar, que fique sem casar ou que se reconcilie com o marido; e que o marido não deixe a mulher.” (1 Co 7.10,11). A exceção que Paulo coloca nesse sentido é se o cônjuge for descrente e quiser separar:  “Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não está sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz.” (1 Co 7.15). 

Portanto, o ensino do Novo Testamento para o Cristão em relação ao casamento é que ele é uma união indissolúvel. Apenas três coisas podem dissolver o casamento do cristão: a morte do cônjuge, a infidelidade do cônjuge ou o abandono. Fora destas três coisas, quem separar-se do seu cônjuge e contrair um novo matrimônio estará vivendo uma vida adúltera. 


REFERÊNCIAS:


GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 99-106.

Soares, Esequias. Casamento, divórcio e sexo à luz da Bíblia. Editora CPAD. pag. 36-39.

LOPES, Hernandes Dias. I Coríntios Como Resolver Conflitos na Igreja. Editora Hagnos. pag. 130.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 3. pag. 95.

SOARES, Esequias. Casamento, divórcio e sexo à luz da Bíblia. Editora CPAD. pag. 13-14.

RIENECKER, Fritz. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica Esperança.

ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.46.


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Pb. Weliano Pires

29 abril 2022

O QUE REGE O CORAÇÃO REGERÁ O CORPO


Comentário do 2º tópico da Lição 5: O casamento é para sempre


Neste segundo tópico, veremos que, aquilo que rege o coração, regerá o corpo. Veremos a definição e significado bíblico da palavra traduzida por coração. Os nossos pensamentos determinam as nossas ações e a nossa conduta. O nosso cérebro comanda as ações de todo o corpo. Por isso, em vez de tentar dominar os membros do corpo, devemos controlar os pensamentos. Isso só acontecerá se os nossos pensamentos estiverem entregues ao domínio e dependência do Espírito Santo. 


1 - O que procede do coração. Assim como fez com o assassinato, Jesus vai à origem do pecado do adultério que é o coração, ou o interior do homem. Quando a Bíblia fala de coração, evidentemente não está se referindo ao músculo cardíaco, responsável por bombear sangue para todo o corpo. No hebraico, a palavra “leb” ou “lebab (pronuncia-se lev e levav respectivamente) traduzida por coração, é usada para se referir ao próprio órgão cardíaco: “Mas Jeú entesou o seu arco com toda a força e feriu a Jorão entre os braços, e a flecha lhe saiu pelo coração; e caiu no seu carro.” (2 Rs 9.24); aos anseios da pessoa humana: “Deleita-te também no Senhor , e ele te concederá o que deseja o teu coração.” (Sl 37.4); aos pensamentos humanos: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jr 17.9). Esta palavra aparece centenas de vezes no Antigo Testamento, para se referir ao ser interior, ou aquilo que nos faz amar, chorar, pecar e ter empatia.

No grego, a palavra correspondente é “kardia”, que deu origem à palavra portuguesa cardíaco. Esta palavra não também não se refere apenas ao órgão cardíaco. É o centro da personalidade humana, física, emocional, moral e espiritualmente. kardia É o centro dos sentimentos, desejos, alegria, dor, amor, etc. Somente Deus, na sua onisciência, conhece profundamente o coração humano. É no coração (não no órgão físico) que o Espírito Santo habita. Jesus disse que “...a boca fala daquilo que o coração está cheio”. (Mt 12.34). Em outra parte, Ele disse: “Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias.” (Mt 15.19). 

Então, o pecado não se restringe à consumação física do ato, mas, tem o seu início no interior do ser humano. Segundo Charles Spurgeon, “os assassinatos não começam com o punhal, mas com a maldade do coração. Adultérios e prostituições são primeiramente entretidos no coração antes de serem efetuados pelo corpo. O coração é a gaiola de onde essas aves impuras voam. Todos esses males terríveis fluem de uma fonte, o coração do homem.” Por isso, é preciso nascer da água e do Espírito e ter um novo “coração”, onde o Espírito de Deus habita e produz o Fruto do Espírito. (Jo 3.3-5; 2 Tm 1.14; Gl 5.22). 

2 - O homem é o que pensa. O ser humano é formado de três partes: Espírito, alma e corpo. O espírito é a parte capaz de responder a Deus, através da fé e da consciência. É o sopro que Deus colocou no homem no ato da criação. A alma é a sede das emoções e sentimentos. O espírito e a alma são a parte imaterial e são inseparáveis. O corpo é a parte material, composta por órgãos e tecidos. O pensamento humano é regido pela alma. Conforme vimos no ponto anterior, as ações do nosso corpo são primeiro processadas em nosso pensamento. Portanto, o pensamento é o laboratório das ações do corpo, sejam elas boas ou más. Sendo assim, tudo aquilo que plantamos em nosso pensamento irá brotar em nossas ações. Alguns até conseguem disfarçar um pouco as verdadeiras intenções, com palavras enganosas. Mas a essência do ser humano está em seu pensamento. O apóstolo Paulo escrevendo aos Romanos disse: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Rm 12.2). O apóstolo recomenda aos irmãos que não se “conformem” com este mundo (sistema maligno). A palavra conformeis (Gr. schmatizo) significa assimilar-se, moldar de acordo com, tomar a forma do ambiente, amoldar-se.  Em seguida ele recomenda que sejam transformados pela “renovação do vosso entendimento". A palavra “entendimento” (Gr. nous) neste texto não se limita à capacidade intelectual apenas, mas refere-se “ao homem interior", incluindo a capacidade de perceber as coisas espirituais, discernir o bem do mal e julgar com imparcialidade. Isto significa que o ser humano é aquilo que está em seu interior. Se o seu pensamento (ser interior) for mau, as suas atitudes também serão. Se for bom as suas atitudes também serão boas. Hendriksen diz: “Se o que está no coração é bom, o excedente que vaza será bom; se o conteúdo do ser interior é ruim, o que vaza pela boca será também ruim”.


3- Sujeitando o corpo ao Espírito Santo. Conforme já vimos, o nosso corpo é regido pelo nosso coração (pensamentos, ser interior). Por conta da entrada do pecado no mundo, a natureza humana foi terrivelmente afetada e, portanto, os seus instintos naturais são maus. Sendo assim, se o ser humano seguir os seus próprios instintos, cometerá as mais terríveis atrocidades, tanto no campo espiritual, quanto moral. O apóstolo Paulo assim escreveu aos Efésios: “E digo isto e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros gentios, na vaidade do seu sentido, entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus, pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração, os quais, havendo perdido todo o sentimento, se entregaram à dissolução, para, com avidez, cometerem toda impureza.” (Ef 4.17-19). Na Epístola aos Gálatas, falando sobre o mesmo assunto, o apóstolo disse que “a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis” Gl 5.17). Ou seja, a natureza humana destituída da glória de Deus, se contrapõe ao modo de vida proposto pelo Espírito Santo e domina o homem. No versículo anterior, Paulo mostra o remédio para vencer a natureza carnal: Andar no Espírito. (Gl 5.16). O verbo grego traduzido por “andai” é “peripateo”. Nos escritos paulinos esta palavra é usada em sentido figurado, com o sentido de “viver”, “portar-se”, ou ‘conduzir-se”. Quanto vivemos na dependência do Espírito Santo e nos submetemos ao Seu domínio, a nossa natureza pecaminosa é dominada e passamos a refletir o caráter de Cristo. Portanto, para vencer o adultério e outros pecados, que são obras da carne, o crente precisa sujeitar-se completamente ao Espírito Santo. 


REFERÊNCIAS: 

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 93-97.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 1. pág. 434.

E. Howard. Comentário Bíblico Beacon. Gálatas. Editora CPAD. Vol. 9. pág. 68.

LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pág. 482-483.

LOPES, Hernandes Dias. GÁLATAS, A carta da liberdade cristã. Editora Hagnos. pág. 238-240.

LOPES, Hernandes Dias. Lucas Jesus o Homem Perfeito. Editora Hagnos. 1 Ed 2017.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento: MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pág. 568.


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Pb. Weliano Pires

27 abril 2022

A CONDENAÇÃO DO ADULTÉRIO


Comentário do 1º tópico da Lição 5: O casamento é para sempre


O casamento é uma instituição divina. Depois de criar o homem, Deus criou também a mulher para ser a sua ajudadora e parceira na missão de se multiplicarem e dominarem a criação. Na criação, Deus criou um homem e uma mulher e os uniu, tornando-os uma só carne. (Gn 1.27; Gn 2.21-24). Isso mostra claramente que Deus criou o casamento heterossexual, monogâmico e vitalício. O adultério, a poligamia, o homossexualismo e outros desvirtuamentos das relações conjugais surgiram depois, com a entrada do pecado no mundo. 

O adultério sempre foi considerado um pecado gravíssimo, que era punido com a pena capital na Lei mosaica. O sétimo mandamento do decálogo traz expressamente a proibição ao adultério: “Não adulterarás”. O décimo mandamento, proíbe a cobiça à mulher do próximo. Deus sabia perfeitamente que o adultério representa uma ameaça à família. Por isso, deixou expressamente proibido na lei esta prática e prescreveu duras penas para os infratores. No Novo Testamento, o Senhor Jesus vai muito além do entendimento dos escribas e fariseus a respeito desta prática. Veremos neste tópico a definição da palavra adultério, a posição de Jesus a este respeito e os males decorrentes deste grave pecado. 


1- Definição de adultério. Etimologicamente, a palavra portuguesa adultério vem do latim “ad alterum torum” que significa literalmente “na cama de outro”. É uma referência à infidelidade conjugal. Com o passar do tempo, a palavra passou a significar também falsificação, modificação ou fraude. Por exemplo, o “combustível adulterado”, significa que foi alterada a sua fórmula original.

No sentido bíblico, a palavra adultério no hebraico é “na’aph” e o seu correspondente grego é “moicheia”. Significa a relação sexual entre uma pessoa casada e outra que não é seu cônjuge. A palavra é usada também em sentido figurado, para se referir  à adoração aos ídolos, principalmente no Livro do profeta Oséias, onde Deus se refere à infidelidade de Israel como adultério. Em vários textos bíblicos também a palavra aparece com o significado de infidelidade espiritual (Jr 3.8,9; Ez 23.26,43; Os 2.2-13; Mt 12.39; Tg 4.4). Aliás, o primeiro dos mandamentos é: “Não terás outros deuses diante de mim”. 

Entre as nações pagãs, o adultério era tolerado, principalmente por parte dos homens, a não ser que coabitasse com a esposa ou noiva de outro homem. Entretanto, na Lei mosaica, o adultério era expressamente proibido (Êx 20.14; Dt 5.18) e era punido com o apedrejamento do homem e da mulher (Lv 20.10; Dt 22.22). Entretanto, havia várias regras dentro da Lei sobre isso. Se um homem fosse surpreendido com a mulher de outro, os dois seriam mortos (Dt 22.22). Até uma moça prometida em casamento, se outro homem se relacionasse sexualmente com ela, com consentimento dela, ambos seriam mortos (Dt 22.23,24). Se, no entanto, um homem forçasse uma moça prometida em casamento, sem o consentimento dela, apenas ele seria morto (Dt 22.25). 

É importante destacar que a poligamia, embora nunca tenha sido a vontade de Deus, era tolerada nos tempos do Antigo Testamento e não era condenada na Lei (Ex 21.10). Sendo assim, se um homem tivesse mais de uma esposa, isso não era considerado adultério. Até pessoas tementes a Deus como Abraão, Jacó, Gideão, Elcana, Davi e Salomão tiveram mais de uma esposa. Então, do ponto de vista da lei,o adultério era apenas ter relacionamento com a mulher ou marido de outra pessoa. Ter mais de uma esposa legítima não violava o mandamento de não adulterar. Evidentemente, a poligamia nunca foi ordenada por Deus e sempre causou muitos males. 


2 - A posição de Jesus quanto ao adultério. A interpretação que Jesus dá ao sétimo mandamento vai muito além da conjunção carnal entre um homem e a mulher do seu próximo, como ensinavam os rabinos. Jesus coloca no mesmo patamar do adultério consumado, o olhar malicioso e os pensamentos impuros. Depois, Jesus coloca também na condição de adúlteros, aquele que repudia a sua esposa, sem que haja infidelidade da parte dela e casa-se com outra; e aquele que casa com uma esposa repudiada. (Mt 5.31,32). Falaremos mais detalhadamente sobre isso no terceiro tópico. 

No Novo Testamento, em vários textos, o adultério é mencionado como um dentre vários pecados, que impedem a entrada no Reino de Deus. Por exemplo: “Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus.” (1 Co 6.9).


3 - Os males do adultério. Conforme vimos acima, o adultério é sinônimo de infidelidade, falsificação e fraude. Evidentemente, em qualquer relação humana onde há infidelidade, falsificação e fraude, os resultados serão trágicos. No caso da relação conjugal, onde há intimidade absoluta, a situação fica muito pior. O adultério destrói a confiança, causa feridas, sofrimentos, depressão e humilha a parte traída. 

Além disso, afronta à santidade de Deus e contraria a sua vontade, que a família, para que o marido e a esposa fossem uma só carne, propiciando um ambiente saudável e harmonioso para a criação dos filhos. O autor da Epístola aos Hebreus diz: “Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula; porém aos que se dão à prostituição e aos adúlteros Deus os julgará.” (Hb13.4). Então, além dos males causados ao cônjuge traído, aos seus familiares e aos filhos, os adúlteros enfrentarão também o julgamento de Deus. 


4. Como evitar o adultério. O primeiro passo para evitar o adultério físico é fechar todas as brechas. O adversário anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar. Não devemos jamais flertar com o adultério, pois é algo perigoso. Começa com um olhar, depois um pensamento e por fim, o ato consumado. Ser tentado, não é pecado. Mas, ceder a tentação é. Para um homem casado, a melhor maneira de fechar as portas ao adultério é sempre que possível andar com a esposa e evitar ao máximo conversar a sós com outras mulheres, principalmente as que são atraentes. O homem normalmente é atraído pelo que vê. Portanto, não devemos jamais direcionar os nossos olhos para outra mulher que não seja a nossa esposa. Primeiro vem o olhar, depois a atração (que já é pecado) e se for correspondido, a relação adúltera. No caso das mulheres, o que mais lhe atrai são as palavras e a amabilidade. Portanto, devem tomar cuidado com elogios vindos de outro homem que não seja o seu esposo. Isso pode levá-la a uma atração ou até uma relação adúltera. Paulo nos recomenda a fugir da imoralidade (1 Co 6.18). A vigilância é uma arma muito importante contra o adultério, mas, a principal arma é submeter o nosso corpo ao domínio do Espírito Santo conforme veremos no próximo tópico.


REFERÊNCIAS:

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 89-93.

PFEIFFER, Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pág. 35-36.

TENNEY, Merril C. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 1. pág. 132-133.

LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pág. 201.

RENOVATO, Elinaldo. A Família Cristã e os Ataques do Inimigo. Editora CPAD. 1ª edição: 2013. pág. 68.

CHAMPLIN, Russell Norman. Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 2558-2559.

Mesquita. Antônio Neves de. Provérbios. Editora JUERP.


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Pb. Weliano Pires

26 abril 2022

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 5: O CASAMENTO É PARA SEMPRE


REVISÃO DA LIÇÃO PASSADA

Na lição passada estudamos sobre a abrangência que Jesus dá à Lei moral, principalmente ao sexto mandamento, que proíbe o homicídio. O nosso tema foi: Resguardando-se de sentimentos ruins. Jesus nos mostra que o "não matarás" não se resume à execução do assassinato, mas inicia-se com o ódio ao próximo. 


No primeiro tópico da lição vimos que o Evangelho não é antinomista, ou seja, não é contrário à lei. Vimos também a definição da palavra antinomismo. Falamos sobre a relação entre a Lei e o Evangelho e sobre os extremos que devemos evitar: o antinomismo e o legalismo. 


No segundo tópico, vimos que a cólera é o primeiro passo para o homicídio. Falaremos sobre as implicações do sexto mandamento do decálogo. Depois abordamos o sentimento de ira do ponto de vista bíblico. Por último falamos sobre o valor da pessoa humana. 


No terceiro e último tópico, falamos sobre o ato de ofertar e a desavença. A oferta do altar é um ato de adoração a Deus, onde o ofertante reconhece a sua dependência de Deus e entrega-lhe uma oferta como forma de gratidão. Por outro lado, Jesus alerta que as desavenças com o próximo afrontam também a Deus e, portanto, antes de entregar a oferta, devemos primeiro entrar em acordo com o próximo e eliminar as desavenças. 


INTRODUÇÃO À LIÇÃO 5


Na parte do Sermão do Monte, em que Jesus contrapõe a sua interpretação da Lei com o ensino dos escribas e fariseus, Jesus coloca seis contrapontos (Ouvistes que foi dito aos antigos…Eu porém vos digo) que os estudiosos chamam de antíteses: a proibição do homicídio (Mt 5.21-26); a proibição do adultério (Mt 5.27-30); a questão do divórcio (Mt 5.31,32); a proibição dos juramentos (Mt 5.33-37); a lei do talião (Mt 5.38-42); o amor ao próximo (v. 43-47). 

Na lição desta semana estudaremos a segunda e terceira antítese: A proibição do adultério e do divórcio. Ambas estão relacionadas à indissolubilidade do casamento. De novo, Jesus contrapõe o seu ensino com entendimento dos rabinos que atentavam apenas para o caráter exterior da Lei. A Lei continha dois mandamentos no decálogo sobre este assunto: Não adulterarás e não cobiçarás a mulher do teu próximo. Entretanto, para os rabinos o adultério acontecia apenas na chamada conjunção carnal, ou seja quando era consumado fisicamente. Jesus, porém, diz que tudo começa no coração, ou seja, no interior do ser humano.


No primeiro tópico da lição falaremos sobre a condenação do adultério. Abordaremos a definição de adultério e o significado bíblico deste pecado. Falaremos sobre o posicionamento de Jesus sobre o adultério no Sermão do Monte. Por último mostraremos os males e prejuízos causados pela prática do adultério. 


No segundo tópico, veremos que, o que rege o coração, regerá o corpo. Veremos neste tópico a definição e significado bíblico da palavra traduzida por coração. Depois veremos que o homem é aquilo que ele pensa. Ou seja, os nossos pensamentos determinam as nossas ações e a nossa conduta. Por último, veremos que o caminho para dominar o próprio corpo é sujeitá-lo ao domínio e dependência do Espírito Santo.


No terceiro e último tópico, falaremos sobre a indissolubilidade do casamento. Enfatizaremos o casamento sob a perspectiva bíblica, que é heterossexual, monogâmico e vitalício. Depois, veremos o que fazer para que o casamento dure até à morte. Por último, veremos que no ensino de Jesus, o casamento é indissolúvel e que o divórcio contraria a vontade de Deus. O padrão divino desde o Éden é: os dois serão uma só carne (Gn 2.23,24).


Pb. Weliano Pires

REFERÊNCIAS: 

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 86-88.

SPROUL, R. C. Estudos bíblicos expositivos em Mateus. 1° Ed 2017 Editora Cultura Cristã. pag. 93.

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. 2a Impressão: 2010. Vol. 1. pag. 41.


A “OFERTA DO ALTAR” E A DESAVENÇA



Neste terceiro tópico, falaremos sobre o ato de ofertar e a desavença. A oferta do altar é um ato de adoração a Deus, onde o ofertante reconhece a sua dependência de Deus e entrega-lhe uma oferta como forma de gratidão. Por outro lado, Jesus alerta que as desavenças com o próximo afrontam também a Deus e, portanto, antes de entregar a oferta, devemos primeiro entrar em acordo com o próximo e eliminar as desavenças. 


1- A oferta do altar. Para os judeus, o momento da oferta e do sacrifício era sagrado. Uma vez ao ano, eles iam a Jerusalém oferecer sacrifícios aos Senhor e traziam as suas ofertas. Com isso, reconheciam a bondade e provisão de Deus. Eles entendiam que trazer a oferta diante de Deus era o suficiente. Infelizmente, muitas pessoas em nossos dias já pessoas que pensam dessa forma e entendem que basta dizimar e ofertar no templo que está tudo certo. Há ainda aqueles que pensam em barganhar com Deus, achando que podem comprar o favor de Deus. 

De fato a oferta ao Senhor é um momento especial e deve ser feito com alegria e gratidão. Quando ofertamos a Deus, reconhecemos que tudo pertence a Ele e demonstramos a nossa gratidão por tudo o que Ele nos deu. Entretanto, antes de oferecer alguma coisa ao Senhor devemos nos relacionar com Ele, servindo-o de todo o nosso coração. Antes de aceitar a oferta, Deus aceita o ofertante. Deus atentou para Abel e para a sua oferta, ao passo que rejeitou Caim e a sua oferta. (Gn 4.4,5). 


2- Evitando a desavença. Nos versículos 23 e 25, o Senhor Jesus diz que a desavença é incompatível com a oferta. Portanto, se ao ofertar, o cristão lembrar que o seu irmão tem alguma coisa contra ele, deve deixar ali a sua oferta e reconciliar-se primeiro antes de ofertar. Na sequência, nos versículos 25 e 26, o Senhor alerta para a reconciliação antes do caso chegar aos tribunais. Naquela época, os devedores podiam ser levados aos tribunais pelos próprio credores. Os devedores eram presos e se ninguém pagasse a dívida poderiam passar o resto da vida na prisão.

O que o Senhor Jesus alerta nessa parte do Sermão é que os seus discípulos evitem as desavenças e, caso elas sejam inevitáveis, busquem um acordo antes que a desavença seja julgada nos tribunais, onde as consequências serão muito piores. Muitos desentendimentos poderia ser resolvidos pacificamente, se houvesse humildade e perdão de ambas as partes. Em muitos casos não basta o perdão, é preciso haver também a reparação ou amenização dos danos causados. 

O apóstolo Paulo escreveu aos Coríntios sobre este assunto e disse que já é demais haver desavenças entre irmãos. Pior ainda é o caso ser levado aos tribunais perante ímpios. Paulo recomenda que pessoas sábias da Igreja julguem os casos com sabedoria para evitar escândalos. (1 Co 6.1-8). Infelizmente, em nosso dias, vemos crentes que causam prejuízos aos irmãos e não honram as suas dívidas. Muitos casos vão parar na Justiça, causando escândalo ao Evangelho. Até pastores processam uns aos outros. 

Alguns teólogos entendem que o ensino de Jesus aqui não se refere apenas ao aspecto terreno, mas se aplica também à reconciliação com Deus. O pecador, enquanto tem vida tem a oportunidade de pedir perdão a Deus e se reconciliar com Ele. Hoje, o Senhor Jesus atua como advogado e Salvador. Entretanto, no Juízo Final, Ele atuará como Juiz e condenará os pecadores que não se reconciliaram ao inferno, uma prisão da qual não terão como sair. 


Pb. Weliano Pires


REFERÊNCIAS:

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 83-85.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO. Edição completa. Editora CPAD. pág. 53.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento. Mateus. Editora Cultura Cristã. pag. 420-421.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO. Edição completa. Editora CPAD. pág. 53-54.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento. Mateus. Editora Cultura Cristã. pag. 421-423.

BARCLAY, William. O Novo Testamento. Mateus. pág. 156-158.

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio Janeiro: CPAD, 2004, p.1225).

A CÓLERA É O PRIMEIRO ATO PARA O HOMICÍDIO



O sexto mandamento proibia o assassinato doloso (com intenção de matar) por maldade. Diferente do que muitos imaginam, não estavam inclusos no sexto mandamento matar alguém em legítima defesa, a pena capital e as mortes na guerra. Se alguém matasse por acidente, tinha direito a se abrigar em uma das cidades de refúgio. Nestas cidades,  não poderia sofrer vingança, mas estaria sujeito ao julgamento dos juízes da cidade. Neste segundo tópico, veremos que a cólera é o primeiro passo para o homicídio. Falaremos sobre as implicações do sexto mandamento do decálogo. Depois abordaremos o sentimento de ira do ponto de vista bíblico. Por último falaremos sobre o valor da pessoa humana. 

1 - Jesus e o sexto mandamento. Jesus não anulou o sexto mandamento que diz: "Não matarás" (Ex 20.13). Nem tampouco o amenizou. Jesus deu-lhe uma interpretação mais profunda, que vai muito além da consumação do ato do assassinato. O mestre fez a seguinte afirmação:  "Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo." (Mt 5.21). A expressão "Ouvistes o que foi dito aos antigos", não é uma referência ao texto da Lei e sim à explicação que os rabinos davam a ela. Se fosse uma referência à Lei, Jesus teria dito: "Está escrito", como disse ao diabo, na ocasião da tentação. Naquela época as pessoas não tinham cópias das Escrituras em suas casas e dependiam da leitura e explicação que ouviam nas Sinagogas. 

Quando Jesus diz: "Eu, porém, vos digo…" (Mt 5.21,27,33,34,43), não está demonstrando prepotência ou alterando a Lei de Deus. Ele está mostrando a própria autoridade como Filho de Deus. Os profetas do Antigo Testamento, inclusive Moisés, diziam: Assim diz o Senhor, veio a mim a Palavra do Senhor, etc. Eles não falavam em seu próprio nome, mas eram porta-vozes de Deus. Jesus, no entanto, sendo Deus, dizia: Eu, porém, vos digo, na verdade vos digo, Eu sou, etc. 

Jesus não está alterando o conceito de não matarás, prescrito na Lei. Ele está colocando o verdadeiro significado da Lei, que não foi devidamente compreendido pelos escribas e fariseus. Quando a lei proíbe alguma coisa, ela está também ordenando o contrário e quando ordena alguma coisa está proibindo o contrário, mesmo que não esteja explicitamente escrito. Por exemplo, quanto Deus diz para não matar, além de proibir o assassinato, está também ordenando que façamos o possível para proteger a vida do próximo. Sendo assim, de nada adianta não matar alguém diretamente, mas causar a sua morte por omissão. 

2 - A cólera no contexto bíblico. Jesus vai muito além do entendimento dos mestres judaicos sobre a Lei. O Senhor fala sobre a origem do assassinato que é a ira contra o seu irmão. Os doutores da Lei pensavam que a Lei proibia apenas a consumação do ato pecaminoso de matar. Jesus, no entanto, diz que as intenções assassinas também são condenadas.  

Segundo Warren Wiersbe, "Jesus não diz que a ira conduz ao homicídio, mas sim que a ira é uma forma de homicídio”. Quando Jesus fala sobre a cólera, a palavra usada no grego é "orge", que significa uma fúria interna que se multiplica. É diferente de "thymos", que é uma ira passageira. No Salmo 4.4, o salmista diz que um servo de Deus pode irar-se, mas não deve pecar. Paulo cita este texto, escrevendo aos Efésios. Ef 4.26). Nesse caso, é uma referência à ira natural, como uma emoção humana. Muitos servos de Deus como Elias, Eliseu e o próprio Jesus ficaram irados contra o pecado. Entretanto, esta ira não é uma obra da carne que domina o homem e o leva a praticar o mal contra o próximo. Paulo recomenda que não devemos deixar que a nossa ira passe de um dia para o outro (Ef 4.26). 

Jesus está se referindo à cólera "sem motivos" contra o próximo, que é capaz de fazer-lhe mal, mesmo que não chegue ao ponto de assassiná-lo fisicamente. Há pessoas que não matam por falta de coragem, ou por medo das consequências. Entretanto, caluniam, destroem reputações, causam demissões, separações, etc. porque odeiam a outra pessoa. Foi esse tipo de ira que dominou Caim e levou a assassinar o seu irmão Abel, sem motivo algum (Gn 4.5-8; 1Jo 3.12).


3- O valor da pessoa humana. Depois de colocar a ira contra um irmão no mesmo patamar de um assassinato, Jesus defende agora o valor da dignidade da pessoa humana. Nesta perspectiva, o Senhor condena o desrespeito à pessoa humana e a humilhação do próximo com palavras desdenhosas.

Jesus diz que qualquer que chamar ao seu próximo de raca, será réu do Sinédrio e, se chamá-lo de louco, será réu do fogo do inferno. A palavra transliterada por raca é "rhaká" é um substantivo de origem aramaica, que significa "vazio", "inútil", "cabeça-oca". Era uma forma de diminuir e humilhar alguém. Já a palavra traduzida por "louco" é  "moros" e significa "tolo, ímpio, incrédulo, idiota, retardado mental." É uma forma de depreciar espiritualmente uma pessoa ou considerá-la moralmente desprezível.  No primeiro caso, Jesus diz que que, aquele que trata o próximo dessa forma é réu do Sinédrio e no segundo caso é réu do fogo do inferno (Grego Geena, uma referência à condenação eterna). 

Esta interpretação que Jesus dá à Lei nos ensina que devemos respeitar as pessoas e nunca humilhar a ninguém com palavras desprezíveis. Infelizmente, há pessoas que se dizem cristãs, que por coisas banais, ofendem, ferem e humilham os outros, com palavras de baixo calão. Isso é gravíssimo.


Pb. Weliano Pires


REFERÊNCIAS

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 4. pag. 611.

LOPES, Hernandes Dias. EFÉSIOS Igreja, A Noiva Gloriosa de Cristo. Editora Hagnos. pág. 121-122.

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 80-81.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pág. 52.

LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pág. 198-199.