Eu sou asembleiano desde a infância. Gosto
muito da minha Igreja, até porque foi através dela que os meus pais e eu
conhecemos a Cristo.
A Assembléia de Deus, maior
denominação evangélica pentecostal do mundo, nasceu em Belém - PA, em 1911 após
os missionários suecos, Daniel Berg e Gunnar Vingren, terem sido expulsos da
Igreja Batista, por pregarem a doutrina pentecostal. Inicialmente, o seu nome
era "Missão da Fé Apostólica". Somente em 1918, passou a chamar - se
Assembleia de Deus.
As características iniciais
desta Igreja sempre foram o ensino da Palavra de Deus e a manifestação dos Dons
Espirituais. Porém, com a passagem da liderança dos missionários suecos, que
eram profundos conhecedores da Palavra de Deus, para pastores brasileiros, a
ênfase da denominação passou a ser voltada para usos e costumes, e regras e
proibições, das mais absurdas. Durante muitos anos, os assembleianos foram proibidos
de jogar futebol, ouvir rádio e ver televisão; os homens eram obrigados a usar
chapéus, calça social e camisa manga longa com uma camiseta por baixo,
independente do clima; as mulheres eram submetidas a regras muito rigorosas
como: não se depilar, não usar maquiagem, não cortar o cabelo, usar saias
longas e blusas de mangas compridas, não usar saltos, etc.
Uma coisa que sempre fez parte
da cultura assembleiana foi a sua resistência aos seminários teológicos. Embora
sempre tenha dado muita ênfase à Escola Dominical e às Escolas Bíblicas de
Obreiros, muitos pastores assembleianos antigos não aceitavam o ensino
sistemático de teologia. O Pr. Cícero Canuto de Lima, que foi Presidente do
Ministério do Belém durante muitos anos, dizia que os seminários eram 'fábricas
de pastores'. Outro argumento usado contra o ensino teológico é o de que ele
'esfria o crente', ou torna-o exaltado, arrogante e insubmisso.
Com a vinda de missionários
como Bernard Johnson e Eurico Bergstén, que eram professores de teologia, isso
foi mudando aos poucos. O primeiro, fundou a EETAD (Escola de Educação Teológica
das Assembléias de Deus) em Campinas SP. O segundo, escreveu vários livros
sobre teologia sistemática e incentivava o ensino teológico nas Assembléias de
Deus no Brasil. Pastores brasileiros como Antonio Gilberto e outros, estudaram
teologia nos Estados Unidos e também se dedicaram muito à teologia
assembleiana. O Pr João Kolenda fundou, em Pindamonhanga-SP, o IBAD (Instituto
Bíblico das Assembléias de Deus), um seminário com formato de internato, que
formou vários teólogos assembleianos, que hoje são escritores da CPAD.
Entretanto, havia muita resistência, por parte de algumas lideranças nacionais
da Igreja.
Nas décadas de 80 e 90 vários
seminários foram criados e a Igreja foi percebendo a necessidade do ensino
teológico, principalmente para os obreiros. Depois, a CGADB (Convenção Geral da
Assembléias de Deus Brasil) decidiu que a formação teológica deveria ser
obrigatória para os candidatos ao Ministério. Porém, mesmo assim, alguns
pastores aceitavam que os candidatos que, apenas estivessem matriculados em um curso
teológico, já poderiam ser aprovados para o Ministério. Alguns obreiros se
matriculavam, apenas para serem consagrados. Depois da consagração, abandonavam
o curso.
Essa resistência histórica ao
estudo teológico gerou alguns crentes que, por não entenderem nada de teologia,
repetem os mesmos argumentos falaciosos de antigamente e fazem apologia à
ignorância, como se esta fosse uma virtude.
É comum ouvirmos nos púlpitos
assembleianos, pastores falarem que 'teologia não expulsa demônio', ou que 'não
precisamos saber quantos parafusos haviam na Arca de Noé' e que 'para pregar
basta falar que Jesus é bom'. Quanta ignorância! Quem disse que a teologia se
propõe a fazer exorcismo ou a contar parafusos?
Ora, a teologia se propõe a
estudar sistematicamente a Palavra de Deus, tendo como base principal aquilo
que o próprio Deus nos revelou através das Escrituras Sagradas. A teologia
bíblica não cria doutrinas. Ela apenas cataloga estas doutrinas e põe-nas em ordem, para uma
melhor compreensão do conteúdo bíblico.
Considerando que a Bíblia foi
escrita em lugares, culturas, épocas e idiomas muito diferentes daquilo que
vivemos hoje, precisamos evidentemente, conhecer estas coisas, para entender a
Bíblia. Aliás, se não fosse o estudo teológico, nem Bíblia em Português nós
teríamos e, certamente, não seríamos evangélicos. Estaríamos, provavelmente,
adorando imagens de escultura, ou fazendo penitências para tentar ser salvo.
Quando estudamos os idiomas
originais da Bíblia, o hebraico, o aramaico e o grego, não é para 'falar
bonito' ou pregar em outros idiomas na Igreja. O estudo destes idiomas, mesmo
que em parte, nos ajuda a compreender o real sentido dos textos bíblicos e
evita interpretações equivocadas. Da mesma forma, quando estudamos a
hermenêutica, ciência da interpretação de textos antigos, é para interpretar
corretamente o texto bíblico e evitar a distorção. Outra matéria muito
importante da teologia, que é muito ridicularizada pelos apologistas da
ignorância, é a homilética. Na opinião deles, estuda-se homilética para 'falar
difícil', usando expressões desconhecidas do público, para demonstrar erudição.
O que eles não sabem ou fingem não saber, é que a homiletica faz exatamente o
contrário disso. O objetivo da homilética é aperfeiçoar o discurso, para que
este tenha conteúdo e seja compreendido pelos ouvintes. Na homilética
aprendemos a elaborar sermões com tema, introdução, argumentação e conclusão.
Além disso, aprendemos a ter postura e linguagem que não atrapalhem a atenção
dos ouvintes. Uma pregação assim, faz com que o pregador pregue a Palavra de
Deus de forma eficiente, sendo compreendido e aproveitando melhor o tempo.
Não entendo porque pastores e
pregadores assembleianos continuam contrapondo o estudo teológico com a
humildade ou com a oração, como se fossem conceitos opostos. Ora, o fato de
alguém ser teólogo não o torna, necessariamente soberbo, nem impede que ele
tenha uma vida piedosa e de oração. O contrário também é verdadeiro. Não é
porque alguém é um analfabeto teológico, que será obrigatoriamente, humilde ou
uma pessoa piedosa. Uma coisa não exclui, nem substitui a outra.
Parece que dá audiência falar
contra teologia e contra o conhecimento nos púlpitos assembleianos. Estas
pessoas talvez não se dão conta, mas, com esta atitude estão desestimulando os
obreiros mais novos de estudarem a Palavra de Deus. Isso trará grande prejuízo
tanto para os futuros obreiros, quanto para a própria Igreja.
Que Deus lhes dê discernimento.
Pb. Weliano Pires.