(Comentário do 3⁰ tópico da lição 04: A estrutura da Bíblia)
No tópico anterior fizemos uma exposição panorâmica do Antigo Testamento, falando sobre os seus livros, canonicidade e algumas particularidades. Neste terceiro tópico faremos o mesmo com o Novo Testamento.
O Novo Testamento representa o cumprimento e a explicação do Antigo Testamento. Muitas coisas que eram incompreensíveis no antigo pacto se tornam claras no Novo Testamento. Os tipos, figuras alegorias e profecias se tornam claras com o registro do Novo Testamento.
Diferente do Antigo Testamento, que demorou mais de mil anos para ser escrito, o Novo Testamento demorou menos de um século. Os apóstolos do Senhor e pessoas ligadas a eles como Marcos e Lucas, foram inspirados pelo Espírito Santo para escrever os registros do ministério terreno de Nosso Senhor Jesus Cristo, a descida do Espírito Santo, as doutrinas da Igreja Cristã e as revelações das últimas coisas que em breve irão acontecer.
1. Os livros do Novo Testamento. Os livros do Novo Testamento, assim como os do Antigo Testamento, também não estão classificados na ordem em que foram escritos, nem na ordem em que os fatos aconteceram. Foram classificados por assuntos, divididos em quatro grupos: Evangelho, História, Epístolas e Revelação.
a. Evangelhos. São os livros de Mateus, Marcos, Lucas e João. Estes livros registram o ministério terreno do Senhor Jesus. Encontramos nestes livros, a genealogia de Jesus Cristo, os registros do anúncio do nascimento de Jesus pelo Anjo Gabriel, as circunstâncias do nascimento de Jesus, os seus discursos, os milagres, a sua prisão, morte, ressurreição e ascensão ao Céu. Os livros de Mateus, Marcos e Lucas são chamados de "Evangelhos Sinóticos" devido à semelhança dos relatos. Já o Evangelho segundo João, destoa um pouco, pois dá ênfase ao ministério de Jesus na vida adulta e aponta para a sua divindade.
b. Histórico. Temos apenas um livro histórico no Novo Testamento, que é o livro de Atos dos Apóstolos, que foi escrito por Lucas, o 'médico amado', historiador, companheiro de ministério do apóstolo Paulo. Este livro relata os últimos momentos de Jesus com os seus discípulos, após a sua ressurreição e a sua ascensão ao Céu. Em seguida, relata o início da história da Igreja Primitiva, com a descida do Espírito Santo. Nos 12 capítulos iniciais, temos o protagonismo de Pedro e João, como principais líderes da Igreja. No capítulo 9 temos a conversão de Saulo de Tarso, e a partir do capítulo 13, a ênfase recai sobre ele e o trabalho missionário de Paulo e Barnabé, terminando com a sua prisão de Paulo no templo, em Jerusalém.
c. Epístolas. As Epístolas foram livros escritos pelos apóstolos a Igrejas específicas, outras à Igreja em geral e algumas foram escritas a uma pessoa em particular. Nas Epístolas temos a sistematização das doutrinas cristãs para a Igreja em todas as épocas. Entre as Epístolas temos dois tipos:
1. Epístolas Paulinas. São as que foram escritas pelo apóstolo Paulo: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e Filemon. Entre as Epístolas Paulinas ainda há também outras denominações que os teólogos colocam, de acordo com o assunto ou a circunstância em que foram escritas:
Cartas escatológicas: São as que dão maior ênfase aos assuntos relacionados às últimas coisas: 1 e 2 Tessalonicenses.
Cartas soteriológicas: São as que falam mais sobre a doutrina da salvação: Romanos, 1 e 2 Coríntios e Gálatas.
Cartas da prisão: São as que foram escritas durante a prisão do apóstolo Paulo: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom.
Cartas pastorais: São as que foram escritas pelo apóstolo Paulo a um pastor, com orientações ministeriais: 1 e 2 Timóteo e Tito. (2 Timóteo também é considerada epístola da prisão, pois foi redigida na prisão).
2. Epístolas Gerais. São as Epístolas escritas para serem lidas em todas as Igrejas e que não tinham destinatário específico. Neste grupo estão: Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2, 3 João e Judas. A Epístola aos Hebreus é considerada por muitos como Epístola Paulina. Em algumas traduções antigas do Novo Testamento, chegou a ser colocado título de "Carta de Paulo aos Hebreus". Mas, por falta de elementos no texto da Epístola que justificassem a autoria Paulina, como por exemplo a identificação, logo no prefácio, que acontece em todas as suas Epístolas, a maioria dos teólogos afirmam que autoria de Hebreus é desconhecida.
d) Revelação. Neste grupo consta apenas o livro do Apocalipse, que traz as revelações de Jesus ao apóstolo João, quando este se encontrava exilado na Ilha de Patmos. O livro contém o prefácio de João e a aparição de Jesus ressuscitado ao velho apóstolo. Depois, contém sete cartas de Jesus aos líderes de sete Igrejas da Ásia Menor: Éfeso, Esmirna, Sardes, Pérgamo, Tiatira, Filadélfia e Laodicéia. Depois, uma série de revelações sobre os juízos de Deus sobre a humanidade na Grande Tribulação, as visões do Milênio, a Nova Jerusalém, o Juízo Final e a eternidade.
Assim está dividido o Novo Testamento, totalizando 27 livros canônicos, que são chamados pelos próprios apóstolos de Escrituras e de Palavra do Espírito Santo, que foram divinamente inspiradas. (1 Co 2.13; 2 Tm 3.16; 2 Pe 1.21).
2. Canonicidade do Novo Testamento. Logo nos primeiros anos do Cristianismo, surgiram falsos ensinos, propagados por falsos profetas e falsos mestres, com conteúdos gnósticos, judaizantes e outros. Isso já havia sido alertado pelo Senhor Jesus (Mt 7.15; Mc 13.22) e depois por Paulo, Pedro, Judas e João. No final do primeiro século todos os 27 livros do Novo Testamento já haviam sido escritos. A autoridade deles não era questionada e eram tidos como de grande valia para as Igrejas. Entretanto, não havia ainda uma relação dos livros considerados inspirados por Deus, como já acontecia com os livros do Antigo Testamento.
Através dos escritos dos pais da igreja, como Clemente de Roma, Inácio, Policarpo e Papias sabemos que os Evangelhos e os escritos do apóstolo Paulo eram considerados como Escritura. Policarpo e Clemente de Alexandria, também fazem menção em seus escritos, aos evangelhos de Mateus e de Lucas. Isso nos leva a crer que por volta da metade do século II, já havia uma coletânea dos quatro evangelhos, que eram lidos e reconhecidos nas Igrejas como Escrituras Sagradas.
Somente em 145 d.C. um heresiarca chamado Marcion ou Marcião, publicou a primeira lista de livros que ele considerava sagrados: 10 cartas de Paulo, excluindo as chamadas cartas pastorais, e uma versão adulterada do evangelho de Lucas, segundo ele, livre das influências vétero-testamentárias e judaizantes. Marcion acreditava que havia dois deuses: O Deus do Antigo Testamento e o Deus do Novo Testamento. O Deus do Antigo Testamento seria “um deus justo e iracundo”, que, “irado”, preparou a crucificação de Cristo.
A partir desta lista de Marcião, a Igreja viu a necessidade de definir os livros considerados inspirados por Deus e iniciaram-se as discussões. No final do século II, nos escritos de Irineu, Tertuliano e Clemente de Alexandria é possível perceber um cânon em formação, que incluía os quatro Evangelhos, Atos dos Apóstolos, 13 cartas de Paulo, 1 Pedro, 1 João e o Apocalipse.
Somente no final do Século IV é que o processo de reconhecimento do Cânon chegou ao fim. Por meio da 39º Carta Pascal de Atanásio, foram declarados canônicos os 27 livros que compõem o Novo Testamento. Essa definição foi aceita pela igreja do Ocidente nos sínodos de Hipona Régia, em 393 e de Cartago, em 397 d.C.
Os critérios de avaliação de canonicidade dos livros no Novo Testamento foram semelhantes aos que foram utilizados em relação ao Antigo Testamento. Foram estabelecidos os seguintes critérios para o reconhecimento destes livros como Palavra de Deus:
O Testemunho Interno do Espírito Santo;
Origem Apostólica ou de alguém muito próximo aos apóstolos;
O Conteúdo dos Livros em relação ao restante das Escrituras;
As Evidências Internas do restante do Novo Testamento.
3. Particularidades do Novo testamento. Os escritos do Novo Testamento foram escritos aproximadamente nesta ordem:
A Epístola de Tiago, entre os anos de 49 d.C;
As Epístolas de Paulo Gálatas, entre 49 d.C;
1 Tessalonicenses, por volta de 51 d.C.;
2 Tessalonicenses, entre 51 e 52 d.C.;
Aos Coríntios, aproximadamente 55 d.C.;
Aos Romanos, entre 55 e 57 d.C.
Depois disso, foram escritos os Evangelhos Sinóticos Mateus, Marcos e Lucas, entre 60 e 70 d.C. Uns dizem que Mateus foi o primeiro e Marcos, o segundo. Outros dizem que Marcos foi escrito primeiro.
Depois destas Epístolas, foram escritos os Evangelhos de Mateus e Marcos.
Entre 60 e 62 d.C. foram escritos Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom.
A primeira Epístola de Pedro foi escrita entre os anos 60 e 68 d.C.
1 Timóteo e Tito foram escritas entre 62 e 64 d.C.; Atos dos apóstolos, escrito aproximadamente em 63 d.C.;
2 Timóteo entre 64 e 68 d.C.; 2 Pedro, entre 65 e 67 d.C.;
A Epístola de Judas, entre 65 e 69 d.C.;
A Epístola aos Hebreus, 67 d.C.;
O Evangelho de João, escrito entre 85 e 90 d.C.;
1 João, entre 85 e 95 d.C.;
2 e 3 João em 90 d.C.
Por último, o livro do Apocalipse, escrito entre 94 e 96 d.C.
O idioma usado na escrita do Novo Testamento foi o grego koiné, dialeto grego que era a língua comum de todo o mundo do Mediterrâneo no primeiro século da era cristã. O koiné não era a linguagem dos intelectuais gregos. Era a língua do trabalhador, do camponês, do vendedor e da dona de casa. Nenhum estudioso da atualidade estudaria o grego koiné, se não fosse ele o idioma do Novo Testamento. Deus quis que a sua Palavra fosse compreendida por todos e, por isso, escolheu a linguagem mais popular de todo império romano. Há também algumas expressões no Novo Testamento que foram escritas em aramaico: Talita cumi “Menina, levanta -te” (Mc 5.41); Aba Pai, “Pai, pai; ‘Meu Pai” (Mc 14.36); Eloí, Eloí, lamá sabactâni? “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mc 15.34).
REFERÊNCIAS:
BAPTISTA, Douglas. A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.
REVISED, Joseph Angus. História, Doutrina e Interpretação da Bíblia. Editora Hagnos, 1 Ed. 2008.
COMFORT, Philip Wesley. A Origem da Bíblia. Editora CPAD. pag. 22-23.
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 1. pag. 636.
REVISED, Joseph Angus. História, Doutrina e Interpretação da Bíblia. Editora Hagnos, 1 Ed. 2008.
Biblioteca Bíblica: bibliotecabiblica.blogspot.com/2009/08/o-canon-do-novo-testamento.html. Acesso em 21/01/2022.
CACP (Centro Apologético Cristão de Pesquisas): cacp.org.br/marcionismo-moderno Acesso em 21/01/2021.
Estilo Adoração: estiloadoracao.com/cartas-de-paulo
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Pb. Weliano Pires
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