Comentário do 1° tópico da lição 5: Como ler as Escrituras)
Nos primeiros anos de escola, assim que o aluno aprende a ler, logo em seguida são passadas narrativas para ele ler. Após a leitura vem os exercícios de interpretação do texto lido, para desenvolver a sua capacidade de interpretação de texto. Isto acontece porque não basta ler um texto, é preciso entender o que se leu. Com a Bíblia não é diferente. Além de lê-la, precisamos também compreender aquilo que lemos. Entretanto, não é uma tarefa tão simples. Interpretar um texto que foi escrito em nossa própria língua, em nosso país, em uma época próxima à que vivemos pode ser relativamente fácil. Mas, no caso da Bíblia, devido às nossas limitações, por causa da nossa natureza pecaminosa e por causa das particularidades da Bíblia, necessitamos de ferramentas que nos auxiliem na interpretação dos textos bíblicos.
1. A importância da exegese. A palavra "exegese" vem de dois termos gregos "ex" (fora) e "agein" (guiar). Significa, portanto, literalmente "guiar para fora". A junção destes dois termos deu origem à palavra exegese, que significa extrair de um texto o seu sentido ou intenção original. Em relação à Bíblia, o papel da exegese é buscar o significado e a intenção originais do texto bíblico e trazê-los ao leitor atual. Para se fazer uma exegese do texto bíblico, o leitor deve esvaziar-se completamente das suas ideologias e convicções pessoais e deixar que o texto fale por si mesmo.
É muito importante que o intérprete da Bíblia, ao fazer a exegese do texto tenha em mãos um dicionário de língua portuguesa, um dicionário bíblico, uma concordância bíblica, um dicionário de palavras-chaves em hebraico e grego e mais de uma versão da Bíblia. Isso, certamente ajudará na compreensão e busca do sentido original dos textos bíblicos. Eu recomendo a Bíblia de Estudo Palavra-Chave, publicada pela CPAD, e a Concordância Bíblica de Stong. Ao contrário da exegese, existe outra ferramenta chamada "eisegese", que faz o oposto. Na eisegese, o intérprete traz as próprias teorias e convicções para dentro do texto bíblico e procura justificá-las usando a Bíblia, querendo fazê-la dizer aquilo que ela não diz.
2. As limitações dos leitores. Todos nós, sem exceção alguma, somos limitados em vários aspectos. A primeira limitação que temos ao ler a Bíblia é a própria língua portuguesa. Na tradução da Bíblia para a nossa língua, feita por João Ferreira de Almeida e seus colaboradores, pois, ele morreu antes de concluída, foi usada uma linguagem culta, com características do português de Portugal. Naquela época, não se usavam pronomes de tratamento e muitas palavras surgiram depois, ou foram perdendo o seu sentido original. Muitos de nós temos dificuldade para entender a língua portuguesa, conjugar corretamente os seus verbos, usar a acentuação e pontuação adequados, entender as colocações pronominais, etc. Isso dificulta o entendimento do texto bíblico, mesmo em português. Vou citar três exemplos, que ilustram bem esta situação:
Exemplo 1:
Certa vez um presbítero, muito sério, por quem tenho muita consideração, leu o texto de João 4.26, da seguinte maneira: "Jesus disse-lhe: Eu sou eu, que falo contigo." Em seguida, começou a pregar, com a seguinte indagação: Será que eu posso dizer: eu sou eu? Eu não sou nada! Mas, Jesus,pode dizer: Eu sou eu!
Embora ele estivesse correto em dizer que não somos nada, o texto que ele havia lido não diz "Eu sou eu". A mulher samaritana havia dito a Jesus, no versículo anterior:
– Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo."
Jesus, então lhe respondeu:
– Eu o sou, eu que falo contigo.
O pregador subtraiu do texto o pronome oblíquo "O" e provavelmente não compreendeu o que ele significa. Este pronome substitui a palavra Messias. Em uma linguagem mais atualizada seria:
– Eu sou o Messias, eu que estou falando com você.
Exemplo 2.
Em uma reportagem, apareceu a história de um certo "pastor", que supostamente teve uma revelação para que tivesse filho com uma mulher casada, da Igreja que ele era pastor. Para justificar esta abominação, ele usou o texto de Oséias 3.1 e leu-o da seguinte forma: "...Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo e ADULTERA como o SENHOR ama os filhos de Israel…". Ele leu o texto, suprimindo o acento agudo e transformou o adjetivo "adúltera" no verbo adultera e entendeu que Deus havia mandado adulterar. O próprio repórter pediu para ver o texto e o questionou:
– Mas tem um acento aqui, pastor! Aqui está dizendo “adúltera” e não “adultera.”
Exemplo 3
Muitas pessoas lêem o texto de Romanos 12.13a: "Comunicai com os santos nas suas necessidades…" e concluem que devemos contar aos santos as nossas dificuldades. Mas não é isso que o texto diz. Comunicar neste texto tem o sentido de tomar parte ou ajudar, como está na Nova Versão Almeida: "Ajudem a suprir as necessidades dos santos." O pronome possessivo "suas" no texto, também se refere às necessidades dos outros e não às nossas próprias.
Outra grande limitação nossa é compreender o sentido original dos textos bíblicos pois, eles foram escritos em outros idiomas, em outras culturas e em épocas muito distantes da que vivemos, como veremos a seguir. Claro que eu não estou sugerindo que todos os leitores da Bíblia sejam especialistas em hebraico, grego, arqueologia e cultura judaica, grega e romana. Estou apenas apontando a nossa limitação neste sentido.
3. A natureza das Escrituras. Nas lições anteriores vimos algumas particularidades da Bíblia e as circunstâncias em que se deu a sua composição. A Bíblia foi escrita em hebraico, grego e alguns alguns trechos em aramaico. Estes três idiomas são muito diferentes do português. Além disso, a época em que a Bíblia foi escrita está muito distante de nós. Mesmo se estudarmos estes idiomas, ainda encontraremos dificuldades. O hebraico antigo e o aramaico não existem mais. O grego Koiné, também não é o mesmo grego que se fala atualmente.
Há também os fatores culturais que são muito diferentes da nossa cultura. A Bíblia foi escrita na cultura oriental de milênios atrás. Mesmo se olharmos para Israel e para as nações citadas na Bíblia que ainda existem, são completamente diferentes dos tempos bíblicos. Portanto, é necessário considerar os aspectos culturais, gramaticais, filosóficos, religiosos e geográficos dos tempos bíblicos, para interpretarmos corretamente um texto bíblico.
REFERÊNCIAS:
BAPTISTA, Douglas. A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.
REVISED. Joseph Angus. História, Doutrina e Interpretação da Bíblia. Editora Hagnos, 1 Ed. 2008.
STEIN. Robert H. Guia básico para a interpretação da Bíblia. 1 Ed. 1999. Editora CPAD. pág. 15.
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 3. pág. 617.
SILVA, Antônio Gilberto da. A Bíblia através dos séculos. Editora: CPAD. 15 Edição 2004.
ARTHUR, Walkington. A inspiração divina da Bíblia. Editora Monergismo. 1ª edição, 2013.
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Pb. Weliano Pires
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