02 novembro 2021

Saudades da Roça

Foto: Givanilde Xavier Mendes

Um belíssima poesia, da minha amiga, conterrânea e ex-colega da escola, Givanilde Xavier Mendes. 


Oh quantas saudades sinto!

Dos meus tempos de criança

No meu lindo torrão querido

Que eu guardo na lembrança

Tudo o que eu fiz e o que senti

Nunca mais eu me esqueci

Doces dias de minha infância


Foram tempos memoráveis

Lembro-me com nostalgia

Das artes-manhas nas manhãs

Com sincera infantil alegria

De tudo que eu vivi outrora 

Vem-me na memória, agora

Tempos de encanto e magia


Nas caçadas inocentes

Tendo por arma a baladeira

Um caçador faz-de-conta

A predileta brincadeira

Até me esquecia da hora

Andando vereda afora

Com os meninos da ribeira


Nem o sol do meio dia

Impedia-nos a aventura

Nos arredores de casa

Com um bornal na cintura

Ficávamos a catar favela

Até mãe chamar da janela

Pra nos poupar da quentura


Nas frias manhãs de chuva

Levantava cedo pra ver 

Cristalino balé das águas

Pelas biqueiras escorrer

Sinto saudades de tudo

E eu não vou ficar mudo

Eu preciso mesmo dizer


Pra dar vazão à saudade

Para esta dor me aliviar

Dor de saudade não mata

Porém gosta de judiar

Talvez sufoque esta agonia

Transformando em poesia

A falta que eu sinto de lá


Eu já tomei banho de mar

Em muitas praias andei

Mas nada que se compare

Aos riachos onde eu nadei

Saudade no peito encerra

Lá de onde avistei as serras

Ranchinho que muito amei


Às vezes penso que escuto

O cantar do bem-te-vi

O seco estalar de favelas

Coisas simples que lá ouvi 

Brincadeiras, da meninice

Cada inocente peraltice

Esquecer não consegui


Tem dias que esta saudade

Vem forte e impiedosa

Mas as lembranças que sinto

São lembranças primorosas

Da minha roça, do meu povo

Que um dia eu verei de novo

A quem faço menção honrosa


Não tem preço, mas tem valor

Esses momentos singelos

A relação de eterno amor

Por meu recanto revelo

Quero um dia andar sozinho

Trilhando os seus caminhos

Para fortalecer este elo


A casinha, hoje fechada.

Tantas histórias pra contar

Tantas lembranças guardadas

Sem ninguém pra escutar

Só se ver sinal de abandono

Sem os cuidados do dono

Que não consegue voltar


Tantos sítios que eu conheço

Tantos quantos são lembrados

Por alguém que um dia se foi

Deixando pra trás um passado

De encantos e desencantos

Quem viveu nestes recantos

Terá destes se recordado


Vivo longe é bem verdade

Mas trago-te no pensamento

Meu pedacinho de sertão

Terra linda de sol ardente

Guardo grande amor comigo

Quero um dia está contigo

Pra rever a minha gente.


Givanilde Xavier Mendes

Em homenagem aos amigos: Weliano Pires, Wedison Ferreira Teles e tantos outros que viveram/vivem realidade semelhante.

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