Foto: Givanilde Xavier Mendes |
Um belíssima poesia, da minha amiga, conterrânea e ex-colega da escola, Givanilde Xavier Mendes.
Oh quantas saudades sinto!
Dos meus tempos de criança
No meu lindo torrão querido
Que eu guardo na lembrança
Tudo o que eu fiz e o que senti
Nunca mais eu me esqueci
Doces dias de minha infância
Foram tempos memoráveis
Lembro-me com nostalgia
Das artes-manhas nas manhãs
Com sincera infantil alegria
De tudo que eu vivi outrora
Vem-me na memória, agora
Tempos de encanto e magia
Nas caçadas inocentes
Tendo por arma a baladeira
Um caçador faz-de-conta
A predileta brincadeira
Até me esquecia da hora
Andando vereda afora
Com os meninos da ribeira
Nem o sol do meio dia
Impedia-nos a aventura
Nos arredores de casa
Com um bornal na cintura
Ficávamos a catar favela
Até mãe chamar da janela
Pra nos poupar da quentura
Nas frias manhãs de chuva
Levantava cedo pra ver
Cristalino balé das águas
Pelas biqueiras escorrer
Sinto saudades de tudo
E eu não vou ficar mudo
Eu preciso mesmo dizer
Pra dar vazão à saudade
Para esta dor me aliviar
Dor de saudade não mata
Porém gosta de judiar
Talvez sufoque esta agonia
Transformando em poesia
A falta que eu sinto de lá
Eu já tomei banho de mar
Em muitas praias andei
Mas nada que se compare
Aos riachos onde eu nadei
Saudade no peito encerra
Lá de onde avistei as serras
Ranchinho que muito amei
Às vezes penso que escuto
O cantar do bem-te-vi
O seco estalar de favelas
Coisas simples que lá ouvi
Brincadeiras, da meninice
Cada inocente peraltice
Esquecer não consegui
Tem dias que esta saudade
Vem forte e impiedosa
Mas as lembranças que sinto
São lembranças primorosas
Da minha roça, do meu povo
Que um dia eu verei de novo
A quem faço menção honrosa
Não tem preço, mas tem valor
Esses momentos singelos
A relação de eterno amor
Por meu recanto revelo
Quero um dia andar sozinho
Trilhando os seus caminhos
Para fortalecer este elo
A casinha, hoje fechada.
Tantas histórias pra contar
Tantas lembranças guardadas
Sem ninguém pra escutar
Só se ver sinal de abandono
Sem os cuidados do dono
Que não consegue voltar
Tantos sítios que eu conheço
Tantos quantos são lembrados
Por alguém que um dia se foi
Deixando pra trás um passado
De encantos e desencantos
Quem viveu nestes recantos
Terá destes se recordado
Vivo longe é bem verdade
Mas trago-te no pensamento
Meu pedacinho de sertão
Terra linda de sol ardente
Guardo grande amor comigo
Quero um dia está contigo
Pra rever a minha gente.
Givanilde Xavier Mendes
Em homenagem aos amigos: Weliano Pires, Wedison Ferreira Teles e tantos outros que viveram/vivem realidade semelhante.
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