18 abril 2023

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 04: IDOLOS NA FAMÍLIA


Ev. WELIANO PIRES


O tema da lição desta semana é a idolatria dentro do lar. A idolatria é um pecado durante condenado na Bíblia, tanto no Antigo como no Novo Testamento. O primeiro dos mandamentos de Deus a Israel foi: "Não terás outros deuses diante de mim". (Ex 20.3). O segundo mandamento é uma extensão do primeiro e ordena que o povo de Deus não deve fazer nenhuma imagem ou representação de Deus, ou das coisa criadas, nem tampouco se curvar diante destas imagens (Ex 20.4,5). 


Quando falamos de idolatria para evangélicos, o que lhes vem à mente, imediatamente, são os cultos politeístas, onde há a adoração a vários deuses; e as profissões católicas, com o uso abundante de imagens de escultura representando Maria, nas suas mãos diversas formas, e uma infinidade de padroeiros e santos, que supostamente intercedem por eles diante de Deus. Entretanto, a idolatria é muito mais abrangente e vai muito além do politeísmo, panteísmo e do uso de imagens nos cultos. 


A palavra idolatria é a transliteração do termo grego "eidololatria", que é formado por duas palavras: "eidolon" e "latreia". A primeira palavra, eidolon, significa imagem ou corpo. Deriva da palavra eido, que significa “ver”. Sendo assim, eidolon significa algo visível ou representado por uma imagem. A segunda palavra é "latreia", que significa serviço sagrado, ou prestação de culto. 


A idolatria, portanto, é o culto ou adoração a alguém, seja real ou imaginário, através de uma representação visível. Do ponto de vista bíblico, um ídolo não se limita a imagens. ídolo é qualquer pessoa ou objeto, real ou imaginário, que alcança a lealdade absoluta, honra e glórias, que são exclusivas de Deus. Jesus, por exemplo, considerou as riquezas (Mamom, em aramaico) como um ídolo (Mt 6.24). O apóstolo Paulo, por sua vez, falou que a avareza é idolatria (Ef 5.5). 


O enfoque desta lição, no entanto, não é a idolatria de modo geral. Como o assunto deste trimestre são os desafios e problemas nos relacionamentos familiares, o comentarista trata apenas da questão dos ídolos no ambiente familiar. Para isso, ele toma como base dois exemplos bíblicos: primeiro, o caso de Raquel, a esposa amada de Jacó, que furtou os ídolos do pai dela; segundo, o caso de um homem da tribo de Efraim, chamado Mica, que construiu um ídolo e um santuário idólatra em sua própria casa.  


No primeiro tópico falaremos sobre os ídolos encontrados na tenda de Raquel. Depois de vinte anos trabalhando com o seu sogro,  Jacó e sua família voltaram para a Terra Prometida. Depois da saída deles, Labão descobriu que os seus ídolos domésticos haviam sido furtados e foi atrás de Jacó. Quando alcançou Jacó, Labão vasculhou as tendas, mas não encontrou os ídolos. Raquel os escondeu na sela do camelo e usou uma mentira para impedir que o pai não revistasse o camelo.


No segundo tópico daremos um salto histórico, do período dos patriarcas para o período dos juízes. Falaremos sobre um santuário de deuses na casa de um homem das montanhas de Efraim, chamado Mica. Nesse período,  o povo de Israel vivia uma anarquia e se entregou ao sincretismo religioso. Neste contexto surge a figura de Mica, um homem idólatra, antiético e de comportamento abominável, que roubou a própria mãe, sem que ela soubesse quem era o ladrão. A mãe lançou maldição e ele, com medo da maldição, devolveu o dinheiro. Com o dinheiro, a mãe dele mandou construir um ídolo e Mica nomeou o seu filho como sacerdote deste ídolo. Era uma família de Israelitas, que dizia servir a Deus, mas tinha em sua própria residência uma "casa de deuses", representados por pequenos ídolos, chamados de "terafins". 


No terceiro tópico falaremos sobre a idolatria dentro dos lares na atualidade. Tudo aquilo que requer honra, lealdade e dedicação acima de Deus, pode ser considerado um ídolo. Identificaremos os principais ídolos domésticos atuais, que estão presentes na chamada “cultura da mídia”. Precisamos urgente reagir e quebrar os ídolos domésticos que ocupam o lugar de Deus na família. 


REFERÊNCIAS: 


CABRAL, Elienai. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 64-65.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág. 204.

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 188-191.

17 abril 2023

Cinquenta anos se passaram



Mil novecentos e setenta e três

Aos dezessete do mês de abril 

Em Terra Nova, cidade varonil

Zé e Nicinha, casal camponês 

Tiveram o filho de número três 

Tempos difíceis enfrentaram

Mas eles nunca desanimaram.

Nas dificuldades eu sobrevivi

Desde o dia em que nasci

Cinquenta anos se passaram.


Nasci e cresci na zona rural

Ambiente pacato e matuto

Sistema totalmente bruto

O modo de vida era natural

Uma paz e sossego sem igual 

Pessoas de bem ali habitaram

Amigos que nos ajudaram

Muitas amizades ali construí 

Desde o dia em que nasci

Cinquenta anos se passaram.


A minha infância e juventude

Foi no Sertão pernambucano

Como um caipira interiorano

Longe de qualquer ilicitude

Na mais absoluta quietude

Boas lembranças ficaram

Marcas em mim deixaram

Quantas emoções ali vivi!

Desde o dia em que nasci

Cinquenta anos se passaram.


Escola Gumercindo Cabral

Foi ali que comecei a estudar

Foram oito anos até terminar

O meu ensino fundamental

Todos nesta escola estadual

Os colegas que ali estudaram

E comigo também brincaram

De nenhum deles esqueci

Desde o dia em que nasci

Cinquenta anos se passaram.


Concluí o curso do magistério

Com esforço, de forma exitosa

Na Escola Antonio Lustosa 

Seguindo todos os critérios

De professores muito sérios 

Os quais muito me ensinaram

E bons amigos se tornaram

Pessoas maravilhosas conheci

Desde o dia em que nasci

Cinquenta anos se passaram.


Num recinto cristão fui criado

Nos meus cinco anos de idade

Meus pais creram na verdade

Na fé evangélica fui educado

E com doze anos fui batizado.

Depois, as trevas me cercaram

E os meus pés se afastaram 

Do caminho que eu conheci

Desde o dia em que nasci

Cinquenta anos se passaram.


Fiquei onze anos afastado 

Dos caminhos do meu Senhor

Longe do aprisco e do Pastor

Porém, nunca fui abandonado

E por Deus sempre fui amado.

Os vícios me escravizaram 

Os meus pais por mim oraram

E novamente me converti

Desde o dia em que nasci

Cinquenta anos se passaram.


Devido às muitas dificuldades

Tive que deixar meu Nordeste 

Para tentar a vida no Sudeste

Levando comigo as saudades

Da família e da minha cidade.

São Paulo, meus pés pisaram 

E novos rumos enfim tomaram

Muita coisa diferente conheci 

Desde o dia em que nasci

Cinquenta anos se passaram.


Trinta e um anos decorridos 

Desde que a minha terra deixei

O meu grande amor encontrei

Nasceram dois filhos queridos

Por eles, muito amor envolvido

Muitos relatos aqui faltaram

Das coisas que se realizaram

Mas isso foi o que eu consegui

Afinal, desde que eu nasci

Cinquenta anos se passaram.


Para encerrar, minha gratidão:

A Deus, pelo dom da vida

E pelas bençãos recebidas 

Aos pais, pela boa criação 

À esposa, pela feliz união 

Aos amigos, que me ajudaram

E aos que me prejudicaram

Esqueçam, pois eu já esqueci

Desde o dia em que nasci

Cinquenta anos se passaram.


Ev. Weliano Pires 

14 abril 2023

OS MALES DO CIÚME

(Comentário do 3º tópico da Lição 03: Ciúme, o mal que prejudica a família)

Ev. WELIANO PIRES

No terceiro tópico falaremos sobre alguns males que podem ser provocados pelo ciúme. Veremos que o ciúme pode causar tragédias familiares, como agressões e até assassinato, como aconteceu com José, que foi vendido por seus irmãos. A intenção inicial era matá-lo, mas Judá conseguiu demover os demais irmãos da ideia. Muitos maridos também espancam e até matam a esposa por ciúmes doentios. Falaremos também neste tópico sobre os casos lamentáveis de ciúmes no meio da Igreja, inclusive entre os colegas de ministério. Por último, veremos algumas recomendações bíblicas para vencer o ciúme. 


1- O ciúme pode causar tragédias familiares. O ciúme no casamento é sufocante e gera muitos conflitos. Uma pessoa ciumenta vive em constante desconfiança, suspeita e medo de perder o afeto da outra pessoa. O ciúme doentio faz a pessoa vasculhar a intimidade do outro, em busca de indícios de traição: vasculha o celular e as redes sociais, em busca de mensagens ou ligações comprometedoras; verifica a camisa, em busca de sinais de batom; segue a pessoa ou contrata detetives para vigiar os seus passos; desconfia de qualquer pessoa do sexo oposto, seja no trabalho, na escola, entre amigos e até na Igreja; faz escândalos porque a pessoa conversou pessoalmente ou recebeu uma ligação de alguém do sexo oposto, sem ao menos saber de quem se tratava. Estes comportamentos sufocam a pessoa e tornam a sua vida um inferno. Se você está namorando alguém que tem algum desses comportamentos, fuja enquanto é tempo. 


Além destes comportamentos sufocantes e invasivos, há um perigo maior nas pessoas ciumentas que é quando partem para a agressão verbal e física. Uma pessoa transtornada pelo ciúme agride verbal e fisicamente o cônjuge e quem dele (a) se aproximar. Em muitos casos, comete homicídio, contra o cônjuge, contra os supostos amantes, contra os próprios filhos, seguidos de suicídio. Já tivemos notícias de muitas tragédias que foram praticadas, movidas por ciúmes. Eu conheci um, que sempre foi um homem tranquilo. A esposa separou-se dele e ele, por não aceitar a separação, trancou-se em casa com os dois filhos pequenos, atirou na cabeça deles e em seguida se matou. Um dos filhos sobreviveu, mas o outro filho e o pai morreram. Muitas tragédias desse tipo acontecem todos os dias. 


2- O ciúme entre os santos de Deus. Sentimentos como ciúmes, vanglória, invejas, disputas por posição, calúnias e difamações, etc., são incompatíveis com a vida cristã. São obras da carne e Paulo falou em mais de uma ocasião, que aqueles que praticam estas coisas não herdarão o Reino de Deus (I Co 6.10; Gl 5.19-21). Entretanto, lamentavelmente, muitos crentes, inclusive obreiros, por ciúmes e ambição por cargos, cometem injustiças, mentem, caluniam, ofendem e "puxam o tapete" dos irmãos em Cristo, para tomarem o lugar deles. 


Em muitos ministérios e convenções, as disputas por poder se assemelham à política partidária praticada pelos corruptos, onde vale tudo para chegar ao poder. Fazem acordos espúrios, compram votos, consagram pessoas sem chamada ministerial, loteiam cargos nas Igrejas em busca de apoio, processam os companheiros de ministério e passam como rolos compressores por cima dos que atravessarem o seu caminho. 


Fizeram assim com Jesus e com os seus apóstolos. As autoridades religiosas de Israel viam os milagres que Jesus e os apóstolos faziam. Nunca pararam para analisar as profecias e ver se o que eles pregavam estava de acordo com as Escrituras. Mas, por ciúmes e inveja, inflamavam as multidões contra eles, com falsas acusações de blasfêmia.


Ora, o ministério cristão nada tem a ver com esse tipo de comportamento carnal. Fomos chamados por Deus para servir a sua Igreja e pregar o Santo Evangelho. Não fomos chamados para ter poder terreno e receber glórias neste mundo. O apóstolo Paulo escrevendo a Timóteo, trouxe algumas recomendações para a escolha dos bispos, presbiteriana e diáconos. Ele começou dizendo: "Se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja". (1Tm 3.1). Ou seja, ser um bispo ou pastor é trabalho e não poder. Na sequência, o apóstolo diz que o bispo deve ser irrepreensível e lista vários requisitos morais para o exercício da função. Da mesma sorte, os presbíteros e diáconos. 


3- Vencendo o ciúme. No início desta lição, vimos que o favoritismo de Jacó pelo seu filho José causou ciúme, inveja e ódio dos demais filhos contra José. Vimos também que o ciúme é a causa de muitos conflitos nos relacionamentos. Depois vimos que o ciúme pode causar tragédias no lar e provocar diversos problemas no meio do povo de Deus. Agora, a pergunta que fica é: o que fazer para vencer o ciúme? O comentarista sabiamente apontou três atitudes muito eficientes para vencer o ciúme:


a. Encher a mente com as coisas de Deus. Paulo assim escreveu aos Filipenses: "Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai." Jesus também disse, certa vez, que "Raça de víboras, como podem vocês, que são maus, dizer coisas boas? Pois a boca fala do que está cheio o coração." (Mt 12.34). Sendo assim, se enchermos o nosso coração das virtudes que o Espírito Santo produz, não haverá espaço para sentimentos e atitudes carnais como o ciúme e a inveja. 

b. Avaliar o grau de ciúme. Conforme falamos no início, o ciúme é uma emoção natural do ser humano, no sentido de cuidar daquilo que lhe pertence para não se perder. Entretanto, se o ciúme se tornou extravagante, egoísta e doentio, é preciso buscar ajuda pastoral e talvez de um profissional, pois pode tratar-se de um transtorno. Na ajuda pastoral, é preciso cautela, pois nem todos os pastores estão preparados para lidar com isso. 

c. Cultivar o amor. O ciúme é uma obra da carne e é incomparável com o amor bíblico. Devemos considerar as características do amor, descritas pelo apóstolo Paulo em I Coríntios 13: "O amor é sofredor (paciente), é benigno; não é invejoso; não trata com leviandade ( A expressão grega significa comportar-se como uma pessoa orgulhosa que não para de falar); não se ensoberbece; não se porta com indecência, não busca os seus interesses; não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." (I Co 13.4-7). Todas estas características do amor são incompatíveis com o ciúme. Logo, quem ama de verdade vence o ciúme. 


REFERÊNCIAS:

CABRAL, Elienai. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 57.

WALTKE, Bruce K. Comentário do Antigo Testamento:  Ezequiel. Vol. 1 & 2. Editora Cultura Cristã.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pág. 1183-1184.

LOPES, Hernandes Dias. Provérbios: Manual de sabedoria para a vida. Editora Hagnos. pág. 546.

LOPES, Hernandes Dias. GÁLATAS: A carta da liberdade cristã. Editora Hagnos. pág. 252.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pag. 1022-1023

KISTEMAKER, Simon J. Comentário do Novo Testamento: I Coríntios. Editora Cultura Cristã. pág. 653-655.

12 abril 2023

O CIÚME COMO CAUSA DE CONFLITOS


(Comentário do 2º tópico da Lição 03: Ciúme, o mal que prejudica a família)

Ev. WELIANO PIRES

No segundo tópico, veremos que o ciúme é a causa de muitos conflitos nos relacionamentos. Falaremos sobre a túnica de várias cores, que José ganhou do seu pai, que o colocava em posição de destaque em relação aos demais filhos, gerando neles o sentimento de que eram desprezados pelo pai. Por último, falaremos do ciúme como o agente dos conflitos familiares e também em outros relacionamentos humanos, como as amizades, o trabalho e até na Igreja. 


1- A túnica: o símbolo do desprezo. Conforme vimos no tópico anterior, Jacó amava José, mais do que a todos os seus irmãos. Não era sem razão que ele fazia isso, pois José era filho da sua esposa amada e era muito diferente dos seus irmãos. José temia a Deus e Jacó percebia que Deus tinha planos especiais na vida dele, principalmente depois dos sonhos que ele teve. 


Não é difícil um pai amar mais um filho como José, tendo outros filhos como os seus irmãos. O problema é favorecer este filho publicamente, demonstrando desprezo pelos demais. Jacó teve uma atitude inconsequente, mandando confeccionar uma túnica especial, de várias cores, e deu-a de presente a José (Gn 37.3). 


O texto hebraico não é muito claro aqui. Jerônimo que traduziu a Versão Latina, chamada Vulgata, diz que esta túnica chegava aos tornozelos e outros comentaristas judeus dizem ela chegava à palma das mãos, dando a entender que era de mangas longas. Os trabalhadores comuns não usavam roupas assim, para não dificultar o uso dos braços no trabalho. A versão Nova Almeida Atualizada (NAA) diz que era uma "túnica talar de mangas compridas”. Naquela época, as roupas comuns eram feitas de linho grosso e tinham no máximo duas cores. 


Outros expositores bíblicos ainda sugerem que esta túnica não era uma peça comum do vestuário de José, mas uma veste sacerdotal, que José estaria assumindo, pois Rúben, o primogênito havia se deitado com uma concubina do seu pai. Isso é pouco provável, pois o próprio Jacó, quando abençoou os seus filhos na velhice, proferiu esta benção a Judá (Gn 49.8,9). Seja qual for o significado desta túnica, o fato é que esta atitude de Jacó acirrou ainda mais o ciúme e o ódio dos irmãos de José. 


Os pais que têm mais de um filho, por mais que um deles os agrade mais e tenham mais afinidade com ele, jamais devem favorecê-lo ou dar-lhe presentes diferenciados. Isso provoca o ciúme dos demais, que se sentem desprezados. Os meus pais tiveram quatro meninos e uma menina. Vivíamos tempos difíceis e eles não tinham dinheiro para comprar presentes, ou fazer festas de aniversário. Então, não faziam para nenhum. A minha mãe comprava um tecido e fazia as camisas dos três do mesmo tecido e do mesmo modelo. Conforme fomos crescendo, cada um trabalhava e comprava as roupas que queria, de acordo com o seu gosto e condições.


2- Ciúme: o agente do conflito familiar. A preferência de Jacó por José, o seu favoritismo dando-lhe uma túnica de presente e os sonhos de José, que davam a indicação de que ele dominaria sobre os seus irmãos geraram neles um ciúme doentio, que transformou em inveja e ódio, a ponto de não conseguirem conviver com ele pacificamente. Eles queriam se livrar de José a todo custo e decidiram matá-lo. 


A família de Jacó sempre foi desequilibrada, pois ela não foi construída segundo os padrões de Deus para o casamento: que é a monogamia, heterossexualidade e vitaliciedade. Jacó era heterossexual, mas teve duas mulheres e duas concubinas e os seus doze filhos e uma filha era de quatro mulheres diferentes. Um ambiente assim tem a tendência natural de ser desequilibrado, hostil, com ciúmes e desentendimentos. 


No caso de José, podemos notar que o ciúme dos seus irmãos foi o agente causador dos conflitos, que trouxeram consequências drásticas para Jacó e José. Os irmãos de José não o mataram, como pretendiam inicialmente. Mas venderam-no como escravo e contaram ao seu pai que havia sido devorado por algum animal feroz. Imagine a dor do pai, tendo que conviver com a ausência do filho amado, por muitos anos, sem saber ao certo o que teria acontecido com ele! Por outro lado, José, o filho favorito do seu pai, vivendo em terra estranha como escravo, sem ter notícias do seu pai. O ciúme leva as pessoas à crueldade e a maldade inimagináveis. 


É importante esclarecer o significado bíblico da palavra ciúme. O teólogo Russell Norman Champlin explica que a palavra hebraica “qinah”, traduzida por ‘ciúme’ ou ‘zelo’ aparece quarenta e um vezes no Antigo Testamento. O correspondente grego é “parazelóo”, traduzida por ‘ter muito ciúme’ e aparece quatro vezes no Novo Testamento. 


O ciúme na Bíblia aparece em sentido positivo, com o sentido de zelo ou cuidado, para que a pessoa amada não se perca. É nesse sentido que a Bíblia diz que o Espírito de Deus tem ciúmes (Tg 4.5). No sentido negativo, o ciúme aparece como egoísmo e obra da carne. Para saber a diferença, Champlin sugere que façamos a seguinte pergunta: “sinto ciúmes porque temo que algo venha a prejudicar alguém a quem estimo, ou sinto ciúmes simplesmente porque não quero perder aquela pessoa ou coisa, com base em minha possessividade e egoísmo?” A primeira opção é o ciúme positivo, que é sinônimo de zelo. A segunda é o ciúme negativo, que é egoísta e pensa apenas na satisfação pessoal.


3- A extensão do ciúme. Muitas pessoas pensam que o ciúme acontece apenas entre casais, mas ele está presente em todos os relacionamentos humanos: pais e filhos, amigos, membros de Igrejas e até entre obreiros. O ciúme gera conflitos e traz terríveis consequências, que muitas vezes, são trágicas. Por causa de ciúmes, pessoas são perseguidas, agredidas e até assassinadas. Charles Swindoll diz que “nenhuma reação é mais cruel do que o ciúme. Tal sentimento é duro como a sepultura (Ct 8.6) e revela três sintomas: uma pessoa ciumenta vê o que não existe, aumenta o que existe e procura o que não quer achar. Em vez de olharem para José como o instrumento que Deus estava levantando para salvar sua família, viram-no como uma ameaça, e em vez de cuidarem dele, nutriam desejo de destruí-lo.” 


Antigamente, aparecia nos para-choques de caminhões, a frase: “Quem tem amor tem ciúmes”. De certa forma, como diz o comentarista, todas as pessoas têm um certo grau de ciúmes, pois, trata-se de uma emoção inerente à natureza humana. O problema é quando este sentimento extrapola os limites da sensatez e evolui para obsessão, inveja, ódio e descontrole. Tem uma música antiga, onde o autor diz: “Tenho ciúmes do sol, do luar e do mar, tenho ciúmes de tudo. Tenho ciúme até da roupa que tu vestes.” Esse grau de ciúme, em um relacionamento é extremamente sufocante e destrutivo. Quem tem esse tipo de ciúme desconfia de tudo e de todos. Qualquer aproximação da pessoa que é alvo dos seus ciúmes com outras pessoas, a pessoa ciumenta fica transtornada, agride e pode até matar. 


Há vários tipos de ciúmes em outros tipos de relacionamentos. Nas amizades, há amigos que querem exclusividade nas suas amizades e se incomodam quando os seus amigos tem outros amigos. Há crentes que se sentem desprezados quando o pastor dá atenção a outros crentes. Esse tipo de ciúme é uma espécie de carência de afetividade e um pouco de infantilidade. Entretanto, há ciúmes muito mais perigosos, que se transformam em inveja e ódio. O primeiro caso desse na Bíblia foi o de Caim, que matou o seu irmão, sem que lhe fizesse nenhum mal, unicamente porque Deus recebeu a oferta do seu irmão e rejeitou a dele. Ora, o que Abel tinha a ver com isso?. O caso dos irmãos de José também se enquadra nesse tipo, pois o ciúme deles se transformou em inveja e eles passaram a odiar José, sem que ele lhes fizesse nenhum mal. Temos ainda na Bíblia o caso de Saul, que passou a odiar Davi e querer matá-lo por causa do cântico das mulheres que o enalteceu: “Saul feriu os seus milhares, porém Davi os seus dez milhares”. (1Sm 18.6-9).


REFERÊNCIAS:

CABRAL, Elienai. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 53-56.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 235,236.

CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 1. 11 ed. 2013. pag. 756.

LOPES, Hernandes Dias. Gênesis: O Livro das Origens.. Editora Hagnos. 1 Ed. 2021.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento. Tito. 1 Ed 2001. Editora Cultura Cristã. pág. 122.

TENNEY, MERRILL C. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 1. pag. 1071-1072.


MURMURAÇÃO: UM PECADO QUE NOS IMPEDE DE ENTRAR NA CANAÃ CELESTIAL

(Comentário do 3º tópico da Lição 07: O perigo da murmuração) Ev. WELIANO PIRES No terceiro tópico, veremos que a murmuração também nos impe...