20 janeiro 2025

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 4: DEUS É TRIÚNO

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Ev. WELIANO PIRES

Dando continuidade ao estudo da Doutrina de Cristo e das heresias cristológicas, que iniciamos na lição passada, estudaremos nesta lição a doutrina bíblica da Santíssima Trindade. Há três heresias principais contra esta doutrina que são o Unicismo, o Unitarismo e o Triteísmo. As duas primeiras receberam vários nomes, de acordo com os seus propagadores e as suas variações. Nesta lição abordaremos o Unicismo e o Unitarismo, que são heresias que se manifestam na atualidade com roupagens novas. 


Quando falamos sobre a Doutrina da Trindade, há uma série de acusações sem fundamento sobre ela, como a de que ela é uma doutrina pagã, que teria sido introduzida pelo imperador Constantino, no Concílio de Nicéia em 325 d. C. Mas isso é uma falácia, que não se sustenta à luz da história da Igreja. Acusam-nos também de politeísmo, por supostamente crer em três deuses, mas isso é triteísmo e não trindade. 


Outro questionamento dos movimentos que são contrários à doutrina da Trindade é que esta palavra não se encontra na Bíblia. De fato, a palavra trindade não aparece nas páginas da Bíblia, pois ela é derivada do latim trinitas, que significa “tríade”, “três em um” ou "triunidade”. Trata-se de um conceito teológico, para se referir à revelação bíblica de que há um Único Deus, eternamente subsistente em três Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Esta palavra foi usada pela primeira vez em 213 d.C., pelo teólogo, escritor e apologista Tertuliano de Cartago (160 – 220 d.C.). 


A Ideia de um Deus triúno está presente em toda a Bíblia, desde o relato da criação, embora os israelitas não tivessem esta compreensão, assim como não tinham uma compreensão correta a respeito de Messias e Salvação. Podemos perceber também que os apóstolos criam em um Deus Triúno, conforme demonstraremos ao longo desta lição.


No primeiro tópico, veremos como a Bíblia apresenta a Trindade. Inicialmente, veremos que não há nenhuma incompatibilidade entre a doutrina da Trindade e o monoteísmo judaico-cristão. Na sequência, falaremos das evidências da Trindade nos textos do Antigo Testamento. Por último, falaremos da revelação da doutrina da Trindade nos textos do Novo Testamento e nos credos da Igreja Cristã. 


No segundo tópico, falaremos das duas heresias antigas contra a doutrina da Trindade que são o Unicismo e o Unitarismo. Veremos o que é o Unicismo, como ele era conhecido nos primeiros séculos da Igreja e quais foram os principais heresiarcas deste movimento. O comentarista não falou a respeito da heresia do Unitarismo, mas é importante explicar, pois há seitas na atualidade que ensinam esta heresia. Por último, apresentaremos as contestações bíblicas a estas heresias. 


No terceiro tópico, falaremos dos movimentos unicistas da atualidade que pregam contra a Trindade. Inicialmente, o comentarista fala a respeito do do problema de grupos que se autodenominam evangélicos pentecostais, mas que ensinam o Unicismo de forma sutil, se infiltram em nosso meio, como o Grupo Voz da Verdade e a Igreja Tabernáculo da fé. Na sequência, faremos uma reflexão bíblica sobre que se converteram ouvindo músicas de grupos unicistas e outras que dizem sentir-se bem ao ouvi-las. Por último, falaremos da posição oficial da nossa Igreja sobre o Unicismo, apresentando o que diz a nossa Declaração de fé e o manifesto oficial da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil sobre o assunto.



REFERÊNCIAS:


SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 

Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 38.

HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, pp.162-63. 

Bíblia de Estudo Apologia Cristã. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2016, p.1535.

Manifesto da CGADB contra o Unicismo: https://cgadb.org.br/manifesto-contra-o-unicismo


16 janeiro 2025

COMO ESSAS HERESIAS SE REVELAM HOJE

(Comentário do 3° tópico da Lição 03: A encarnação do Verbo)

Ev. WELIANO PIRES

No terceiro tópico, veremos como estas heresias se apresentam na atualidade. Falaremos das heresias dos Mórmons e Igreja da Unificação que, segundo o comentarista, negam o nascimento virginal de Jesus e são a versão moderna da heresia de Cerinto. Na sequência, falaremos das heresias modernas que negam a crucificação e ressurreição de Jesus, propagadas pelo Islamismo. Por fim, falaremos da confirmação histórica da morte de Jesus por historiadores que não eram cristãos, como Flávio Josefo e Tácito. 


1. Quanto ao nascimento virginal de Jesus. Neste ponto, o comentarista cita os mórmons e a Igreja da Unificação como exemplos de grupos heterodoxos que negam o nascimento virginal de Jesus e que seriam, portanto, o ensino moderno de Cerinto. Entretanto, nós professores da Escola Dominical, temos compromisso com a verdade. Precisamos ter responsabilidade e pesquisar sobre as informações fornecidas pelo comentarista, para saber se elas são verídicas, para não reproduzirmos informações inverídicas ou deturpadas.

Evidentemente, o pastor Esequias Soares é um estudioso de apologética há muitos anos e um ensinador sério. Entretanto, com relação à crença dos Mórmons em relação ao nascimento de Cristo, eu assisti a aula do Ev. Tiago Rosas, onde ele apresentou o que os mórmons crêem a respeito de Jesus. Eu fiz questão de conferir no site oficial da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que é o nome oficial da Igreja e encontrei o seguinte:¹ 


“Acreditamos na divindade de Jesus Cristo como o Filho literal de Deus e um membro distinto da Trindade juntamente com Deus, o Pai, e o Espírito Santo. Jesus veio à Terra para passar pelas provações de uma vida mortal, ensinar e testificar sobre Deus, realizar milagres grandiosos e realizar Seu sacrifício expiatório, que nos permitiria ser purificados do pecado e ressuscitar.”


Em outro artigo², escrito por Joseph Fielding Smith, encontrei a seguinte declaração sobre o nascimento de Jesus:² 


“(…) Jesus foi a única pessoa nascida neste mundo que não teve um pai terreno. O Pai de Seu corpo é também o Pai de Seu Espírito e o Pai dos espíritos de todos os homens.” 


É claro que esta Igreja é uma seita, pois ensina várias heresias. Mas, pelas informações que vi no credo deles, não negam a corporeidade de Jesus, nem o seu nascimento virginal. Eles dizem que Jesus não foi gerado pelo Espírito Santo no ventre da virgem Maria e sim pelo Pai. Mas não negam que o nascimento virginal de Jesus. 

Quanto à Igreja da Unificação temos poucos documentos oficiais para consulta. O principal manual de doutrina desta denominação é o Livro “Princípio Divino”, escrito pelo seu fundador, o reverendo Moon. Neste livro, que está disponível na internet, há muitas coisas confusas e sem nenhum nexo. Há também heresias grotescas como a negação de que o sacrifício de Jesus teve o objetivo salvífico. Ele diz que Jesus foi crucificado por causa da incredulidade do povo e que fracassou em sua missão. Entretanto, eu não encontrei uma negação expressa do nascimento virginal de Jesus e de sua corporeidade, que é o assunto desta lição. Pode ser que o pastor Esequias Soares tenha outras fontes que comprovem estas afirmações, mas se tem, não as citou. 

Quem de fato nega o nascimento virginal de Jesus são os teólogos liberais e o judeus. Os primeiros negam a inerrância das Escrituras e só acreditam naquilo que pode ser comprovado empiricamente. Evidentemente, não é possível comprovar em laboratório que Jesus foi concebido pelo Espírito Santo, pois não havia exame de DNA naqueles tempos. Os Judeus, por sua vez, embora admitam a humanidade de Jesus, negam a Sua divindade e dizem que Ele era um ser humano normal, filho de Maria e José. 


2. Quanto à morte e à ressurreição de Cristo. Neste ponto, o comentarista cita a heresia de Basilides, um heresiarca gnóstico egípcio, que negava a crucificação de Jesus e dizia que Jesus havia sido confundido com Simão Cirineu, o homem que o ajudou a carregar a cruz, e este teria sido crucificado em seu lugar. Na atualidade, os muçulmanos defendem esta tese, dizendo que a crucificação não passou de uma simulação. Certamente foram influenciados por esta antiga heresia de Basilides. 

Interessante que a Bíblia ensina exatamente o contrário. Foi Jesus quem morreu em lugar dos pecadores e não o contrário. O sacrifício de Cristo foi um sacrifício expiatório (substitutivo). Várias pessoas que conheciam Jesus e andavam com Ele, testificaram a sua crucificação como Maria, sua mãe, outras mulheres que o seguiam, João, Pedro, José de Arimatéia e muitas pessoas de Jerusalém que o conheciam. Depois que ressuscitou, Jesus foi visto por mais de quinhentas pessoas. 


3. Confirmação histórica. Do ponto de vista bíblico, conforme vimos acima, é impossível negar a morte de Jesus, pois há abundantes comprovações. Não há como negar a morte de Jesus sem negar as Escrituras. No Antigo Testamento foram preditos os sofrimentos na sua morte, com riqueza de detalhes nos Salmos e no Livro do Profeta Isaías (Cf. Sl 22 e Is 53). No Novo Testamento temos registros de cada passo de Jesus desde sua prisão no Getsêmani, até a sua ressurreição e assunção ao Céu, com a presença de muitas testemunhas que posteriormente confirmaram os fatos que viram.


Além da confirmação bíblica, a morte de Jesus é confirmada também pela história, inclusive por historiadores que não eram cristãos. O comentarista citou dois deles: Flávio Josefo, historiador judeu do primeiro século que escreveu mencionou a condenação de Jesus por Pilatos e a sua crucificação; e o historiador romano Tácito, que viveu entre a segunda metade do século I e o início do século II, que também mencionou execução de Jesus durante o reinado de Tibério, pelo procurador Pôncio Pilatos. Estes dois relatos de historiadores que não eram cristãos, confirmam a narrativa bíblica. 


REFERÊNCIAS:


SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 

Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 37.

HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: Uma perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, pp.324,325.

OLSON, Roger. Contra a Teologia Liberal: Uma defesa cristã bíblica tradicional. Rio de Janeiro: CPAD, 2023, pp.54,55.

¹Jesus Christ Is Your Savior

² Capítulo 25: O Nascimento de Jesus Cristo: ‘Novas de Grande Alegria’

https://unification.net/portugues/pd1994/


A AFIRMAÇÃO APOSTÓLICA DA CORPOREIDADE DE JESUS

(Comentário do 2° tópico da Lição 03:  A encarnação do Verbo)

Ev. WELIANO PIRES

No segundo tópico, veremos as afirmações do apóstolo João sobre a humanidade de Jesus. Falaremos do significado da expressão “o que era desde o princípio”, usada por João, para afirmar a eternidade de Jesus, e a expressão “o Verbo de fez carne e habitou entre nós” que afirma que Jesus se humanizou e foi visto pelas pessoas. Na sequência, falaremos da reafirmação apostólica da humanidade de Jesus, expressa no Credo apostólico, que diz: “Padeceu sob Pôncio Pilatos”. Por fim, falaremos da crença herética de Cerinto, que negava o nascimento virginal de Cristo e a sua humanidade. Esta heresia foi refutada principalmente pelo apóstolo João em seus escritos.

1. “O que era desde o princípio” (I Jo 1.1). Os livros de Mateus, Marcos e Lucas são chamados de "Evangelhos Sinóticos" devido à semelhança dos relatos. Mateus e Lucas trazem detalhes importantes do nascimento de Jesus, desde o seu anúncio e também mencionam várias pessoas que testemunharam este fato. Falam também da genealogia de Jesus e mencionam os seus familiares. Marcos inicia falando de Jesus na idade adulta, no início do seu ministério e dá muita ênfase aos milagres que Ele fez. Mas ele mostra também Jesus como um ser humano entre as multidões. Estes três evangelistas expõem detalhes da vida humana de Jesus e não deixam dúvidas de que tinha um corpo físico.

O Evangelho segundo João, destoa um pouco, pois dá ênfase ao ministério de Jesus na vida adulta e aponta para a sua divindade.  João traz uma abordagem diferenciada do Ministério de Jesus, se compararmos com os outros três evangelistas. Por isso, os teólogos chamam o Evangelho segundo João de “Evangelho autótico”. João não faz menção ao nascimento de Jesus, nem à sua infância, como vemos nos Evangelhos sinóticos. Ele inicia falando de Jesus como o Verbo que estava no princípio com Deus e que era Deus. Fala também que o Verbo (Jesus) criou todas as coisas e sem Ele nada se fez (Jo 1.1-3). Neste aspecto João enfatiza a preexistência do Filho de Deus e a sua divindade.

Entretanto, João não deixa de mencionar claramente a humanidade plena de Jesus. No mesmo capítulo 1, ele escreveu: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”. (Jo 1.14). João afirma claramente que Jesus tomou a forma humana e habitou entre eles. Ele reafirmou esta verdade em suas Epístolas, como veremos abaixo. Na verdade, a referência no título deste subtópico é 1 João 1.1 e não João 1.1, como foi colocado na revista.

João não apenas falou da humanidade de Jesus, mas foi testemunha ocular desta verdade. João, Tiago, seu irmão, e Pedro, foram os discípulos mais próximos de Jesus. Ele participou de refeições junto de Jesus e dos demais discípulos. Viu-o andando, cansado e dormindo. Na ocasião da última Ceia, João reclinou a sua cabeça no peito de Jesus e constatou que havia um corpo humano ali e não apenas uma aparência, como ensinavam os docetas.

2. A reafirmação apostólica (v.1b). Em sua primeira Epístola, o apóstolo João não apenas reafirma o que disse no prólogo do Evangelho, quando disse que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós”, mas dá mais ênfase. Na segunda parte de 1 João 1.1, João afirma: “...o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida”. De forma redundante, para que não fique dúvidas, João diz que eles viram com os seus olhos, contemplaram e tocaram no corpo de Jesus.

Em várias ocasiões, os discípulos puderam tocar em Jesus e conversaram pessoalmente com Ele. Eles nunca tiveram dúvidas de que Jesus tinha um corpo físico. A dúvida que eles tinham antes da ressurreição era sobre a identidade de Jesus. Alguns pensavam que ele era um dos profetas que ressuscitou e outros pensavam que fosse um rei que Deus, como Davi, para libertá-los do domínio estrangeiro.

Os demais apóstolos também deixaram claro em suas Epístolas a humanidade de Jesus. Paulo, escrevendo aos Romanos disse: “Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para apóstolo, separado para o evangelho de Deus, o qual antes havia prometido pelos seus profetas nas Santas Escrituras, acerca de seu Filho, que nasceu da descendência de Davi segundo a carne…” (Rm 1.1-3).

No credo apostólico, que é atribuído pela tradição da Igreja aos doze apóstolos, também está escrito sobre Jesus: “...Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; ressurgiu dos mortos ao terceiro dia; subiu ao Céu; está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos.” A confissão apostólica de que Jesus nasceu da virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, sendo crucificado, morto e sepultado, não deixam dúvidas de que Ele tinha um corpo humano.

3. Uma crença herética (1Jo 4.2,3). O apóstolo João, conhecido entre os doze como “o discípulo a quem Jesus amava”, foi o único do colégio apostólico que não foi executado e o último a morrer. Durante a guerra judaica, entre 69 e 70 d.C., João mudou-se para a Ásia Menor e viveu em Éfeso por muitos anos. Durante o reinado de Dominicano, ele foi exilado na Ilha de Patmos, onde recebeu as revelações do Apocalipse.

O Docetismo se espalhou entre os cristãos de Éfeso. Cerinto, que era natural de Antioquia, passou por Alexandria e se estabeleceu em Éfeso. Lá encontrou a resistência firme do apóstolo João contra as suas heresias. João escreveu o Evangelho que leva o seu nome e as três Epístolas, onde ele enfatiza a divindade e humanidade de Jesus, contestando as heresias que perturbavam a Igreja de Éfeso. João foi incisivo contra estes hereges e disse que todo aquele que nega a humanidade de Jesus não é de Deus, mas é o espírito do Anticristo.

O comentarista explica a gravidade desta heresia que nega que Jesus teve um corpo físico. Não se trata apenas de uma divergência teológica em questões secundárias. Negar que Jesus se encarnou, compromete todo o Plano de redenção, pois se Cristo não teve corpo, também não foi crucificado e não ressuscitou. Nesse caso, como disse Paulo, seria vã a nossa fé e os que morreram em Cristo estariam perdidos (1Co 15.1-3,17,18).

15 janeiro 2025

HERESIAS QUE NEGAM A CORPOREIDADE DE CRISTO

(Comentário do 1º tópico da Lição 03: A Encarnação do Verbo). 

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, apresentaremos as heresias que negavam a corporeidade de Cristo nos primórdios da Igreja. Falaremos da mais antiga delas, que era chamada de Docetismo. Os docetas ensinavam muitas coisas contrárias às Escrituras e negavam que Jesus tivesse um corpo físico. Neste tópico, veremos também alguns detalhes descritos no Evangelho segundo Lucas, que comprovam a humanidade de Jesus. Por fim, veremos o que os principais docetas diziam sobre Jesus e apresentaremos também textos bíblicos que contestam estas heresias.

1. O que é Docetismo? O Gnosticismo era um grupo muito diversificado, que misturava Judaísmo com Cristianismo e Paganismo. O nome Gnosticismo vem do grego “gnosis”, que significa conhecimento. Os gnósticos diziam possuir um conhecimento superior. O Docetismo surgiu da ideia gnóstica de que há um dualismo entre espírito e matéria, sendo o espírito bom e a matéria má. Desta forma, diziam que se Jesus é Deus, Ele não poderia ter um corpo físico, pois, segundo eles, o corpo é mal.

O Docetismo é uma seita do Gnosticismo, que surgiu no final do primeiro século e é considerada a mais antiga heresia do Cristianismo, junto com a heresia judaizante, que vimos na lição passada. O nome Docetismo deriva do grego Dokeo, que significa “ter aparência”. Este nome se deu porque os docetas negavam que Cristo teve um corpo real e diziam que tinha apenas um corpo aparente, como um fantasma.

2. O que os docetas ensinavam sobre Jesus? Os docetas e as outras ramificações do Gnosticismo ensinavam muitas coisas extrabíblicas e antibíblicas, conforme nos informou o comentarista. Para esta lição, na qual tratamos da encarnação do Verbo, vamos nos deter na questão da humanidade de Jesus que eles negavam. Não há como alguém negar a humanidade de Cristo e não negar as Escrituras, pois está muito claro na Bíblia que Jesus viveu como homem e teve um corpo físico.

Neste subtópico, o comentarista apresenta vários relatos do Evangelista Lucas, que não foi testemunha ocular dos fatos, mas os registrou como um exímio historiador, colhendo informações fidedignas daqueles que conviveram com Jesus. Além disso, Lucas foi inspirado pelo Espírito Santo para escrever o Evangelho.

O Evangelho segundo Lucas é o mais detalhista em relação a datas e fatos históricos, que nos permitem situar os acontecimentos da vida terrena de Jesus na história. Lucas cita um sacerdote chamado Zacarias e sua esposa Isabel, que era prima de Maria, mãe de Jesus (Lc 1.5).  Neste relato, ele menciona como se deu o nascimento de João Batista e a vista que Maria fez à sua prima Isabel, que estava  grávida de João e ao saudá-la a criança saltou em seu ventre.

Lucas narra com riqueza de detalhes como se deu o nascimento de Jesus, desde o seu anúncio pelo anjo Gabriel. Há também os registros dos amigos, vizinhos, parentes e pais terrenos de Jesus. Lucas registrou também que José vivia com a sua esposa em Nazaré, na Galiléia, mas foi se alistar em Belém da Judéia, pois era da família de Davi (Lc 2.4). Na ocasião do nascimento de Jesus, Lucas registrou que não havia hospedagem para Ele e foi envolto em panos e colocado em uma manjedoura. Um anjo avisou do seu nascimento aos pastores que guardavam os seus rebanhos e eles vieram ao local do nascimento e testemunharam o fato.

Há ainda os relatos das visitas do velho Simeão e da profetisa Ana, que eram pessoas idosas, tementes a Deus desde a mocidade. Ambos visitaram o menino Jesus e foram usados pelo Espírito Santo para falar dele como o Messias prometido a Israel. Eles viram o menino e comprovaram a sua humanidade. Lucas é o único evangelista a mencionar a adolescência de Jesus, no episódio em que ficou em Jerusalém depois da festa e foi encontrado no templo, no meio dos doutores, dialogando com eles. Todos estes relatos nos mostram o desenvolvimento físico, intelectual e espiritual de Jesus, como um ser humano.

3. O que os principais docetas diziam sobre Jesus? Um heresiarca é o principal líder fundador de uma heresia. Aqui, o comentarista nos apresenta os três principais heresiarcas docetas: Cerinto, Saturnino e Marcião. Os três eram expoentes do gnosticismo e ensinavam heresias sobre a humanidade de Jesus, mas com algumas diferenças de pensamento.

a) Cerinto. Era um judeu, natural de Antioquia, convertido ao Cristianismo, que viveu entre o final do primeiro século e o início do segundo século da Era Cristã. Foi contemporâneo do apóstolo João, de Policarpo de Esmirna, e de Irineu de Lião. Cerinto ensinava que havia diferença entre Jesus e Cristo. Segundo ele, Jesus era um um ser humano normal, filho biológico de José e Maria, que recebeu o Cristo divino após o batismo. Cristo teria guiado Jesus durante todo o seu ministério e pouco antes da crucificação, o abandonou e Ele morreu como um homem comum. No Livro de apoio, o comentarista cita também os ebionitas, que pensavam como Cerinto em relação à humanidade de Jesus.
b) Saturnino. Foi um dos primeiros cristãos da Síria a abraçar o gnosticismo, por volta de 120 d.C. Era aprendiz de Menandro, que era um gnóstico e mágico, discípulo do mágico Simão de Samaria. Saturnino ensinava que Jesus não nasceu, não teve corpo, nem forma humana. Era apenas uma aparência humana, que veio para destruir o Deus do Antigo Testamento que, segundo ele, era um impostor maligno.
c) Marcião. Era natural de Sinope, província do Ponto, na Ásia Menor e transferiu-se para Roma em 135 d.C. Assim como Saturnino, Marcião considerava que o Deus do Antigo Testamento era mau e ensinava que os cristãos deveriam rejeitar as Escrituras do Antigo Testamento. Por causa disso, tornou-se antissemita e crirou o seu próprio cânon das Escrituras, excluindo todo o Antigo Testamento e os textos do Novo Testamento que faziam referência ao Antigo Testamento. Ele incluiu dez cartas paulinas, excluindo as pastorais e incluindo a Epístola aos Laodicenses. Marcião negava a humanidade de Jesus, mas não está claro em seus escritos se ele cria que fosse apenas uma aparência.

13 janeiro 2025

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 3: A ENCARNAÇÃO DO VERBO

 


Ev. WELIANO PIRES
AD-BELÉM / SÃO CARLOS, SP

Nas próximas seis lições, estudaremos sobre Cristologia, que é a matéria da teologia que estuda sobre a pessoa e Obra de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nestas lições falaremos da humanidade, divindade e natureza de Cristo e sobre as principais heresias sobre o tema. Na próxima lição, estudaremos a doutrina da Santíssima Trindade e as heresias contra esta doutrina, que também está relacionada à Pessoa e natureza de Cristo. 

Nesta primeira lição sobre Cristologia, estudaremos a doutrina bíblica da humanidade de Jesus, denominada de “Encarnação do Verbo”. Logo nas primeiras décadas da Igreja, alguns grupos negavam a divindade de Jesus e outros negavam a sua humanidade. Durante o ministério terreno de Jesus, os seus discípulos tinham dúvidas sobre a sua identidade. Pensavam que Ele fosse um profeta levantado por Deus, para libertar Israel do domínio estrangeiro. Mas, nunca tiveram dúvidas sobre a sua humanidade, pois conviveram com Ele por três anos. Somente após a sua ressurreição e assunção aos céus, eles compreenderam que realmente Ele era o Filho de Deus.

No primeiro tópico, apresentaremos as heresias que negavam a corporeidade de Cristo nos primórdios da Igreja. Falaremos da mais antiga delas, que era chamada de Docetismo, palavra derivada do grego dokeo, que significa ter aparência. Os docetas ensinavam muitas coisas contrárias às Escrituras e negavam que Jesus tivesse um corpo físico. Neste tópico, veremos também alguns detalhes descritos no Evangelho segundo Lucas, que comprovam a humanidade de Jesus. Por fim, veremos o que os principais docetas diziam sobre Jesus, entre eles, Cerinto, Saturnino e Marcião. Apresentaremos também textos bíblicos que contestam estas heresias.  

No segundo tópico, veremos as afirmações dos apóstolos sobre a humanidade de Jesus. Falaremos do significado da expressão “o que era desde o princípio”, usada por João, para afirmar a eternidade de Jesus, e a expressão “o Verbo de fez carne e habitou entre nós” que afirma que Jesus se humanizou e foi visto pelas pessoas. Na sequência, falaremos da reafirmação apostólica da humanidade de Jesus, expressa no Credo apostólico, que diz: “Padeceu sob Pôncio Pilatos”. Por fim, falaremos da crença herética de Cerinto, que negava o nascimento virginal de Cristo e a sua humanidade. Esta heresia foi refutada principalmente pelo apóstolo João em seus escritos. 

No terceiro tópico, veremos como estas heresias se apresentam na atualidade. Falaremos das heresias dos Mórmons e Igreja da Unificação que negam o nascimento virginal de Jesus e são a versão moderna da heresia de Cerinto. Na sequência, falaremos das heresias modernas que negam a crucificação e ressurreição de Jesus, propagadas pelo Islamismo. Por fim, falaremos da confirmação histórica da morte de Jesus por historiadores que não eram cristãos, como Flávio Josefo e Tácito. 

REFERÊNCIAS:

SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 
Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 37.
HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: Uma perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, pp.324,325.
OLSON, Roger. Contra a Teologia Liberal: Uma defesa cristã bíblica tradicional. Rio de Janeiro: CPAD, 2023, pp.54,55.

11 janeiro 2025

A TENDÊNCIA JUDAIZANTE HOJE

(Comentário do 3° tópico da Lição 02: Somos Cristãos).

Ev. WELIANO PIRES

No terceiro tópico, falaremos da tendência judaizante nos dias atuais. Veremos que o Evangelho é um só e que as expressões “Evangelho da circuncisão” e “Evangelho da incircuncisão”, usadas por Paulo, são meramente formas diferentes de apresentação. Na sequência, falaremos do perigo da tendência judaizante que além de ameaçar a liberdade cristã, pode reduzir o Cristianismo a mais uma seita judaica. Por último, falaremos das práticas judaizantes da atualidade de grupos que se dizem evangélicos e querem introduzir práticas e costumes judaicos. 


1. O mesmo Evangelho (vv.7-9). Após discussão acirrada, sob pressão dos judaizantes, os apóstolos reconheceram que assim como Pedro havia sido chamado para exercer o seu apostolado entre os judeus, Paulo e Barnabé foram chamados para exercer os seus ministérios entre os gentios, em missões transculturais. Para explicar isso, Paulo falou que o Evangelho da incircuncisão lhe foi confiado, assim como o Evangelho da incircuncisão foi confiado a Pedro. 


Isto não significa, evidentemente, que se trata de dois Evangelhos, pois o Evangelho de Cristo é um só para todos os povos. Também não significa que Pedro pregaria apenas aos judeus e Paulo apenas aos gentios. Pedro pregou o Evangelho aos gentios na casa de Cornélio e as Epístolas são universais. Paulo também pregou aos judeus em vários lugares. Onde ele chegava, procurava uma Sinagoga e ali pregava. Entretanto, o ministério apostólico de Pedro foi exercido entre os judeus e o de Paulo entre os gentios, pois Deus assim os vocacionou. 


2. O perigo da doutrina judaizante. Alguns cristãos incautos e “tolerantes” com doutrinas heterodoxas podem pensar que não haveria problemas se alguém quisesse seguir estes ensinos. Mas, será que há algum problema em alguém adotar práticas do Judaísmo? Quais seriam os problemas do ensino judaizante e que perigos que ele representa para o cristão? O grande problema é que este ensino altera a base do Evangelho, que é a Justificação pela fé. 


O ensino judaizante representa um complemento ao sacrifício de Cristo na Cruz. Quando se coloca algo a mais como condição para a Salvação, isso anula o sacrifício de Cristo. Se houvesse a possibilidade de algum ser ser justificado pelas obras da Lei, não haveria necessidade de Jesus vir a este mundo e padecer em nosso lugar. Bastaria o ser humano se converter ao Judaísmo e praticar os preceitos da Lei Mosaica. Mas tudo aquilo eram apenas sombras e figuras do que estava por vir na Nova Aliança. 


O outro problema do ensino judaizante é que ele ameaça a liberdade cristã. Cristo veio nos libertar e não nos escravizar. Os judaizantes são legalistas, embora nem todos os legalistas sejam judaizantes. Todo legalista cria regras e obrigações como meio de obter o favor de Deus. Na verdade, fazem sacrifícios de tolos, pois o favor de Deus se manifestou através do Seu Filho Jesus Cristo, o Único que pode nos reconciliar com Deus. Portanto, devemos rejeitar quaisquer exigências e acréscimos para se obter a Salvação, além da Graça de Deus e fé em Cristo. 


3. As práticas judaizantes atuais. Neste ponto, o comentarista menciona as principais práticas judaizantes da atualidade. As principais são a exigência da guarda do sábado e a observância das leis dietéticas do Judaísmo, chamadas de Kashrut. Estes dois pontos são seguidos principalmente pela Igreja Adventistas do Sétimo Dia e outros grupos que exigem a guarda do sábado e a abstinência de certos tipos de alimentos, como condição para a salvação. 


Estes grupos não exigem a prática da circuncisão e a observância de outros rituais judaicos nos cultos. Mas a exigência da guarda do sábado e a abstinência de alimentos proibidos na Lei como condição para a salvação, configura-se em “outro evangelho”, como disse Paulo. Nem Jesus, nem os apóstolos nunca ensinaram estas coisas. Paulo escreveu aos Colossenses: “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”. (Cl 2.16,17).


Há atualmente também Igrejas que adotam outras práticas e símbolos religiosos do Judaísmo, como a liturgia da sinagoga e o uso do kippar, do shofar e do manto para oração. O uso destes elementos fazem parte da cultura judaica. Se um judeu convertido os usar, de forma cultural e sem colocá-los como condição para a salvação, não há nenhum problema. Mas não faz sentido um cristão brasileiro querer se vestir como judeu, seguir a liturgia das sinagogas ou orar em hebraico. Nós vivemos na dependência do Espírito e não estamos sob o jugo da lei. 


REFERÊNCIAS:


SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 

Revista Ensinador Cristão. Ed. 100, p. 37 . RIO DE JANEIRO: CPAD, 2025. 

Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2004, p. 1633. 

RICHARDS, Lawrence O. Comentário Devocional da Bíblia. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2012, p. 843. 

Bíblia de Estudo Pentecostal. Edição Global. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2022, pp. 2153-54. 


10 janeiro 2025

A TENDÊNCIA JUDAIZANTE NO INÍCIO DA IGREJA

(Comentário do 2°tópico da Lição 02: Somos Cristãos) 

Ev. WELIANO PIRES 

No segundo tópico, falaremos das tendências judaizantes no início da Igreja Cristã. Falaremos do espanto do apóstolo Paulo diante da mudança rápida dos crentes da Galácia para o evangelho judaizante. Na sequência, veremos quem eram judaizantes daquela época e as suas características. Por último, falaremos do clima de tensão de Paulo e Barnabé contra os judaizantes, que entraram na reunião sem serem convidados e os pressionaram perante os demais apóstolos. 

1. O espanto do apóstolo. A Epístola de Paulo aos Gálatas é considerada um dos escritos mais antigos do Novo Testamento, escrita entre 49 e 55 d.c. Paulo não expressa ações de graças no início desta epístola, não faz menção a orações dele pelos gálatas e vai direto ao assunto principal da epístola, que é o retrocesso dos gálatas ao deixarem a mensagem do Evangelho da Graça pregado por ele, para cederem aos apelos dos judaizantes. 

No versículo 6, do primeiro capítulo, Paulo mostra-se espantado pela rapidez com que os crentes da Galácia deixaram o Evangelho por ele pregado, atraídos por “outro evangelho”: “Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho.” Duas palavras-chaves são fundamentais para a compreensão do que Paulo quis dizer: 

a) O verbo “passásseis”. Tradução do grego metatithesthe, que significa “deixar, abandonar, desertar, mudar de pensamento, virar a casaca”, conforme explicou o comentarista. Esta palavra traz a idéia de abandonar, como um soldado que desertou e fugiu do quartel, ou uma mudança radical de pensamento. É uma espécie de mudança da água para o vinho.

b) O pronome indefinido “outro”. Tradução do grego “heteros”, que significa outro diferente. Esta palavra deu origem às palavras portuguesas heterossexual, heterogêneo, heterodoxo, etc. É diferente de “allos”, que é outro da mesma espécie. 

Paulo espantou-se, primeiro pela rapidez com que eles abandonaram o Evangelho que ele lhes havia ensinado. Fazia menos de dois anos que Paulo havia lhes ensinado o Evangelho e eles “desertaram” para um falso evangelho. Segundo, pela mudança radical para “outro evangelho”, diferente daquele que ele lhes havia pregado. 

Na sequência deste texto, Paulo diz: “Mas ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema (maldito).” (Gl 1.8). Esta declaração de Paulo é muito importante e nos ensina que ninguém está autorizado a acrescentar, diminuir ou modificar o Evangelho. Qualquer coisa nesse sentido deve ser considerado anátema ou maldito. 

2. Quem eram os judaizantes (v.4)? Os judaizantes eram judeus convertidos ao Cristianismo. A maioria deles pertenciam ao partido [hairesis] dos fariseus, que era o mais conservador do Judaísmo, no tocante ao cumprimento das ordenanças da Lei. Mesmo tendo crido que Jesus era o Messias prometido a Israel e o Filho de Deus, estes cristãos judeus não haviam se desvencilhado da Lei e insistiam que os cristãos deveriam guardar a Lei Mosaica, como condição para a salvação. 

Não se tratava apenas de guardar os princípios morais da Lei, como não servir a outros deuses, honrar aos pais, não cobiçar as coisas do próximo, não matar, não furtar, etc. Eles ensinavam que os cristãos, inclusive os gentios, deveriam ser circuncidados, guardar o sábado e seguir as regras dietéticas previstas na Lei. 

Os judaizantes eram maioria na Igreja de Jerusalém que era majoritariamente formada por judeus. Na verdade, a Igreja de Jerusalém, inclusive os apóstolos, tiveram dificuldades para compreender a salvação dos gentios unicamente pela fé em Cristo. Pedro, por exemplo, antes de ir pregar na casa de Cornélio, precisou que Deus lhe desse uma visão de vários animais considerados imundos pela Lei. Mesmo ouvindo uma voz do Céu dizendo para ele comer, ele insistiu que nunca havia comido nada comum ou imundo. A voz lhe disse para não considerar imundo o que Deus purificou. 

Pedro foi orientado a ir com os emissários do centurião Cornélio, sem duvidar. Ele foi e ao iniciar a sua pregação, disse: “Vós bem sabeis que não é lícito a um judeu ajuntar-se a estrangeiros…”. (At 10.28). Em seguida pregou que Deus havia lhe mostrado para não considerar nenhum homem comum ou imundo. Ou seja, alguns anos após o Pentecostes, tendo visto várias conversões de gentios em Samaria e em outras regiões, Pedro ainda continuava preso ao Judaísmo. 

Em seu discurso, Pedro falou ousadamente sobre Jesus e, durante a sua pregação, o Espírito Santo desceu sobre os seus ouvintes e eles falaram em línguas e profetizaram. Os cristãos judeus que faziam parte da comitiva de Pedro vendo aquilo, se admiraram pelo fato do Espírito Santo descer sobre os gentios, da mesma forma que descera sobre eles no Pentecostes. 

Depois de ter visto os seus ouvintes sendo batizados no Espírito Santo, Pedro os batizou nas águas. Entretanto, quando chegou a Jerusalém, foi convocado pela Igreja para dar explicações pelo fato de haver entrado na casa de pessoas incircuncisas e ter comido com eles. Pedro, então, contou toda a história desde a visão que ele teve, até o momento em que os gentios foram cheios do Espírito Santo. Somente assim, os cristãos judeus se acalmaram e glorificaram a Deus dizendo: “Na verdade, até aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida.”

Mesmo após este episódio e após as inúmeras conversões de gentios, principalmente em Antioquia da Síria, que se tornou a primeira Igreja missionária, os judaizantes insistiam no ensino de que era necessário guardar a Lei para ser salvo. Eles se tornaram ferrenhos opositores de Paulo, que os chamava de “falsos irmãos”. Se apresentavam também como “enviados da Igreja de Jerusalém”, mas Tiago negou esta informação no primeiro Concílio da Igreja em Atos 15.

3. O clima de tensão (vv. 3-5). Conforme falamos no tópico anterior, esta reunião era para ser apenas entre Paulo, Barnabé, Tito, Pedro, Tiago e João. Entretanto, os judaizantes vieram para a reunião, sem serem convidados, e tentaram se impor a Paulo e Barnabé perante os demais apóstolos. Eles eram influentes na Igreja de Jerusalém, que era majoritariamente judaica e eram inimigos da liberdade cristã. Em um ambiente assim, naturalmente o clima ficou tenso para Paulo e Barnabé, mas eles não cederam, pois sabiam que o futuro da fé cristã estava em jogo. Se eles cedessem, o Cristianismo seria reduzido a mais uma seita judaica.

Os pastores e mestres da Igreja atual precisam ter a mesma firmeza e coragem em situações como esta. Não podemos ceder um milímetro em questões fundamentais que norteiam a conduta cristã. O nosso manual de fé e prática é a Palavra de Deus e, portanto, não podemos nos curvar diante de inovações, modismos e falsas doutrinas, sejam de homens ou de demônios. 

Evidentemente, quando falamos em questões fundamentais da fé cristã, não estamos nos referindo a usos e costumes ou a estatutos e regras denominacionais. Isso são questões locais, temporais e culturais, que não interferem na salvação. Há também divergências teológicas, que são questões secundárias e não podem ser consideradas heresias de perdição, como vimos na lição passada. Nestas questões secundárias, cada denominação tem o seu posicionamento e não devemos combater. 

08 janeiro 2025

PREVENINDO-SE CONTRA A TENDÊNCIA JUDAIZANTE

(Comentário do 1º tópico da Lição 02: Somos Cristãos) 

Ev. WELIANO PIRES 

No primeiro tópico, falaremos da prevenção do apóstolo Paulo contra a tendência judaizante. Falaremos da subida de Paulo a Jerusalém por orientação divina, catorze anos após a sua conversão, onde ele se reuniu com os apóstolos. Na sequência, falaremos do objetivo desta reunião que, provavelmente, teve ligação com a profecia de Ágabo sobre a fome e não deve ser confundida com o primeiro concílio da Igreja de Jerusalém. Por último, falaremos do caso de Tito, que os judaizantes queria que ele fosse circuncidado, mas Paulo não aceitou, pois ele não era judeu.  

1. Subindo outra vez a Jerusalém (Gl 2.1,2). No primeiro capítulo da Epístola aos Gálatas, Paulo se mostra espantado com o fato dos gálatas haverem passado tão depressa do Evangelho da Graça pregado por ele, para o falso evangelho dos judaizantes (Falaremos disso no segundo tópico). A partir daí, Paulo relata o seu procedimento antes da sua conversão, como ele excedia aos seus compatriotas em Judaísmo e perseguia a Igreja de Cristo.   Em seguida o apóstolo relata como foi o seu procedimento após a sua conversão. Ele diz que não consultou a carne e o sangue e não tornou a Jerusalém, mas partiu para a Arábia e depois retornou a Damasco. Por fim, após três anos da sua conversão, foi a Jerusalém para ver a Pedro e ficou com ele 15 dias (Gl 1.11.18). Esta foi a primeira vez que ele esteve em Jerusalém, após a sua conversão.   No capítulo 2 da Epístola aos Gálatas, ele continua este relato e diz: “Passados catorze anos, subi outra vez a Jerusalém, com Barnabé, levando comigo Tito”. (Gl 2.1). Paulo diz ainda que esta subida a Jerusalém se deu por revelação divina. Como explicou o comentarista, esta subida de Paulo a Jerusalém não foi na ocasião do primeiro concílio da Igreja em Jerusalém, pois este concílio tratou do mesmo assunto, mas não foi mencionado na Epístola aos Gálatas, o que nos leva a crer que a Epístola foi escrita antes deste concílio.   Podemos concluir que esta subida de Paulo a Jerusalém com Barnabé ocorreu antes da sua primeira viagem missionária, quando eles ainda estavam na Igreja de Antioquia da Síria, pois foi nesta época que eles receberam a profecia de Ágabo.   

2. Objetivo da reunião. Esta reunião de Paulo com  os apóstolos para discutir a questão dos judaizantes não foi uma convocação do colégio apostólico, ou concílio como o que aconteceu em Atos 15. Paulo deixou claro na Epístola aos Gálatas que ele subiu a Jerusalém por revelação e lhes expôs o Evangelho que ele pregava aos gentios (Gl 2.2).  Não sabemos de que forma Deus falou com Paulo para que ele fosse a Jerusalém. O comentarista mencionou que é possível que tenha ligação com Ágabo. É uma referência à profecia que Ágabo proferiu em Antioquia, dizendo que viria uma grande fome sobre todo o mundo. Por causa desta profecia, a Igreja de Antioquia enviou donativos aos pobres de Jerusalém, por meio de Barnabé e Saulo (At 11.27-30).   Se for este o caso, Paulo foi a Jerusalém com o objetivo de levar alimentos para os necessitados e aproveitou a oportunidade para expor o Evangelho da Graça que ele pregava aos gentios. Seja como for, o fato é que o Espírito Santo dirige a Igreja e sabe dos seus problemas. Por isso, revelou a Paulo que subisse a Jerusalém para resolver esta questão dos judaizantes.   

3. Tito e a circuncisão (v.5). Paulo subiu a Jerusalém acompanhado de Barnabé e Tito. Quanto a Barnabé, não havia problema com a sua presença, pois ele era judeu e, portanto, circuncidado. Este não era o caso de Tito, que era gentio. Apesar de ter sido um fiel companheiro de ministério do apóstolo Paulo e, provavelmente, seu filho na fé, Tito não é mencionado no Livro de Atos. Sabemos que ele era gentio, por causa da informação dada por Paulo na Epístola aos Gálatas (Gl 2.3).  Paulo era tolerante para com os fracos na fé e cedia em alguns pontos, para não prejudicar o avanço do Evangelho ou para não escandalizar os fracos na fé. No caso de Timóteo, por exemplo, Paulo o circuncidou, antes de levá-lo consigo para a missão, por causa dos judeus. Mas, por que ele não fez o mesmo com Tito? Porque Timóteo era judeu e isso fazia parte da cultura judaica. Entretanto, sendo Tito um gentio, se Paulo o circundasse, estaria dando munição aos judaizantes que insistiam que os convertidos a Cristo precisariam se submeter à Lei Mosaica. Isso seria uma incoerência da parte dele e contaminara a mensagem do Evangelho.   Com este episódio aprendemos que o Evangelho não é uma seita do Judaísmo, mas é transcultural. Se por um lado, não podemos adotar práticas judaicas no Cristianismo, por outro lado, devemos respeitar a cultura judaica para os judeus convertidos. Da mesma forma que devemos respeitar a cultura de outros povos, desde que estas culturas não comprometam os princípios do Evangelho.

06 janeiro 2025

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 02: SOMOS CRISTÃOS


Ev. WELIANO PIRES 

Nesta lição veremos os alertas dos apóstolos no primeiro século para preservar a Igreja dos judaizantes, que insistiam no ensino de que os gentios convertidos à fé cristã precisavam guardar os rituais da Lei Mosaica, como a circuncisão, a guarda do sábado e a abstinência de certos tipos de alimentos. Veremos também como esta tendência se manifesta atualmente em alguns grupos que se dizem cristãos, mas querem “costurar o véu do templo” e voltar à Antiga Aliança. 

No primeiro tópico, falaremos da prevenção do apóstolo Paulo contra a tendência judaizante. Falaremos da subida de Paulo a Jerusalém por orientação divina, catorze anos após a sua conversão, onde ele se reuniu com os apóstolos. Na sequência, falaremos do objetivo desta reunião que, provavelmente, teve ligação com a profecia de Ágabo sobre a fome e não deve ser confundida com o primeiro concílio da Igreja de Jerusalém. Por último, falaremos do caso de Tito, que os judaizantes queria que ele fosse circuncidado, mas Paulo não aceitou, pois ele não era judeu. 

No segundo tópico, falaremos das tendências judaizantes no início da Igreja Cristã. Falaremos do espanto do apóstolo Paulo diante da mudança rápida dos crentes da Galácia para o evangelho judaizante. Na sequência, veremos quem eram judaizantes daquela época e as suas características. Por último, falaremos do clima de tensão de Paulo e Barnabé contra os judaizantes, que entraram na reunião sem serem convidados e os pressionaram perante os demais apóstolos.

No terceiro tópico, falaremos da tendência judaizante nos dias atuais. Veremos que o Evangelho é um só e que as expressões “Evangelho da circuncisão” e “Evangelho da incircuncisão”, usadas por Paulo, são meramente formas de apresentação, pois a mensagem é a mesma. Na sequência, falaremos do perigo da tendência judaizante que além de ameaçar a liberdade cristã, pode reduzir o Cristianismo a mais uma seita judaica. Por último, falaremos das práticas judaizantes da atualidade. Certos grupos que se dizem evangélicos querem introduzir no meio da Igreja costumes e práticas judaicas, como a guarda do sábado, observância de leis dietéticas e usos de elementos da cultura judaica. 


REFERÊNCIAS:

SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 
Revista Ensinador Cristão. Ed. 100, p. 37 . RIO DE JANEIRO: CPAD, 2025. 
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2004, p. 1633. 
RICHARDS, Lawrence O. Comentário Devocional da Bíblia. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2012, p. 843. 
Bíblia de Estudo Pentecostal. Edição Global. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2022, pp. 2153-54. 

04 janeiro 2025

O QUE SÃO HERESIAS?

(Comentário do 3° tópico da Lição 01: Quando as heresias ameaçam a unidade da Igreja)

Ev. WELIANO PIRES

No terceiro tópico, com base na terceira parte da leitura bíblica em classe, o comentarista nos apresenta o conceito bíblico de heresias. Inicialmente, falaremos dos significados das palavras seitas e heresias no texto bíblico e na atualidade. Na sequência, falaremos do termo grego hairesis no Novo Testamento. Por, discorreremos sobre o significado da expressão “heresias de perdição”, usada pelo apóstolo Pedro em 2 Pedro 2.1. 

1. Seitas e heresias. As palavras seitas e heresias são bem conhecidas no meio evangélico, mas poucos sabem o que elas realmente significam e qual era o seu significado no Novo Testamento. É preciso esclarecer que estas duas palavras em português traduzem a palavra grega hairesis. Esta palavra tem significados diferentes na Bíblia e varia de acordo com o contexto, conforme veremos no próximo subtópico. No contexto atual, seitas e heresias tem outros significados, que soam pejorativos e podem ser considerados ofensivos por algumas pessoas.

A palavra “seita” deriva do latim “secta”, que significa facção, partido, ou divisão de um grupo. Jerônimo, o tradutor da Versão Latina da Bíblia chamada Vulgata, traduziu a palavra hairesis como secta e daí veio a palavra portuguesa seita. A palavra “heresia”, por sua vez, também é a tradução do grego “hairesis”, mas tem o sentido de divergência de pensamento, como em 1Co 11.19: “E até importa que haja entre vós heresias [hairesis], para que os que são sinceros se manifestem entre vós.” Significa também divisão e contenda em um grupo, como em 1 Coríntios 3.3. Em 2 Pedro 2.1, no entanto, heresia significa erros doutrinários que levam à perdição, como veremos no terceiro subtópico. 

Com o passar dos anos, as palavras seitas e heresias ganharam novos significados. Atualmente, a teologia define seita como um grupo religioso cujos ensinos contrariam as doutrinas bíblicas. A definição atual de heresia é o que está na Verdade Prática desta lição: “são crenças e práticas contrárias ao pensamento bíblico que distorcem os pontos principais da doutrina bíblica”. Em outras palavras, seita é um grupo heterodoxo que propaga doutrinas contrárias à ortodoxia bíblica. Heresias são os erros doutrinários que estes grupos propagam. Nem todas as heresias são propagadas por seitas, pois há heresias que são propagadas em nosso meio por lobos disfarçados de ovelhas. 

2. “Hairesis” no Novo Testamento. A palavra hairesis não tinha um sentido pejorativo no Novo Testamento, como tem hoje seitas e heresias. Em alguns textos, hairesis foi traduzida na Versão Almeida Revista e Corrigida por “seita”, com o sentido de partido, como em Atos 5.17, em referência ao Grupo dos Saduceus. A Nova Versão Internacional traduziu hairesis neste texto como “partido”. Nesse sentido, até o Cristianismo foi chamado de “Seita dos Nazarenos”, pois pensava-se que o Cristianismo era mais um partido religioso do Judaísmo, como os Fariseus, Saduceus, Herodianos e Zelotes. 

Em outros textos, hairesis significa divisão ou partidarismo dentro da própria Igreja, como no caso da Igreja de Corinto: “Porque ainda sois carnais, pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões [hairesis], não sois, porventura, carnais e não andais segundo os homens?” (1Co 3.3). Em Gálatas 5.20, quando Paulo fala das obras da carne, a palavra hairesis aparece como uma dessas obras, no sentido de facções ou divisões no seio da Igreja. 

3. Heresias de perdição (2 Pe 2.1). Neste texto de 2 Pedro 2.1, quando o apóstolo alerta as Igrejas a respeito do surgimento de falsos mestres no seio da Igreja, ele cita algumas características deles. Uma das principais características dos falsos mestres é que eles “introduzirão encobertamente heresias de perdição e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição.” 

Aqui, a palavra heresia apresenta o significado pelo qual é conhecida atualmente na teologia cristã. São erros doutrinários gravíssimos que negam ou distorcem as doutrinas fundamentais do Cristianismo como a Doutrina da Trindade; a divindade e a humanidade de Cristo; a inerrância, infalibilidade e inspiração divina das Escrituras; a doutrina do pecado; a justificação pela fé; a condenação eterna; etc. 

São heresias que comprometem a salvação das pessoas e as conduzem à perdição. A maioria destas heresias de perdição surgiram nos primeiros séculos da Igreja Cristã e foram combatidas pelos apologistas. Entretanto, ressurgem em nossos dias disfarçadamente com novas roupagens. Ao longo deste trimestre, estudaremos algumas delas, pois não seria possível estudar todas em um único trimestre. 

REFERÊNCIAS:

SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 
Revista Ensinador Cristão. Ed. 100, p. 36. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2025. 
Comentário Bíblico Farol. Vol. 10. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2006, p.233.
Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p.178.

JESUS, A VERDADE EM JERUSALÉM

(Comentário do 1º tópico da Lição 05: A Verdade que liberta)  Ev. WELIANO PIRES  No primeiro tópico, falaremos do tema: Jesus, a verdade em ...