(Comentário do 1º tópico da Lição 01: Duas mulheres importantes na história de um povo)
Ev. WELIANO PIRES
No primeiro tópico, apresentaremos um breve relato da biografia de Rute.
Rute era natural de Moabe, um povo descendente de um relacionamento incestuoso
de Ló com sua filha primogênita, que eram inimigos históricos de Israel. Na
sequência, falaremos da família de Elimeleque e Noemi, uma família que migrou
de Belém de Judá para Moabe, por causa da fome. Em Moabe, morreu Elimeleque e
os seus filhos se casaram com moabitas, sendo Rute uma de suas noras. Depois,
morreram também os dois filhos de Elimeleque e Noemi, e esta decidiu voltar à
sua terra. Rute insistiu e mudou-se também com a sua sogra para a terra de
Israel. Por último falaremos do matrimônio de Rute com Boaz, do qual nasceu
Obede, o avô do rei Davi.
1. Uma moabita. O texto bíblico não fala nada
sobre a vida pregressa de Rute, antes de se casar com um israelita. Diz apenas
que ela era uma mulher moabita. Os moabitas eram
descendentes de um relacionamento incestuoso entre Ló e uma das suas filhas (Gn
19.37). Depois de embriagar o pai, a filha mais velha de Ló teve relações com
ele e desta relação, nasceu Moabe, o ancestral dos moabitas.
O povo de Moabe não servia ao Deus de Israel. Ao
contrário, eram extremamente idólatras e tinham práticas religiosas
abomináveis. Adoravam a Astarote e a Baal-Peor, deuses da fertilidade. Adoravam
também a Quemós, deus da guerra e outras divindades pagãs (Nm 22.40; 23.2;
25.1-3,16). Em suas oferendas aos seus deuses, os moabitas ofereciam
sacrifícios de ovelhas e bois e até sacrifícios humanos (2 Rs 3.27).
Os moabitas eram extremamente hostis ao povo de
Israel. Quando Israel atravessava o deserto, tanto os amonitas, como os
amalequitas e os moabitas foram hostis a Israel, negando-lhe até água (Dt
23.3,4). Por causa disso, Deus proibiu que eles entrassem na Congregação do
Senhor. Balaque, rei de Moabe, contratou até um falso profeta da Mesopotâmia,
chamado Balaão, para amaldiçoar o povo de Deus (Nm 22-23).
Como Deus não deixou Balaão amaldiçoar a Israel e
ainda o forçou a abençoar, ele deu conselhos a Balaque para que mandasse as
mulheres de Moabe convidar os israelitas para o culto a Baal-Peor, que envolvia
a imoralidade sexual (Nm 25.1-3; Ap 2.14). Por causa desta abominação, morreram
vinte e quatro mil israelitas (Nm 25.4-9). Sendo uma moabitas, Rute foi criada
nesse ambiente de idolatria e abominações. Do ponto de vista humano, era
praticamente impossível que ela se casasse com um israelita e entrasse para a
descendência do Messias. Mas os planos de Deus são infinitamente superiores aos
nossos.
2. A família belemita. Rute entrou para a história de
Israel através de uma família da cidade de Belém de Judá, que saiu para os
campos de Moabe, por causa da fome. Esta família era formada por Elimeleque, a
sua esposa Noemi e os filhos Malom e Quiliom. O primeiro versículo do Livro de
Rute situa o período em que se deu os fatos, de forma vaga, informando apenas
que foi no período em que os juízes julgavam. É difícil precisar a época exata
em que isso aconteceu, pois o período dos juízes durou cerca de 300 anos, desde
a morte de Josué, até os dias do profeta Samuel.
A família de Elimeleque era uma família abastada, pois possuía terras e
bens. Entretanto, com as constantes invasões e saques dos inimigos e a seca que
sobreveio à terra de Israel, como juízo de Deus, a crise econômica atingiu a
todos. Diante da crise, Elimeleque decidiu buscar meios de sobrevivência para a
sua família em Moabe. Do ponto de vista material, a solução que lhe pareceu
mais racional, foi ir para as terras planas de Moabe, do outro lado do Mar
Morto, no território que hoje corresponde à Jordânia.
A cidade de Belém, cujo nome significa “Casa do pão”, era uma grande
produtora de grãos. Belém ficava a uma distância de 8 km ao sul de Jerusalém e
a 80 km de Moabe. Esta cidade é também chamada de Efrata e quando alguém é
chamado na Bíblia de efrateu, significa que é natural de Belém. Foi nesta
cidade que nasceram Jessé, Davi, Miquéias e Jesus.
Parece até um contrassenso, a casa de pão, se tornar um lugar de
fome, carestia, seca e escassez. Entretanto, após a morte de Josué, por falta
de uma liderança piedosa, o povo de Israel caiu em uma situação de anarquia e
cada um fazia o que bem entendia. Em pouco tempo se entregaram à idolatria e
adotaram práticas abomináveis aos olhos do Senhor. A seca, a fome, as crises
econômicas, as doenças e o domínio dos inimigos eram instrumentos que Deus
usava para punir e disciplinar o seu povo por causa do pecado.
Pelo significado do seu nome, “Deus é meu Rei”, é de se supor que
Elimeleque era de uma família que servia a Deus. Não temos nenhum relato de que
ele ou Noemi tenham abandonado a sua fé em Deus e se dado à idolatria, como
muitos da sua geração. Entretanto, não vemos Elimeleque buscando a direção de
Deus antes de deixar a terra de Israel, ou buscando o socorro de Deus para esta
crise.
Ao chegarem a Moabe, em vez de encontrar a prosperidade, a família de
Elimeleque encontrou a enfermidade e, consequentemente, a morte. O patriarca da
família adoeceu e veio a óbito, deixando a viúva com dois filhos, em terra
estrangeira. Naqueles tempos, em que não havia previdência social, as viúvas
ficavam desamparadas, exceto se tivessem filhos para sustentá-las. Os dois
filhos de Noemi cresceram e se casaram com mulheres moabitas, porém, sem que
tivessem filhos, acabaram morrendo também.
3. Matrimônio e maternidade. Diante deste quadro desolador,
Noemi ouviu que o Senhor tinha visitado o seu povo, dando-lhe pão, e decidiu
voltar à sua terra. Ela disse às suas duas noras para voltarem aos seus
parentes. Orfa, uma das noras atendeu à sua sogra e voltou. Mas Rute, insistiu
que não voltaria e iria com a sua sogra aonde quer que ela fosse. Vendo a
convicção de Rute de ir com ela para a terra de Israel, e que não conseguiria
fazê-la mudar de ideia, Noemi seguiu com a sua nora para Belém de Judá, de onde
havia saído com a família havia dez anos.
A generosidade e lealdade de Rute para com a sua sogra Noemi, chamou a
atenção de Boaz, um parente próximo de Elimeleque que era dono daqueles campos.
Boaz perguntou aos seus trabalhadores quem era aquela moça e, ao ser informado
que era a moabita, nora de Noemi, ele lhe ofereceu proteção e alimento em sua
propriedade e ordenou que os seus trabalhadores também a tratassem bem.
Boaz era um homem íntegro, rico e influente em Belém. Desde o primeiro
dia, ele se encantou por Rute e ela sabia disso. Pela declaração posterior
dele, percebemos também que Rute chamou a atenção de toda a comunidade por suas
virtudes, principalmente, pelo seu amor e dedicação à sua sogra Noemi: “Agora,
pois, minha filha, não temas; tudo quanto disseste te farei, pois toda a cidade
do meu povo sabe que és mulher virtuosa.” (Rt 3.11).
Depois que descobriu que Boaz era um dos remidores da família e,
percebendo que ele já estava encantado por Rute, Noemi elaborou um plano, para
que o casamento acontecesse. Rute seguiu todas as orientações da sua sogra e
casou-se com Boaz. Deste casamento, nasceu um filho e as vizinhas deram-lhe o
nome de Obede, que significa “adorador”. Este foi o pai de Jessé e avô do rei
Davi. Assim, Rute, a moabita, entrou para a genealogia de Jesus Cristo.
Vemos aqui a importância de se honrar o casamento e a maternidade. Foi
Deus que instituiu o casamento, para através dele, promover a felicidade do
casal e dar origem a novas famílias. A honra ao casamento e à maternidade traz
bênçãos não apenas para a nossa geração, mas também para as gerações futuras.
Infelizmente, na sociedade pós-moderna tanto o casamento como a geração de
filhos têm sido desprezados e atacados. As pessoas hoje não querem mais casar e
preferem o sexo sem compromisso. Os poucos que se casam, já estão pensando na
separação. Muitas pessoas na atualidade dão mais valor aos animais que aos
filhos. Mulheres lutam para terem o direito de assassinar o próprio filho ainda
no ventre. Mas, ninguém se engane: o julgamento de Deus será implacável contra
aqueles que fazem estas coisas.
REFERÊNCIAS:
QUEIROZ, Silas. O Deus que governa o Mundo e cuida da Família: Os ensinamentos divinos nos livros de Rute e Ester para a nossa geração. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2024.
REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. RIO DE JANEIRO: CPAD, 3º Trimestre de 2024. Nº 98, pág.36.
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2004, p.354
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal.RIO DE JANEIRO: CPAD, 2004, p.692
Comentário Bíblico Beacon. Vol. 2: Josué a Ester. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2005.
CABRAL, Elienai. RELACIONAMENTOS EM FAMÍLIA: Superando Desafios e Problemas com Exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023.