06 junho 2023

UMA CONVERSÃO DUVIDOSA

 A MENTIRA DE ANANIAS E SAFIRA (act 5,1-13) | Deus, Bíblia e Poesia

(Comentário do 1º tópico da Lição 11: Os prejuízos da mentira na família).


Ev. WELIANO PIRES


No primeiro tópico da lição, falaremos sobre a conversão duvidosa de Ananias e Safira. A Igreja vivia um clima de espiritualidade, comunhão e filantropia e eles demonstraram que não haviam experimentado uma transformação verdadeira. A inveja, a hipocrisia e a mentira estavam presentes no coração deles. Por isso, fizeram uma doação dissimulada, não com o objetivo de socorrer aos necessitados, mas pensando em aparecer perante a Igreja, como se fossem pessoas generosas.

1- Por que uma conversão duvidosa? Após a descida do Espírito Santo sobre a Igreja Primitiva, os cristãos viviam um grande avivamento espiritual em todos os aspectos. Os apóstolos davam testemunho do Senhor Jesus com grande ousadia, sem temer as ameaças das autoridades judaicas (At 4.33). Estavam todos os dias no templo e nas casas, orando e ensinando a Palavra de Deus (At 5.32). O Senhor realizava muitos milagres através deles, de forma que as pessoas projetavam os enfermos sobre a sombra de Pedro para serem curados; traziam também enfermos e endemoninhados de cidades vizinhas para serem curados e libertos (At 5.12-16).

Neste clima de avivamento e milagres, multidões de pessoas se juntavam aos cristãos. Entretanto, nem todos eram convertidos. Assim como aconteceu com Jesus, muitos dos que se juntavam à Igreja buscavam apenas os milagres, ou tinham outros objetivos. Estas pessoas não tiveram um encontro real com o Salvador e não tiveram as suas vidas transformadas, pois, não passaram pela experiência do novo nascimento.

Foi este o caso do casal Ananias e Safira. A Bíblia não relata como se deu o ingresso deles na Igreja Primitiva. Mas as suas atitudes demonstram que eles não eram convertidos. Eles combinaram entre si, que doariam apenas uma parte do dinheiro da venda de uma propriedade e ficariam com o resto. Queriam aparecer perante a Igreja como pessoas generosas, mas ficaram com dó de entregar todo o dinheiro.

Vale ressaltar que o pecado deles não foi não entregar todo o dinheiro, pois isso não era uma exigência. Se eles tivessem levado apenas uma parte do dinheiro e contado a verdade, não haveria problema. Mas eles tentaram enganar os apóstolos. Eles não imaginavam que o Espírito Santo de Deus é onisciente e conhece todos segredos: “Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus.” (1 Co 2.20).

O Espírito Santo, que é Deus e conhece todas as coisas, inclusive as intenções dos corações, revelou tudo ao apóstolo Pedro. Quando Ananias entrou, sem ninguém falar nada para Pedro, foi desmascarado e morreu. O mesmo aconteceu à sua mulher que participou da mentira. Igreja que ora e tem comunhão com Deus não é brincadeira! Em um ambiente assim, a cobiça, a falsidade, a mentira, a hipocrisia e o fingimento são desmascarados.

2- A comunhão na igreja de Atos. Uma das principais características da Igreja Primitiva, descritas em Atos 2.42 era a “Comunhão”, ou seja, eles tinham tudo em comum. A palavra comunhão no grego é “koinonia”. Significa “compartilhamento, uniformidade, parceria, associação próxima e participação”. (Concordância de Strong). Isso é uma marca do verdadeiro cristão. É o contrário de divisão, partidarismo, disputas e predileção por lideranças, como acontecia na Igreja de Corinto e Paulo os tachou de carnais (1 Co 3.1).

A comunhão cristã não envolve apenas dinheiro, mas envolve também benefícios espirituais, dons e ministérios, como disse Paulo aos Romanos: “Pedindo sempre em minhas orações que, nalgum tempo, pela vontade de Deus, se me ofereça boa ocasião de ir ter convosco. Porque desejo ver-vos, para vos comunicar algum dom espiritual, a fim de que sejais confortados, isto é, para que juntamente convosco eu seja consolado pela fé mútua, tanto vossa como minha.” (Rm 1.10-12). O mesmo apóstolo disse no capítulo 12: “Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram.” (Rm 12.15). Portanto, a comunhão cristã significa estar unido com os irmãos em qualquer circunstância.

O relato de Atos 5 é uma continuidade do final do capítulo 4, nos versículos 32 a 37. Ali é dito que não havia necessitado algum entre os cristãos, pois todos os que tinham propriedades vendiam-nas e traziam o dinheiro aos apóstolos para socorrer os necessitados. Isso nunca foi exigido pelos apóstolos. O Espírito Santo tocou no coração dos crentes para que tomassem essa iniciativa. Estas doações eram voluntárias e sem esperar nada em troca, apenas o bem estar do próximo.

O final do capítulo 4 relata que um levita de Chipre, chamado José, conhecido pelo apelido de Barnabé, que significa “Filho da consolação”, possuía uma propriedade, que recebera de herança, vendeu-a e trouxe todo o dinheiro aos apóstolos (At 4.36,37). O capítulo 5, que é a continuidade deste relato, começa dizendo “Mas um certo varão chamado Ananias, com Safira, sua mulher, vendeu uma propriedade e reteve parte do preço, sabendo-o também sua mulher; e, levando uma parte, a depositou aos pés dos apóstolos.” (At 5.1,2).

É muito importante esclarecer que a comunhão entre os cristãos nada tem a ver com o comunismo, como muitos ensinam, com o objetivo de justificar o comunismo e o ataque à propriedade privada, buscando apoio nas Escrituras. O teólogo John Macarthur explica muito bem esta questão:

“.... [Os cristãos] não vendiam tudo e ajuntavam em um fundo comum. Tal princípio para a vida cristã era obviamente uma responsabilidade de cada crente em responder ao direcionamento do Espírito (1 Cor. 16:1-2). Além disso, é claro no verso 46 que os indivíduos continuavam possuindo casas. O que acontecia na realidade era a venda de propriedades pessoais conforme alguém necessitasse. Isso indicava imensa generosidade, as pessoas davam não apenas seu dinheiro ou bens, mas também seu futuro em um ato de amor sacrificial para com aqueles que tinha necessidade. E isso é claro nas palavras de Pedro à Ananias em Atos 5:4 que a venda era puramente voluntária. Ananias e Safira pecaram não por recusar a partilhar suas posses, mas por mentir ao Espírito Santo. Finalmente, nenhuma outra igreja descrita em Atos tinha esse padrão de vender e repartir propriedades. 2 Coríntios 8:13-14 descreve uma generosidade similar para com os pobres de Jerusalém.”

3- A inveja e a hipocrisia de Ananias e Safira. Esta atitude mesquinha de Ananias e Safira, se contrapõe à generosidade voluntária de Barnabé. O comentarista diz no livro de apoio que “ esta atitude de Barnabé chamou a atenção de Ananias e Safira, que se encheram de ciúme e inveja porque desejavam receber a admiração dos apóstolos tanto quanto Barnabé.” Eles não fizeram aquela doação por amor aos necessitados, ou para glorificar a Deus. O intuito deles era “não ficar mal” perante os apóstolos e receber elogios.

Infelizmente, em nossas Igrejas há pessoas com esse tipo de atitude, fazendo contribuições ou trabalhos na Igreja com o objetivo de impressionar a liderança e conseguir vantagens. É importante lembrarmos de que Deus sonda as mentes e corações. Ele olha não apenas para as nossas ações, mas vê também as nossas intenções e motivações. Deus não está preocupado apenas com o que estamos fazendo, mas, por que fazemos.

A inveja é um sentimento maligno. Na Bíblia vemos que a inveja teve início com o querubim ungido, que invejou o trono de Deus e quis ser igual a Ele. Por isso, foi expulso do Céu, com uma terça parte dos anjos que o seguiram neste intento, e transformou-se em Satanás, o inimigo de Deus e do seu povo. Depois, vemos o caso de Caim, que teve inveja do seu irmão Caim e, por isso, o matou (Gn 4.1-8). Os irmãos de José também, movidos pela inveja, venderam o seu irmão como escravo, a fim de se livrar da sua presença (Gn 37.25-28). O rei Saul, movido pela inveja, tentou várias vezes matar Davi.

O apóstolo Paulo classifica a inveja como uma das obras da carne, as quais ele diz que aqueles que as praticam não herdarão o Reino de Deus (Gl 5.19-21). Infelizmente, em nossos dias, muitos crentes, inclusive obreiros, se deixam contaminar pela inveja e, por isso, perseguem, caluniam e tentam destruir os próprios irmãos da fé, a fim de assumir o lugar deles. Deveriam ficar felizes por ver um irmão ser usado por Deus em um determinado ministério. Por outro lado, deveriam saber que os dons espirituais e ministeriais são dados por Deus, a quem Ele quer, para aquilo que for útil. De nada adianta estar em uma função na Igreja para a qual Deus não chamou.

A hipocrisia também é um sentimento carnal e incompatível com a conduta do cristão. A palavra "hipocrisia" no grego é "hypokrisis". Em seu sentido original,  significava "desempenhar um ato em um palco". Um "hypokrites" era, na verdade, um ator, que representava um personagem em uma peça de teatro. Posteriormente, passou a designar uma pessoa fingida, que diz uma coisa e faz outra, fingindo ser quem não é. A hipocrisia e a mentira andam juntas, pois estão intimamente relacionadas. Todo hipócrita é por natureza um mentiroso, pois mostra com palavras e atitudes, coisas que não são verdadeiras sobre a sua pessoa ou sobre os seus ensinos.

4- Quando a mentira e o engano enchem os corações. Conforme já falamos anteriormente, o pecado de Ananias e Safira não foi por não ter entregue todo o dinheiro aos apóstolos. A propriedade era deles e ninguém exigiu que eles doassem nada. O próprio Pedro esclareceu isso: “...Guardando-a, não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder?” (At 5.4a).  Se eles tivessem vendido a propriedade e dissessem aos apóstolos que iriam entregar 10% para ajudar aos necessitados, seria uma atitude louvável. Mas, eles deixaram que a mentira e o engano entrassem em seus corações e assim, tentaram enganar a liderança da Igreja.

Quando alguém faz alguma coisa à Igreja do Senhor, boa ou má, é ao Senhor que está fazendo. O Senhor Jesus quando enviou os doze apóstolos em uma missão disse: “E qualquer que tiver dado só que seja um copo de água fria a um destes pequenos, em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão.” (Mt 10.42). O mesmo acontece quando alguém persegue, calunia, ou tenta enganar a liderança da Igreja. Os pastores foram dados pelo Senhor Jesus à Sua Igreja, para aperfeiçoar os santos e edificar o corpo de Cristo. Se eles não cumprirem o seu ministério corretamente, Deus irá tratar com eles. Mas se alguém se levantar contra e tentar enganar a liderança que Deus colocou na Igreja, estará se levantando contra o próprio Deus. Ananias e Safira maquinaram entre si um mentira que seria contada aos apóstolos. Mas, Pedro disse: “... Não mentiste aos homens, mas a Deus.” (At 5.4).

Que Deus nos guarde de todo o engano e mentira, pois estas coisas provém do Diabo e destroem a comunhão cristã e também na família. Nenhum relacionamento humano sobrevive em meio a mentiras e enganos. O nosso falar precisa ser sim, sim e não não, pois o que passar disso é de procedência maligna.  regra para o cristão é falar sempre a verdade, pois, não podemos mentir jamais. Não podemos mentir, nem que seja para agradar ou para não ferir. Também não podemos omitir a verdade, para ganharmos popularidade, ou para evitar retaliações, pois isso equivale a mentir e ser infiel a Deus. A verdade bíblica nunca irá agradar aos ímpios.


REFERÊNCIAS:
CABRAL, Elienai. Relacionamentos em família: Superando desafios e problemas com exemplos  da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 186-191.
PEARLMAN, Myer. Atos: E a Igreja se Fez Missões. Editora CPAD. Ed. 1995. pág. 59-60.
Is Communism Biblical? – O Comunismo é Bíblico. Tradução: Abel Separovich Cassiano dos Santos. Disponível em https://elshaddai.com.br/2016/09/27/o-comunismo-e-biblico/
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. 2a Impressão: 2010. Vol. 1. pág. 642.
LOPES, Hernandes Dias. Atos: A ação do Espírito Santo na vida da igreja. Editora Hagnos. pág. 115,117.
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 3. pág. 111.


 

05 junho 2023

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 11: OS PREJUÍZOS DA MENTIRA NA FAMÍLIA



Ev. WELIANO PIRES

REVISÃO DA LIÇÃO PASSADA


Nesta lição falamos sobre uma das situações mais dolorosas para uma família, que é a morte dos filhos antes dos pais. Pelo curso natural da vida, a lógica seria os filhos sepultarem os pais. Entretanto, não estamos livres de passar por uma situação dessa. Tomamos como exemplo, o patriarca Jó, que perdeu todos os seus filhos em um único dia, de forma trágica. Mesmo sendo um homem reto, sincero e temente a Deus, Jó passou por esta tragédia em sua família. Diante desta tragédia na família de Jó, o Livro de Jó nos diz: “... Em tudo isso [a perda de todos os seus bens e filhos], Jó não pecou com os seus lábios e não atribuiu a Deus falta alguma”. (Jó 1.22). Entretanto, Jó teve o seu período de dor e lamentação. 


No primeiro tópico, falamos sobre a família de Jó. Falamos da pessoa do patriarca Jó, trazendo as poucas informações bíblicas e históricas sobre este patriarca. Muitas pessoas dizem que Jó não foi um personagem real, mas, apenas uma ficção. Entretanto, além do livro de Jó contar a história dele, citando nomes, lugares e povos, há citações em outras partes da Bíblia, mencionando Jó como uma pessoa real. Se temos poucas informações sobre Jó, temos menos ainda sobre a sua esposa. A Bíblia não registra sequer o seu nome. Vimos também que os filhos de Jó levavam uma vida de banquetes, muita comida e bebida. Jó se levantava de madrugada, orava e oferecia sacrifícios por eles a Deus.


No segundo tópico vimos como lidar com a morte dentro da família. Jó e sua família eram prósperos, felizes e respeitados na comunidade em que viviam. De repente foram surpreendidos com uma série de notícias trágicas, principalmente, a morte de todos os seus filhos. Eles tinham razões para estarem tristes e terem o seu período de luto. Entretanto, mesmo diante de tamanha dor e tristeza, Jó manteve a sua fidelidade ao Senhor e o adorou. 


No terceiro tópico, vimos como os cristãos devem enfrentar a triste realidade do luto na família: Em primeiro lugar, jamais devemos culpar a Deus ou blasfemar contra Ele, pois há mistérios nesta vida que jamais os entenderemos, somente na eternidade. Em segundo lugar, o cristão deve viver o seu momento de luto, manifestando naturalmente as suas reações emocionais, como choro, silêncio e tristeza. Por último, devemos manter viva a esperança na ressurreição, pois, o Nosso  Senhor Jesus Cristo venceu a morte, ressuscitando dos mortos, e garantiu que nós também iremos ressuscitar para nunca mais morrermos  e estaremos para sempre com o Senhor, se permanecermos fiéis a Ele até à morte. 


LIÇÃO 11: OS PREJUÍZOS DA MENTIRA NA FAMÍLIA


Nesta lição, estudaremos o perigo que a mentira traz para a família cristã, tomando como exemplo o caso trágico do casal Ananias e Safira, nos primórdios da Igreja Cristã em Jerusalém. Dez dias após a ascensão de Jesus ao Céu, conforme Ele havia prometido aos seus discípulos, o Espírito Santo desceu sobre eles. Todos foram cheios do Espírito Santo, falaram em outras línguas e profetizaram conforme o Espírito Santo lhes concedia (At 2.1-4).


A partir desta experiência, a Igreja foi revestida de poder e ousadia para proclamar o Evangelho e realizar prodígios. Imediatamente após a descida do Espírito Santo, Pedro fez um ousado discurso e quase três mil almas se converteram (At 2.14-41). Poucos dias depois, esse número chegou a cinco mil pessoas (At 4.4). Além disso, muitos milagres incontestáveis foram realizados em Jerusalém. O primeiro deles foi a cura de um coxo de nascença, na porta do templo (At 3.1-9). 


Todos os convertidos perseveravam na doutrina dos apóstolos, no partir do pão, na comunhão, nas orações e havia temor de Deus na Igreja (At 2.42,43). Neste ambiente espiritual e de profunda comunhão entre os santos, o Espírito Santo tocou no coração dos crentes que tinham mais de uma propriedade, para que vendessem uma e levasse o dinheiro aos apóstolos, para socorrer aos irmãos necessitados (At 2.44,45). Esta iniciativa de vender as propriedades, no entanto, era voluntária e não partiu dos apóstolos.


Neste contexto, surge o casal Ananias e Safira, que vendeu uma propriedade e, para não parecerem insensíveis, trouxeram o dinheiro aos apóstolos, sem ninguém exigir que fizessem isso. Porém, tomados pela avareza, combinaram entre si, para ficarem com uma parte do dinheiro e entregar o restante aos apóstolos (A 5.1,2). Quando Ananias chegou diante de Pedro e entregou o dinheiro, o Espírito Santo revelou ao apóstolo a mentira do casal (At 5.3,4).


Pedro indagou Ananias sobre o plano diabólico de esconder parte do dinheiro e disse que ele não havia mentido aos homens, mas a Deus (At 5.3,4). Ouvindo a repreensão de Pedro, Ananias caiu e morreu subitamente e foi sepultado (At 5.5,6). Três horas depois, Safira, a mulher de Ananias, também entrou na presença de Pedro, sem saber do que havia acontecido com o marido. Pedro lhe fez a mesma pergunta e ela reafirmou a mentira do marido. Pedro a repreendeu também e ela morreu da mesma forma. Este triste episódio no meio da Igreja trouxe profundo temor a todos (At 5.7-10).


No primeiro tópico da lição, falaremos sobre a conversão duvidosa de Ananias e Safira. A Igreja vivia um clima de espiritualidade, comunhão e filantropia e eles demonstraram que não haviam experimentado uma transformação verdadeira. A inveja, a hipocrisia e a mentira estavam presentes no coração deles. Por isso, fizeram uma doação dissimulada, não com o objetivo de socorrer aos necessitados, mas pensando em aparecer perante a Igreja, como se fossem pessoas generosas.


No segundo tópico, falaremos sobre o problema da mentira dentro da família. Ananias e Safira, pensando em tirar proveito de uma causa nobre, adotaram a mentira como método dentro de casa. Independente do grau de mentira, quem faz uso dela ainda está dominado pela natureza carnal e está a serviço do Diabo, pois, ele é mentiroso e pai da mentira (Jo 8.44). Jesus, no entanto, é a própria Verdade (Jo 14.6), por isso, o verdadeiro cristão só fala a verdade. 


No terceiro tópico, veremos como proteger a nossa família da mentira e da hipocrisia. Precisamos tomar cuidado com os defeitos morais dentro da nossa casa, pois eles atraem a ira do Senhor e levam a nossa família à ruína. Nenhum de nós está livre de cair na mesma cilada que caíram Acã, Ananias, Safira e tantos outros, que se deixaram levar pela mentira, dissimulação e hipocrisia. Precisamos fazer um autoexame e lutar para que o inimigo não destrua a nossa família com a mentira, hipocrisia e falsidade. Estas coisas são fatais e destroem qualquer relação humana e a comunhão com Deus. 


REFERÊNCIAS: 

CABRAL, Elienai. Relacionamentos em família: Superando desafios e problemas com exemplos  da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 184-186.

LOPES, Hernandes Dias. Atos: A ação do Espírito Santo na vida da igreja. Editora Hagnos. pág. 111-112.

PEARLMAN, Myer. Atos: E a Igreja se Fez Missões. Editora CPAD. Ed. 1995. pág. 59-60.


01 junho 2023

OS CRISTÃOS E O LUTO

Mulher Cristã - Vivenciando o Luto 

(Comentário do 3⁰ Tópico da Lição 10: Quando os pais sepultam os filhos)


Ev. WELIANO PIRES

 

No terceiro tópico, veremos como os cristãos devem enfrentar a triste realidade do luto na família. Em primeiro lugar, jamais devemos culpar a Deus ou blasfemar contra Ele. Há mistérios nesta vida que jamais os entenderemos, somente na eternidade. Em segundo lugar, o cristão deve viver o seu momento de luto, manifestando naturalmente as suas reações emocionais, como choro, silêncio e tristeza. Até o Senhor Jesus, em sua condição humana, chorou diante do túmulo de Lázaro. Por último, devemos manter viva a esperança na ressurreição, pois, o Nosso  Senhor Jesus Cristo venceu a morte, ressuscitando dos mortos, e garantiu que nós também iremos ressuscitar para nunca mais morrermos  e estaremos para sempre com o Senhor, se permanecermos fiéis a Ele até à morte. 


1- Não culpe a Deus. Uma das razões que mais costuma levar pessoas ao ateísmo é a revolta diante de um sofrimento extremo, como a perda de um ente querido muito próximo, como um filho, o cônjuge ou os pais. Nestas circunstâncias, muitas pessoas costumam culpar a Deus pela tragédia que lhes sobreveio, ou passam a duvidar da existência de Deus, pois, segundo imaginam, se Deus existisse, teria evitado que a tragédia acontecesse. Outros, quando perdem os seus entes queridos, não chegam a duvidar da existência de Deus, mas duvidam do seu amor e se revoltam contra Deus e blasfemam. 


A declaração de Jó diante das perdas de todos os seus bens, inclusive os seus dez filhos, tem muito a nos ensinar: "Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o Senhor deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!". A primeira frase de Jó é um reconhecimento de que tudo o que temos nesta vida, incluindo a própria vida, é emprestado. A vida e tudo o que há no Universo pertence a Deus (Sl 24.1). Quando viemos a este mundo, nada trouxemos e nascemos frágeis e com uma aparência não muito agradável. Tudo o que adquirimos ao longo da vida foi porque Deus nos deu a vida, o crescimento, a saúde, o ar, o sol, etc. Na segunda frase, Jó afirma que tudo pertence a Deus e, portanto, Ele tem o direito de dar e de tirar o que quiser, quando quiser e da forma que quiser. Se tivermos esta consciência, jamais iremos culpar Deus por tirar de nós aquilo que não nos pertence. Sobre isso, muito bem disse o Pr. Antonio Mesquita Neves: 

"Deus tem o direito de tirar, porque é Ele quem dá. Então, por Jó o fato foi visto como natural. Se Deus é o Senhor de tudo e dá a quem quer, e tira de quem quer, não há motivo de queixa. Foi isso precisamente o que Jó entendeu; tudo vem de Deus e Ele dá e tira como lhe apraz. É uma lição que vale a pena aprender, mas nem sempre estamos devidamente preparados."


Por último, Jó louvou a Deus, em meio às mais dolorosas perdas, fazendo exatamente o oposto daquilo que o inimigo imaginou que ele faria.  O apóstolo Paulo escrevendo aos Tessalonicenses disse: "Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco." (1 Ts 5.18). A nossa fidelidade a Deus é provada em todas as circunstâncias, tanto na prosperidade, quanto nas adversidades. Há pessoas que esquecem de Deus, quando tudo vai bem. Outras blasfemam contra Deus quando tudo dá errado. Mas, o crente fiel adora a Deus em qualquer circunstância, pois a sua fé não está condicionada ao que Deus lhe dá e sim ao que Ele é. Tem um hino antigo do cantor Eduardo Silva, que eu gosto muito, cujo refrão diz o seguinte: 


Se você perdeu tudo aqui

menos a fé em Deus,

Se você perdeu tudo nesta vida,

menos a fé, você não perdeu nada.

 

2- Vivendo o luto. O período de luto é natural e necessário para quem perdeu um familiar, principalmente um parente de primeiro grau, como filhos, cônjuge, pais ou irmãos. O luto tem prazo de validade e varia de uma pessoa para outra, por vários fatores, como o grau de afetividade com a pessoa falecida, estrutura emocional e/ou espiritual, circunstâncias em que ocorreu a morte, etc. As reações das pessoas enlutadas também variam e não podemos julgar os sentimentos das pessoas por se comportarem desta ou daquela forma. Há pessoas que choram muito, outras passam mal, desmaiam e outras simplesmente silenciam. Isso não está relacionado à intensidade da dor e sim à estrutura emocional da pessoa enlutada. O que devemos fazer é respeitar o luto da pessoa e suas manifestações, orar, visitar, chorar junto e oferecer o nosso abraço, ouvindo mais do que falando. Se for um cristão, podemos orar junto com ele e trazer mensagens de esperança da vida eterna.


Certa vez, eu estava em um velório e, nos momentos finais, quando já se preparavam para retirar o corpo, algumas pessoas choravam e um dos familiares dizia para as pessoas não chorarem, pois a falecida estava com Cristo. Ora, quanta insensatez! As pessoas não estavam chorando por causa do destino eterno daquela pessoa e sim, por causa da separação de uma pessoa que era muito querida. 


3- Mantenha a esperança. É natural e até saudável que a pessoa tenha o seu período de luto, pela perda de alguém que ama. Reprimir o choro e a tristeza para parecer forte pode trazer sérios problemas emocionais e à saúde física. Entretanto, o crente não pode perder de vista a sua esperança na vida eterna. Precisamos sempre lembrar que somos peregrinos e forasteiros neste mundo. O Senhor Jesus quando antes de subir ao Céu prometeu aos seus discípulos que viria outra vez para levá-los para si mesmo, para que onde Ele estiver, eles também estejam. (Jo 14.1-3). 


O apóstolo Paulo, escrevendo aos crentes de Tessalônica, sobre os mortos que morreram com Cristo disse: “Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem, Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.” (1 Ts 4.14-17). 


No mundo greco-romano, os pagãos não criam na ressurreição dos mortos. Os crentes de Tessalônica, vinham dessa triste realidade. Eles creram no Evangelho e aguardavam que Cristo voltaria ainda durante a vida deles. Eram brutalmente perseguidos e viam muitos dos seus entes queridos morrerem. Por isso, estavam entristecidos, pensando que aqueles que dormiam em Cristo haviam perecido. O apóstolo Paulo, então, esclarece que a morte não é o fim para o cristão. Aqueles que morreram em Cristo, ressuscitarão primeiro, depois os que estiveram vivos, na ocasião do arrebatamento, serão transformados. Todos serão arrebatados e subirão a encontrar o Senhor nos ares e estaremos para sempre com o Senhor.  



Se por um lado, é compreensível e necessário o período de luto e tristeza, por outro lado, não podemos dar lugar ao desespero e ao luto eterno, como se não houvesse esperança. Não temos morada permanente aqui, mas esperamos a nossa Pátria Celestial, onde não haverá mais mortes, tristezas, nem dores. (Ap 21.1-4). A vida cristã só fará algum sentido, se levarmos em consideração a Vida eterna. Do ponto de vista terreno, vivemos uma vida na contramão do mundo, sendo perseguidos e renunciando às próprias vontades e até a própria vida por amor a Cristo. Como disse o apóstolo Paulo: “Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E também os que dormiram em Cristo estão perdidos. Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens. (1 Co 15.16-19)


REFERÊNCIAS: 

CABRAL, Elienai. Relacionamentos em família: Superando desafios e problemas com exemplos  da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 175-176.

SWINDOLL, CHARLES R. Jó: Um homem de tolerância heróica. Ed. 2003. Editora Mundo Cristão. pág. 41,42.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pág.1869,1982.

MESQUITA, Antonio Neves de. Jó: Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP.

LOPES, Hernandes Dias. 1 e 2 Tessalonicenses: Como se preparar para a segunda vinda de Cristo. Editora Hagnos. pag. 102-104.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. 4 Ed 2006. pág. 1395-1396.



31 maio 2023

LIDANDO COM A MORTE DENTRO DA FAMÍLIA

(Comentário do 2⁰ Tópico da Lição 10: Quando os pais sepultam os filhos)

Ev. WELIANO PIRES


No segundo tópico veremos como lidar com a morte dentro da família. Jó e sua família eram prósperos, felizes e respeitados na comunidade em que viviam. De repente foram surpreendidos com uma série de notícias trágicas, principalmente, a morte de todos os seus filhos. Evidentemente, eles tinham razões para estarem tristes e terem o seu período de luto. Entretanto, mesmo diante de tamanha dor e tristeza, Jó manteve a sua fidelidade ao Senhor e o adorou. 


1- Jó e sua esposa foram surpreendidos pela morte dos filhos. Era um dia como qualquer outro, na casa do patriarca Jó, um homem íntegro, reto, temente a Deus e que se desviava do mal, como vimos no tópico anterior. Em sua fazenda, a rotina agitada, com muitos trabalhadores e animais, arando terra, produzindo leite e fazendo transportes de pessoas e mercadorias em camelos e jumentos. Jó jamais imaginaria que uma avalanche de notícias trágicas iria se desencadear e mudar para sempre a sua vida. 


Os seus filhos estavam reunidos, como de costume, em um banquete na casa do filho primogênito de Jó. De repente, um dos empregados chegou correndo à casa de Jó, trazendo a triste notícia de que um bando de sabeus cercaram os rebanhos, mataram os servos de Jó e levaram os bois e as jumentas. Somente aquele mensageiro havia escapado e trouxe a má notícia. 


Jó ainda estava sem entender o que havia acontecido e, antes que o servo terminasse de falar, entrou outro correndo e deu a notícia de que havia caído fogo do céu e queimado as sete mil ovelhas de Jó. Os servos que pastoreavam as ovelhas, também foram atingidos pelo fogo e todos foram mortos. Escapara somente aquele e correu para trazer a notícia de mais uma tragédia a Jó.


Antes do segundo mensageiro terminar de falar, eis que entra outro servo correndo e diz a Jó que os caldeus reuniram três bandos, mataram todos os servos que estavam com os camelos e levaram os animais. Somente ele havia escapado e correu para dar a notícia a Jó. Com mais esta triste notícia, todos os bens de Jó tinham desaparecido instantaneamente. 


Não deu nem tempo de Jó dizer para a esposa: estamos falidos! Ou quem sabe, avaliar os prejuízos. Talvez, Jó pensasse em dizer: Perdemos tudo, mas, pelos menos, nós e os nossos filhos escapamos com vida. Quando Jó pensou que não poderia piorar a situação, estando o servo ainda falando sobre o roubo dos seus camelos, entra outro servo correndo e grita assustado: Meu senhor, os seus filhos estavam reunidos em um banquete na casa de teu filho primogênito, veio um furacão e derrubou a casa sobre eles. Todos eles morreram na hora! Eu escapei por pouco e corri para trazer a notícia. 


O mundo desabou instantaneamente sobre a cabeça de Jó e sua esposa. Se perder um filho já é a pior dor que um pai pode sentir, imagine a dor de perder dez filhos de uma vez e ficar sem nenhum! Mesmo sabendo que a morte é inevitável e que pode acontecer a qualquer momento a qualquer um de nós, nunca estamos preparados para receber a notícia de que um ente querido faleceu. 


Existem situações, nas quais a morte já é esperada e, nestes casos, embora sofrendo com a partida do nosso ente querido, nos conformamos com mais facilidade. Quando se trata de um idoso com mais de 90 anos, ou de alguém acometido de uma doença incurável, cujo diagnóstico dos médicos atesta que não tem mais jeito, já esperamos a qualquer momento receber a notícia do falecimento. Entretanto, quando se trata de mortes por acidente, assassinato, ou morte súbita por infarto, AVC e coisas do tipo, principalmente, em pessoas jovens e aparentemente saudáveis, o choque é terrível. Muitas pessoas não conseguem se recuperar e praticamente morrem juntas, pois não encontram mais motivação para viver. Caem em tristeza profunda, depressão e desistem da vida. 


2- Razões para a tristeza do luto de Jó e de sua mulher. Jó tinha uma família grande e próspera. De repente, todos os seus filhos foram mortos, de forma trágica. Aquela família que outrora vivia feliz e fazendo banquetes nas casas uns dos outros, agora estava em uma tristeza profunda, com os dez filhos e as suas famílias, todos mortos. Tinham razões de sobra para estarem com os corações dilacerados pela dor e tristeza. 


Infelizmente, muitos cristãos querendo dar a impressão de que são seres extraterrestres, tentam desencorajar o choro ou o luto, interpretando erroneamente, o texto de 1 Tessalonicenses 4.13, que diz: Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança”. Dizem, portanto, que o crente não deve chorar ou se entristecer por causa dos seus entes queridos que partiram. Ora, o que Paulo está dizendo é para não se desesperar, como aqueles que não tem a esperança da ressurreição. Como vamos dizer para uma mãe que acabou de perder um filho, de forma trágica, não chorar ou não ficar triste? O próprio Jesus, diante do túmulo do seu amigo Lázaro, que tinha morrido havia quatro dias, comoveu-se com o choro das irmãs dele e também chorou (Jo 11.35). 


3- Fidelidade ao Senhor em meio à dor. Depois de receber as notícias trágicas da perdas de todos os seus bens, culminando com a pior das notícias que foi a morte dos seus dez filhos de uma vez, o texto bíblico descreve a reação de Jó: “Então, Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou, e disse: ‘Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor.’ Em tudo isto Jó não pecou, nem atribuiu a Deus falta alguma.” (Jó 1.20-22). 


Não temos ideia de quanto tempo demorou desde o momento em que Jó recebeu estas notícias trágicas e o momento em que ele se levantou. O fato é que o seu comportamento e as suas palavras diante desta avalanche de notícias avassaladoras, demonstram submissão e confiança plena em Deus. Diante de tantas tragédias, Jó encontrou forças, ergueu-se do chão e rasgou os seus vestidos em sinal de profunda angústia. Em seguida, rapou a sua cabeça, em sinal de perda da sua glória pessoal. Por último, quando Satanás e os demônios esperavam que ele fosse blasfemar contra Deus, Jó lançou-se em terra em sinal de humilhação e adorou a Deus. 


Com estas atitudes e palavras, Jó provou que Satanás estava errado em relação à sua fé em Deus. A sua fé em Deus não era mercenária e interesseira, como o inimigo havia insinuado. Jó reconheceu que veio a este mundo sem nada e que tudo o quanto possuía era de Deus. Esta é a atitude de um verdadeiro adorador. Quem não tem esta concepção não adora a Deus de verdade, pois pensa que tem alguma coisa ou algum direito diante do Soberano de todo o Universo. O apóstolo Paulo falando sobre os males do amor ao dinheiro disse: “Porque nada trouxemos para este mundo e manifesto é que nada podemos levar dele.” (1 Tm 6.7). 


Referências: 

CABRAL, Elienai. Relacionamentos em família: Superando desafios e problemas com exemplos  da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 175-176.

SWINDOLL, CHARLES R. Jó: Um homem de tolerância heróica. Ed. 2003. Editora Mundo Cristão. pág. 37-41.

HENRY, Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento: Jó a Cantares de Salomão. Editora CPAD. 1 Ed. 2010. pág. 10.

Melo, Joel Leitão de. Eclesiastes Versículo por Versículo. Editora CPAD. Ed 2013. 6ª Impressão. pág. 68.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Antigo Testamento interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. págs. 1868, 2723.


30 maio 2023

A FAMÍLIA DE JÓ

(Comentário do 1⁰ Tópico da Lição 10: Quando os pais sepultam os filhos)

Ev. WELIANO PIRES


No primeiro tópico, falaremos sobre a família de Jó. Primeiro falaremos sobre a pessoa do patriarca Jó, trazendo as poucas informações bíblicas e históricas, de que dispomos sobre este patriarca. Muitas pessoas dizem que Jó não foi um personagem real, mas, apenas uma ficção. Entretanto, além do livro de Jó contar a história dele, citando nomes, lugares e povos, há citações em outras partes da Bíblia, mencionando Jó como uma pessoa real.  Falaremos também sobre a esposa de Jó. Se temos poucas informações sobre Jó, temos menos ainda sobre a sua esposa. A Bíblia não registra sequer o seu nome. Por último, falaremos sobre os filhos de Jó, que levavam uma vida de banquetes, muita comida e bebida. O patriarca se levantava de madrugada, orava e oferecia sacrifícios por eles a Deus.


1- Quem era Jó? Tanto o livro como a vida de Jó tem sido alvo de muitas polêmicas. Há teólogos liberais e outros da prosperidade, que dizem que Jó não foi um personagem real, mas, apenas uma obra de ficção. Entretanto, além do livro de Jó contar a história dele, citando nomes, lugares e povos, há citações em outras partes da Bíblia, mencionando Jó, como uma pessoa real, como por exemplo, no Livro de Ezequiel: "Filho do homem, quando uma terra pecar contra mim, gravemente se rebelando, então, estenderei a mão contra ela, e tornarei instável o sustento do pão, e enviarei contra ela fome, e arrancarei dela homens e animais; ainda que estivessem no meio dela estes três homens, Noé, Daniel e Jó, eles, pela sua justiça, livrariam apenas a sua alma, diz o Senhor Jeová". (Ez 14.12,14). Tiago, em sua Epístola, também fez menção à paciência de Jó, como uma pessoa real: "Eis que temos por bem-aventurados os que sofreram. Ouvistes qual foi a paciência de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe deu; porque o Senhor é muito misericordioso e piedoso." (Tg 5.11)

Não temos informações biográficas e geográficas que sejam precisas, sobre a pessoa de Jó, a região e a época em que ele viveu. O Livro de Jó inicia assim: “Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó”. (Jó 1.1). Isso é tudo o que sabemos sobre a biografia de Jó. Segundo a introdução ao Livro de Jó, na Bíblia de Estudo Palavra-Chave (CPAD), Uz ficava próximo a Midiã, região Sul da Arábia, onde vivia o sogro de Moisés. O comentarista, por sua vez, diz que Uz ficava na região Norte da Arábia. O profeta Jeremias, em Lamentações, identifica Uz com Edom: Regozija-te e alegra-te, ó filha de Edom, que habitas na terra de Uz; o cálice passará também para ti; embebedar-te-ás, e te descobrirás.” (Lm 4.21). Pode ter sido também um território conquistado pelos edomitas. A Septuaginta traduziu Uz como Ausites, que  era uma área na região norte do deserto da Arábia. 

O comentarista diz também que Jó teria vivido entre os séculos 25 e 28 a.C. Porém, no Livro de apoio, ele diz que Jó teria vivido entre 2100 e 1800 a.C. Neste caso seria entre os séculos 21 e 18 a.C. Sendo assim, é provável que ele quis dizer entre os séculos 25 e 18 a.C, considerando que a contagem antes de Cristo é regressiva. 

O nome Jó é a transliteração da palavra hebraica Yob, (Pronuncia-se Yov) que significa “perseguido” ou “odiado”. Não temos mais informações sobre a pessoa de Jó ou a sua ascendência. Alguns estudiosos afirmam que Jó seria descendente de Naor, irmão de Abraão, baseando-se no fato de que há 30 referências ao título divino "Shaddai" (Todo Poderoso) no Livro de Jó. Este era o nome pelo qual Deus se revelou a Abraão. De fato, os costumes e estilo de vida narrados no Livro de Jó são os mesmos do período patriarcal, aproximadamente, entre 2100 e 1800 a.C. Não há nenhuma referência à Lei Mosaica ou ao sacerdócio levítico e há a referência de Jó oferecendo sacrifício pelos filhos e as filhas sendo co-herdeiras, o que não era permitido na Lei. Portanto, tudo leva a crer que Jó viveu em uma época próxima à de Abraão. O tempo de vida de Jó, 140 anos, também corrobora esta hipótese. 

O livro afirma também que Jó era “maior que todos do Oriente”. Na sequência, descreve as riquezas de Jó, em quantidade de animais (Camelos, bois, ovelhas e jumentas) muitos servos e 10 filhos. Jó possuía sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois, e quinhentas jumentas. Tinha também muitíssima gente ao seu serviço (Jó 1.3). Para os padrões da época, isso o tornava um homem muito poderoso. 

Mesmo sendo um homem muito rico, poderoso, conselheiro sábio e respeitado, no testemunho que Deus deu dele, o que se destaca é que Jó era um homem "sincero, reto, temente a Deus e que desviava-se do mal".  (Jó 1.1).

a. Sincero / Íntegro. A versão Almeida Revista e Corrigida traz a palavra “sincero” neste texto. Já as versões Almeida Revista e Atualizada, Nova Versão Internacional e outras de linguagens mais atualizadas, trazem a palavra “integro”. A palavra hebraica aqui é “tam”, que tem o sentido de íntegro, inocente, ingênuo, simples, perfeito, que não tem defeito, completo. Isto não significa que Jó não tivesse pecados, mas, que ele era verdadeiro e autêntico, sem falsidade. 

b. Reto (v.1). A palavra reto, no hebraico é “yasar” e tem o sentido de justo, imparcial e direito. Então, Jó além de verdadeiro, era um homem que se comportava de forma irrepreensível. Esta sempre foi uma característica dos crentes de antigamente, que hoje em dia, infelizmente, está cada vez mais rara. Antigamente, ser crente era sinônimo alguém que era bom pagador, bom pai/mãe de família, pessoa que não falava palavrão, que não revidava  às ofensas, que não traía a esposa, etc. Hoje, tem pessoas que tomam um susto quando alguém diz que é crente, porque não parece.

c. Temente a Deus e que se desvia do mal. Estas duas palavras “temente” e “que se desvia" no hebraico são, respectivamente, sur e yare. Elas estão relacionadas e significam, “alguém que presta reverência a Deus e, por isso, evitava o mal". Temer a Deus não significa “ter medo” ou “ter pavor” dele. Significa reverenciá-lo e respeitá-lo profundamente, a ponto de obedecê-lo. 

Jó viveu em uma época em que a Lei de Deus ainda não havia sido escrita. Também não haviam escribas e sacerdotes que lhe ensinassem a Lei. Mesmo assim, ele era temente a Deus e se afastava da maldade. Muitos problemas acontecem em nosso meio atualmente, porque as pessoas estão perdendo o temor a Deus. 


2- A esposa de Jó. Se temos pouquíssimas informações sobre a pessoa de Jó na Bíblia, temos muito menos sobre a esposa dele. A Bíblia não menciona sequer o nome dela. A tradição dos rabinos atribui a ela o nome de Sitis, mas não há nenhuma comprovação bíblica ou histórica para esta especulação. A única menção que temos à mulher de Jó está no capítulo 2, versículos 9 e 10, quando ela questionou a postura de Jó, diante da série de calamidades que se abateu sobre os seus bens, a sua família e a própria saúde: 'Então, sua mulher lhe disse: Ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus e morre. Mas ele lhe disse: Como fala qualquer doida, assim falas tu; receberemos o bem de Deus e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios." 

A partir daí, não temos mais nenhuma menção à mulher de Jó no restante do Livro. Temos os questionamentos de Jó, os longos discursos dos amigos de Jó e as suas respectivas réplicas, os questionamentos de Deus a Jó e a sua humilde resposta a Deus. Mas, em momento algum aparece a esposa de Jó. No final do Livro, é dito que Deus virou o cativeiro de Jó, concedendo-lhe o dobro de tudo o que antes possuía. Jó teve sete filhos e três filhas, após o período de enfermidade que ele passou, mas não se sabe se foi com a mesma esposa. 

A mulher de Jó se tornou sinônimo de uma mulher doida, insensata e blasfema, porque sugeriu a Jó, no auge da sua aflição, que amaldiçoasse a Deus e morresse.  Entretanto, é preciso considerar o contexto em que ela viveu e a situação dramática em que ela e Jó estavam vivendo, sem saber a razão. Hoje, nós temos o Livro de Jó escrito e sabemos o início e o final da história. Sabemos do diálogo que houve entre Satanás e Deus, e que Deus autorizou o inimigo a tirar tudo de Jó. Sabemos também o que Deus concedeu a Jó no final da história. 

A mulher de Jó, no entanto, não sabia nada disso. Ela viveu em um contexto em que não havia ainda as Escrituras e os sábios diziam que os ímpios eram punidos e os justos recompensados. Tanto que os amigos de Jó, o tempo todo, insinuavam que ele havia pecado contra Deus, para estar sofrendo daquele jeito. A mulher de Jó viveu com ele nos tempos de prosperidade e felicidade, e conhecia a integridade do caráter de Jó. Considerando que Jó era fiel e a teologia da retribuição que imperava na época, ela concluiu que Deus estaria punindo Jó injustamente. 

Este é o grande equívoco da teologia da prosperidade, que ensina que Deus abençoa os justos nesta vida pela sua fidelidade, fazendo-os prosperar, e amaldiçoa os ímpios, tirando-lhes os bens e a saúde. Entretanto, quando olhamos para a realidade tanto dos justos, quanto dos ímpios, esta tese não se sustenta. Há muitos ímpios que são milionários e muitos justos que vivem na pobreza. Esse tipo de teologia leva as pessoas a uma relação mercenária com Deus, buscando-o apenas por aquilo que Ele pode dar e não por quem Ele é. 


3- Os filhos de Jó. O Livro de Jó também traz poucas informações sobre os filhos de Jó, que morreram nas investidas do inimigo contra ele. Diz apenas que eram sete filhos e três filhas e que eles tinham o hábito de fazer banquetes nas casas um dos outros, sequencialmente. Quando terminavam todos os banquetes, Jó se levantava de madrugada e santificava-os, oferecendo sacrifícios por todos eles. As palavras de Jó, indicam que ele sabia ou desconfiava que nestes banquetes eles pecavam contra Deus e até blasfemavam: "... Porque dizia Jó: Talvez pecaram meus filhos, e amaldiçoaram a Deus no seu coração. Assim fazia Jó continuamente.'  

O texto sagrado não diz claramente que eles eram idólatras, imorais e blasfemos. Entretanto, pela descrição destes banquetes e pela preocupação de Jó, subtende-se que sim, eles praticavam rituais pagãos e até blasfemavam contra Deus. Sobre isso, diz o Pr. Claudionor de Andrade: 

" … O seu desvio patenteia-se naqueles festins que se arrastavam por vários dias, durante os quais celebravam eles os deuses pagãos. Não lhes bastasse a idolatria, sutilmente amaldiçoavam ao Todo-Poderoso. Se recorrermos ao original, veremos que "Mishteh" é a palavra para “banquete”; traz a imagem de uma irrefreável orgia na qual os convivas agem irrefletida e loucamente: 'Comamos e bebamos, porque amanhã todos morreremos'."

Depois que Deus mudou o cativeiro de Jó, deu-lhe outros sete filhos e três filhas. Desta feita, a Bíblia relata os nomes e destaca a beleza das filhas. Não faz nenhuma menção a banquetes que eles porventura tenham realizado, como fizeram os filhos que morreram. Sejamos pais como Jó, que intercedia pelos seus filhos e dedicava-se à sua família. Se os nossos filhos não seguirem o nosso exemplo e ensino, pelo menos nós fizemos a nossa parte. 


REFERÊNCIAS:

CABRAL, Elienai. Relacionamentos em família: Superando desafios e problemas com exemplos da Palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2023. pág. 172-175.

Revista Lições Bíblicas, Adultos. Rio de Janeiro: CPAD, 4º Trimestre de 2020.

Bíblia de Estudo Palavra Chave. RJ: CPAD, 2015.

ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Jó: O problema do sofrimento do justo e o seu propósito. Série Comentário Bíblico. Editora CPAD. pág. 47-51.

STAMPS, Donald C. (Ed) Bíblia de Estudo Pentecostal: Antigo e Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

SWINDOLL, CHARLES R. Jó: Um homem de tolerância heróica. Ed. 2003. Editora Mundo Cristão. pág. 53-55. 


RENOVAÇÃO DA ESPERANÇA

SUBSÍDIOS DA REVISTA ENSINADOR CRISTÃO / CPAD Chegamos ao final de mais um trimestre e rogamos a Deus que as ricas bênçãos continuem a se de...