26 abril 2022

O EVANGELHO NÃO É ANTINOMISTA


Há várias interpretações sobre o cumprimento da Lei, que são heréticas e absurdas. Alguns dizem que Jesus era apenas um rabino judeu, que apenas deu continuidade à Lei e a explicou. Segundo esta interpretação, o Cristianismo seria obra de Paulo. Outros, interpretam erroneamente João 1.17 e dizem que Jesus aboliu completamente a Lei e introduziu a Graça. Nesta questão, há dois extremos que o cristão deve evitar em relação à Lei: o antinomismo e o legalismo. O Evangelho de Cristo não é antinomista, nem legalista. Vejamos a seguir, o que isto significa. 


1 - O que é Antinomismo?  A palavra antinomismo procede da junção de duas palavras gregas, “anti”, que significa "contra", e “nomos”, que significa lei. Portanto, antinomismo significa literalmente “contra a lei.” Segundo os antinomistas, Cristo aboliu completamente o Antigo Testamento e o cristão está desobrigado de obedecer quaisquer princípios morais da lei. 

Há dois tipos de antinomismo: o dualístico e o espiritual. O antinomismo dualístico ensina que a salvação é apenas para a alma, independente do que fazemos com o nosso corpo em nossas ações e comportamento. Segundo este ponto de vista, o cristão não precisa guardar a lei de Deus e pode viver desenfreadamente em pecado. 

O chamado antinomismo espiritual diz que a lei deve ser rejeitada e que o Espírito Santo diz a cada pessoa o que é certo e errado. Portanto, fazer a vontade de Deus seria algo subjetivo e segundo a revelação espiritual de cada indivíduo.


2- A Lei e o Evangelho. Os opositores de Jesus constantemente o acusavam de violar a Lei e as tradições dos anciãos. Esta foi a principal acusação das autoridades judaicas para condená-lo à morte. Porém, os 

romanos não condenavam ninguém à morte por questões religiosas. Então, eles inventaram a acusação de que Jesus se declarava rei, o que configurava uma conspiração contra o imperador romano (Jo 18.33). 

Conforme vimos na lição passada, o Senhor Jesus não veio abolir a Lei, mas veio cumpri-la e aperfeiçoá-la. Em relação às questões cerimoniais, sacrifícios e rituais, Jesus veio cumpri-las. Esta parte da lei eram tipos e figuras que apontavam para o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Com a vinda de Jesus, elas foram cumpridas nele e se tornaram desnecessárias. 

As leis civis, administrativas e criminais eram voltadas para a nação de Israel na época em que era uma teocracia e, portanto, não se aplica aos cristãos não judeus. Neste aspecto, cada país tem as suas leis e o cristão deve estar submetido a elas. 

As leis morais, por sua vez, receberam de Jesus uma abrangência maior. Jesus incluiu nos mandamentos as intenções e o aspecto interior. 


3 - Legalismo x Antinomismo. Se por um lado temos a heresia do antinomismo, que nega totalmente a Lei de Deus, inclusive as leis morais, temos no outro extremo o legalismo, que defende o cumprimento de regras para alcançar o favor de Deus. Normalmente, o legalismo despreza a Graça de Deus e vê no cumprimento de regras, um alicerce para a salvação. O legalismo coloca Deus como um devedor, se cumprirmos regras. Isso torna o cristão, um merecedor da salvação, por causa das boas obras praticadas. Entretanto, a Bíblia nos ensina que somos salvos pela Graça de Deus mediante a fé. Isso não vem de nós mesmos, nem das obras, para que ninguém se glorie. (Ef 2.8-10). Entretanto, não é porque somos salvos pela fé e não pelas obras, que podemos viver sem regras, como dizem os antinomistas, pois Tiago disse que a fé sem as obras e morta. (Tg 2.29,26). 


Pb. Weliano Pires


REFERÊNCIAS: 

GOMES, Osiel,. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 75-76.

STOTT, John. Contracultura cristã. A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pag. 37.

CHEUNG, Vincent. O Sermão do Monte. Editora Monergismo. 1 ed, 2011.

SUGEL, Michelén. Da Parte de Deus e na Presença de Deus: Um guia para a pregação expositiva. Editora Fiel.


INTRODUÇÃO À LIÇÃO 4: RESGUARDANDO-SE DE SENTIMENTOS RUINS


REVISÃO DA LIÇÃO PASSADA


Na semana passada estudamos o tema: Jesus, o discípulo e a lei. Falamos sobre a terceira parte do Sermão do Monte, que se encontra em Mateus 5.17-20. Nesta parte do seu discurso no Monte, o Senhor Jesus explicou que Ele não veio abolir a Lei e sim cumpri-la.


No primeiro tópico, vimos que Jesus nunca foi um revolucionário, como ensinam os socialistas. Os revolucionários querem destruir e modificar tudo o que os antepassados construíram e reconstruir uma nova sociedade a seu modo. Jesus não veio destruir os princípios da Lei, que fora dada pelo próprio Deus, mas veio cumpri-los. Jesus apresentou o seu compromisso com o legado dos antigos. Além de cumprir a Lei, Jesus veio aperfeiçoá-la. 


No segundo tópico, fizemos uma comparação entre a letra da lei mosaica e a verdade do Espírito. Vimos a definição da expressão "letra da lei”. Falamos também sobre a divisão tríplice da Lei:  moral, cerimonial e judicial. Falamos sobre a diferença entre a lei, que trazia letras gravadas em pedras e a verdade do Espírito, gravada nos corações. Por último, falamos sobre o propósito da lei para o cristão. 


No terceiro e último tópico, falamos sobre a Justiça do Reino de Deus. Jesus mostra que o padrão de Justiça do Reino de Deus é diferente daquele ensinado pelos rabinos judaicos, que se baseava no binômio lei-obra. A justiça ensinada por Jesus não é exterior ou legalista e só pode pode ser obtida através da ação do Espírito Santo no interior do ser humano, que promove o novo nascimento. 


LIÇÃO 4: RESGUARDANDO-SE DE SENTIMENTOS RUINS. 


Na lição 04, dando continuidade à relação de Jesus com a Lei, estudaremos sobre a abrangência que Jesus dá à Lei moral, principalmente ao sexto mandamento, que proíbe o homicídio. Jesus nos mostra que o "não matarás" não se resume à execução do assassinato, mas inicia-se com o ódio ao próximo. 


No primeiro tópico da lição veremos que o Evangelho não é antinomista, ou seja, não é contrário à lei. Veremos neste tópico, a definição da palavra antinomismo; a relação entre a Lei e o Evangelho; e os extremos que devemos evitar: o antinomismo e o legalismo. 


No segundo tópico, veremos que a cólera é o primeiro passo para o homicídio. Falaremos sobre as implicações do sexto mandamento do decálogo. Depois abordaremos o sentimento de ira do ponto de vista bíblico. Por último falaremos sobre o valor da pessoa humana. 


No terceiro e último tópico, falaremos sobre o ato de ofertar e a desavença. Veremos que a oferta do altar é um ato de adoração a Deus, onde o ofertante reconhece a sua dependência de Deus e entrega-lhe uma oferta como forma de gratidão. Por outro lado, Jesus alerta que as desavenças com o próximo afrontam também a Deus e, portanto, antes de entregar a oferta, devemos primeiro entrar em acordo com o próximo e eliminar as desavenças.


Pb. Weliano Pires


REFERÊNCIAS:

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022.

STOTT, John. Contracultura cristã. A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pag. 33.

ALMEIDA, Alcindo. Vida sincera, O Sermão do Monte. São Paulo: Editora Fôlego, 1 Ed 2013.

15 abril 2022

A JUSTIÇA DO REINO DE DEUS


(Comentário do 3º tópico da Lição 3: JESUS, O DISCÍPULO E A LEI)


Jesus mostra que o padrão de Justiça do Reino de Deus é diferente daquele ensinado pelos rabinos judaicos, que se baseava no binômio lei-obra. A justiça ensinada por Jesus não é exterior ou legalista e só pode ser obtida através da ação do Espírito Santo no interior do ser humano, que promove o novo nascimento. O conceito de justiça na Bíblia é diferente do que temos hoje. Justiça atualmente tem a ver com legalidade e poder judiciário.  Do ponto de bíblico, a palavra justiça está relacionada  com retidão, integridade e honestidade. Por isso, no Sermão do Monte, Jesus nos convida a viver a justiça do Reino de Deus, mediante estas virtudes. 


1- Quem é grande no Reino de Deus? Os parâmetros de Jesus são muito diferentes dos padrões dos escribas e fariseus e do mundo em geral. Para os escribas e fariseus, alguns mandamentos da Lei eram mais importantes que outros. Eles valorizavam muito a tradição dos anciãos e, com isso, acabavam invalidando as coisas mais importantes da lei que eram o juízo, a misericórdia e a fé (Mt 23.23). Por isso, Jesus disse que eles coavam um mosquito e engoliam um camelo. 

Para Jesus, quem é considerado grande em seu reino não não os que detém muito conhecimento, os que são prósperos materialmente, os que têm cargos elevados ou que são de linhagem nobre. Grandes no Reino de Deus são aqueles que ensinam e guardam a Palavra de Deus como ela é, com fidelidade, sem nenhuma distorção. Ninguém na terra têm autoridade para alterar a Palavra de Deus e liberar o que ela condena, ou condenar aquilo que ela não condena. As leis humanas se tornam obsoletas com o passar dos anos e precisam ser alteradas ou revogadas. Entretanto, a Palavra de Deus é eterna, inerrante e imutável, pois foi inspirada por Deus, conforme estudamos no trimestre passado. 

 

2- A Justiça do reino de Deus. No Sermão do Monte, Jesus disse que se a nossa Justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entraremos no Reino de Deus. Para entendermos melhor o que Jesus falou, precisamos antes entender quem eram os escribas e fariseus e qual o conceito que eles tinham de justiça.  Os escribas eram os mestres da lei. Eles eram os responsáveis por copiar as Escrituras, interpretar e ensinar ao povo. Naquela época, não era como hoje que cada um tem a sua Bíblia em casa. Os rolos das Escrituras ficavam na Sinagoga e o povo ia lá para ouvir a leitura e a explicação. Poucas pessoas sabiam ler e, para piorar, os poucos que sabiam ler não entendiam as Escrituras. 

O povo judeu havia passado por vários cativeiros, desde que foram levados para a Babilônia. Depois dos babilônios, foram dominados pelos medos e persas. Eles retornaram para a sua terra, mas não tiveram mais independência. Depois dos persas, os gregos dominaram o mundo. O povo permaneceu em sua pátria, mas sob o domínio dos gregos e posteriormente dos romanos. Os gregos usavam o processo de aculturamento para arraigar o seu domínio entre os povos. Mesmo após o domínio romano, a cultura grega (helenismo) prevaleceu. 

Depois do retorno do cativeiro babilônio, o povo judeu não conhecia mais a Lei, a cultura e até o idioma da sua terra, que era o hebraico. Nos setenta anos de cativeiro, eles se amoldaram à cultura dos caldeu e falavam o aramaico. Por causa disso, o escriba e sacerdote Esdras veio da Pérsia para ler as Escrituras para o povo e explicar o seu significado. Foi nesse período que surgiu um documento chamado Talmud (aprendizado em hebraico), que são compilações das explicações dos rabinos sobre a Lei.

Os fariseus, por sua vez, formavam um grupo religioso de Israel, que surgiu provavelmente no período que antecedeu a guerra dos macabeus, com o objetivo de resistir e fazer oposição aos costumes helenísticos (gregos). Este nome aparece pela primeira vez durante a época do governo de João Hircano, que governou a Judéia entre 135 e 105 a.C. O próprio João Hircano, que era sumo sacerdote, era também um fariseu. Mas, depois passou para o partido dos saduceus. 

A palavra “fariseu” é de origem incerta. O sentido mais provável é “separado”. Eles eram muito rigorosos na observância não apenas da Lei escrita, mas também da tradição oral. Além dos mandamentos da Lei de Moisés, os fariseus criaram muitas regras preventivas, para “evitar que as pessoas pecassem”.  Em Mateus 23, Jesus teceu duras críticas aos fariseus, dizendo que eles criaram “fardos pesados e difíceis de suportar”, eram hipócritas e ficavam na porta dos céus: não entravam e impediam os outros de entrarem. Saulo de Tarso, antes da sua conversão ao Cristianismo pertencia ao grupo dos fariseus.

O conceito de justiça para os escribas e fariseus era baseado na teologia da retribuição, ou seja, se você obedece a lei é recompensado e se desobedece é punido. A compreensão que eles tinham de justiça era focado nas próprias ações exteriores e não em Deus. Por isso, faziam de tudo para serem vistos. A justiça ensinada por Jesus, no entanto, é interior e não pode ser obtida por méritos ou capacidade humana. Ela é o resultado da fé em Cristo. “Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas; Isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que crêem; porque não há diferença.” (Rm 3:21,22


REFERÊNCIAS: 

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. p. 45.

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 1. p. 309.

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pp. 68-70.

LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. p. 195.

RICHARDS, Lawrence O. Comentário Devocional da Bíblia. 2.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, p.557.

SPROUL, R. C. Estudos bíblicos expositivos em Mateus. 1° Ed 2017 Editora Cultura Cristã. p. 87.



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Pb. Weliano Pires


 

14 abril 2022

A LETRA DA LEI, A VERDADE DO ESPÍRITO


(Comentário do 2º tópico da Lição 3: JESUS, O DISCÍPULO E A LEI)


Neste segundo tópico, faremos uma comparação entre a letra da lei e a verdade do Espírito. Estas expressões foram usadas pelo apóstolo Paulo, em 2 Coríntios 3, numa referência às letras escritas em tábuas de pedras por Moisés e a Verdade do Espírito que foi escrita nos corações pelo Espírito Santo. A expressão ‘letra da lei”, é mal compreendida por muitos evangélicos, que pensam que a expressão “a letra mata”, usada por Paulo em 2 Co 3.6 é uma referência ao estudo teológico, mas não tem nada a ver. 


1- O que a expressão “letra da Lei” significa? No final do capítulo 2 da segunda Epístola aos Coríntios, Paulo inicia uma explicação sobre o caráter do ministério cristão, em contraste ao ensino dos judaizantes, que insistiam na necessidade de guardar a Lei para ser salvo. Paulo fala aos coríntios que, eles são uma carta “escrita não com tinta em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração”. (2 Co 3.3). No versículo 6, ele diz que ministros de Cristo são ministros de um novo concerto, não da letra, mas do Espírito, porque a letra mata e o Espírito vivifica. (2 Co 3.6). 

Isto significa que a Lei (letras escritas em pedras) não foi dada para a salvação e sim para revelar o pecado do ser humano e a sua incapacidade de salvar-se por seus próprios méritos. Escrevendo aos Gálatas e tratando do mesmo assunto, Paulo disse que a Lei serviu como “aio” [Gr. paidagogos] para nos conduzir a Cristo. (Gl 3.14). Esta palavra grega paidagogos era usada em referência a um escravo que era o responsável por conduzir os filhos do seu senhor a um professor para o alfabetizar. 

O que Paulo diz que mata, não é a letra no sentido de conhecimento e sim a letra da lei, que apontava o pecado do homem e a respectiva condenação. A lei do Espírito, escrita nos corações, nos regenera e nos capacita a viver em santidade. Paulo também disse aos Gálatas: “Andai em Espírito e não cumprireis as concupiscências da carne” (Gl 5.16). Na sequência desse texto, ele faz uma comparação entre as obras da carne e o Fruto do Espírito. Neste novo concerto, o Espírito Santo nos foi dado para habitar em nossos corações e transformar o nosso interior. 


2 - A perspectiva teológica da Lei. A Lei mosaica não se restringia ao campo religioso. Quando a Lei foi dada a Israel, o povo de Deus vivia uma teocracia, ou seja, o governo de Deus. Conforme vimos no tópico anterior, a lei continha os parâmetros morais, cerimoniais e judiciais do povo de Israel. Na lei estavam escritos o código penal e civil, as liturgias de cultos e sacrifícios, as celebrações das festas religiosas e as respectivas punições para quem descumprisse as proibições.

Os princípios jurídicos da Lei mosaica são conhecidos como “lei do talião”, expressão que vem do latim Lex Talionis (lex “lei” e talis “tal, de tal tipo). Este sistema jurídico foi estabelecido com base no princípio da retribuição ou reciprocidade entre o crime e a pena. Ou seja, se alguém matasse, pagaria com a vida; se causasse lesão corporal, sofreria a mesma lesão; se causasse prejuízos a alguém, ou furtasse, teria que restituir quadruplicado; e assim, sucessivamente. Outros códigos antigos como o Código de Hamurabi na Babilônia e o Código de Shulgi, de Ur dos Caldeus, trazem conceitos jurídicos semelhantes ao judaico. Este sistema jurídico pertencia ao estado teocrático de Israel, em uma época específica. Não pode, portanto, ser imposto a outros povos, que têm naturalmente as suas próprias leis civis e penais. 

As leis religiosas ou cerimoniais tratavam das liturgias de culto, inicialmente no tabernáculo e, posteriormente, no templo. Nestas leis cerimoniais constavam as ordenanças referentes aos sacrifícios, rituais, sacerdotes, adoração, festas religiosas, etc. O Livro de Levítico registra os pormenores destas leis. Quando lemos a Epístola aos Hebreus percebemos que tudo aquilo era simbólico e figurativo, apontando para Cristo e seu sacrifício que são perfeitos e infinitamente superiores. 

É um grave erro, a Igreja querer adotar estas celebrações no culto cristão. É comum vermos pessoas chamando cantores de “levitas” e pastores de “sacerdotes”. Os levitas eram os descendentes de Levi, que não receberam herança em Israel. Era a tribo sacerdotal, que recebia os dízimos e ofertas das demais tribos, para que ficassem responsáveis por todo o trabalho do templo. Nem todos os levitas eram cantores. Somente nos dias de Davi, alguns levitas foram encarregados de cuidar da música do Templo. 

Os demais levitas continuaram os seus trabalhos de limpeza do templo, de providenciar todo o material para os sacrifícios, etc. Mas, esse tipo de levita ninguém quer ser! Os sacerdotes, por sua vez, faziam parte do antigo pacto. Eles ofereciam sacrifícios por si mesmos e pelo povo e eram tipos de Cristo. Hoje, na Nova Aliança temos ministros do Evangelho, que não são sacerdotes ou mediadores entre Deus e os homens. Este papel pertence ao Senhor Jesus. 

A Lei moral aparece em primeiro lugar na Lei mosaica. Eu deixei por último, para explicar que ela não foi anulada na nova aliança. Há pessoas que pensam que a lei moral são os dez mandamentos, mas, não é verdade. Primeiro, nos dez mandamentos há um mandamento que não é lei moral, que é o sábado. O sábado é uma lei cerimonial que apontava para Cristo que é o nosso descanso. Não há um único versículo no Novo Testamento que mande a Igreja guardar o sábado ou qualquer outro dia. 

As leis morais de Israel não foram revogadas, mas foram aprimoradas e outras foram incorporadas. Jesus citou vários casos em que a Lei previa algumas coisas e Ele acrescentou ou interpretou de outra forma: “Ouvistes o que foi dito aos antigos…; Eu porém vos digo”. Na Lei mosaica era proibido o assassinato doloso: “Não matarás”. Jesus, no entanto acrescentou que o ódio é similar ao assassinato, pois é ele que leva uma pessoa a matar outrem, como fez Caim. A Lei proibia o adultério, referindo-se à relação sexual entre uma pessoa casada e outra que não fosse o seu cônjuge. Jesus acrescentou a isso, o olhar impuro e malicioso. 

Os apóstolos também falaram sobre as leis morais, condenando o adultério, fornicação, homossexualismo, mentira, idolatria, roubo, desobediência aos pais, avareza, inveja, murmuração, feitiçaria, etc. que eram proibidos na Lei. Entretanto foram acrescentados outros pecados como a glutonaria, a embriaguês, a lascívia, impureza, dissensões e outros. (1 Co 6.10; Gl 5.19-21). 


3 - A Lei e a verdade do Espírito. Para entendermos a diferença entre a Lei Mosaica e a Lei do Espírito, se faz necessário entendermos um pouco a teologia dispensacionalista. O Dispensacionalismo é um sistema de teologia que vê o mundo como se fosse um “lar” que é gerenciado por Deus. A própria palavra “dispensação” tem o sentido de “administração” ou “mordomia” e é usada por Paulo no Novo Testamento: “De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra”. (Ef 1.10); “Se é que tendes ouvido a dispensação da graça de Deus, que para convosco me foi dada.” (Ef 3.2). 

Muitas vezes já ouvimos pregadores falando da “dispensação da Graça”. Mas, o que isto significa? Bem, a teologia dispensacionalista fundamenta-se com base na interpretação literal e consistente da Bíblia (desde Gênesis até o Apocalipse). Também faz distinção entre Israel e a Igreja e enfatiza a glorificação de Deus através da sua criação ao longo dos anos. Esta linha de interpretação bíblica divide a história humana em sete períodos chamados de dispensações: 

a. Dispensação da inocência: Período que se estende desde a criação de Adão até a expulsão do Éden.

b. Dispensação da consciência: Desde a queda do primeiro casal até o dilúvio.

c. Dispensação do governo humano: Desde o dilúvio até a confusão das línguas na tentativa de construção da Torre de Babel. 

d. Dispensação da promessa: Desde a chamada de Abrão em Ur dos Caldeus, até o fim do cativeiro de Israel no Egito.

e. Dispensação da Lei: Desde a saída de Israel do Egito até a crucificação de Jesus. 

f. Dispensação da Graça: Desde a ressurreição de Jesus até o arrebatamento da Igreja. 

g. Dispensação do Milênio: Desde a manifestação gloriosa de Cristo até o Juízo final. 


Atualmente vivemos a sexta dispensação, chamada de dispensação da Graça, Era da Igreja, ou Dispensação do Espírito. Esta dispensação representa um intervalo entre a 69ª semana de Daniel e a 70ª. Neste período, devido à rejeição de Israel ao Messias, Deus abriu a oportunidade a todos os povos para serem salvos, formando um só povo: a Igreja. Após o arrebatamento da Igreja, Deus voltará a tratar com Israel. Iniciará a contagem da 70ª semana de Daniel que será a Grande Tribulação. No final dos sete anos, Jesus retornará novamente com a Igreja e estabelecerá o seu Reino de mil anos sobre a terra, que será a Dispensação do Milênio. 


A principal diferença entre dispensação da Lei e a Dispensação do Espírito é que a Lei mostrava apenas o pecado e a condenação. Não capacitava o homem para cumpri-la. Na Dispensação do Espírito, há esperança de redenção pelo sacrifício perfeito de Cristo. A Justiça de Cristo nos é atribuída e a sentença de morte que havia contra nós é rasgada. Este aspecto da salvação é chamado de justificação.


Após a justificação, temos um outro processo. O Espírito Santo passa a morar em nosso interior e produz uma profunda transformação em nossa natureza. Este segundo aspecto da salvação é chamado de regeneração ou novo nascimento. Somente Deus pode operar a regeneração no ser humano. O ser humano, morto em seus próprios pecados e destituído da Glória de Deus, não tem capacidade de se regenerar por seus próprios méritos ou esforços. 

Depois, temos outro processo da salvação chamado de santificação, que é o afastamento do pecado e a consagração a Deus. Esta santificação tem três dimensões: Ela é posicional, progressiva e futura. Na santificação posicional, somos declarados santos por Deus, quando o Espírito Santo passa a morar em nós. Por outro lado, a santificação progressiva, passamos por um processo de santificação, mediante a Palavra de Deus e o viver no Espírito, somos moldados conforme o caráter de Cristo. Por último, na santificação futura receberemos um corpo glorificado e seremos livres completamente da presença e possibilidade de pecado. 


4- Qual é o propósito da Lei para os discípulos de Cristo? A lei para o cristão não é um conjunto de regras a serem cumpridas para se alcançar a Salvação, como pregam os legalistas. Sendo assim, o único propósito da Lei é apontar que somos culpados diante de Deus e Ele é o único que pode nos justificar e nos santificar. Apenas princípios morais da Lei mosaica permanecem na Nova Aliança conforme já falamos. Toda a parte cerimonial e jurídica não se aplica à Igreja.

Estes princípios morais da Lei foram ampliados na dispensação da Graça. A lei condenava a prática do pecado, apenas na consumação do ato. Entretanto na Nova Aliança são condenadas também as intenções. Nunca é demais lembrar que ninguém consegue cumprir estes princípios por seus próprios esforços e ninguém é salvo pelo cumprimento de regras. Somos salvos pela Graça de Deus, mediante a fé em Cristo. É pela Justiça de Cristo e não pelas nossas obras que somos salvos, conforme veremos no próximo tópico. 


REFERÊNCIAS:


ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.44.

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 33-34.

Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. págs. 204, 267.

DAVIDSON, F. Novo Comentário da Bíblia. Gálatas. pág. 16.

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do 

Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 58-60.

LOPES, Hernandes Dias. GÁLATAS A carta da liberdade cristã. Editora Hagnos. pág. 85-86.

LOPES, Hernandes Dias. II Coríntios O triunfo de um homem de Deus diante das dificuldades. Editora Hagnos. pag. 80-81.

STAMPS. Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal: Antigo e Novo testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.



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Pb. Weliano Pires


13 abril 2022

JESUS CUMPRIU TODA A LEI


(Comentário do 1º tópico da Lição 3: JESUS, O DISCÍPULO E A LEI)

Há uma longa discussão, desde os tempos de Jesus, sobre a relação dos discípulos de Jesus com a Lei Mosaica. Nesta questão, há dois extremos que o cristão deve evitar em relação à Lei: o antinomismo e o legalismo. O antinomismo procede da junção de duas palavras gregas, “anti”, que significa "contra", e “nomos”, que significa lei. Portanto, antinomismo significa literalmente “contra a lei.” Segundo os antinomistas, Cristo aboliu completamente o Antigo Testamento e o cristão está desobrigado de obedecer quaisquer princípios morais da lei. Confundem a liberdade cristã com a libertinagem. 

No outro extremo está o legalismo que cria regras para que o ser humano seja aceito por Deus, mediante o cumprimento delas. Normalmente, os legalistas se tornam soberbos e se acham merecedores das bênçãos de Deus, em virtude dos seus esforços, sacrifícios e méritos no cumprimento da lei e de doutrinas de homens. Em uma linguagem mais popular, no antinomismo nada é pecado. Já no legalismo, tudo é pecado.


1- Um compromisso com o passado. Jesus não veio a este mundo como um revolucionário a fim desconstruir aquilo que os antepassados construíram e estabelecer uma nova sociedade. Também não veio como anarquista, que contesta as leis e instituições existentes e quer viver fazendo o que bem entender. O próprio Jesus afirmou que não veio ab-rogar (anular ou abolir) a lei, mas veio cumpri-la. (Mt 5.17). 

A lei foi dada por Deus a Israel e era a Palavra de Deus. O Salmo 119 mostra a excelência da Lei do Senhor. Sendo Jesus o Filho de Deus, jamais iria se opor ou criticar a Lei que veio do próprio Deus. O que ele contestou foram interpretações equivocadas e legalistas dos mestres da Lei. Jesus nos ensina aqui a importância de respeitarmos a história e o legado de nossos antepassados, mantendo aquilo que eles fizeram de bom e corrigindo aquilo que erraram. Quem não valoriza a própria história está sujeito a repetir os mesmos erros do passado. Fica aqui um alerta aos cristãos mais jovens: respeitem o legado dos nossos pioneiros e procurem aprender com aquilo que eles nos deixaram. 


2- Jesus não veio destruir a Lei ou os profetas (Mt 5.17). A palavra Lei, “Torah” em hebraico aparece no Antigo Testamento como “instrução, ensino, lei, decreto, código legal, norma”. Esta palavra vem de um raiz, que significa “instruir ou ensinar”. A Torah incluía não apenas as leis religiosas de Israel, mas também as civis e penais. A Lei não se resume ao Livro de Levítico, como muitos imaginam. Ela é formada pelos cinco primeiros do Antigo Testamento, que nós chamamos de "Pentateuco", palavra de origem grega que significa "cinco vasos", uma referência aos estojos egípcios, onde eram guardados os rolos das Escrituras. 

Já a palavra profetas (heb. Nebiim) deriva da palavra Nabi (Profeta) com o plural (im). Esta parte do cânon judaico é formada de dois subgrupos: profetas anteriores (Josué, Juízes, Samuel e Reis) e profetas posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e o livro dos doze, que contém os textos dos doze profetas menores da nossa Bíblia: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias. Portanto, expressão "a Lei e os Profetas", a usada por Jesus se refere a todo o conteúdo do Antigo Testamento. 

Os opositores de Jesus constantemente o acusavam de violar a Lei e as tradições dos anciãos. Aliás esta foi a principal acusação das autoridades judaicas para condená-lo à morte. Porém, os romanos não condenavam ninguém à morte por questões religiosas. Então, eles inventaram a acusação de que Jesus se declarava rei, o que configurava uma conspiração contra o imperador romano (Jo 18.33). 

Há várias interpretações sobre o cumprimento da Lei, que são heréticas e outras absurdas. Alguns dizem que Jesus era apenas um rabino judeu, que apenas deu continuidade à Lei e a explicou. Segundo esta interpretação, o Cristianismo seria obra de Paulo. Outros, interpretam erroneamente 1.17 e dizem que Jesus aboliu completamente a Lei e introduziu a Graça. O pior deles foi um herege do segundo século, chamado Marcion de Sinope, que reescreveu o Novo Testamento, eliminando todas as referências ao Antigo Testamento. Marcion cria que existiam dois deuses: um Deus iracundo e cruel, que era o Deus do Antigo Testamento; e o Deus mais alto, que seria o Deus do Novo Testamento. Com esse pensamento, ele rejeitava completamente o Antigo Testamento. Esta heresia ficou conhecida como "Marcionismo". Os discípulos dele chegaram ao cúmulo de modificar as palavras de Jesus nessa parte do Sermão do Monte e assim escreveram: Eu vim, não para cumprir a lei e os profetas, mas para aboli-los!”. Ora, Jesus disse exatamente o contrário disso! 


3 - Jesus cumpriu e aperfeiçoou a lei (Mt 5.17). A palavra grega "pleroô, traduzida por "cumprir" neste texto significa "encher" ou completar. Isso indica que Jesus veio completar a lei, não abolir. Portanto, quando Jesus disse que veio "cumprir a Lei", isso vai muito além de obediência aos preceitos que a Lei estabelece. Nesta perspectiva, Jesus completou e aperfeiçoou a Lei. Ele é cumprimento das profecias referentes ao Messias. Jesus representa também a concretização das coisas que eram apenas símbolos, sombras e figuras no Antigo Pacto. Os sacrifícios de animais, por exemplo, apontavam para o sacrifício perfeito de Cristo no Calvário. Portanto, todos os rituais e cerimônias da Antiga Aliança que apontavam para Cristo, não são mais necessários na Nova Aliança, conforme nos mostra a Epístola aos Hebreus, nos capítulos 9 e 10.


REFERÊNCIAS:

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 53-56.

SPROUL, R. C. Estudos bíblicos expositivos em Mateus. 1° Ed 2017 Editora Cultura Cristã. pág. 85.

STOTT, John. Contracultura cristã. A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pág. 33-34.

LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pág. 193-194.


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Pb. Weliano Pires