08 dezembro 2021

A AMEAÇA DE CORRUPÇÃO DOUTRINÁRIA

(Comentário do 2º tópico da lição 11: O zelo do apóstolo Paulo pela Sã Doutrina).


Escrevendo ao seu filho na fé, Timóteo, o apóstolo Paulo o relembra de quando o deixou em Éfeso, para que advertisse aos obreiros daquela Igreja, para que não ensinassem ‘outra doutrina’ (Gr. eterodidaskalein) e não se ocupassem com fábulas judaicas e genealogias intermináveis, que produzem contendas. Agora, por epístola, o apóstolo reafirma a advertência. (1 Tm 1.3-7).

1. A advertência do apóstolo. A Igreja de Éfeso estava ameaçada pela infiltração de falsas doutrinas, que distorciam os ensinos dos apóstolos. Paulo já havia alertado os anciãos da Igreja de Éfeso sobre isso, conforme vimos na lição 9 (At 20.29,30). Em sua Epístola a Timóteo, Paulo o adverte acerca de alguns, provavelmente obreiros, para que não ensinassem 'outra doutrina'. Aqui, Paulo usa a expressão grega "eterodidaskalein', que é formada de dois vocábulos: "héteros" (outro de espécie diferente) e "didaskalia" (ensino, doutrina). A preocupação do apóstolo era alertar sobre doutrinas heterodoxas, como vimos no tópico anterior, que não estavam de acordo com os ensinos do Senhor Jesus e dos seus apóstolos. 

Toda doutrina ensinada à Igreja tem que passar pelo crivo das Escrituras. O pastor é responsável diante de Deus por tudo o que é ensinado na Igreja que o Senhor lhe confiou. Por isso, deve ensinar a sã doutrina à Igreja e ficar atento ao que outros pregam, para que não haja corrupção ou distorção na doutrina. 

2. Quais eram os problemas de ordem doutrinária? As pessoas apontadas por Paulo se diziam mestres da lei e da verdade. Mas, na verdade, ensinavam inovações destruidoras, que não tinham respaldo na doutrina que os apóstolos receberam do Senhor Jesus. Paulo enfrentou vários tipos de corrupção doutrinária nas Igrejas plantadas por ele. Estas Igrejas foram influenciadas de um lado pelos conceitos filosóficos da cultura grega. Por outro lado, havia os cristãos oriundos do Judaísmo, que tinham arraigado em si a Lei e a cultura judaica. 

A influência dos pagãos trazia elementos do politeísmo e principalmente do gnosticismo, que pregava um dualismo entre espírito e matéria, como vimos na lição 9. Esta filosofia ensinava que Jesus não tinha corpo humano e que os pecados cometidos no corpo não tinha nenhum problema, pois a matéria era inerentemente má e o espírito era bom. Com base nisso, muitos negavam a ressurreição do corpo. 

Na Igreja de Corinto havia o problema do partidarismo e o culto à personalidade (1 Co 1.12). Ali havia pelo menos quatro partidos: 

a) O partido dos liberais. Este grupo dizia que era de Paulo. Paulo, antes da conversão era Fariseu e extremamente zeloso das tradições e da Lei judaicas. Entretanto, após o seu encontro com Cristo e o período em que passou no deserto da Arábia, ele entendeu que o Evangelho não consiste em tradições humanas e é universal. Entretanto, muitos o interpretavam mal, achando que ele pregava a libertinagem. 

b) O grupo dos legalistas. Este grupo dizia que era de Pedro. Pedro era judeu, nascido em Israel. Mesmo após conversão, ele vivia como judeu e deu trabalho para se desvencilhar das tradições judaicas. 

c) O grupo dos filósofos. Este grupo seguia a Apolo, que era um judeu de Alexandria muito culto e eloquente. 

d) O grupo dos independentes. Este grupo dizia-se seguidor apenas de Cristo e provavelmente, não aceitava a liderança eclesiástica. 

Quando soube deste partidarismo, Paulo escreveu aos Coríntios e os chamou de carnais, pois estes obreiros foram apenas instrumentos pelos quais eles creram em Cristo. Um plantou, outro regou, mas Deus deu o crescimento. Além disso, Cristo não estava dividido e nenhum deles foi crucificado para salvar ninguém. 

Nas Igrejas de Roma, Colossos e Galácia, Paulo enfrentou o discurso dos judaizantes, que insistiam em impor aos cristãos, o legalismo judaico. Exigiam a circuncisão, a abstinência de alimentos considerados imundos e a guarda dos dias e festas sagradas de Israel. (Rm 14; Cl 2.15; Gl 3.10-13).

Ainda hoje, muitos ensinam esse tipo de coisa, corrompendo ou distorcendo a Sã doutrina. Há os que querem trazer para a dispensação da Graça, costumes, tradições e mandamentos do Judaísmo. Outros pregam a libertinagem e os costumes mundanos, onde nada mais é pecado, relativizando a santidade bíblica. Há também outras distorções das doutrinas bíblicas com a teologia da prosperidade, triunfalismo, quebra de maldições, uso de objetos supostamente milagrosos, etc. 

3. Fábulas e genealogias intermináveis (1 Tm 1.4). Falando sobre os que ensinam “outra doutrina”, Paulo citou o caso das “fábulas”, que é uma referência às lendas construídas pelos mestres da Lei, em torno das narrativas do Antigo Testamento. No grego a palavra traduzida por “fábulas” é “muthos”, que significa “mito” ou “fábula”. Essa palavra aparece nas Epístolas pastorais em 1 Tm 1.4,I Tm 4:7; II Tim. 4:4 e Tito 1.14. Na exortação a Tito (Tt 1.14), aparece como “fábulas judaicas”. Paulo ironizou tais superstições judaicas, chamando-as de “crenças sem fundamento” e de “fábulas profanas e de velhas caducas” (1 Tm 4.7). A intenção de Paulo era mostrar a Timóteo que estas coisas eram invenções humanas, sem base nas Escrituras, criadas para enganar as pessoas. 

Paulo citou também o caso das “genealogias intermináveis”, que também fazia parte do ensino dos judaizantes. Os judeus mantinham rigorosamente, os registros das suas genealogias e tomavam todo cuidado para que a distinção de suas tribos fosse mantida. Evidentemente, com o passar dos anos, elas se tornaram extremamente numerosas e infinitas. Os judeus davam grande importância aos registros genealógicos, pois esperavam a vinda do Messias, que segundo as profecias viria da tribo de Judá e da descendência de Davi. Entretanto, com a vinda do Messias a separação entre judeus e gentios não era mais necessária. Não havia necessidade alguma de isso ser observado pelos cristãos. Só servia para manter o orgulho racial e nacional dos judaizantes. 

No Evangelho de Cristo não importa a origem genealógica, classe social, nacionalidade ou etnia. A Igreja do Senhor é formada por todos os crerem em Cristo de quaisquer tribo, nação e língua. Portanto, não há espaço no corpo de Cristo para filosofias malignas como racismo, machismo, feminismo, anti semitismo, ou qualquer espécie de xenofobia. Cristo veio para todos. 


REFERÊNCIAS:

LOPES, Hernandes Dias. 1 Timóteo. O Pastor, sua vida e sua obra. Editora Hagnos. pag. 35-36.    

CABRAL, Elienai. O apóstolo Paulo, Lições de Vida e Ministério do apóstolo do Gentios para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. Ed. 1, 2021.    

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 4. pag. 14.    

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. Vol. 5. pag. 279.

LOPES, Hernandes Dias. I Coríntios Como Resolver Conflitos na Igreja. Editora Hagnos. pag. 21-26.      

DANIEL, Silas. A Sedução das Novas Teologias. Editora CPAD. pag. 105-106.    

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento: Romanos - Apocalipse. Vol. 2. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, pp.641-42.    


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Pb. Weliano Pires



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