19 novembro 2025

O HOMEM, UM SER AFETIVO

(Comentário do 1º tópico da Lição 8: Emoções e sentimentos — A batalha do equilíbrio interior)

Ev. WELIANO PIRES

Neste primeiro tópico, veremos que o ser humano é essencialmente um ser afetivo. Inicialmente, abordaremos a importância do estudo da afetividade humana, considerando o crescente agravamento da saúde mental em todo o mundo, inclusive no Brasil. 


Apresentaremos, em seguida, as definições de afetividade, emoções e sentimentos. Embora estejam intimamente relacionados, emoções e sentimentos não são sinônimos. 


Também analisaremos os principais afetos da alma humana: alegria, medo, raiva, surpresa, nojo e tristeza, reconhecidos universalmente na literatura psicológica. 


Por fim, refletiremos sobre sentimentos negativos como inveja, ira e ódio, observados em Caim, o primeiro homicida (Gn 4).


1. Propósitos do estudo. Conforme exposto na introdução desta lição, o mundo contemporâneo encontra-se imerso em uma crise sem precedentes no âmbito da saúde mental. Clínicas de psicologia e psiquiatria têm recebido um número crescente de pessoas que enfrentam sérios distúrbios emocionais e afetivos. Os índices de surtos psicóticos e de suicídio são alarmantes em escala global, alcançando diferentes faixas etárias e distintos estratos sociais.

Tal realidade também se faz presente entre membros e até mesmo entre obreiros de nossas igrejas. Desse modo, torna-se inadequado adotar uma postura de “super crentes” que ignoram a existência do problema. Ao contrário, devemos reconhecer que, ao nosso redor — e até mesmo em nossos lares — convivemos com pessoas que sofrem de depressão, transtornos de ansiedade, diversas fobias, síndrome do pânico, entre outras condições. Não podemos repetir discursos equivocados que reduzem a depressão a uma influência demoníaca, a um ato de fraqueza ou preguiça, nem atribuir a ansiedade à falta de fé ou exigir que o indivíduo simplesmente “engula o choro”.

O objetivo deste estudo sobre a afetividade humana é proporcionar uma compreensão mais profunda não apenas acerca das emoções e sentimentos, mas também de seus propósitos e modos de manifestação. É imprescindível reconhecer que todos nós possuímos emoções e sentimentos, e que estes fazem parte do plano de Deus para a existência humana. Ter emoções e sentimentos não constitui pecado; contudo, é necessário saber administrá-los de maneira sábia e equilibrada, como será discutido ao longo desta lição.

2. Afetividade: emoções e sentimentos. Neste subtópico, o comentarista nos apresentou, de forma resumida, as definições de afetividade, emoções e sentimentos, bem como as diferenças entre emoções e sentimentos. Aqui, a definição apresentada para afetividade é: a capacidade humana de expressar as emoções e sentimentos. 


No livro de apoio, o autor esclarece que não há uma única definição para afetividade e o entendimento pode variar de acordo com a ciência que a aborda: Psicologia, Neurociência, Sociologia, Antropologia Científica, Filosofia, Pedagogia e Teologia. Cada uma destas ciências apresenta conceitos diferentes para a afetividade, embora com algumas semelhanças. 


No caso desta lição nos limitarmos ao conceito teológico de afetividade, que é a capacidade dada por Deus ao ser humano de ter emoções, reagir às situações e relacionar-se com Deus e com o próximo. A afetividade está relacionada à tricotomia humana e envolve o nosso espírito, alma e corpo. 


No Salmo 31.9, o salmista diz que a tristeza atingiu os seus olhos, a sua alma e o seu ventre: “...Consumidos estão de tristeza os meus olhos, a minha alma e o meu ventre”. Em João 13.21, o texto diz que Jesus “turbou-se em espírito e afirmou: Na verdade, na verdade vos digo que um de vós me há de trair”. Já em Lucas 1.47, Maria, disse em seu cântico: “o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador”. Em outros textos bíblicos também é possível vermos os sentimentos e emoções se manifestarem no corpo das pessoas, mudando-lhe o semblante, tirando o sono ou levando-os à euforia.


a) Emoções. São reações imediatas do nosso organismo, desencadeadas por circunstâncias internas ou externas, que preparam o corpo para ações necessárias à sua proteção e sobrevivência. 


b) Sentimentos. São estados emocionais mais duradouros, que surgem a partir das emoções imediatas. Os sentimentos são as interpretações e avaliações que a nossa mente dá às nossas emoções.  


d) Diferença entre emoções e sentimentos. Apesar de estarem interligados e serem semelhantes, emoções e sentimentos são diferentes. A diferença está na duração, impacto e intensidade. As emoções são rápidas, automáticas, comum a todos os seres humanos e o seu impacto é maior no corpo. Os sentimentos, por sua vez, são duradouros, conscientes e variam de um indivíduo para outro.


3. Principais afetos. Os afetos são experiências emocionais que surgem a partir dos impactos que nos atingem e modificam nossa forma de agir. Segundo a classificação de Paul Ekman, no livro Linguagem das Emoções, os seis afetos básicos do ser humano são: alegria, tristeza, raiva, medo, nojo e surpresa. Esses afetos são considerados básicos por serem comuns a todas as culturas e por apresentarem expressões fisiológicas semelhantes.


No contexto bíblico, podemos perceber a manifestação desses afetos em várias ocasiões. Mesmo antes da Queda, vemos Adão expressar o afeto da alegria ao contemplar sua esposa pela primeira vez, chegando inclusive a declamar uma poesia:


“Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto, deixará o homem seu pai e sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma só carne.”


Da mesma forma, ao contemplarem mutuamente sua nudez, manifestaram felicidade e cumplicidade, de modo prazeroso e puro:


“E ambos estavam nus, o homem e sua mulher; e não se envergonhavam.” (Gn 2.25)


Até então, não havia manifestações dos demais afetos, como tristeza, raiva, medo e nojo, pois, em seu estado de perfeição, o ser humano estava livre dessas coisas.


Com o advento do pecado, no entanto, o ser humano foi corrompido em todos os aspectos, tornando-se malicioso, frágil e mortal. Com isso, passou a experimentar afetos negativos, como vergonha, medo, tristeza, nojo e raiva. Diante de um perigo iminente, por exemplo, o cérebro humano libera um hormônio chamado adrenalina, que impulsiona o corpo a lutar ou fugir com força e rapidez incomuns.


4. Inveja, ira e ódio. Após a Queda, os sentimentos humanos passaram a manifestar-se de forma distorcida e pecaminosa. Um dos exemplos mais marcantes é o de Caim, filho de Adão e Eva, que permitiu que a inveja, a ira e o ódio dominassem seu coração contra o seu irmão Abel. Esses sentimentos sombrios cresceram dentro dele até levá-lo ao terrível ato de tirar a vida de seu próprio irmão — o primeiro assassinato da história humana. Depois disso, Caim ainda experimentou outros tormentos interiores, como a culpa e o medo, frutos amargos de um coração afastado de Deus.


É importante notar que esses afetos não foram reações instintivas ou mecanismos de defesa. Abel não havia ferido Caim, nem representava qualquer ameaça. A raiz do problema estava dentro do próprio Caim. O Novo Testamento revela que suas obras eram más e que ele se deixou influenciar pelo maligno, enquanto Abel era justo diante do Senhor (1 Jo 3.12).


O relato bíblico mostra que ambos apresentaram suas ofertas ao Senhor. Caim, como agricultor, trouxe das primícias da terra; Abel, como pastor, ofereceu um cordeiro. Deus atentou para Abel e para a sua oferta, mas rejeitou Caim e sua oferta. Ao invés de examinar seu coração e buscar arrependimento, Caim deixou que a inveja se transformasse em ódio mortal.


Esse episódio, tão conhecido, suscita muitas perguntas. Alguns especulam sobre com quem Caim teria se casado; outros imaginam que Deus rejeitou sua oferta por ser de vegetais. Contudo, a melhor regra para interpretar as Escrituras é lembrar que a própria Bíblia interpreta a Bíblia. Gênesis registra que Adão teve “filhos e filhas”, demonstrando que a humanidade se multiplicava e que os casamentos daquele período eram, naturalmente, consanguíneos. As Escrituras não narram todos os detalhes familiares porque seu objetivo é revelar o plano redentor de Deus, destacando apenas personagens essenciais, como Caim, Abel e Sete.


Também não há base bíblica para afirmar que Deus rejeitou Caim por causa do tipo de oferta. O Antigo Testamento apresenta várias ofertas de cereais que eram aceitáveis ao Senhor. A verdadeira questão não estava no sacrifício, mas no coração do ofertante. Deus rejeitou Caim porque suas obras eram más; e recebeu a oferta de Abel porque ele era justo diante de Deus.


A história de Caim e Abel é um poderoso lembrete para nós. Ela nos mostra que os sentimentos, quando não submetidos ao Senhor, podem se tornar instrumentos de destruição. Mas também nos ensina que Deus olha primeiro para o coração antes de olhar para qualquer oferta. Que possamos, à luz dessa lição, entregar ao Senhor não apenas nossos dons, mas nossa vida interior — pensamentos, emoções e atitudes — permitindo que Ele purifique nossos afetos e nos conduza no caminho da justiça.


REFERÊNCIAS:

EKMAN, Paul. A Linguagem das Emoções. São Paulo: Lua de Papel, 2011. Trad. Carlos szlak. 

QUEIROZ, Silas. Corpo, Alma e Espírito: A restauração integral do ser humano para chegar à estatura completa de Cristo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 

OLIVEIRA, Marcelo. Alcance um Futuro Feliz e Seguro. 1ª Edição. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2024, p.41


18 novembro 2025

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 8: EMOÇÕES E SENTIMENTOS — A BATALHA DO EQUILÍBRIO INTERIOR

Data: 23 de novembro de 2025

TEXTO ÁUREO:

“E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus.” (Fp 4.7).

VERDADE PRÁTICA:

Acima de todo e qualquer método humano, devemos confiar em Deus, único que pode nos dar a verdadeira paz e guardar nossos sentimentos.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: Filipenses 4.4-7; Mateus 9.36; João 11.35,36.

Objetivos da Lição: 

I) Explicar ao aluno a natureza afetiva do ser humano, reconhecendo a diferença entre emoções e sentimentos e sua relação com o pensamento e a vontade; 

II) Ensinar que, embora muitas emoções sejam instintivas, é responsabilidade do cristão administrar suas reações com base na Palavra de Deus; 

III) Demonstrar que o verdadeiro controle dos sentimentos não vem apenas de métodos humanos, mas da paz de Deus, que guarda os corações dos que creem.

INTRODUÇÃO 

Nesta lição, trataremos da segunda faculdade da alma: a afetividade, que corresponde à capacidade humana de experimentar emoções e expressar sentimentos. Quando o ser humano não possui uma compreensão adequada de si mesmo à luz da Palavra de Deus, suas emoções e sentimentos tendem a se desestabilizar, podendo resultar em sérios distúrbios emocionais e comportamentais.

Atualmente, o mundo enfrenta uma crise global de saúde mental. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), há uma verdadeira pandemia de transtornos mentais. Segundo dados recentes divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 1 bilhão de pessoas vivem com algum tipo de transtorno mental. Após a pandemia de Covid-19, houve um aumento significativo de casos de ansiedade, depressão, transtornos alimentares, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), dependência química, entre outros problemas psicológicos.

Em meio a um contexto social emocionalmente instável, a Palavra de Deus oferece direção, equilíbrio, cura interior e verdadeira paz. Esta lição é, portanto, uma excelente oportunidade para conduzir nossos alunos à compreensão de que emoções e sentimentos fazem parte da criação divina, mas devem ser submetidos à ação e ao controle do Espírito Santo.

Palavras-Chave: Emoções e Sentimentos

Emoções

A palavra “emoção” deriva da expressão latina ex movere, que significa literalmente “mover para fora”¹. Todo ser humano possui emoções — positivas ou negativas — que funcionam como respostas psicológicas e fisiológicas diante de estímulos internos ou externos. Elas nos capacitam a reagir às situações, interpretar o ambiente e tomar decisões adequadas.

Sentimentos

O verbo “sentir” vem do latim sentire, que significa “perceber através dos sentidos”. Os sentimentos correspondem às interpretações e avaliações conscientes que fazemos das emoções. Assim como ocorre com os pensamentos e com a consciência, o conceito de sentimento varia conforme a área do conhecimento humano: psicologia, neurociência, filosofia, sociologia e teologia.

Nesta lição, trataremos emoções e sentimentos à luz da Escritura Sagrada.

TÓPICOS DA LIÇÃO 

I. O HOMEM, UM SER AFETIVO

Neste primeiro tópico, veremos que o ser humano é essencialmente um ser afetivo. Inicialmente, abordaremos a importância do estudo da afetividade humana, considerando o crescente agravamento da saúde mental em todo o mundo, inclusive no Brasil.

Apresentaremos, em seguida, as definições de afetividade, emoções e sentimentos. Embora estejam intimamente relacionados, emoções e sentimentos não são sinônimos. Também analisaremos os principais afetos da alma humana: alegria, medo, raiva, surpresa, nojo e tristeza, reconhecidos universalmente na literatura psicológica. Por fim, refletiremos sobre sentimentos negativos como inveja, ira e ódio, observados em Caim, o primeiro homicida (Gn 4).

II. EMOÇÕES: EXPERIÊNCIA E CONTROLE

No segundo tópico, trataremos da experiência e do controle das emoções. Inicialmente, veremos como o cristão deve reagir e tomar decisões diante das emoções instintivas. Em seguida, estudaremos a relação entre emoções e o pecado. O fato de algumas emoções surgirem de forma espontânea não elimina a possibilidade de se tornarem pecaminosas quando não são submetidas à vontade de Deus.

Ao final, destacaremos também o aspecto positivo das emoções. Mesmo as emoções incômodas — como medo, tristeza ou indignação — podem gerar benefícios para a vida espiritual, emocional e relacional quando disciplinadas pelo Espírito Santo.

III. SENTIMENTOS GUARDADOS POR DEUS

O terceiro tópico tratará dos sentimentos guardados por Deus. Abordaremos inicialmente a falsa ideia de autossuficiência emocional e o equívoco de confiar exclusivamente em técnicas humanas de gerenciamento emocional. Embora úteis, tais técnicas não substituem a ação transformadora da graça divina.

Comentaremos também Filipenses 4.7, onde o apóstolo Paulo afirma que a paz de Deus — alcançada por meio da obediência, humildade e oração — guarda o coração e os pensamentos dos servos de Cristo. Essa paz não apenas consola, mas age como um “vigia espiritual” que protege nossas emoções e sentimentos.

REFERÊNCIAS: 

A BÍBLIA. Bíblia Sagrada. Tradução Almeida Revista e Corrigida. São Paulo: SBB, 2009. 

CRISPINO, Lígia Velozo. A origem da palavra emoção. Companhia de Idiomas. Disponível em: https://companhiadeidiomas.com.br/. Acesso em: 18/11/2025.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Relatório global de saúde mental. ONU, 2023.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. World Mental Health Report. Geneva: WHO, 2022

17 novembro 2025

EMOÇÕES E SENTIMENTOS — A BATALHA DO EQUILÍBRIO INTERIOR


(SUBSÍDIOS DA REVISTA ENSINADOR CRISTÃO/CPAD)

Muitas decisões e reflexões são influenciadas por aquilo que pensamos e desejamos (Pv 4.23). Mas há também um aspecto da constituição humana que afeta diretamente nossas decisões e nosso comportamento: as emoções, a parte afetiva do ser humano, que é profundamente impactada por nossas experiências diárias.

Lidar com as emoções não é uma tarefa fácil. Por isso, é comum encontrar uma grande diversidade de conteúdos sobre esse tema na internet. A busca intensa por orientações sobre saúde emocional revela uma sociedade emocionalmente adoecida. Tem aumentado o número de pessoas com depressão, transtornos de ansiedade e fobias — resultados de um estilo de vida acelerado e consumista. O excesso de exposição a telas, o uso abusivo das redes sociais e as exigências de uma sociedade em que muitos se sentem obrigados a exibir boa aparência ou sustentar uma imagem de perfeição têm levado inúmeros indivíduos a sucumbirem emocionalmente.

Diante desse cenário, a igreja precisa aprender a lidar com a saúde emocional. Como servos de Deus, as Escrituras são nossa fonte de conhecimento e orientação para enfrentarmos as escolhas da vida (Fp 4.7). Para compreender melhor esse tema, o pastor Gil Dias aborda o papel da inteligência, faculdade dada por Deus, que se manifesta em diferentes áreas. Conforme explica em seu livro Um Alerta Contra a Ansiedade (CPAD):

O psicólogo e consultor corporativo Richard Griffiths define inteligência espiritual como: “Uma dimensão mais complexa de inteligência que ativa as qualidades e capacidades do verdadeiro ‘self’, na forma de sabedoria, compaixão, integridade, alegria, amor, criatividade e paz. É um senso de significado e propósito, que pode ser combinado ao desenvolvimento de habilidades pessoais e profissionais”. A definição de Griffith parte da ideia de que existem três dimensões ou tipos de inteligência:

  1. Inteligência racional: refere-se à capacidade de resolver problemas e ao pensamento lógico. É representada pelo Quociente de Inteligência (QI);

  2. Inteligência emocional: capacidade de reconhecer e lidar com as próprias emoções, além de responder adequadamente às emoções dos outros. É representada pelo Quociente Emocional (QE);

  3. Inteligência espiritual: capacidade de dar propósito às ações e significado à vida. É representada pelo Quociente Espiritual (QS). As dimensões não estão isoladas umas das outras no cérebro humano; pelo contrário, estão interligadas. Uma não existe sem a outra (2025, pp. 42–43).

O aprendizado contínuo dessas três inteligências é indispensável para lidarmos melhor com as emoções e encontrarmos o equilíbrio interior.

Fonte: Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 103, p.40.
Referência: DIAS, Gil. Um Alerta Contra a Ansiedade. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2025.

14 novembro 2025

A BATALHA NA ARENA DOS PENSAMENTOS

(Comentário do 3⁰ tópico da Lição 7: Os pensamentos – a arena de batalha na vida cristã)

No terceiro tópico, trataremos da batalha espiritual que ocorre na mente. Primeiramente, falaremos sobre as influências espirituais nos pensamentos humanos, destacando os exemplos de Judas Iscariotes e Ananias, esposo de Safira, ambos influenciados por Satanás em seus pensamentos — e, por isso, tiveram fins trágicos.

Abordaremos também cuidados práticos que devemos adotar para proteger a mente de maus pensamentos e manter a saúde mental e espiritual.

A mente é o campo onde se trava a principal batalha da vida cristã, e somente pela ação do Espírito Santo e pela renovação contínua da mente pela Palavra (Rm 12.2) é possível experimentar a verdadeira vitória interior.

1. Influências espirituais

Conforme vimos no primeiro tópico, os pensamentos podem surgir a partir de fatores biológicos, emocionais e espirituais, ou através da combinação desses fatores. No aspecto espiritual, o nosso pensamento está sujeito às influências malignas. Falando sobre a batalha espiritual, o apóstolo Paulo escreveu aos crentes de Éfeso:

 “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” (Ef 6.12).

Ao falar sobre os itens da armadura de Deus que o crente deve usar na batalha espiritual, o apóstolo Paulo denominou um deles de “capacete da salvação". O capacete é um equipamento de proteção individual que protege a cabeça — seja do operário, engenheiro civil, soldado ou motociclista. Da mesma forma, a confiança na salvação também protege a nossa mente de maus pensamentos.

Inevitavelmente, o inimigo irá bombardear a nossa mente com maus pensamentos. Mesmo pessoas que creram em Jesus e nasceram de novo não estão imunes a esse bombardeio. O comentarista mencionou dois exemplos de pessoas que eram crentes e se deixaram influenciar pelo maligno em suas mentes.

O primeiro deles foi Judas Iscariotes, que era um dos apóstolos de Jesus e foi induzido pelo inimigo, logo após a ceia, a trair o Mestre, vendendo-o por trinta moedas de prata:

 “E, acabada a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse.” (Jo 13.2).

 “E, após o bocado, entrou nele Satanás. Disse-lhe, pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa.” (Jo 13.27).

O segundo caso foi o de Ananias, esposo de Safira, que era membro da Igreja de Jerusalém e arquitetou um plano para enganar os apóstolos, fingindo generosidade para com os pobres, enquanto guardava parte do dinheiro para si. O Espírito Santo revelou a farsa ao apóstolo Pedro e, após este repreender Ananias e sua esposa Safira, ambos caíram mortos aos seus pés, em momentos diferentes. Em sua repreensão a Ananias, Pedro revelou que aquilo era obra do inimigo em sua mente:

 “Disse, então, Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço da herdade?” (At 5.2–3).

Alguém poderá argumentar que esses dois, embora estivessem entre os crentes, já estavam desviados. Isso é verdade, mas ninguém se desvia de uma hora para outra. O processo começa na mente, seja através da natureza carnal, seja por meio de influências malignas. O inimigo vai lançando setas, e a mente da pessoa vai absorvendo-as até, finalmente, se entregar ao pecado.

Além disso, temos também o caso de Pedro, que era convertido e um dos principais apóstolos de Jesus, e que se deixou influenciar por Satanás logo depois de ter proferido uma mensagem revelada por Deus sobre a identidade de Jesus:

 “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” (Mt 16.16).

Essa atitude foi elogiada por Jesus, que reconheceu publicamente que Pedro não fizera aquela afirmação por si mesmo, mas que Deus lha havia revelado:

 “Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai, que está nos céus.” (Mt 16.17).

Entretanto, logo em seguida, ao ser informado por Jesus de que o Mestre iria para Jerusalém e seria torturado e condenado à morte por autoridades religiosas de Israel, mas ressuscitaria ao terceiro dia, o mesmo Pedro repreendeu Jesus, dizendo:

 “Senhor, tem compaixão de ti; de modo nenhum te acontecerá isso!” (Mt 16.22).

Essa segunda atitude de Pedro foi vista por Jesus como uma influência de Satanás, e Ele imediatamente o repreendeu, dizendo:

 “Para trás de mim, Satanás! Tu me és pedra de tropeço, porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens.” (Mt 16.23).

Jesus identificou prontamente a fonte daquela declaração, que era o próprio Satanás, tentando mais uma vez fazê-lo desistir da cruz.

2. Cuidados práticos. 

No tópico anterior, vimos como gerir os nossos pensamentos, enchendo a mente com aquilo que é verdadeiro, honesto, amável, puro, vitorioso, de boa fama e digno de louvor. Além disso, mencionamos o uso de recursos espirituais como a leitura e a meditação na Palavra de Deus, a oração e o jejum.

Neste subtópico, o comentarista apresenta uma lista de cuidados práticos que podemos adotar para proteger a mente dos maus pensamentos. São medidas extremamente eficientes para impedir que nossos pensamentos sejam contaminados. Achei interessante listar essas medidas e comentar sobre cada uma delas:

a) Não nutrir pensamentos distorcidos sobre si mesmo.

Nesse aspecto, devemos evitar dois extremos: a mania de grandeza e o complexo de inferioridade. O primeiro evita a frustração causada pelo choque de realidade quando pensamos ser mais do que realmente somos. O segundo impede que sejamos dominados pela autocomiseração, acreditando que não somos nada e que ninguém gosta de nós. Esses extremos podem abrir portas para maus pensamentos e até para a depressão.

b) Purificar a mente dos maus pensamentos.

Devemos rejeitar todo tipo de pensamento impuro, especialmente os de caráter sexual, os pensamentos de vingança e as mágoas do passado. Esses elementos corrompem a nossa mente e adoecem a alma.

c) Vigiar contra a mentira e todo tipo de engano.

Como vimos no tópico anterior, devemos ocupar a mente com aquilo que é verdadeiro e honesto. Por isso, é fundamental submeter nossos pensamentos ao filtro da verdade. O crente jamais deve se envolver com mentiras — seja criando, seja divulgando. Da mesma forma, não deve ocupar a sua mente com nada fraudulento ou desonesto, mesmo que ofereça algum benefício imediato.

d) Livrar-se da intoxicação e do excesso de informações.

No mundo atual, especialmente com a internet e as redes sociais, a informação se espalha em velocidade impressionante. Tudo — até o que não é verdade — chega a nós em poucos segundos. A mente humana não é capaz (e nem precisa) processar tamanha quantidade de dados, pois isso causa cansaço, ansiedade, exaustão e até colapso. A internet tem seu valor, mas não precisamos gastar horas consumindo “lixo virtual” que prejudica nosso equilíbrio mental.

e) Focar a mente no que edifica e instrui.

Sem dúvida, precisamos estar bem informados, ou ficaremos para trás. No entanto, devemos selecionar cuidadosamente o que consumimos, priorizando conteúdos que edifiquem e instruam. Na internet há estudos bíblicos, cursos, palestras e materiais úteis para nossa vida. Podemos — e devemos — ocupar nosso tempo com essas coisas.

f) Construir relacionamentos saudáveis.

Um dos grandes problemas do mundo virtual é o aumento de brigas e contendas. Discussões que antes aconteciam apenas pessoalmente agora tomam conta do Instagram, Facebook, Twitter, WhatsApp e outras plataformas. Embora a internet tenha grande potencial para aproximar pessoas e criar amizades, também é um ambiente propício a fofocas, conflitos e intrigas por meio de postagens e comentários. Isso faz muito mal à nossa alma, ao nosso espírito e até ao nosso corpo. Muitas pessoas estão adoecidas por causa de contendas. Que Deus nos dê sabedoria para fugir dessas coisas!

13 novembro 2025

A GESTÃO DOS PENSAMENTOS

(Comentário do 2º tópico da Lição 07: Os pensamentos - a arena de batalha na vida cristã).

No segundo tópico, abordaremos a gestão dos pensamentos. Com base em Filipenses 4.8, veremos que pensar em coisas boas e virtuosas é um imperativo ético e espiritual: “...nisso pensai.” 

Aprenderemos também que “pensar nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra” (Cl 3.2) está muito além das técnicas humanas de gestão mental — trata-se de uma prática espiritual profunda.

Falaremos ainda sobre a leitura e meditação nas Escrituras como recursos espirituais eficazes para gerar bons pensamentos e fortalecer a mente.

Por fim, destacaremos a influência de fatores físicos, orgânicos e ambientais em nossa maneira de pensar, tomando como exemplo Jesus, que, embora estivesse frequentemente em meio às multidões e agitações de Jerusalém, também buscava momentos de retiro em Betânia, um lugar de descanso e comunhão.

1. Imperativo ético e espiritual. Neste subtópico, o comentarista faz uma exegese do texto de Filipenses 4.8, onde o apóstolo Paulo faz um apelo aos crentes de Filipos em relação à gestão de seus pensamentos:

“Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”.

A expressão grega to loipón, traduzida na versão Almeida Revista e Corrigida como “Quanto ao mais”, significa “portanto”, “finalmente” ou “por fim”, indicando uma conclusão sobre o que foi dito anteriormente. Paulo estava encerrando sua epístola e trazendo as últimas recomendações aos Filipenses. Antes disso, ele havia abordado as desavenças entre duas irmãs da igreja em Filipos, Síntique e Evódia, e pediu que elas resolvessem suas diferenças e trabalhassem juntas na obra do Senhor, até mesmo pedindo ajuda de seu cooperador.

Na sequência, o apóstolo aconselhou os irmãos a se alegrarem no Senhor, a serem amáveis uns com os outros, a não andarem ansiosos por coisa alguma, mas a apresentarem suas demandas ao Senhor em oração. E, se fizessem isso, disse Paulo, a paz de Cristo, que excede todo entendimento, guardaria os seus corações e mentes.

Dentro deste contexto, o apóstolo conclui suas recomendações apresentando uma lista de nove qualidades de pensamentos que devem ocupar a nossa mente. Cada uma dessas qualidades é precedida pelo pronome indefinido “tudo” (em grego, hōsos), que abrange a totalidade dessas virtudes.

a) Tudo o que é verdadeiro (alēthē): Deriva de Aletheia (verdade). Jesus disse que Ele é a Verdade (Jo 14.6) e que a Palavra de Deus também é a Verdade (Jo 17.17). Assim, o cristão deve ocupar sua mente apenas com o que é verdadeiro. A mentira é filha do diabo (Jo 8.44).

b) Tudo o que é honesto (semná): Refere-se ao que é respeitável e de caráter honroso.

c) Tudo o que é justo (dikaios): Refere-se ao que está conforme os padrões de justiça de Deus.

d) Tudo o que é puro (hagnos): Refere-se ao que é santo, imaculado e livre de corrupção moral.

e) Tudo o que é amável (prosphiles): Refere-se ao que é agradável, amável e gera afeição.

f) Tudo o que é de boa fama (euphemos): Refere-se ao que gera uma boa reputação e não é vergonhoso de se falar.

g) Tudo o que possui virtude (aretē): Refere-se ao que tem excelência moral, nobreza e virtudes.

h) Tudo o que é louvável (epainos): Refere-se ao que é digno de aprovação e louvor pela comunidade cristã. Não se refere à aprovação do mundo, pois este tem um padrão de moralidade corrompido pelo pecado.

O apóstolo Paulo fez um apelo aos Filipenses para que avaliassem seus pensamentos à luz dessa lista de qualificações morais. O verbo usado por ele – pensai (logizomai) – está no modo imperativo, o que indica uma ordem, pedido ou apelo. Quando algum pensamento surgir em nossa mente, devemos passá-lo por essa “peneira” de Filipenses 4.8. Se não se enquadrar em qualquer um desses requisitos, deve ser imediatamente rejeitado, pois é nocivo à nossa alma.

2. Acima da técnica.

Atualmente, há uma infinidade de técnicas e estratégias para observar, influenciar, controlar e direcionar os pensamentos, de forma que estes se tornem mais saudáveis e produtivos. Essas técnicas, desenvolvidas pela mente humana, visam treinar o cérebro para gerir os pensamentos de maneira eficaz.

Embora possuam certa importância do ponto de vista psicológico, elas são limitadas quando se trata da gestão dos pensamentos do ponto de vista espiritual e emocional. A prova disso é o aumento do número de pessoas que buscam ajuda nas clínicas psicológicas, enquanto os problemas emocionais parecem se intensificar.

Em sua carta aos Colossenses, o apóstolo Paulo fez a seguinte recomendação aos crentes da Igreja de Colossos:

Pensai nas coisas lá do alto, e não nas que são aqui da terra.” (Cl 3.2)

No versículo anterior, ele escreveu:

Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus.” (Cl 3.1)

Isso significa que, para ter uma mentalidade sadia, o cristão deve direcionar seus pensamentos para as coisas eternas, lembrando-se sempre de que somos peregrinos e forasteiros neste mundo. Esse foco nas coisas celestiais ajuda a evitar frustrações e a ansiedade em relação às coisas efêmeras. Já estamos mortos para este mundo, e nossa verdadeira vida está escondida em Deus.

3. Recursos espirituais.

A forma mais eficiente de gerir nossos pensamentos é utilizar os recursos espirituais que a Palavra de Deus nos oferece, praticando as disciplinas da vida cristã. O primeiro e mais importante recurso espiritual para termos pensamentos saudáveis, sem dúvida, é a leitura e meditação na Palavra de Deus. O Salmo 1 nos mostra esta verdade:

“Bem-aventurado o homem que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite.” (Sl 1.1-2)

O Salmo 119, conhecido como o "Salmo da Palavra de Deus", é uma belíssima poesia acróstica que contém 22 estrofes. Cada estrofe possui 8 versos, e cada um começa com uma letra do alfabeto hebraico, seguindo uma ordem sequencial. Em cada verso, há uma referência à Palavra de Deus, usando palavras sinônimas como: Lei do Senhor, Testemunhos, Mandamentos, Estatutos, etc. No texto em português, essa beleza estrutural se perde, pois as sequências das letras acontecem apenas no texto hebraico.

Em todos os 176 versos deste Salmo, encontramos uma referência positiva à Palavra de Deus. Ela purifica os nossos caminhos (Sl 119.9), nos dá condições de não pecar contra Deus (Sl 119.11), alegra o coração de quem se lembra dela (Sl 119.16), vivifica os corações (Sl 119.25), fortalece a alma (Sl 119.28), traz salvação (Sl 119.41), produz piedade (Sl 119.58), consola o aflito (Sl 119.76), permanece para sempre no céu (Sl 119.89), é lâmpada e luz para o nosso caminho (Sl 119.105), nos sustenta (Sl 119.116), ordena os nossos passos (Sl 119.133), é muito pura (Sl 119.140), é a verdade desde o princípio (Sl 119.160) e nos dá entendimento (Sl 119.169), entre outras bênçãos.

Quem lê e medita constantemente na Palavra de Deus, naturalmente terá pensamentos verdadeiros, honestos, justos, santos, amáveis e louváveis, conforme vimos em Filipenses 4.8. Porém, não basta apenas ler a Palavra de Deus; é preciso entender o seu conteúdo e meditar nela, para que ela produza em nós a mente de Cristo. A única maneira de conhecermos a mente de Cristo é através da Bíblia (Jo 5.39). Quando estudamos a Palavra de Deus com oração e temor, somos transformados pela renovação da nossa mente (Rm 12.2).

Além da leitura e meditação na Palavra, existem outros recursos espirituais que nos ajudam a alinhar nossos pensamentos ao caráter de Deus, como a prática da oração e do jejum. Esses dois recursos nos aproximam de Deus e nos ajudam a ter pensamentos que refletem a Sua vontade.

Na oração, o crente abre seu coração diante de Deus, lançando sobre Ele suas petições, intercessões e agradecimentos, aguardando a resposta divina em tempo oportuno, conforme a soberana vontade de Deus. A oração é um meio poderoso de renovar nossa mente e nos alinharmos com a vontade de Deus.

O jejum, juntamente com a oração, é um ato de disciplina, autonegação e humilhação, demonstrando total dependência de Deus. Na Bíblia, o jejum é frequentemente associado à oração e está relacionado à confissão de pecados (Dt 9.18; Jn 3.5), bem como à lamentação por calamidades ou derrotas (Jz 20.26; Ne 1.4; Et 4.3). O jejum cristão é uma abstinência voluntária de alimentos por um período determinado, com o objetivo de aumentar o autocontrole, sujeitar o corpo ao espírito e dedicar-se às coisas espirituais.

4. Jerusalém e Betânia.

Neste trecho, o comentarista nos chama a atenção para a influência dos fatores físicos, orgânicos e ambientais em nossa maneira de pensar. Ele usa o exemplo de Jesus, que, durante seu ministério terreno, viveu uma vida agitada, percorrendo cidades e aldeias, pregando o Evangelho, ensinando e curando os enfermos.

Além dessa rotina atribulada, Jesus ainda precisava fugir das multidões que queriam fazê-lo rei para libertar Israel do domínio romano, e, por outro lado, dos líderes religiosos que procuravam matá-lo. Onde as multidões sabiam que Ele estava, iam atrás com motivações diversas.

Alguns o procuravam em busca de milagres. Outros, queriam apenas ouvir os seus ensinamentos, que eram bem diferentes dos ensinamentos dos escribas e fariseus. Havia também os revolucionários, que viam em Jesus um líder para uma possível revolução contra Roma. Já os líderes religiosos, que eram hipócritas e avarentos, temiam perder suas posições no templo e tentavam apanhá-lo em alguma falha, a fim de condená-lo à morte.

No meio dessas agitações, o Senhor Jesus se retirava com seus discípulos para a aldeia de Betânia, onde era acolhido pela família de seus amigos queridos: Lázaro e suas irmãs Marta e Maria. Após o episódio da purificação do templo, quando Jesus expulsou os vendedores e cambistas, o texto de Mateus nos relata que Ele se retirou para Betânia: “E, deixando-os, saiu da cidade para Betânia, e ali passou a noite.” (Mt 21.17).

A aldeia de Betânia ficava a leste de Jerusalém, perto do Monte das Oliveiras. A distância entre Jerusalém e Betânia era de oito estádios (Jo. 11.18), o que equivale a aproximadamente três quilômetros. Em Betânia, Jesus encontrou, além de um lugar aconchegante e um pouco afastado das multidões, uma família de amigos que eram tementes a Deus e o amavam. Marta, Maria e Lázaro hospedaram Jesus em sua casa e desfrutavam de sua agradável companhia.

Com Jesus, aprendemos que devemos dedicar tempo para fazer a obra de Deus, mas também é necessário reservar momentos para descansar, incluindo o descanso da mente. Infelizmente, muitos cristãos se entregam ao ativismo religioso e buscam dedicar dia e noite aos trabalhos da Igreja. Como resultado, acabam não tendo tempo para trabalhar, para cuidar da família, para descansar ou para zelar pela saúde. O reflexo disso é o estresse, a destruição da família ou o viver de aparências, o adoecimento e, em casos mais graves, até a morte prematura.

Ev. WELIANO PIRES

UMA VISÃO INTRODUTÓRIA

(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 7: Os pensamentos – a arena de batalha na vida cristã).

Neste primeiro tópico, apresentaremos uma visão introdutória sobre o tema dos pensamentos. 

Como é de praxe nas lições deste trimestre, o comentarista nos conduz ao relato da criação, destacando a experiência de Adão e Eva no uso de seu intelecto — raciocinando, elaborando pensamentos e tomando decisões.

Em seguida, trataremos do conceito e das origens dos pensamentos, que podem surgir de fatores internos, externos ou da combinação de ambos. Contudo, independentemente da origem, cabe ao ser humano decidir se aceita ou rejeita os pensamentos que lhe sobrevierem.

Por fim, veremos as características dos pensamentos humanos, que podem ser bons ou maus, dependendo de sua natureza e motivação.

1. A experiência de Adão e Eva. Nas lições anteriores, quando estudamos sobre o corpo e, em outras lições, sobre a alma humana, o comentarista trouxe as informações do livro de Gênesis, no período da criação, com o objetivo de fundamentar nossa compreensão sobre a Antropologia Teológica. Nesta lição, seguindo o mesmo padrão, ele nos apresenta como o pensamento se manifestou no primeiro casal, Adão e Eva.

Deus criou o ser humano à Sua imagem, conforme a Sua semelhança, dotado da capacidade de raciocinar e de dominar sobre as coisas criadas. Portanto, o ser humano é distinto de todas as outras criaturas:

 “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra.” (Gn 1.26).

Mesmo após o advento do pecado, o ser humano manteve sua atividade intelectual, embora não mais de forma pura e inocente, como no princípio. As primeiras gerações após Adão e Eva realizaram grandes descobertas e invenções, mesmo sem os recursos tecnológicos de hoje. Os descendentes de Caim, por exemplo, sendo maus, foram grandes inventores:

“E Ada deu à luz a Jabal; este foi o pai dos que habitam em tendas e têm gado. E o nome do seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e órgão. E Zilá também deu à luz a Tubalcaim, mestre de toda a obra de cobre e ferro; e a irmã de Tubalcaim foi Noema.” (Gn 4.20-22).

Da mesma forma, a geração que surgiu após o dilúvio, desenvolveu a engenharia civil e tentou construir uma cidade e uma torre que chegasse aos céus, para que os seus descendentes não se espalhassem. Alguns estudiosos sugerem que eles pretendiam com isso, fugir de eventuais dilúvios futuros: 

“E aconteceu que, partindo eles do oriente, acharam um vale na terra de Sinar; e habitaram ali. E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume por cal. E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra”. (Gn 11.2-4).

As ideias apresentadas pela falaciosa teoria da evolução, que afirma que os seres humanos evoluíram de outras espécies de animais até chegar ao estágio atual, não encontram amparo nas Escrituras nem na verdadeira ciência. Nossos ancestrais nunca foram uma espécie selvagem do tipo "uga, uga". Ao contrário, no Jardim do Éden, o homem era puro e sem maldade, tendo recebido de Deus a capacidade de nomear os seres criados e governar a terra. 

Entretanto, em sua inocência, eles não administraram bem a capacidade de pensar. Eva se deixou enganar pelo inimigo, que se apoderou da serpente e distorceu as palavras de Deus. Adão, por sua vez, foi seduzido por Eva e também desobedeceu a Deus. A partir desse momento, seus pensamentos foram corrompidos, e eles passaram a ter também maus pensamentos.

2. Conceito e origens. O que são pensamentos? O comentarista nos apresentou uma definição resumida para pensamento: "Pensamentos são processos mentais constituídos de informações, reflexões, lembranças, sentimentos, sons e imagens". No Jardim do Éden, conforme já mencionamos, os pensamentos do ser humano eram puros, pois se originavam da comunhão plena com Deus e não sofriam influências externas.

Após a queda, no entanto, a mente humana passou a estar sujeita às influências biológicas, psicológicas e espirituais. Estes fatores, individual ou coletivamente, dão origem aos pensamentos. Entretanto, o ser humano é dotado de livre-arbítrio e pode escolher com o que vai ocupar a sua mente e quais pensamentos serão alimentados e transformados em ações.

Alguém já disse sabiamente que "mente vazia é oficina do Diabo". Portanto, a construção dos nossos pensamentos depende daquilo que ocupamos em nossa mente. Se a ocupamos com as coisas de Deus, ela produzirá pensamentos bons, pois Deus é bom. Uma pessoa que ocupa a sua mente com violência, ódio, imoralidade e outras coisas más, evidentemente terá maus pensamentos e, consequentemente, praticará o mal. Falaremos mais sobre isso no próximo tópico. 

3. Características dos pensamentos. A mente humana é extremamente complexa e possui a capacidade de produzir uma infinidade de pensamentos de naturezas diversas. Neste ponto, o comentarista discorre sobre as características dos nossos pensamentos e nos mostra que eles podem ser bons ou maus; puros ou impuros; verdadeiros ou falsos. O tipo de pensamento gerado em nossa mente está diretamente relacionado à sua origem.

Os pensamentos podem surgir a partir dos cinco sentidos do nosso corpo: visão, audição, olfato, paladar e tato. Por meio dessas janelas, a nossa alma entra em contato com o mundo exterior e pode sofrer influências boas ou más. Por isso, não devemos contaminar nossos sentidos com coisas más, pois isso produzirá pensamentos e ações pecaminosas. No Salmo 101.3, o salmista fez o seguinte compromisso:

“Não porei coisa má diante dos meus olhos; odeio a obra daqueles que se desviam; não se me pegará a mim.”

Os pensamentos também podem ser gerados em nosso interior, por meio da nossa própria natureza humana corrompida pelo pecado. O primeiro casal, antes do advento do pecado, não possuía natureza corrompida e, portanto, não estava sujeito a gerar maus pensamentos. Nós, porém, mesmo após a conversão, continuamos com a natureza carnal e precisamos lutar contra ela, para não cedermos às suas concupiscências.

Há ainda outra forma de surgirem maus pensamentos: as setas malignas plantadas em nossa mente pelo inimigo das nossas almas. O apóstolo Pedro escreveu que “o diabo, nosso adversário anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar”. (1Pe 5.8). Ele sabe perfeitamente que todas as ações humanas, antes de se concretizarem, são geradas na mente. Por isso, procura influenciar os pensamentos, levando as pessoas a pensar o mal. Cabe a nós discernir a origem dos pensamentos e rejeitar aquilo que é mau.

Os pensamentos verdadeiros, bons e puros procedem de Deus, pois essas qualidades fazem parte de Sua essência. Da nossa própria natureza não surgirão bons pensamentos, uma vez que ela foi corrompida pelo pecado. A Bíblia declara:

“Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jr 17.9).

Quem tem a mente preenchida pela presença de Deus e por Sua Palavra naturalmente refletirá isso em seus pensamentos e ações.

Ev. WELIANO PIRES 

O ENSINO SOBRE OS DESEJOS, EM TIAGO

(Comentário do 3º tópico da Lição 9: A contade - o que move o ser humano) No terceiro e último tópico, trataremos do ensino de Tiago a respe...