20 março 2021

Uma análise sobre os currículos e metodologia de ensino da Escola Bíblica Dominical

Imagem: Editora CPAD


Graças  a Deus, eu fui criado em um lar evangélico e frequento desde a minha infância, a Escola Bíblica Dominical da Assembléia de Deus, usando as revistas Lições Bíblicas, da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD). 

Estudei muitas lições comentadas por escritores renomados como Abraão de Almeida, Geziel Gomes, Estevam Angelo de Souza, Antonio Gilberto, Elienai Cabral, Geremias do Couto, Severino Pedro da Silva, Raimundo de Oliveira, Eurico Bergstén, Elinaldo Renovato de Lima, Claudionor Correia de Andrade e muitos outros. 

Por graça de Deus, no ano 2000 fui convidado para ministrar aulas na classe de adultos e de lá para cá, tenho feito isto ininterruptamente. São mais de 20 anos de dedicação ao ensino bíblico, na Escola Bíblica Dominical. Aprendi muito como aluno e continuo o meu aprendizado como professor. 

Fiz um curso médio em teologia para me preparar melhor para o ministério e busco sempre aprimorar as minhas aulas, consultando dicionários bíblicos, Bíblias de estudo, enciclopédia bíblica, comentários das lições em blogs e no Portal da Escola Dominical, vídeo aulas no YouTube, etc. 

No Ensino Médio, eu fiz o Curso de preparação para o magistério, que é um curso técnico para professor. No tempo em que estudei, este curso era suficiente para dar aulas do 1⁰ ao 4⁰ ano do ensino fundamental. Depois o Ministério da Educação passou a exigir licenciatura em pedagogia para se exercer o magistério.

Nesse curso, assim como no curso de pedagogia, estudamos diretrizes para o ensino de 1⁰ grau, didática geral, psicologia educacional, sociologia, metodologias do ensino da língua portuguesa, do ensino da matemática, do ensino dos estudos sociais e do ensino das ciências. Aprendemos também a elaborar um plano de aula e temos o estágio supervisionado em sala de aula.

Feita esta apresentação curricular, gostaria de expressar aqui a minha opinião sobre a grade curricular e metodologia de ensino das nossas escolas bíblicas dominicais. Faço isso, naturalmente, respeitando o preparo acadêmico, seriedade e experiência dos nossos profissionais do Setor de Educação Cristã da Casa Publicadora das Assembléias de Deus. O objetivo aqui não é criticar ou menosprezar o trabalho deles e sim, expor as minhas observações como professor e contribuir para melhorias. 

Eu sempre comparo o método de ensino bíblico na Escola Dominical, com o da educação secular. O conteúdo, evidentemente, é diferente. Mas, as diretrizes e os métodos de ensino são semelhantes.

Na educação secular, a criança vai para a escola e começa do zero, sem saber nada. Não sabe ler, escrever, nem fazer operações aritméticas. Começa na alfabetização e vai avançando ano após ano, até concluir o Ensino Fundamental. Depois, segue para o Ensino Médio. Após a conclusão deste, submete-se ao vestibular e, se aprovado, vai para a Universidade.

Todo este processo é formado por etapas, que não podem ser puladas. Na Escola Dominical, se quisermos ter um bom aprendizado, devemos seguir os mesmos parâmetros. Quem nunca passou por nenhum estudo bíblico deve começar do zero, como os novos convertidos e ir avançando, até chegar a uma formação.

Vamos agora à uma análise do nosso currículo da Escola Dominical, com base nas minhas experiências vividas na escola dominical como aluno e como professor.

Nas classes de adultos e jovens temos um assunto para todos os alunos, independentemente da escolaridade e do tempo de crente. O ideal seria que todos os crentes passassem por um curso bíblico por etapa, como nos cursos teológicos. 

Na verdade, o nosso currículo de Escola Dominical é muito genérico. Particularmente, eu não acho legal as divisões considerando apenas as faixas etárias. Nesse modelo, podemos ter por exemplo, um novo convertido e um teólogo na mesma classe. Podemos ter em uma mesma sala de aula, uma senhora de 80 anos, analfabeta, que não ouve ou não enxerga direito e com um raciocínio mais lento, junto com uma mulher de 30 anos, com pós-graduação.

O ideal seria montarmos um currículo, com vários níveis, começando no nível inicial para pessoas com baixa escolaridade e que não têm conhecimento bíblico, avançando até chegar a uma formação teológica. Sei que muita gente poderia achar que isso é discriminação, mas, não é.

Nas classes de discipulado, temos um sistema melhor, pois, temos duas revistas com as principais doutrinas bíblicas. Os novos convertidos precisam de um acompanhamento, como uma criança que está aprendendo a falar e a dar os primeiros passos.

As classes de discipulado são muito importantes para um ensino geral dos temas bíblicos. Mas, precisamos mudar um pouco a linguagem, escrever textos mais claros, com mais ilustrações, voltados para quem nunca teve contato com a Bíblia e preparar os nossos professores para isso. 

As nossas revistas, infelizmente são recheadas de termos teológicos técnicos, que até um professor experiente, se não for formado em teologia, terá dificuldades para entendê-los.

Um exemplo claro disso são as literaturas das Testemunhas de Jeová. Eles propagam as heresias deles usando muitas figuras, letras grandes, perguntas e respostas e não tratam de temas polêmicos em seus materiais de proselitismo. 

Nas classes de crianças, juniores, adolescentes e juvenis já temos o modelo por ciclos. Precisa apenas simplificar a linguagem e usar mais recursos audiovisuais e dinâmicas em classe, pois, eles não suportam muito tempo de aulas expositivas, como nas classes de adultos. 

Na CPAD há muitos ensinadores que são mestres em pedagogia e letras. Eles devem saber perfeitamente, que um ensino para ser eficiente, deve ser composto de fases ou módulos. Sendo assim, deveriam elaborar um trimestre de estudos como continuidade do outro.

Não sei se estes especialistas não são ouvidos pelas lideranças da Igreja, ou se não tem autonomia para isso. O fato é que precisamos reavaliar os nossos currículos, metodologia de ensino e promover mudanças profundas em todos os currículos. 

Vamos imaginar uma pessoa completamente analfabeta, participando de uma aula em uma universidade. Qual seria o resultado disso? Imaginemos alguém que não sabe as quatro operações fundamentais da aritmética, tendo contato com equação do segundo grau, expressões algébricas, etc. O resultado seria desastroso!

A mesma coisa está acontecendo em nossa Escola Dominical. Muitos irmãos a frequentam, mas não entendem muita coisa, porque não seguem uma educação bíblica continuada. 


Deus nos abençoe!


Weliano Pires

Presbítero e professor da Escola Dominical, na Assembleia de Deus, Ministério do Belém, em São Carlos-SP

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