07 abril 2022

A LUZ ILUMINA LUGARES EM TREVAS

(Comentário do 2⁰ tópico da Lição 2: Sal da terra, luz do mundo)


Neste segundo tópico falaremos sobre a segunda metáfora usada por Jesus, no texto de Mt 5.13-16, que a luz. Jesus falou que os seus seguidores são a luz do mundo. Discorremos neste tópico sobre físico e metafórico da luz. Falaremos também sobre o cristão como luz do mundo e que a luz deve brilhar no meio das trevas.


1- Conceito físico e metafórico. A luz e os fenômenos luminosos são estudados pela Óptica, que é uma parte da física. A luz é uma necessidade vital dos seres vivos. No início da criação, antes da criação da luz, o Universo era um caos. “E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.” (Gn 1.2).  Diante deste cenário de trevas e caos, Deus falou: Haja luz! E houve luz.  

a. Luz em sentido literal. Segundo a física, a luz é uma forma de radiação eletromagnética cuja frequência é visível ao olho humano. Há duas fontes de luz no universo: a luz primária, ou própria e a luz secundária ou refletida. A primeira pertence às estrelas e a segunda, aos planetas e satélites. As principais fontes naturais de luz usadas pelo homem eram o sol, o fogo e os relâmpagos. Com o avanço do conhecimento foi-se desenvolvendo a luz artificial até através de velas, lamparinas a gás e lâmpadas elétricas. 

Os cientistas ainda não sabem tudo sobre a luz. Mas hoje já se sabe que a luz é constituída de partículas que a ciência chama de fótons e se propaga pelo vácuo a velocidades altíssimas, chegando a 300.000 km/s. Para calcular uma distância muito grande, que os números não poderiam conter, os matemáticos usam a expressão ano-luz, que seria a distância percorrida por um corpo durante um ano, na velocidade da luz. Cada ano-luz corresponde a cerca de 9,5 trilhões de quilômetros. A luz pode se propagar também de outras formas, que não sejam o vácuo. Entretanto, são alteradas a velocidade, transmissão, refração, absorção, reflexão etc. 

b. Luz em sentido figurado. A luz é uma metáfora muito usada na Bíblia. Em Provérbios 4.18 o caminho dos justos é descrito como a "luz da aurora". No Salmo 119.105, o salmista diz que a Palavra de Deus “é luz para o seu caminho”. No Novo Testamento, Jesus usou a luz como uma imagem de boas obras brilhe a vossa luz diante dos homens”. (Mt 5.16). João descreveu Jesus como “a luz verdadeira que alumia a todo homem que vem ao mundo”. (Jo 1.9). Em um discurso, Jesus diz que “Ele é a luz do mundo e os que lhe seguem não andarão em trevas…” (Jo 8.12). Em Filipenses 2.15,  Paulo compara os filhos de Deus que são "irrepreensíveis e sinceros" com os “astros resplandecentes do universo''.  O apóstolo João também diz que  “Deus é luz” (1 Jo 1.5). Há também uma constante oposição entre luz e trevas, representando, respetivamente, o bem e o mal:E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.” (Jo 3.19; “.... E que comunhão tem a luz com as trevas?” (Co 6.14). 


2 - O cristão como luz. O cristão não possui luz própria, mas reflete a luz de Deus, que é luz, por sua própria natureza (1 Jo 1.5). Deus é luz porque Ele se revela, assim como a luz clareia a escuridão e mostra o que lá está. Deus não se esconde e não faz as coisas às escondidas ou com truques. Ele se revelou e quer que todos os seres humanos cheguem ao pleno conhecimento da verdade (1 Tm  2.4). Conforme vimos no trimestre passado, Deus se revelou através da criação, através da Sua Palavra e através de Jesus Cristo, que se fez homem. Deus é luz também no sentido de que Ele é perfeito e puro. Não há nenhuma espécie de mancha em seu caráter. Ele também é luz porque é onisciente e nada fica encoberto dele. 

Tendo nascido de novo, o cristão reflete os atributos comunicáveis de Deus, como justiça, santidade, amor, misericórdia, bondade, benignidade, verdade. Evidentemente, o cristão não atinge estas virtudes na mesma intensidade de Deus, mas reflete-as até ao ponto que Deus as compartilha com aqueles que andam com Ele. O saudoso evangelista americano, Billy Graham dizia: “Nós somos as Bíblias que o mundo está lendo. Nós somos os sermões que o mundo está prestando atenção”. Portanto, as nossas práticas no mundo em que vivemos são a nossa maior pregação. Como o mundo nos vê? Como luz, ou como trevas? 


3 - A luz em lugares de trevas. Não basta ser luz. É preciso estar em lugares onde a claridade possa resplandecer e afastar as trevas. Ao contrário do sal, que que mistura aos alimentos, para dar sabor e preservá-los, a luz não se mistura às trevas. 

Onde a luz chega, a escuridão desaparece. Segundo a física, a escuridão seria simplesmente a ausência das partículas propagantes da luz. Sendo assim, se uma fonte de luz se apaga, percebe-se a escuridão logo após o último fóton vindo dessa fonte sensibilizar os nervos ópticos de quem está vendo a luz. Isso  levaria o tempo que esse fóton viaja. Portanto, a velocidade do desaparecimento das trevas é igual à do aparecimento da luz e vice-versa. 

A luz, para que possa afastar a escuridão, precisa estar em um lugar onde não haja barreiras que interrompam a transmissão parcial ou total das suas partículas. Para explicar a função dos seus discípulos como a luz do mundo, Jesus usou duas ideias lógicas sobre a luz: 

a) A luz perde a sua função se estiver escondida. "Ninguém acende uma candeia [lamparina movida a azeite] e a coloca embaixo do alqueire [caixa de madeira usada para medir grãos]. Mas coloca-se no velador [lugar alto onde se colocavam o candeeiro ou a lamparina] e assim ilumina a todos os que estão na casa. (Mt 5.15). 

b) Uma cidade em um alto pode ser vista de longe. As serras, picos e montanhas podem ser vistas a vários quilômetros de distância, mesmo que sejam vistos apenas como um local alto azul. 


REFERÊNCIAS:

GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 42-45.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento. Mateus. Editora Cultura Cristã. pág. 371-372.

LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pag. 189.

PFEIFFER, Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pág. 1185-1186.


Siga o nosso blog, deixe o seu comentário e compartilhe os nossos textos com outras pessoas. 


Pb. Weliano Pires


06 abril 2022

O SAL TEMPERA E CONSERVA


(Comentário do 1⁰ tópico da Lição 2: Sal da terra, luz do mundo).

Nesta seção do Sermão do Monte, em Mateus 5.13-16, Jesus usa uma figura de linguagem chamada metáfora. Esta figura de linguagem consiste na substituição de uma palavra por outra, com o objetivo de compará-las, pela semelhança que há entre elas. O Mestre usou as figuras do sal e da luz, para compará-las com a influência que os seus seguidores, devem exercer no ambiente, onde estão inseridos. Neste primeiro tópico falaremos sobre a definição de sal nos idiomas bíblicos, sobre as funções do sal naqueles tempos e porque o crente é comparado ao sal. 


1– Definição. No hebraico a palavra sal é melach, que significa rasgar, dissipar, ser dispersado, ser dissipado, salgar, temperar. Esta aparece cerca de 30 vezes no Antigo Testamento. 

No grego bíblico é usada a palavra halas, um substantivo neutro para sal, que tem cinco significados:

a) Tempero natural de alimentos e sacrifícios, como o sal que temos atualmente;

b) Adubo ou substância fertilizante para a terra arável;

c) Símbolo de algo duradouro. Por isso, era usado nos acordos, como sinal de que aquilo deveria durar. 

d) Substância que conserva os alimentos da deterioração;

e) Em sentido figurado, como símbolo da sabedoria e graça no discurso (Cl 4.6).


2- O uso do sal ao longo da história. Nas praias do Mar Morto havia uma fonte inesgotável de sal. Havia ali uma montanha de sal, com cerca de oito quilômetros de comprimento. Em 2 Sm 8.13 e em Sf 2.9, a Bíblia faz referência ao Vale do Sal, uma provável referência a esse região, que era abundante nesse produto. 

Os fenícios conseguiam sal através do processo de evaporação do Mar Mediterrâneo. O sal extraído pelos povos antigos não era puro e continha mistura de outros minerais, o que tornava uma parte dele insípida. Estas partes eram jogadas fora e consideradas imprestáveis. Foi a isso que Jesus se referiu, quando falou que "...se o sal se tornar insípido, para nada mais presta, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens." (Mt 5.13). 

No Antigo Testamento há também a menção à "aliança de sal" (Lv 2.13). As ofertas de manjares tinham que ser salgadas, representando a aliança perpétua entre Deus e seu povo (Nm 18.19; Lv 2.13; 2 Cr 13,5). O sal também era usado para atacar os inimigos, como forma de tornar as suas terras improdutivas. Abimeleque, filho de Gideão, matou os seus próprios irmãos e se declarou rei. Depois de três anos, o povo de Siquém se rebelou contra ele e fez isso: "Todo aquele dia pelejou Abimeleque contra a cidade e a tomou. Matou o povo que nela havia, assolou-a e a semeou de sal” (Jz 9.45). 

Havia também no antigo Oriente a prática de esfregar sal nas crianças recém nascidas, após o primeiro banho (Ez 16.4). Provavelmente atribuíam ao sal poderes medicinais ou religiosos. Entre os pagãos, usava-se o sal com a finalidade de evitar ataques demoníacos. Deve ser daí que vem a crendice de usar sal grosso para para espantar "mau olhado".

Nos tempos do império romano, o sal era usado como forma de pagamento aos soldados. Em latim, a palavra "salarium" significava "pagamento com sal". É daí que vem a palavra portuguesa "salário". 

3. A importância do sal. A principal função do sal, evidentemente sempre foi dar sabor aos alimentos. Qualquer alimento, exceto os que são adocicados, não tem graça nenhuma se não tiver sal. Os que são hipertensos e necessitam comer com pouco ou nenhum sal que o digam. 

Outra função muito importante do sal era a preservação da carne. Nos tempos bíblicos não havia refrigeração como hoje. Sendo assim, além da sua função principal que usamos atualmente como item de tempero para dar sabor, uma das principais funções do sal era preservar a carne da putrefação. Na minha infância, eu morei na Zona rural, onde não havia energia elétrica e refrigeradores. Para se preservar as carnes, elas eram retalhadas em camadas finas, salgadas com bastante sal e colocadas ao sol para secar.


3- O cristão como sal. Estas duas funções principais do sal, o sabor e a preservação dos alimentos, ilustram a diferença que o cristão deve fazer neste mundo, exercendo uma boa influência, através da moderação, amabilidade, paz, justiça, etc. É importante destacar que o cristão não é um sal no saleiro. Jesus falou que somos o sal na terra, para dar sabor. Neste sentido, o sal precisa se misturar aos alimentos e não ficar isolado. Durante muito tempo, alguns cristãos tinham uma postura antissocial de isolacionista. Mas Jesus nunca agiu assim. Aliás, esta era uma das razões das críticas que ele recebia dos escribas e fariseus, pelo fato de ir às casas de publicanos e pecadores. 

Por outro lado, o cristão representa um empecilho ao apodrecimento moral deste mundo que jaz no maligno. As virtudes cristãs impedem que o mundo seja totalmente destruído. A Igreja é uma voz profética neste mundo, que funciona como um freio à deterioração geral do ser humano sem Deus. Não é a educação e a cultura que vai preservar o mundo da apodrecimento moral e espiritual. A segunda guerra mundial  e as celebridades estão aí para provar isso. 


REFERÊNCIAS: 


GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pag. 37-40.

PFEIFFER, Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1729-110.

CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 6. pag. 33

LOPES, Hernandes Dias. Mateus Jesus, O Rei dos reis. Editora Hagnos. pag. 182-186.

Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Editora CPAD. pág. 43.

HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento. Mateus. Editora Cultura Cristã. pag. 368-369.


Siga o nosso blog, deixe o seu comentário e compartilhe os nossos textos com outras pessoas. 


Pb. Weliano Pires


04 abril 2022

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 2: SAL DA TERRA, LUZ DO MUNDO.

REVISÃO DA LIÇÃO PASSADA

Na lição passada tivemos uma lição introdutória sobre o assunto do trimestre, com o tema O Sermão do Monte: O caráter do Reino de Deus. Iniciamos a lição falando sobre a designação de Sermão do Monte e os aspectos geográficos deste monte Jesus proferiu este discurso. 


No primeiro tópico, falamos de forma resumida sobre a estrutura do sermão do monte, que está dividido em cinco partes: 1) As Bem-Aventuranças (5.3-12); 2) Sal e luz (5.13-16); 3) Jesus é o cumprimento da Lei (Mt 5.17-48); 4) Os atos de justiça (Mt 6.1-18); 5) Declarações de sabedoria (Mt 6.19 — 7.27). Falamos também sobre os destinatários do Sermão do monte, que inicialmente eram os discípulos, mas, ele se aplica a todos os que nasceram de novo. 


No segundo tópico, falamos sobre as bem-aventuranças e o caráter do Reino de Deus. Vimos as definições das palavras “Asher” e “Makarios”, respectivamente hebraico e grego, que foram traduzidas por “bem-aventurados”. Falamos também sobre a definição e o caráter do Reino de Deus. Por último vims quem são os súditos do Reino de Deus, com base nas qualidades descritas por Jesus no Sermão do Monte. 


No terceiro e último tópico, vimos que somos bem-aventurados. Vimos que o salvo em Cristo vive um estado de plena satisfação e felicidade, não por seus próprios méritos e esforços, mas porque nasceu de novo e o seu caráter foi transformado pelo Espírito Santo.


LIÇÃO 2: SAL DA TERRA, LUZ DO MUNDO.


Na lição desta semana, dando continuidade ao estudo do Sermão do Monte, falaremos sobre as metáforas do Sal da Terra e Luz do mundo, usadas por Jesus. O sal nos tempos bíblicos era um ingrediente indispensável para o tempero e preservação dos alimentos. A luz, por sua vez, era fundamental para iluminar as trevas. Da mesma forma, os discípulos de Jesus devem exercer influência e fazer a diferença no meio em que vivem.


No primeiro tópico, falaremos sobre as funções do sal nos tempos bíblicos. Falaremos sobre a definição da palavra sal no grego bíblico. Depois falaremos sobre a importância do sal como tempero e na preservação dos alimentos. Por último falaremos da influência do cristão com o sal da terra.


No segundo tópico, falaremos sobre a luz que ilumina os ambientes que estão em trevas. Falaremos sobre o conceito físico e metafórico da luz. Há duas fontes de luz no universo: a luz primária, ou própria e a luz secundária ou refletida. A primeira pertence às estrelas e a segunda, aos planetas e satélites. Falaremos ainda neste tópico, sobre os discípulos de Jesus como a luz do mundo, que deve refletir nas trevas que é o mundo de pecado.


No terceiro e último tópico, falaremos sobre a influência dos cristãos no mundo como sal e como luz. Esta influência que Jesus ensina não significa ostentação e egocentrismo, como alguns imaginam, pregando o triunfalismo e a teologia da prosperidade. A influência cristã deve ser exercida através das virtudes do fruto do Espírito Santo, que são: amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão,  domínio próprio.


Siga o nosso blog, deixe o seu comentário e compartilhe os nossos textos com outras pessoas. 


Pb. Weliano Pires


02 abril 2022

SOMOS BEM-AVENTURADOS


(Comentário do 2⁰ tópico da  LIÇÃO 01: O Sermão do Monte: o caráter do Reino de Deus)

Neste terceiro tópico veremos que nós somos bem-aventurados. O salvo em Cristo vive um estado de plena satisfação e felicidade, não por seus próprios méritos e esforços, mas porque nasceu de novo e o seu caráter foi transformado pelo Espírito Santo.


1- A beatitude na vida dos salvos. A palavra "beatitude" origina-se do latim "beatitudo", que por sua vez, é substantivo derivado de "beatus" (feliz). "Beatitudo", portanto, é o correspondente latino do grego "makarios" e significa bem-aventurança, estado de plenitude e de felicidade profunda, resultante da presença de Deus e da certeza da vida eterna. 


Com o passar dos anos, as palavras vão se esvaziando do seu sentido original ou ganhando novos significados. Os conceitos hebraicos, latino e grego de felicidade, eram diferentes dos que temos atualmente. Hoje as pessoas definem felicidade como “ter uma boa condição financeira; viver ao lado da pessoa de quem se gosta; ter êxito em tudo que faz; estar sempre alegre; etc. Ou seja, felicidade para o mundo atual é viver em circunstâncias favoráveis. Há pessoas que dizem que não existe felicidade, existem apenas momentos felizes. Do ponto de vista moderno, se felicidade é viver acontecimentos e circunstâncias positivas, realmente não existe, pois o mundo não é feito somente de momentos bons. 


O conceito hebraico de felicidade não está relacionado às circunstâncias e sim a alguém que teme ao Senhor, anda em seus caminhos e alcançou o favor de Deus. Os Salmos começam com a palavra “Asher”, traduzida em nossa Bíblia por “bem-aventurado” ou “feliz”, nas versões mais atualizadas. Segundo o Salmo 1, feliz é quem não anda segundo o conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, não se assenta na roda dos escarnecedores e tem o seu prazer na Lei do Senhor. (Sl 1.1-3). O Salmo 32 diz que feliz é aquele que é perdoado por Deus (Sl 32.1,2). No Salmo 33, lemos que a nação que tem Deus como Senhor é bem-aventurada (Sl 33.6). O Salmo 41 diz que é bem-aventurado aquele que socorre ao necessitado (Sl 41.1). Já o Salmo 119, que é o Salmo que exalta a Palavra de Deus em todos os seus versos, começa dizendo que são bem-aventurados os que trilham caminhos retos e andam na Lei do Senhor. O Salmo 128 também atribui a felicidade (bem-aventurança) aos que “temem ao Senhor e andam em seus caminhos”. Portanto, no conceito do Antigo Testamento, a felicidade está relacionada ao temor a Deus e não às circunstâncias favoráveis e prosperidade material. 


Na filosofia grega, a felicidade também não estava relacionada ao ter e sim às virtudes da própria pessoa, ao contentamento e domínio próprio. Segundo o filósofo grego, Epicuro, a felicidade é encontrada na tranquilidade, tendo a lucidez e a ausência de preocupações como a chave para a busca da felicidade. No conceito da escola dos epicureus, através do domínio próprio, o homem seria capaz de não depender de circunstâncias adversas, que o levariam à infelicidade. 

Sócrates, considerado “o pai da filosofia” atribuía a felicidade ao autoconhecimento e à busca pelo conhecimento, decorrente da ideia de que o homem nada sabe de si mesmo. Platão, discípulo de Sócrates, relacionava a felicidade à prática do bem ético. Aristóteles, por sua vez, entendia que feliz é aquele que promove ações éticas, em todas as suas escolhas e que consegue agir da melhor forma possível, em todas as situações do cotidiano, não cedendo aos vícios. 


No Cristianismo, a felicidade não está em si mesmo e não depende dos próprios esforços ou circunstâncias em que vive. A felicidade na vida do cristão é resultado da sua comunhão com Deus e fidelidade à Sua Palavra. Quando o homem dá ouvidos à Palavra de Deus, o Espírito Santo produz nele uma profunda transformação em seu interior, que o torna feliz em quaisquer circunstâncias, seja favorável ou adversa. Foi isso que Paulo expressou aos Filipenses: Sei estar abatido e sei também ter abundância; em toda a maneira e em todas as coisas, estou instruído, tanto a ter fartura como a ter fome, tanto a ter abundância como a padecer necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece.” (Fp 4.12,13). Infelizmente, as pessoas lêem apenas o versículo 13 e deturpam o seu significado, achando que Paulo estaria dizendo que pode tudo, no sentido de conquistar tudo. O contexto mostra que o apóstolo estava dizendo que ele sabia se contentar em qualquer circunstância, pois Cristo o fortalecia. 


2- A prova de que o cristão é bem-aventurado. A prova de que o cristão é, de fato, bem-aventurado é a prática das bem-aventuranças proferidas por Jesus no Sermão do Monte. O próprio Jesus disse que “pelo fruto se conhece a árvore”. (Mt 7.16). Ou seja, a humildade, o quebrantamento, os atos de misericórdia, o desejo ardente de fazer o que é correto, a pureza de coração, o empenho pela paz e a resiliência ante a perseguição, provam que a pessoa foi transformada pelo poder do Espírito Santo. Estas bem-aventuranças são as características inerentes a um autêntico cristão. 


REFERÊNCIAS:


GOMES, Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 32-33.

RIENECKER, Fritz. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica Esperança. 1° Ed. 1998.

ROBERTSON, T. Comentário Mateus & Marcos. À Luz do Novo Testamento Grego. Editora CPAD. pág. 66-67.

SPROULL, RC. Estudos bíblicos expositivos em Mateus. 1° Ed 2017 Editora Cultura Cristã. pág. 58-60.

TOLER, Stan. Repense a Vida: Uma Dieta Incomparável para Renovar a Mente. 1°ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p.26).


Siga o nosso blog, deixe o seu comentário e compartilhe os nossos textos com outras pessoas. 

01 abril 2022

AS BEM-AVENTURANÇAS E O CARÁTER DOS FILHOS DE DEUS


(Comentário do 2⁰ tópico da  LIÇÃO 01: O Sermão do Monte: o caráter do Reino de Deus).

Neste segundo tópico, falaremos sobre as bem-aventuranças e o caráter cristão. Discorreremos sobre as definições grega e hebraica da palavra traduzida por "bem-aventurado". Falaremos também sobre a definição e o caráter do Reino de Deus. Por último veremos quem são os súditos do Reino de Deus, com base nas qualidades descritas por Jesus no Sermão do Monte. 


1 – O que são as Bem-Aventuranças? A palavra “bem-aventurado” aparece diversas vezes na Bíblia, principalmente nos livros de Jó, Salmos, Provérbios e Cantares. Os textos mais conhecidos no Antigo Testamento, onde este adjetivo aparece são os Salmos 1.1: “Bem-aventurado o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores", e o Salmo 128.1: “Bem-aventurado aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos!” 


Em hebraico, a palavra traduzida por bem-aventurado é “Ashar”. Segundo o dicionário bíblico de James Strong, significa “equilibrado, correto, feliz, honesto, próspero, abençoado, feliz, que anda direito''. Quando Zilpa, concubina de Jacó, teve o seu filho Aser, que deriva de “Ashar”, a sua senhora, Lia, disse: Para minha ventura, porque as filhas me terão por bem-aventurada; e chamou o seu nome Aser”. (Gn 30.13). (Aser significa aquele que é feliz)


A versão grega Septuaginta, traduziu “Ashar” pelo termo grego “Makarios”, que é um prolongamento de “Makar”, cujo significado é “feliz, alegre, abençoado”. Portanto “Makarios” significa todos estes adjetivos de forma prolongada. Para os gregos, “Makarios” (Bem-aventurado) significava “viver livre de sofrimentos e preocupações”. Os judeus, no entanto, consideravam a “Ashar” (bem-aventurados) aquele que tinham bem estar material e eram recompensados por obedecer à Lei do Senhor. Para Jesus, bem aventurados são aqueles que são fiéis a Deus em quaisquer circunstâncias e recebem as bênçãos da salvação. As bem-aventuranças não são algo que o homem conquista, com os seus próprios esforços e méritos. Refere-se ao estado do homem que anda em retidão com Deus. 


Segundo William Hendriksen, em seu comentário do Novo Testamento, cada uma das bem-aventuranças proferidas por Jesus, é formada de três partes: 

a. Uma atribuição da bem-aventurança (“Bem-aventurados”);

b. Uma descrição da pessoa a quem se aplica a atribuição, isto é, de seu caráter ou condição (“os pobres de espírito”, “os que choram”, etc.);

c. Uma declaração da razão desta bem-aventurança (“porque deles é o reino dos céus”, “porque eles receberão consolação”.


Assim como o Fruto do Espírito, descrito pelo apóstolo Paulo em Gálatas 5.22, as bem-aventuranças não são oito qualidades separadas, que alguns discípulos de Cristo são mansos, outros misericordiosos, outros pacificadores, etc. São oito qualidades, de todos os verdadeiros discípulos do Senhor, que nasceram de novo e são ao mesmo tempo mansos e misericordiosos, humildes de espírito e limpos de coração, choram, têm fome e de sede justiça, são pacificadores e perseguidos por causa da justiça. São características inerentes aos súditos do Reino de Deus. 


2 - O Reino de Deus e seu caráter. Tanto Jesus, como João Batista fizeram menção à chegada do Reino de Deus em suas pregações. No Novo Testamento temos 137 referências ao Reino de Deus, mais de 100 delas durante o ministério de Jesus. Mateus usa a expressão “Reino dos Céus”, para se referir ao Reino de Deus, seguindo a tradição judaica de não usar o nome de Deus, temendo usá-lo em vão. Jesus proferiu várias parábolas, para explicar o Reino de Deus aos seus discípulos: Uma semente de mostarda, um tesouro escondido, o joio e o trigo, uma negociante de pérolas, o fermento que usado em uma vasilha de farinha, uma rede lançada ao mar, o credor incompassivo, os trabalhadores de uma vinha, o rei que celebrou as bodas do seu filho e as dez virgens. 


A expressão Reino dos Céus ou Reino de Deus é uma referência ao domínio soberano de Deus sobre todas as coisas. Entretanto, o Reino de Deus, mencionado por Jesus não se refere a um governo político teocrático, como aconteceu com Israel no período anterior à monarquia. Também não se refere à restauração da monarquia judaica, tendo um descendente de Davi como rei, como os judeus, inclusive os discípulos de Jesus, imaginavam. Nem tampouco significa a transformação da sociedade, mediante novas leis, educação e justiça social, como pregam os adeptos da teologia da libertação dos católicos latinos e a teologia da missão integral de alguns evangélicos. Jesus foi bem claro a Pilatos, dizendo que o Seu Reino não é deste mundo (Jo 18.36).


O Reino de Deus tem pelo menos quatro dimensões:


  1. Pessoal. Acontece quando o indivíduo em particular se rende ao domínio de Deus. “...O Reino de Deus está dentro de vós.” (Lc 17.21b).

  2. A salvação. No Evangelho segundo João, a expressão “Reino de Deus” aparece como sinônimo da salvação. Em Marcos 10.25,26 também aparece como sinônimo da salvação.  

  3. A Igreja invisível. A Igreja de Deus, formada por todos os salvos, independente da denominação e do lugar, representa a expressão do Reino de Deus na terra (Mt 16.17,18). Deus iniciou o seu reino na terra através da sua Igreja. 

  4. O governo universal de Cristo. No final da Grande Tribulação, haverá a manifestação de Jesus em glória. Ele descerá do Céu em glória, com a Igreja. Derrotará os exércitos do Anticristo e estabelecerá um governo de paz, por mil anos. Será a expressão visível do Reino de Deus na terra. “Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte, mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele mil anos”. (Ap 20.6).


3 - Os súditos do Reino de Deus. Na primeira parte do Sermão do Monte, Jesus citou uma lista de oito bem-aventuranças em Mateus 5.1-12 e as respectivas razões de cada uma delas: 


  1. Os pobres de espírito (v.3). Os pobres de espírito são os humildes, que reconhecem a sua pobreza espiritual e total dependência de Deus. Jesus disse que, deles é o Reino dos Céus. 

  2. Os que choram (v.4). Os que choram aqui, não são as pessoas consternadas, que choram por qualquer motivo. Jesus se refere ao choro de arrependimento, pela nossa condição de pecadores. A razão desta bem aventurança é que eles serão consolados. Aqueles que se arrependem são perdoados por Deus e Ele limpará dos nossos olhos toda lágrima (Ap 21.4).

  3. Os mansos (v.5). Os mansos não são fracos ou covardes. A mansidão refere-se a uma serenidade, ou força sob controle. É uma das virtudes do Fruto do Espírito e uma das características de Jesus (Mt 11.29), que deve ser aprendida por seus discípulos. A razão da bem-aventurança dos mansos é que eles herdarão a terra. Não se refere a uma herança desta terra como dizem as Testemunhas de Jeová. Na verdade é uma citação do Salmo 37.11, que diz a mesma coisa e refere-se a viver na terra prometida, dada por Deus ao seu povo. Os mansos são os verdadeiros herdeiros de Deus, vivem nesta terra que é do Senhor, como peregrinos (Hb 11.37), e são cidadãos do Céu (2 Co 5.1). 

  4. Os que têm fome e sede de justiça (v.6). A fome e a sede são dois desejos vitais do ser humano. Alguém que não os tem, certamente não está bem. Da mesma forma é o desejo de justiça, para um verdadeiro discípulo de Cristo. Justiça neste texto não significa punição a criminosos ou vingança, como muitos imaginam. A palavra grega traduzida por justiça é "dikaiosyne" que significa agir corretamente. Então, Jesus está dizendo que são bem aventurados os que têm fome e sede de agir corretamente, segundo os padrões de Deus. 

  5. Os misericordiosos (v.7). A palavra misericórdia em grego é “eleos”. Significa compaixão, beneficência, preocupação com a dor e a necessidade do próximo. Temos também o grego “eusphlanchnos”, que significa literalmente “vísceras gentis”, que é traduzido por “misericordiosos” (Ef 4.32). Isto porque, os gregos consideravam o intestino (sphlanchna) como o local onde se originavam as emoções mais fortes. Os judeus também acreditavam que os sentimentos de compaixão, afeição e solidariedade tinha origem nas vísceras. Por isso, encontramos em vários textos a expressão “moveu-se de íntima compaixão” (Gr. sphlanchnizomai).

A palavra portuguesa misericórdia vem da junção de duas palavras latinas: miseratio, derivada de miserere que significa “compaixão“, e “cordis” que significa “coração”. Sendo assim, a idéia de misericórdia em latim é “coração compassivo”. A misericórdia é um dos atributos comunicáveis de Deus. Em vários textos do Antigo Testamento é dito que Deus é misericordioso e que as suas misericórdias não têm fim. (Ex.34.6; Sl 100.5; Sl 103.4,8; Lm 3.22). Portanto, um verdadeiro discípulo de Cristo, que nasceu de novo, é misericordioso.

  1. Os limpos de coração (V.8). A palavra grega traduzida por “limpos” é “katharos”, que significa sem mancha, limpo, imaculado, puro. Esta palavra era usada para descrever limpeza física, pureza cerimonial ou limpeza ética. Jesus a usou neste último sentido, referindo-se à pureza do coração pelo pecado. O sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo pecado (1 Jo 1.7). A Palavra de Deus de Deus também limpa-nos do pecado, pois nos conduz ao arrependimento (Jo 15.3). 

  2. Os pacificadores (v.9). Pacificadores são aqueles que vivem em paz e a promovem. Tanto a palavra hebraica “Shalom”, quanto o grego “eirene” traduzidos por paz, significam não apenas ausência de conflitos, mas completo bem estar. Os judeus cumprimentam-se com “shalom”, desejando perfeita saúde, segurança, tranquilidade, prosperidade e ausência de discórdia ao seu próximo. Deus, o Pai, é chamado o Deus da paz (Hb 13:20); Jesus é chamado de Príncipe da paz (Is 9.6); A paz também é uma das virtudes do Fruto do Espírito Santo. A paz na Bíblia é um estado de perfeita harmonia com Deus e, consequentemente, consigo mesmo e com o próximo. Paulo diz que após termos sido justificados pela fé, temos paz com Deus, por meio de Jesus Cristo (Rm 5.1). Por isso, os pacificadores são chamados filhos de Deus. 

  3. Os perseguidos por causa da justiça (vs. 10-12). A última bem-aventurança destina-se aos perseguidos e caluniados por causa da Justiça. Ser cristão de verdade é andar na contramão do sistema maligno que impera no mundo. Inevitavelmente isso nos coloca em confronto com o mundo e gera terríveis perseguições por parte de governos, religiões e, principalmente, pelo inimigo. Tanto Jesus como os seus discípulos foram terrivelmente perseguidos. Jesus foi perseguido pelas autoridades judaicas. A Igreja Primitiva também foi perseguida, inicialmente, pelos judeus. Depois foi brutalmente perseguida pelo império romano, que tentou exterminá-la, praticando as mais terríveis atrocidades. Depois, com a mistura entre a Igreja e o Império romano  advento dos papas, logo veio a perseguição religiosa da Igreja Católica contra os verdadeiros cristãos. Posteriormente veio o comunismo, o islamismo e outros, que empreenderam grandes perseguições à Igreja de Cristo. Mas, os perseguidos por causa da justiça seguem triunfantes e bem-aventurados. Grande será a sua recompensa nos céus. 


Para entrar no Reino de Deus, primeiro é preciso nascer de novo, "da água e Espírito", como disse Jesus a Nicodemos (Jo 3.3-5). Somente os que nasceram de novo e foram transformados terão em seu caráter estas qualidades. 


REFERÊNCIAS:

CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 1. pág. 488.

GOMES. Osiel. Os Valores do Reino de Deus: A Relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Editora CPAD. 1ª edição: 2022. pág. 27-28.

RIENECKER, Fritz. Comentário Esperança Evangelho de Mateus. Editora Evangélica Esperança. 1° Ed. 1998.

STOTT, John. Contracultura cristã. A mensagem do Sermão do Monte. Editora: ABU, 1981, pág. 14-15.

TASKER, R. V. G. Mateus: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 2006, pág. 47-48.


Clique no link abaixo e leia o texto completo. Siga o nosso blog, deixe o seu comentário e compartilhe os nossos textos com outras pessoas.


Pb. Weliano Pires

AS TRÊS ARMAS ESPIRITUAIS DO CRISTÃO

(Comentário do 2º tópico da Lição 06: As nossas armas espirituais)  Ev. WELIANO PIRES No segundo tópico, descreveremos as três princip...