(Comentário do 3° tópico da Lição 11: Intercessão de Jesus pelos seus discípulos)
Ev. WELIANO PIRES
No terceiro tópico, falaremos da terceira parte da oração de Jesus, onde Ele ora por aqueles que futuramente creriam nele. Veremos que Jesus intercedeu ao Pai pela unidade da Igreja, assim como existe unidade entre Ele e o Pai. Na sequência, falaremos do propósito da unidade da Igreja, com base na intercessão de Jesus. Por último, falaremos do pedido de Jesus por encorajamento dos discípulos a terem unidade com Ele, a fim de darem testemunho ao mundo.
1. Oração pela unidade da Igreja. Depois de orar pelos discípulos que andavam com Ele, Jesus orou pelos futuros discípulos que creriam nele, através da pregação dos seus discípulos e disse: “Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em mim, para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. (João 17.20,21). Jesus orou ao Pai para que a sua Igreja tivesse unidade, da mesma forma que há unidade entre as Pessoas da Santíssima Trindade.
O Novo Testamento dá muita ênfase à unidade da Igreja. Escrevendo aos Efésios, o apóstolo Paulo rogou que eles andassem como é digno da sua vocação, “...procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz.” (Ef 4.3). Somos convocados a manter a unidade do Espírito, servindo uns aos outros, colocando os outros acima de nós mesmos e sendo verdadeiros uns para com os outros. Portanto, não pode haver disputas carnais e falsidade entre os membros do corpo de Cristo.
É importante esclarecer que a unidade a que o Novo Testamento se refere é baseada em Cristo e nada tem a ver com o ecumenismo e o chamado diálogo inter-religioso. O Ecumenismo inicialmente tinha o objetivo de unir todas as religiões cristãs: Católicos, ortodoxos e protestantes. Atualmente, vai além das fronteiras do Cristianismo e engloba também outras religiões, juntando “o que há de bom em cada uma delas”, pois dizem que todos os caminhos levam a Deus.
O diálogo inter-religioso prega a tolerância, comunicação e cooperação entre as mais diversas tradições religiosas. Evidentemente, devemos respeitar todas as religiões, inclusive as que não são cristãs. Mas não podemos viver em unidade com outras crenças, pois a nossa unidade é em Cristo. Temos também a incumbência dada por Jesus de anunciar o Evangelho a toda criatura. Tanto o Ecumenismo como o Diálogo Inter-religioso não aceitam o proselitismo religioso.
A unidade cristã também não é sinônimo de unidade denominacional. Há diferenças de costumes, estatutos e administração em cada denominação. As Igrejas Batistas são diferentes da Igreja Presbiteriana, que são diferentes das Assembléias de Deus e assim sucessivamente. Até mesmo dentro da mesma denominação, há diferenças regionais. Na Assembleia de Deus, por exemplo, há várias diferenças entre um ministério e outro e até dentro do mesmo ministério, de um campo para outro.
As Igrejas do Novo Testamento também tinham as suas particularidades e eram diferentes umas das outras. A Igreja de Corinto era diferente da Igreja de Éfeso, de Filipos, de Tessalônica, etc. Estas diferenças, no entanto, não podem ser nas questões fundamentais da fé cristã. Devemos ter unidade com as Igrejas que são bíblicas, mesmo que tenham diferenças secundárias conosco. Mas não podemos ter comunhão com Igrejas unicistas, idólatras, que negam a divindade e a suficiência de Cristo, a personalidade e divindade do Espírito Santo, a justificação pela fé, a inerrância das Escrituras, etc.
2. Propósito da unidade. Em sua oração, Jesus mostrou o propósito da unidade espiritual da Igreja: “Para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17.21). A Igreja unida revela ao mundo que está unida a Cristo, pois reflete o caráter dele. Por outro lado, se uma Igreja vive em disputas constantes por coisas fúteis e terrenas, mostra que é carnal, como a Igreja de Corinto (1 Co 3.1). O comentarista elencou aqui quatro motivos que evidenciam a unidade espiritual da Igreja com Cristo:
a) União essencial dos salvos como membros do Corpo de Cristo (1Co 12.12). Aqui o apóstolo Paulo comparou a Igreja ao corpo humano que tem muitos membros e todos trabalham unidos, cada um em sua função, visando o bom funcionamento do corpo.
b) União essencial dos salvos promovida pelo conhecimento crescente sobre Jesus Cristo (2Pe 3.18). O apóstolo Pedro recomendou os cristãos a crescerem na graça e no conhecimento do Senhor Jesus Cristo. Somente a unidade da Igreja pode proporcionar este crescimento e amadurecimento dos membros da Igreja.
c) União essencial dos salvos no desenvolvimento do Fruto do Espírito (Gl 5.22,23). O fruto do Espírito Santo é o resultado de uma vida cristã sob a direção e o domínio do Espírito Santo. O amor encabeça esta lista de virtudes e resume as demais, pois quem ama de verdade tem alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Estas virtudes são o oposto das obras da carne e só podem existir onde há unidade.
d) União essencial dos salvos manifestada na glória como filhos de Deus e detentores da vida eterna (Jo 17.22). A unidade dos salvos em Cristo glorifica a Deus. Se todos somos salvos por Cristo, temos o mesmo Espírito de Deus habitando em nós, evidentemente estaremos unidos, desfrutando da mesma alegria, do mesmo amor e comunhão.
3. Oração por encorajamento à unidade. Jesus rogou ao Pai para que os seus discípulos fossem incentivados a manter a Unidade com Ele e com os irmãos. Esta unidade é um forte testemunho do amor de Deus ao mundo. Muitas pessoas no Império romano se converteram ao ver a união e solidariedade entre os cristãos. Uma Igreja desunida pregando o amor de Deus demonstra hipocrisia e incoerência. O mundo já está cheio de incompatibilidade entre discurso e prática. Os ensinos de Jesus tinham autoridade porque as pessoas viam coerência entre os seus discursos e a vida.
Este empenho pela unidade da Igreja, porém, não pode servir de base para nos unirmos a hereges e obreiros que se rebelaram contra a Igreja e abriram trabalhos para competir. O apóstolo Paulo escrevendo a Timóteo, falou sobre os tempos trabalhosos dos últimos dias e disse que viriam pessoas com aparência de piedade, mas negando a sua eficácia. O apóstolo recomendou a Timóteo: “Destes, afasta-te.” (2Tm 3.1-5). Na mesma direção, o apóstolo João escreveu: “Se alguém vem ter convosco, e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis. Porque quem o saúda tem parte nas suas más obras.” (2Jo 10,11).