20 março 2021

Uma análise sobre os currículos e metodologia de ensino da Escola Bíblica Dominical

Imagem: Editora CPAD


Graças  a Deus, eu fui criado em um lar evangélico e frequento desde a minha infância, a Escola Bíblica Dominical da Assembléia de Deus, usando as revistas Lições Bíblicas, da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD). 

Estudei muitas lições comentadas por escritores renomados como Abraão de Almeida, Geziel Gomes, Estevam Angelo de Souza, Antonio Gilberto, Elienai Cabral, Geremias do Couto, Severino Pedro da Silva, Raimundo de Oliveira, Eurico Bergstén, Elinaldo Renovato de Lima, Claudionor Correia de Andrade e muitos outros. 

Por graça de Deus, no ano 2000 fui convidado para ministrar aulas na classe de adultos e de lá para cá, tenho feito isto ininterruptamente. São mais de 20 anos de dedicação ao ensino bíblico, na Escola Bíblica Dominical. Aprendi muito como aluno e continuo o meu aprendizado como professor. 

Fiz um curso médio em teologia para me preparar melhor para o ministério e busco sempre aprimorar as minhas aulas, consultando dicionários bíblicos, Bíblias de estudo, enciclopédia bíblica, comentários das lições em blogs e no Portal da Escola Dominical, vídeo aulas no YouTube, etc. 

No Ensino Médio, eu fiz o Curso de preparação para o magistério, que é um curso técnico para professor. No tempo em que estudei, este curso era suficiente para dar aulas do 1⁰ ao 4⁰ ano do ensino fundamental. Depois o Ministério da Educação passou a exigir licenciatura em pedagogia para se exercer o magistério.

Nesse curso, assim como no curso de pedagogia, estudamos diretrizes para o ensino de 1⁰ grau, didática geral, psicologia educacional, sociologia, metodologias do ensino da língua portuguesa, do ensino da matemática, do ensino dos estudos sociais e do ensino das ciências. Aprendemos também a elaborar um plano de aula e temos o estágio supervisionado em sala de aula.

Feita esta apresentação curricular, gostaria de expressar aqui a minha opinião sobre a grade curricular e metodologia de ensino das nossas escolas bíblicas dominicais. Faço isso, naturalmente, respeitando o preparo acadêmico, seriedade e experiência dos nossos profissionais do Setor de Educação Cristã da Casa Publicadora das Assembléias de Deus. O objetivo aqui não é criticar ou menosprezar o trabalho deles e sim, expor as minhas observações como professor e contribuir para melhorias. 

Eu sempre comparo o método de ensino bíblico na Escola Dominical, com o da educação secular. O conteúdo, evidentemente, é diferente. Mas, as diretrizes e os métodos de ensino são semelhantes.

Na educação secular, a criança vai para a escola e começa do zero, sem saber nada. Não sabe ler, escrever, nem fazer operações aritméticas. Começa na alfabetização e vai avançando ano após ano, até concluir o Ensino Fundamental. Depois, segue para o Ensino Médio. Após a conclusão deste, submete-se ao vestibular e, se aprovado, vai para a Universidade.

Todo este processo é formado por etapas, que não podem ser puladas. Na Escola Dominical, se quisermos ter um bom aprendizado, devemos seguir os mesmos parâmetros. Quem nunca passou por nenhum estudo bíblico deve começar do zero, como os novos convertidos e ir avançando, até chegar a uma formação.

Vamos agora à uma análise do nosso currículo da Escola Dominical, com base nas minhas experiências vividas na escola dominical como aluno e como professor.

Nas classes de adultos e jovens temos um assunto para todos os alunos, independentemente da escolaridade e do tempo de crente. O ideal seria que todos os crentes passassem por um curso bíblico por etapa, como nos cursos teológicos. 

Na verdade, o nosso currículo de Escola Dominical é muito genérico. Particularmente, eu não acho legal as divisões considerando apenas as faixas etárias. Nesse modelo, podemos ter por exemplo, um novo convertido e um teólogo na mesma classe. Podemos ter em uma mesma sala de aula, uma senhora de 80 anos, analfabeta, que não ouve ou não enxerga direito e com um raciocínio mais lento, junto com uma mulher de 30 anos, com pós-graduação.

O ideal seria montarmos um currículo, com vários níveis, começando no nível inicial para pessoas com baixa escolaridade e que não têm conhecimento bíblico, avançando até chegar a uma formação teológica. Sei que muita gente poderia achar que isso é discriminação, mas, não é.

Nas classes de discipulado, temos um sistema melhor, pois, temos duas revistas com as principais doutrinas bíblicas. Os novos convertidos precisam de um acompanhamento, como uma criança que está aprendendo a falar e a dar os primeiros passos.

As classes de discipulado são muito importantes para um ensino geral dos temas bíblicos. Mas, precisamos mudar um pouco a linguagem, escrever textos mais claros, com mais ilustrações, voltados para quem nunca teve contato com a Bíblia e preparar os nossos professores para isso. 

As nossas revistas, infelizmente são recheadas de termos teológicos técnicos, que até um professor experiente, se não for formado em teologia, terá dificuldades para entendê-los.

Um exemplo claro disso são as literaturas das Testemunhas de Jeová. Eles propagam as heresias deles usando muitas figuras, letras grandes, perguntas e respostas e não tratam de temas polêmicos em seus materiais de proselitismo. 

Nas classes de crianças, juniores, adolescentes e juvenis já temos o modelo por ciclos. Precisa apenas simplificar a linguagem e usar mais recursos audiovisuais e dinâmicas em classe, pois, eles não suportam muito tempo de aulas expositivas, como nas classes de adultos. 

Na CPAD há muitos ensinadores que são mestres em pedagogia e letras. Eles devem saber perfeitamente, que um ensino para ser eficiente, deve ser composto de fases ou módulos. Sendo assim, deveriam elaborar um trimestre de estudos como continuidade do outro.

Não sei se estes especialistas não são ouvidos pelas lideranças da Igreja, ou se não tem autonomia para isso. O fato é que precisamos reavaliar os nossos currículos, metodologia de ensino e promover mudanças profundas em todos os currículos. 

Vamos imaginar uma pessoa completamente analfabeta, participando de uma aula em uma universidade. Qual seria o resultado disso? Imaginemos alguém que não sabe as quatro operações fundamentais da aritmética, tendo contato com equação do segundo grau, expressões algébricas, etc. O resultado seria desastroso!

A mesma coisa está acontecendo em nossa Escola Dominical. Muitos irmãos a frequentam, mas não entendem muita coisa, porque não seguem uma educação bíblica continuada. 


Deus nos abençoe!


Weliano Pires

Presbítero e professor da Escola Dominical, na Assembleia de Deus, Ministério do Belém, em São Carlos-SP

17 março 2021

Lição 12 – A Urgência do Discipulado

 


TEXTO ÁUREO:

“Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” (Mt 28.19)


VERDADE PRÁTICA:

“Chamamos de discipulado na fé o aprendizado de um discípulo por meio de seu mestre, na igreja, para ajudar a desenvolver o seu crescimento espiritual.”


HINOS SUGERIDOS: 75, 302, 556 da Harpa Cristã


LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: Mateus 28.16-20; Atos 2.42-47


Mateus 28

16 – E os onze discípulos partiram para a Galiléia, para o monte que Jesus lhes tinha designado.

17 – E, quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram.

18 – E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra.

19 – Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;

20 – ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos. Amém!

 

Atos 2.42-47

42 – E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.

43 – Em cada alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos.

44 – Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum.

45 – Vendiam suas propriedades e fazendas e repartiam com todos, segundo cada um tinha necessidade.

46 – E, perseverando unânimes todos os dias no templo e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração,

47 – louvando a Deus e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja. 


REVISÃO DA LIÇÃO ANTERIOR:


Na semana passada, estudamos sobre o compromisso da Igreja com a evangelização do mundo. A evangelização é um compromisso da Igreja com Deus e deve ser tratada como prioridade por ela. Vimos que a evangelização não é um detalhe ou uma alternativa para a Igreja, mas é uma ordem de Jesus para a Sua Igreja. 

Aprendemos o significado da palavra Evangelho, que é “boa notícia”. Falamos de Jesus como o único Salvador e da Igreja como a agência exclusiva e legítima da evangelização. 

Falamos também sobre a questão do alcance da Obra expiatória de Cristo, abordando as teses calvinista e arminiana e explicando o significado de expiação limitada e ilimitada. 

Por último, falamos sobre os desafios da Igreja atual na evangelização local, onde ela está situada, e também sobre as missões nacionais e transculturais. Tanto a Igreja do primeiro século, quanto o Movimento Pentecostal iniciado na Rua Azuza nos Estados Unidos, eram muito atuantes na evangelização local e nas missões transculturais. 


INTRODUÇÃO À LIÇÃO 12


O tema da lição desta semana é: A urgência do discipulado. A palavra discipulado não é bem vista no meio secular, principalmente nos círculos pedagógicos. Há um fastio atualmente em relação ao fato de haver quem ensine e quem aprenda. Em algumas ideologias, isso é visto como opressão. Muitos pedagogos preferem discutir com o aluno, em pé de igualdade, comparando o conhecimento de ambos. 

A lição desta semana é uma continuação da lição anterior, pois, o discipulado é a sequência da evangelização, quando a pessoa aceita a Cristo como Salvador. Muitos crentes acham que, se uma pessoa levanta a mão no final do culto dizendo que quer aceitar a Jesus, aquela pessoa foi “ganha para Cristo”. Mas, isso é um grande equívoco. 

Segundo o saudoso evangelista americano, Billy Graham, a decisão de seguir a Cristo representa apenas 5% no processo de salvação. Os outros 95% estão em permanecer seguindo a Cristo. De fato, muitas pessoas que se decidiram em nossas Igrejas não permaneceram. Na maioria dos casos, pela falta de um discipulado e acompanhamento eficientes, por parte da Igreja local. 

Estudaremos no primeiro tópico desta lição o conceito bíblico de discipulado, falaremos sobre o conceito de discípulo na Bíblia e sobre a grande comissão, que Jesus incumbiu à Sua Igreja em Mateus 28.19. Por último falaremos da educação Cristã, destacando os currículos dos cursos teológicos.

No segundo tópico vamos falar do tripé do discipulado: Palavra, comunhão e serviço. A Palavra de Deus é a autoridade suprema para o discipulado, como já vimos em lições anteriores. A palavra grega “koinonia”, “comunhão”, significa compartilhar momentos e situações boas ou más, com os irmãos, ter tudo em comum. A última parte do tripé do discipulado é o serviço (grego “diakonia”). Esta palavra significa serviços espirituais, prestados à Igreja como pregar, orar, exortar, servir a ceia, etc. 

No terceiro e último tópico, falaremos sobre a  relação entre o discipulado e o crescimento sadio da Igreja. Se um novo convertido não for bem discipulado, mesmo que ele permaneça na Igreja, será sempre um crente imaturo e problemático. 

O ponto central desta lição é: Discipular é atuar no crescimento e desenvolvimento do cristão. 


I – O QUE É O DISCIPULADO


A palavra discípulo não é muito comum atualmente, fora do meio religioso. Hoje utiliza-se muito a palavra seguidor, aluno ou aprendiz. Mas, nos tempos do Novo Testamento era. Tanto os rabinos judaicos, quanto os filósofos gregos tinham seus discípulos. João Batista e Jesus também tinham os seus discípulos. (Mt 5.1; João 1.35; Lc 7.18;18). Discipulado é a arte de fazer discípulos, ou convencer alguém a seguir os nossos ensinos e a nos imitar. É importante destacar, no entanto, que Jesus nos comissionou a fazer discípulos para Ele e não para nós mesmos. 


1. O discípulo. A palavra discípulo em grego é "mathetes", que significa um aprendiz ou aquele que segue um mestre para aprender os seus ensinos. Esta palavra é encontrada exclusivamente nos Evangelhos e no livro de Atos dos apóstolos. 

Jesus deixou três requisitos principais para alguém se tornar seu discípulo em Marcos 8.34:


a. Negar-se a si mesmo. Todos nós nascemos com uma natureza corrompida pelo pecado, que deseja fazer coisas que não agradam a Deus. Para ser discípulo de Jesus é preciso renunciar aos próprios anseios e fazer a vontade dele.

b. Tomar a sua cruz. A cruz significa vergonha, sofrimento e morte. Ser discípulo de Jesus implica em se tornar inimigo do mundo e seu sistema maligno. É uma atividade de alto risco. 

c. Seguir a Jesus. Os primeiros discípulos de Jesus abandonaram todas as suas atividades para segui-lo. Um discípulo de Jesus é um seguidor dele e não pode amar nada, nem ninguém mais do que a Ele. Precisa estar disposto a abandonar ou perder qualquer coisa por amor a Ele. 


Será que estamos nos comportando como discípulos autênticos de Jesus? Estamos muito ou pouco parecidos com Ele? Em que medida o meu caráter se parece com o de Cristo? Os valores que o Senhor Jesus nos estimula viver são impossíveis de realizar? São perguntas para nossa reflexão.


2. A Grande Comissão (Mt 28.18-20). Quando falamos da grande comissão, estamos nos referindo à missão que Jesus delegou aos seus discípulos, após a sua ressurreição. Antes Jesus reafirmou a sua Onipotência: "É-me dado todo poder no Céu e na terra". 


Nesta grande comissão, Jesus deu as seguintes ordens aos seus discípulos:


a) Fazer discípulos. O verbo grego aqui é "mathēteuō". A versão Almeida Revista e Corrigida traduziu este verbo por "ensinai" e a versão Revista e Atualizada traduziu por "ensinai". Isso significa discipular, ou ensinar as pessoas a serem discípulos de Jesus.

b) Batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O batismo e a Ceia do Senhor são duas ordenanças de Cristo à Igreja. Muitas pessoas tentam minimizar a importância do batismo. Mas, quando Jesus mandou os discípulos pregarem o Evangelho, mandou também batizar. O batismo não salva, mas, ele é uma demonstração pública de que a pessoa morreu para o pecado e nasceu de novo. Na ordem de Jesus, fazer discípulo vem antes de batizar. Isso significa que não se deve batizar quem ainda não se converteu. Jesus também nos ensina a fórmula batismal: Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Os unicistas tentam mudar isso, usando como pretexto as palavras do apóstolo Pedro em Atos dos apóstolos. Mas, o que Pedro quis dizer é que o batismo deve ser feito na autoridade do nome de Jesus. Não se trata de uma fórmula batismal. 

c) Ensinar a guardar tudo o que Ele mandou. Refere-se aos pontos doutrinários que Jesus ensinou. O livro de Atos mostra os apóstolos no cumprimento dessa palavra (At 2.42; 4.1,2; 5.21,28). A Igreja tem a obrigação de ensinar sistematicamente as doutrinas bíblicas aos novos crentes, para que eles estejam firmados na Palavra de Deus e não bem doutrinas humanas. 

d) Jesus garantiu a sua presença nessa comissão até o fim. Jesus é o fundamento da Igreja. Ele disse que "sem Ele, nada poderíamos fazer" (Jo 15.4). Jesus subiu ao Céu, mas, não nos deixou órfãos. Ele continua conosco, na Pessoa do Espírito Santo, nos guiando, protegendo e fazendo a obra de salvação. Nós somos apenas instrumentos dele, mas, é Ele que opera tudo em todos. 


3. A educação cristã. Tão importante quanto o evangelismo e o discipulado, é o ensino sistemático das doutrinas bíblicas. O crente não pode estacionar e ficar a vida inteira como se fosse um novo convertido. A Igreja deve promover o ensino da Palavra de Deus, não apenas na Escola Bíblica Dominical, mas também em seus cultos de ensino, seminários e cursos teológicos. 

Eu costumo dizer que todo crente deveria fazer pelo menos um curso básico em teologia, pois, neste curso o aluno aprende as seguintes matérias: Teontologia, que é o estudo sobre Deus; Cristologia, estudo sobre Cristo; Pneumatologia, estudo sobre a pessoa e obra do Espírito Santo; Bibliologia, estudo sobre a estrutura e formação da Bíblia; Antropologia, estudo sobre o ser humano do ponto de vista bíblico; Hamartiologia, estudo sobre o pecado; Soteriologia, estudo sobre a salvação; Angelologia, estudo sobre os anjos, sua natureza e missão; Escatologia, estudo sobre os últimos acontecimentos da humanidade; Eclesiologia, estudo sobre a Igreja e sua missão; Hermenêutica, estudo sobre interpretação de textos bíblicos; Homilética, estudo sobre as técnicas para se falar em público, que ajuda o crente a elaborar sermões e pregar com eficiência; Missiologia, estudo sobre missões e outras. Estas são as matérias principais de um curso básico em teologia. Alguns cursos têm outras matérias suplementares. 


O fato é que estes estudos irão levar o crente a se aprofundar no conhecimento bíblico para melhor servir ao Senhor. Evidentemente, isso não dispensa as práticas das disciplinas espirituais como a oração, meditação bíblica e jejum. Pedro nos recomendou a crescer na Graça e no Conhecimento (2 Pe 3.18). Através das disciplinas espirituais, crescemos em graça e através do estudo bíblico, crescemos no conhecimento. Um não anula o outro, ambos se completam.


No caso dos obreiros e professores da Escola Dominical é recomendado, no mínimo, o curso médio, que além dessas matérias citadas acima, contém outras matérias direcionadas para o exercício ministerial, como Ética Cristã, Ética pastoral, Aconselhamento bíblico, História da Igreja, Teologia do Antigo e do Novo Testamento, Arqueologia bíblica, Heresiologia, entre outras.


II – O TRIPÉ DO DISCIPULADO: PALAVRA, COMUNHÃO E SERVIÇO

O discipulado na Igreja Primitiva se sustentava em três pilares: a Palavra de Deus Doutrina do Apóstolos), a comunhão entre os irmãos (Koinonia) e os serviços espirituais prestados à Igreja. (Diakonia). Este modelo continua válido e a Igreja que o adotar, formará um cristianismo saudável. 


1. A Palavra. A Palavra de  Deus tem autoridade suprema na Igreja Cristã. Já estudamos em lições anteriores que um dos pilares da Reforma Protestante era o “Sola Scriptura”. Isto significa dizer que a Palavra de Deus é o nosso único manual de fé e conduta. Sendo assim, todo ensino em Igreja evangélica deve estar obrigatoriamente fundamentado na Bíblia Sagrada. Nas seitas, isso não acontece. Algumas religiões afirmam crer na Bíblia, mas a colocam em igualdade, ou até inferior à palavra do seu líder ou aos seus escritos. 

Os primeiros discípulos “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42a). Os apóstolos eram os responsáveis por ensinarem a Palavra de Deus ao povo e não abriam mão disso (At 6.3). Infelizmente, em nossos dias, muitos pastores deixam a Palavra de Deus para se ocuparem com outras atividades como construções, tesouraria, secretaria, música, política, empresas, etc. O ministério pastoral deve ser voltado para a pregação da Palavra de Deus, oração e o cuidado com as ovelhas do Senhor. Outras atividades secundárias da Igreja devem ser realizadas pelos diáconos, cooperadores e membros. 

O ensino dos apóstolos era baseado nas Escrituras do Antigo Testamento e nas revelações que recebiam diretamente do Espírito Santo. Nos dias dos apóstolos existia apenas o Antigo Testamento. As doutrinas voltadas para a Igreja ainda estavam em construção. Sendo assim, os apóstolos tinham autoridade dada por Jesus para doutrinar a Igreja em vários assuntos, sendo dirigidos pelo Espírito Santo. Não temos mais apóstolos em nossos dias com este perfil. A Palavra de Deus já está concluída e ninguém pode lhe acrescentar nada. Portanto, ninguém pode trazer ensino à Igreja com base em revelações. As únicas doutrinas válidas para a Igreja são as que estão na Palavra de Deus. Ninguém hoje em dia tem poder para acrescentar, retirar ou modificar alguma doutrina. Os Católicos romanos querem que a Palavra do Papa e o magistério da Igreja tenham o mesmo poder dos apóstolos bíblicos. Mas isso não tem nenhum amparo nas Escrituras. 

2. A Comunhão (At 2.42). A palavra grega koinonia, significa compartilhamento; parceria; associação próxima; unidade.  Comunhão é uma uniformidade realizada pelo Espírito Santo na vida dos crentes, que os une profundamente uns aos outros em qualquer circunstância. A Igreja é uma família, onde todos devem se alegrar juntos e também chorar juntos. (Rm 12.15).

No Antigo Testamento, a ideia de comunhão estava ligada ao relacionamento da pessoa com o seu próximo, conforme vemos no Salmo 133.1, e não com Deus. Um dos principais mandamentos da Lei era “Amarás o teu próximo com a ti mesmo”. Paulo disse que toda a Lei em relação ao próximo se resume neste mandamento: “Pois toda a Lei se resume num só mandamento, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. (Gl 5.14). O povo de Israel recebia ordens de Deus para serem generosos com os pobres, viúvas, órfãos e estrangeiros. 

A Igreja de Jerusalém também vivia em profunda comunhão (At 2.44). Nos primeiros dias da Igreja, quem tinha duas propriedades vendia uma e trazia o valor voluntariamente aos apóstolos, para socorrer os necessitados. Isso era feito sem nenhuma imposição ou apelação. Também não havia aproveitadores querendo se passar por necessitados para rever donativos da Igreja. Ananias e Safira tentaram enganar os apóstolos, fingindo que estavam doando o dinheiro de uma propriedade na íntegra, mas, entregaram somente uma parte. O Espírito Santo revelou a trama a Pedro e ambos foram fulminados por Deus. 

Esta união da Igreja de Jerusalém chamou a atenção das pessoas em todo o Império Romano. Muitas pessoas foram atraídas ao Cristianismo por conta desta união. Em nossos dias é a mesma coisa. A união dos crentes chama a atenção da comunidade onde a Igreja está situada e pode levar muitos à conversão. Infelizmente, o contrário também é verdade. Uma Igreja desunida afasta as pessoas do Evangelho. 

3. O Serviço. Há duas palavras gregas traduzidas por serviço: “Leitourgia”, de onde vem a palavra portuguesa liturgia, que significa servir publicamente em adoração religiosa; (At 13.2) e “Diakonia”, que deu origem à palavra portuguesa diácono, e significa servir às mesas (Jo 2.5,9) ou prestar assistência aos necessitados e enfermos (1 Tm 3.8,12; At 6.1-6; Rm 16.1). Era um trabalho realizado para alguém ou algo seguindo as suas instruções. 

No Antigo Testamento, serviço estava relacionado, na maioria das vezes, ao ofício dos sacerdotes no santuário e também a qualquer pessoa temente a Deus (Js 24.15). A palavra hebraica “Sharat”, usada em 1 Crônicas 15.2, refere-se às tarefas dos sacerdotes levando a arca e aos serviços dos levitas no templo. No Salmo 100.2, é usada a palavra “abad”, que significa servir, trabalhar ou realizar uma tarefa em lugar de outrem. Esta palavra também é usada por Isaías em relação ao Messias: Servo do Senhor  (Is 42). 

Na Igreja de Jerusalém, o serviço cristão estava relacionado à perseverança no ensino dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações (At 2.42-47). Então, serviço era o conjunto destas coisas. É importante destacar que ministro na Bíblia, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento significa aquele que serve e não aquele que manda ou que tem regalias. 


III – O DISCIPULADO E O CRESCIMENTO SADIO DA IGREJA


Um discipulado eficiente contribui não apenas para o crescimento espiritual, mas, contribui para o crescimento numérico da igreja. Cada obreiro tem uma chamada específica. Uns são chamados para iniciar trabalhos missionários, levando a Palavra de Deus aos perdidos. Outros, no entanto, são chamados para discipular, doutrinar e organizar as novas Igrejas. Ambos têm a sua importância no Reino de Deus. Na Igreja de Corinto, havia grupos facciosos que diziam: Eu sou de Paulo, eu sou de Pedro, eu sou de Apolo e outros diziam que eram de Cristo. Paulo os repreendeu, chamando-os de carnais e disse: "Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento.” (1 Co 3:6).


1. O crescimento espiritual.  As pessoas que aceitam a Cristo vem de uma vida de pecado com idéias e costumes mundanos. São pessoas que vieram de outras religiões, ou que não tinham religiões e viviam segundo o curso deste mundo. Em Éfeso, Paulo notou que alguns crentes ainda mantinham os velhos costumes e os orientou dizendo: “E digo isto, e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros gentios, na vaidade da sua mente.” (Ef 4:17). Infelizmente, há alguns pastores que acham que não se deve orientar os novos convertidos, para que eles não saiam da Igreja. Com isso, eles não crescem espiritualmente e não abandonam o pecado. 


Através do discipulado, os novos convertidos recebem instruções bíblicas para uma nova vida. O discipulado leva o novo crente a crescer em Graça e Conhecimento, tornando-o espiritualmente maduro e sadio. As pessoas vêm a Cristo do jeito que estão. Mas, não podem continuar assim e só serão transformados mediante o ensino bíblico, confrontando o seu estilo de vida com os padrões da Palavra de Deus.


2. O crescimento numérico. O discipulado também leva as Igrejas a se multiplicarem. “Assim, pois, as igrejas em toda a Judéia, e Galiléia e Samaria tinham paz, e eram edificadas; e se multiplicavam, andando no temor do Senhor e consolação do Espírito Santo.” (At 9.31). Saulo, logo após a sua conversão, procurou se juntar aos discípulos em Jerusalém, mas eles o temiam, não crendo que tivesse se convertido. Mas, Barnabé o acolheu e o levou aos apóstolos, contando como foi a sua conversão. A partir daí, Saulo falava ousadamente da Palavra de Deus e disputava com os judeus, convencendo-os publicamente, pelas Escrituras, que Jesus era o Messias. Discutia também com os gregos, e lhes anunciava o Evangelho com muita sabedoria. A Igreja de Jerusalém o enviou a Tarso, sua terra  natal e em toda a região, as Igrejas eram edificadas pela Palavra de Deus e se multiplicavam. 


Em Samaria também, Filipe o evangelista evangelizou. Muitas pessoas se converteram a Cristo. Pedro e João foram enviados para lá, a fim de discipular os novos crentes. (At 9.8). Até um antigo mágico, chamado Simão, que havia na cidade, se converteu. Porém, não conhecia de fato o Evangelho e achava que algum tipo de mágica. Chegou ao ponto de oferecer dinheiro a Pedro, em troca dos dons do Espírito Santo e foi repreendido. Por isso, a prática de se vender bênçãos de Deus é chamada de “simonia”. 


Em sua terceira viagem missionária, Paulo passou pelas províncias da Galácia e Frígia, confirmando os discípulos e instruindo-os. Depois, chegou a Éfeso e encontrou um eloquente nas Escrituras, chamado Apolo, que conhecia apenas o batismo de João. Paulo e o casal Priscila e Áquila o instruíram a respeito de Cristo e da Doutrina do Espírito Santo. Chegando a Éfeso, Paulo encontrou um grupo de doze crentes e perguntou-lhes se já haviam recebido o Espírito Santo quando creram. Eles responderam que, sequer sabiam da existência do Espírito Santo e eram batizados apenas no batismo de João. O apóstolo lhes explicou que João pregou o batismo para arrependimento e disse que após ele, viria o Cristo. Depois disso, impôs as mãos sobre eles e foram batizados no Espírito Santo. Paulo passou três anos em Éfeso, discipulando a Igreja e orientando os obreiros. (At 18.22,23; 19.1; 20.31). Isso foi fundamental para que esta Igreja se tornasse uma Igreja doutrinariamente ortodoxa, embora depois tenham se afastado do primeiro amor. (Ap 2.2). Os primeiros ensinos a um novo convertido são determinantes para a sua vida cristã. Se aprender corretamente a tendência é que se mantenha assim. Mas se aprender errado ou não aprender, será sempre um crente imaturo e problemático. 


3. O exemplo da igreja de Antioquia da Síria. Após a grande perseguição que se levantou sobre a  Igreja de Jerusalém, depois do Pentecostes, os discípulos foram dispersos. Eles fugiram de Jerusalém para escapar da perseguição, mas, onde chegavam, anunciaram o Evangelho. Entretanto pregavam apenas aos Judeus. Alguns crentes de Chipre e Cirene chegaram a Antioquia da Síria, anunciaram o Evangelho e muitos gentios se converteram. (At 11.20). A Igreja de Jerusalém, quando ficou sabendo que muita gente havia se convertido em Antioquia, enviou Barnabé para lá, a fim de discipular os novos crentes. (At 11.22-24). Barnabé chegando a Antioquia, alegrou-se com a multidão de convertidos e foi a Tarso buscar Saulo, que era um mestre na Palavra, para auxiliá-lo nesta tarefa. (At 11.25). Barnabé e Saulo permaneceram durante um ano, ensinando a Palavra de Deus nesta cidade, que depois se tornou uma Igreja missionária, enviando Barnabé e Saulo para fazer missões pelo mundo. (At 11.26; 13.1-4). 


CONCLUSÃO


Discipular quem nasce de novo é um mandamento bíblico. Desde o início da sua conversão, o novo crente deve ser ensinado, com muito amor e cuidado, para desenvolver a sua nova identidade. Os crentes só alcançarão a maturidade, a fé genuína e só produzirão frutos se a Igreja local tiver um discipulado eficiente. O discipulado é como a alfabetização das crianças na escola. Se a criança não tiver uma boa alfabetização, nunca chegará à faculdade e se chegar terá sérios problemas. Ignorar o discipulado é comprometer seriamente a saúde espiritual da Igreja. É importante destacar que o discipulado não é tarefa apenas do pastor da Igreja, dos professores e da classe de discipulado. Todos os membros da Igreja precisam estar comprometidos com esta importante tarefa. 


Pb. Weliano Pires

Assembléia de Deus

Ministério do Belém

São Carlos - SP


REFERÊNCIAS:


LIÇÕES BÍBLICAS. Rio de Janeiro: CPAD. 1° Trimestre de 2021.

ENSINADOR CRISTÃO. Rio de Janeiro: CPAD. 1° Trimestre de 2021.

SILVA, Rayíran Batista da. O Discipulado Eficaz e o Crescimento da Igreja. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, pp.35,39.

11 março 2021

Lição 11 – Compromissados com a Evangelização

 

FOTO: EDITORA CPAD

14 de março de 2021.

TEXTO ÁUREO:

“Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” (Mt 28.19)

VERDADE PRÁTICA:

”A nossa responsabilidade para a salvação de todos os seres humanos, mediante o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo, nos torna servo de todos.”

HINOS SUGERIDOS: 18, 80, 119 da Harpa Cristã

 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: Marcos 16.14-20.


14 – Finalmente apareceu aos onze, estando eles assentados juntamente, e lançou-lhes em rosto a sua incredulidade e dureza de coração, por não haverem crido nos que o tinham visto já ressuscitado.

15 – E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.

16 – Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.

17 – E estes sinais seguirão aos que crerem: em meu nome, expulsarão demônios; falarão novas línguas;

18 – pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e imporão as mãos sobre os enfermos e os curarão.

19 – Ora, o Senhor, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à direita de Deus.

20 – E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram. Amém!


INTRODUÇÃO


Na semana passada estudamos sobre a cura divina nos dias de hoje. Falamos a respeito da cura divina na Bíblia, abrangendo os aspectos da saúde pública do povo de Israel, as bases bíblicas para a prevenção de doenças e as muitas curas realizadas no Ministério de Jesus aqui na terra, movido pela compaixão que Ele tem pelo sofrimento das pessoas. 


Falamos também sobre a cura divina como parte da salvação, tendo como base a profecia de Isaías 53.4 e a interpretação de Mateus sobre o cumprimento desta profecia, quando Jesus curou muitos enfermos. (Mt 8.16,17). Isso mostra que a salvação e a cura divina caminham juntas.


Por último, falamos sobre a cura divina e os desafios dos dias atuais. Vimos que as enfermidades têm causas diversas e que os crentes também adoecem.


Na presente lição falaremos a respeito do nosso compromisso com a evangelização do mundo. A evangelização é um compromisso da Igreja com Deus e deve ser tratada como prioridade por ela. 


No primeiro tópico da lição desta semana veremos que a evangelização não é um detalhe ou uma alternativa para a Igreja. A evangelização é uma ordem de Jesus para a Sua Igreja: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura". (Mc 16.15). Veremos ainda no primeiro tópico o significado do Evangelho, Jesus como o único Salvador e a Igreja como a agência exclusiva e legítima da evangelização. 


No segundo tópico abordaremos a questão do alcance da Obra expiatória de Cristo. Abordaremos as teses calvinista e arminiana, explicando o significado de expiação limitada e ilimitada. 


No terceiro e último tópico veremos os desafios da Igreja atual na evangelização local, onde ela está situada, e também sobre as missões nacionais e transculturais. Tanto a Igreja do primeiro século, quanto o Movimento Pentecostal iniciado na Rua Azuza nos Estados Unidos, eram muito atuantes na evangelização local e nas missões transculturais. 


I. A EVANGELIZAÇÃO COMO PRIORIDADE


Jesus estabeleceu a sua Igreja com uma tríplice missão: Adorar a Deus, evangelizar o mundo e edificar os santos. A missão de evangelizar os perdidos deve ser a prioridade da Igreja de Cristo. Sem a evangelização, a Igreja perde a sua razão de ser. Não se trata de proselitismo religioso, ou desrespeito às outras religiões. A evangelização é a busca dos perdidos para levá-los a Cristo. Sem Cristo, as pessoas estarão eternamente perdidas. Não podemos ficar inertes diante desta triste realidade.


1. O Evangelho. A palavra Evangelho traduz o termo grego "euangelion", que por sua vez, é formado por duas palavras gregas: "eu", que significa "bem" ou "bom" e "angelia", que significa notícia ou novidade. Então, Evangelho quer dizer "Boa notícia" ou "Boas novas". Entre os gregos, a palavra era usada para se referir à recompensa que o portador de uma boa notícia recebia. Depois passou a ser usada para se referir à própria notícia. Com relação ao Evangelho, no sentido bíblico, trata-se da mensagem de Jesus Cristo, que veio buscar e salvar o que se havia perdido (Lc 19.10).


2. O único Salvador do mundo.  Um dos pilares da Reforma Protestante era "Solus Christus". Isso significa dizer que Jesus Cristo é o único Salvador. Sem Ele, não há possibilidade de salvação. Ninguém será salvo pelas obras, sofrimento, pobreza ou por pertencer a uma religião. Somente Cristo pode salvar o pecador.


A mensagem do Evangelho tem duas dimensões:

a) O mundo está irremediavelmente perdido, tratando-se de uma única pessoa ou de toda a humanidade. Não existe um único ser humano que não seja pecador ou que possa salvar-se. (Rm 3.23). 

b) Jesus Cristo é o único Salvador e mediador entre a humanidade perdida e Deus, que é absolutamente santo e não pode aceitar o pecado. (João 14.6; At 4.12; 1 Tm 2.5). Portanto, não podemos falar de um Salvador, sem antes falarmos do pecado e da necessidade que a humanidade tem de ser salva dos seus pecados. 


3. Uma agência legítima. A Igreja foi comissionada por Jesus, para dar continuidade ao trabalho que Ele iniciou, divulgando a Sua Mensagem ao mundo. (Mc 16.15; Mt 28.19,20; At 1.8). A Igreja do primeiro século, inicialmente, não entendeu esta missão e ficou apenas em Jerusalém, após a descida do Espírito Santo. Mas, Deus permitiu que lhe sobreviesse intensa perseguição. Os discípulos tiveram que fugir e saíram pelo mundo anunciando o Evangelho por toda parte. 

Saulo de Tarso perseguia duramente a Igreja de Cristo, arrastando homens e mulheres pelas ruas e levando-os à prisão. Mas, ele teve um encontro pessoal com o Senhor Jesus no caminho de Damasco e se converteu ao Evangelho de Cristo. A partir daí, tornou-se o maior missionário do Cristianismo, pregando com grande entusiasmo o Evangelho. Ele sentia-se devedor de pregar o Evangelho e disse: "Ai de mim, se não anunciar o Evangelho". 

A Igreja atual precisa despertar e voltar-se para a sua verdadeira prioridade, que é a evangelização do mundo. Não fomos chamados para dominar o mundo, fazer política, ou resolver problemas sociais das pessoas. Podemos e devemos ajudar aos necessitados, mas, a nossa prioridade tem que ser a salvação da humanidade através da pregação do Evangelho. Jesus disse: "De que adianta o homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?"


II – JESUS MORREU PARA SALVAR TODOS OS SERES HUMANOS


Desde o início do século XVII, após a reforma protestante, surgiram divergências entre os calvinistas e arminianos. Os calvinistas são os que seguem as teses do teólogo francês João Calvino e os arminianos, são os seguidores das teses defendidas pelo teólogo holandês Jacob Armínio. Os principais pontos de divergência são: a soberania de Deus e o livre-arbítrio humano; a possibilidade de resistir ou não à Graça de Deus; eleição condicional e incondicional; perseverança dos santos e possibilidade de perder a salvação; e o alcance da Obra de Cristo. Por quem Cristo morreu? Por todos, ou somente pelos eleitos? Se Cristo morreu por todos, por que todos não são salvos? É sobre este último ponto que vamos tratar neste tópico da lição desta semana. 


1. A nossa teologia. O comentarista da nossa lição, Pr. Esequias Soares, procura neste ponto, desvincular a teologia assembleiana dos teólogos reformadores, argumentando que a nossa teologia é fruto do estudo sistemático das Escrituras, principalmente nas nossas Escolas Bíblicas Dominicais (EBD) e Escolas Bíblicas de Obreiros (EBO) desde os primeiros anos da Assembléia de Deus. Diferente de outras denominações, a nossa Igreja não possuía seminários teológicos e havia muita relutância de alguns pastores mais antigos ao estudo teológico em seminários ou escolas teológicas. Entretanto, no que tange à doutrina do pecado e à doutrina da salvação, a Assembléia de Deus sempre se identificou com o arminianismo. 


2. Por quem Jesus morreu? Há duas posições teológicas entre os protestantes ou evangélicos, para responder a essa pergunta: Há o pensamento dos calvinistas, que defendem a expiação limitada, e o pensamento dos arminianos, que defendem a expiação ilimitada. O que isso significa? vamos ver resumidamente, os textos bíblicos e os argumentos usados por cada um. 


a) Expiação limitada. Este é o pensamento dos calvinistas. Eles afirmam que Cristo não morreu por todos os pecadores, morreu apenas pelos eleitos. Ou seja, Deus teria escolhido antes da fundação do mundo, aqueles que iria salvar e enviou o seu Filho para morrer apenas por eles. Para defender esse ponto de vista, usam textos bíblicos como: Mateus 1:21 (salvará o seu povo dos seus pecados); Mt 20:28 (resgate de muitos); Mt  26:28 (o seu sangue é derramado por muitos); João 10:14 (deu a vida pelas suas ovelhas) etc. Nós assembleianos rejeitamos esta interpretação, pois, isso seria incompatível com o caráter amoroso de Deus e impõe limites à Obra de Cristo. Além disso, há vários textos bíblicos que nos mostram que Deus amou o mundo inteiro e que Cristo morreu por todos os pecadores, como veremos a seguir.  


b) Expiação ilimitada. Este é o ponto defendido pelos arminianos, inclusive pela Assembléia de Deus. Afirmamos que Cristo morreu por todos, mas, o seu sacrifício só se torna eficaz se houver fé e arrependimento da parte do pecador. Antes, precisamos entender o que significa expiação. Deus é justo e não pode deixar o pecado impune. A Bíblia diz que “o salário do pecado é a morte”. (Rm 6. 23a). Mas, Deus também é riquíssimo em misericórdia e providenciou um meio, para que o pecador possa ser reconciliado com Deus, através do sacrifício de Cristo. Sendo assim, expiação significa o pagamento pelos pecados cometidos, que permite a reconciliação do homem pecador com Deus, que é Santo.

A expiação feita por Cristo na Cruz foi por todos, ou apenas por alguns? Vamos aos textos bíblicos que provam que Cristo morreu por todos: 

“Cristo é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo” (1 Jo 2.2); 

“...Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” (Jo 1.29b); 

“Porque a graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens”. (Tt 2.11); 

“O qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo.” (1 Tm 2.6); 

“... Este pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo.” (Jo 6.51). (grifos meus).


A Bíblia é clara em vários textos, afirmando que Jesus veio trazer salvação a todos (Tt 2.11), morreu por todos (1 Jo 2.2) e nos mandou pregar o Evangelho a todos (Mc 16.15). Mas, nem todos serão salvos, como afirmam os universalistas. Serão salvos apenas os que crerem em Jesus e o receberem como o seu único e suficiente salvador. (Mc 16.16; Jo 3.18). A salvação está disponível a todos, mas, somente os que quiserem serão salvos. 


III. EVANGELIZAÇÃO LOCAL E TRANSCULTURAL


Lendo as páginas do Novo Testamento, principalmente o Livro de Atos dos Apóstolos, que nos conta os primeiros passos da Igreja Cristã, podemos perceber que tanto o evangelismo pessoal, quanto as missões local e transcultural eram as atividades principais da Igreja. Logo após a descida do Espírito Santo, os discípulos “encheram Jerusalém com a Doutrina de Cristo” (At 5.30). Depois, surgiu intensa perseguição e eles foram dispersos por Samaria e outras cidades e continuaram o trabalho de evangelização onde chegavam. Após a conversão de Saulo, em uma reunião de oração, na Igreja de Antioquia, o Espírito Santo chamou Saulo e Barnabé para a obra missionária. A partir daí, o Livro de Atos passa a relatar as viagens missionárias de Paulo, Barnabé, Silas e Timóteo pelo mundo. 


1. Evangelização.  Evangelizar é comunicar o Evangelho aos perdidos, seja por meio de palavras, ações sociais ou testemunho de vida. Para uma evangelização eficiente é preciso que se tenha método e organização. Hoje, em plena era digital, com todos os recursos audiovisuais, ainda há pessoas que acham que evangelizar é pregar sozinho no meio de uma praça, sem que haja ninguém ouvindo. A mensagem do Evangelho não pode ser mudada, mas, o método utilizado deve ser aprimorado, de acordo com o local e a época. 


Há pelo menos quatro tipos de evangelização. Para cada um deles há métodos diferentes:  

a) Evangelização pessoal. É aquela que é feita mediante um diálogo com uma pessoa. Jesus usou este tipo de evangelismo com a mulher samaritana e com Nicodemos. 

b) Evangelização coletiva. É feita através de um discurso para uma platéia. Jesus também fez vários sermões para as multidões, pregando-lhes o Evangelho. 

c) Evangelização nacional. É feito percorrendo a nossa pátria de cidade em cidade, falando do Evangelho e plantando Igrejas. Jesus sendo judeu e vivendo como tal, falava no idioma da sua nação,  conhecendo bem o povo judeu e a sua cultura, Ele lhes comunicava a sua mensagem.  

d) Evangelização transcultural. Este modelo exige um pouco mais. Além de conhecer o Evangelho, nesse caso precisamos conhecer a cultura do outro país para onde estamos indo. Jesus também pregou a estrangeiros, como o servo do centurião romano, a mulher Siro-Fenícia e muitos samaritanos. 


2. As missões. Missão é a incumbência ou encargo de se executar algo, a pedido ou por ordem de outrem. No nosso caso, a missão é o trabalho de anunciar o Evangelho, que realizamos por ordem de Cristo. (Mc 16.15; Mt 28.19,20; At 1.8). Os apóstolos, na Igreja Primitiva, com poucos recursos e sob intensa perseguição dos judeus e dos romanos, se espalharam pelo mundo pregando o Evangelho. Existem vários tipos de missões: urbanas, rurais, escolares, em presídios, em hospitais, nacionais e transculturais. Para cada tipo de missão há diferenças no perfil do missionário, preparo, método e recursos utilizados.


3. Missões no Movimento Pentecostal. Os cristãos que foram impactados pelo poder do Espírito Santo, no chamado Movimento Pentecostal no início do século XX também se espalharam pelo mundo fazendo missões. Em 1910, dois jovens suecos que viviam nos Estados Unidos, Daniel Berg e Gunnar Vingren, foram direcionados pelo Espírito Santo para virem ao Brasil pregar o Evangelho. Sem conhecer o país, nem o idioma e com pouquíssimos recursos, eles desembarcaram em Belém-PA em 1910. Inicialmente, foram congregar na Igreja Batista. Mas, como eram pentecostais, foram expulsos e fundaram em 1911, a Missão da Fé Apostólica, que a partir de 1918 passou a se chamar Assembléia de Deus. 


4. Missões na Assembléia de Deus. Durante muito tempo, a Assembléia de Deus não se preocupava muito com o tema missões, embora tenha sido fruto de missões e, mesmo depois da sua fundação, teve o apoio de missionários americanos e suecos, como Bernard Johnson, Orlando Boyer, Eurico Bergstén e outros. Faziam apenas evangelização local e nacional. Nesse aspecto, trabalharam muito e levaram a mensagem pentecostal por todo o Brasil, principalmente em regiões pobres e excluídas. 

No final da década de 80, a Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil criou a EMAD (Escola de Missões das Assembléias de Deus) e a SEMADI (Secretaria de Missões da Assembléia de Deus). Na década de 90, houve em nossa Igreja um despertamento para a Obra missionária, na chamada década da colheita. O assunto missões passou a fazer parte dos cursos teológicos e em cada Assembléia de Deus, passamos a ter uma secretária de missões. A partir daí, aumentamos o número de missionários no Brasil e no exterior.  


5. O desafio hoje. Apesar de ter avançado bastante nos anos 80 e 90, a Igreja deu uma estacionada nos últimos anos, em relação à evangelização e às missões. Hoje há muitas pessoas querendo pregar para crentes nos templos e, principalmente, em congressos. Mas, o número de pessoas dispostas a evangelizar e fazer missões é muito pequeno. Jesus mandou os seus discípulos pregarem simultaneamente em Jerusalém (local), Judéia e Samaria (nacional) e nos confins da terra (transcultural). Precisamos avançar, pois há milhões de pessoas em todo o mundo, que nunca ouviram falar de Jesus. O desafio é enorme. Jesus disse que “a seara é grande e poucos são os ceifeiros”. (Lc 10.2). A voz do Senhor continua a ecoar: “A quem enviaremos e que há de ir por nós?” (Is 6.8). 


CONCLUSÃO


O número de pessoas que nunca ouviram falar de Jesus ainda é muito grande. Sabemos pela Palavra de Deus que aqueles que morrerem sem Cristo estarão eternamente perdidos. Jesus nos salvou e nos comissionou para pregar o Evangelho a toda criatura. Esta é a principal tarefa da Igreja neste mundo. Tudo o que a Igreja fizer tem que contribuir de alguma forma para a evangelização e discipulado. 


Pb. Weliano Pires

Assembléia de Deus

Ministério do Belém

São Carlos - SP


REFERÊNCIAS:


LIÇÕES BÍBLICAS. Rio de Janeiro: CPAD. 1° Trimestre de 2021.

ENSINADOR CRISTÃO. Rio de Janeiro: CPAD. 1° Trimestre de 2021.

HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 10ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, pp.360,361

AZA, Clímaco Bueno. Na Seara do Senhor. In: Mensageiro da Paz: Os artigos que marcaram a história e a teologia do Movimento Pentecostal no Brasil. Volume 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, pp.56,57.

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