23 julho 2025

UMA IGREJA PERSEVERANTE

(Comentário do 2° tópico da Lição 04: Uma Igreja cheia do Espírito Santo).

Ev. WELIANO PIRES 

No primeiro tópico, veremos que a Igreja de Jerusalém era uma Igreja perseverante. Inicialmente veremos que a Igreja de Jerusalém era uma Igreja que suportava o sofrimento, por amor a Jesus. Na sequência, veremos que uma Igreja cheia do Espírito Santo não nega os seus valores. A Igreja de Jerusalém, mesmo sob intensa perseguição e ameaças de prisão e morte, jamais negociava a sua fé. Por fim, veremos que uma Igreja cheia do Espírito Santo está sempre convicta da sua fé.

1. Suporta o sofrimento. Após sua pregação junto à Porta Formosa, Pedro e João são levados presos (At 4.3) e, posteriormente, ameaçados por pregarem o nome de Jesus (At 4.17). Foi dito a eles que não falassem nem ensinassem no nome do Senhor (At 4.18). A ordem era clara, mas os apóstolos estavam dispostos a pagarem o preço de não segui-la. Eles suportariam tudo por amor a Jesus. Agiam com perseverança. Isso só foi possível porque Pedro, que falava por si e pelos demais apóstolos, havia sido cheio do Espírito Santo (At 4.8). O tempo verbal do grego usado no versículo 8 (tendo sido cheio) demonstra que o apóstolo, que já havia sido batizado no Espírito Santo, no Pentecostes (At 2.4), foi revestido novamente do poder do alto. Uma igreja continuamente cheia do Espírito suporta as provas e o sofrimento.

Logo após a descida do Espírito Santo, houve uma grande confusão em Jerusalém, sobre o que teria acontecido no cenáculo. Havia em Jerusalém pessoas de várias nações, por conta da festa do Pentecostes. Quando os discípulos começaram falar em outras línguas, estas pessoas os ouviram falar das grandezas de Deus em suas línguas nativas e ficaram admiradas. No meio da discussão sobre o que viria a ser aquele fenômeno, alguns zombaram deles, dizendo: Estes homens estão bêbados!

Pedro, então, levantou-se como um porta-voz dos demais discípulos, e fez um eloquente discurso, explicando que aquele fenômeno era o cumprimento da profecia de Joel sobre o derramamento do Espírito Santo. Após citar esta profecia, Pedro falou de Jesus para aquela multidão, mostrando-lhes pelas Escrituras judaicas, que Ele era o Messias prometido a Israel. A multidão comovida com esta pregação, perguntou-lhe o que deveriam fazer. 

Pedro, então, os orientou a se arrependerem, serem batizados e receberem o dom do Espírito Santo. Quase três mil almas se converteram. Esta multidão de convertidos perseverou na doutrina dos apóstolos, no partir do pão, na comunhão e nas orações, conforme vimos nas lições anteriores. Nesse período, não houve nenhum registro de perseguição dos judeus. 

No capítulo 3 de Atos, Pedro e João foram ao templo para orar, às três horas da tarde. Logo na entrada, depararam-se com um homem que era paralítico de nascença, o qual pedia esmolas aos que entravam ao templo. Ao ser interpelado pelo paralítico para que lhe desse esmola, Pedro, cheio do Espírito Santo, pediu que o homem olhasse para eles e disse-lhe: “Não tenho prata nem ouro; mas o que tenho isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda.” (At 3.6). Imediatamente, os pés do homem se endireitaram e ele levantou, andou, saltou e entrou com eles no templo, dando glórias a Deus. 

Este milagre, evidentemente, causou grande espanto nas pessoas, pois todos o conheciam desde a infância e sabiam que ele era paralítico. Todos olhavam admirados para Pedro e João, tentando entender o que havia acontecido. Pedro, então, começou o seu segundo discurso, dizendo: “Por que vos maravilhais disto? Ou, por que olhais tanto para nós, como se por nosso próprio poder ou santidade fizéssemos andar este homem?” (At 3.12). Na sequência, Pedro atribuiu a Jesus aquele milagre e falou da sua morte e ressurreição para a multidão. 

Este acontecimento chegou ao conhecimento das autoridades religiosas de Israel, que se indignaram com o fato dos apóstolos falarem de Jesus e da ressurreição. Por isso, eles foram conduzidos à prisão, para serem interrogados no dia seguinte, pois já era tarde (At 4.1,2). No dia seguinte, ao ser interrogado sobre o ocorrido, Pedro fez o seu terceiro discurso, com grande ousadia perante as autoridades, falando de Jesus e mencionando o que as Escrituras diziam sobre Ele. As autoridades ficaram admiradas com o discurso, pois sabiam que eles não haviam frequentado as escolas dos rabinos e chegaram à conclusão de que eles andaram com Jesus. 

Depois disso, se reuniram à parte para decidirem o que fazer com os apóstolos, pois o homem que fora curado estava ali como prova do milagre e ninguém poderia negar. Por isso decidiram soltar os apóstolos, advertindo-os sob ameaça de prisão, para que não mais falassem de Jesus para as pessoas. Entretanto, mesmo sabendo que corriam risco de serem presos, açoitados e até mortos como foi Jesus, eles não se intimidaram e continuaram a pregar, dispostos a suportar todo e qualquer sofrimento que lhes fosse imposto, por amor a Cristo.

Lamentavelmente, nas últimas décadas, após o advento da famigerada teologia da prosperidade, muitos crentes incluíram em suas pregações, vida confortável e riquezas neste mundo como recompensa pela fidelidade a Deus. Há até uma grande Igreja neopentecostal que usa como slogan a frase “Pare de sofrer”. Ora, isso vai na contramão do que Jesus ensinou aos seus discípulos. Ele sempre deixou claro, que os seus discípulos seriam odiados por todos os povos, perseguidos e mortos, por causa do Nome dele (Mt 10.22; 24.9; Lc 21.17; Jo 15.21; 16.33). Jesus não nos chamou apenas para crer nele, mas também para padecer pelo Evangelho. A história da Igreja ao longo dos séculos mostra que esta sempre foi a realidade do verdadeiro Cristianismo. 

2. Não negocia seus valores. Quando a classe sacerdotal intimou os apóstolos e lhes deram ordem expressa para que eles não falassem nem ensinassem no nome de Jesus, a resposta dos apóstolos foi: “Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus” (At 4.19). Em outras palavras, os apóstolos afirmaram que não negociariam a sua fé. Não abririam mão dos valores da fé que haviam recebido, pois eles são inegociáveis. Uma das marcas de uma igreja que perdeu ou está perdendo o poder do Espírito é a sua aceitação de princípios e práticas que afrontam as Escrituras.

Diante da proibição aos apóstolos de pregar o Evangelho, sob graves ameaças, eles não se intimidaram e deram a seguinte resposta: “Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus; Porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido!”. (At 4.19,20). Esta resposta ousada, certamente deixou os membros do Sinédrio furiosos, pois não estavam acostumados a serem confrontados. 

O Sinédrio era a suprema corte de Israel, que decidia sobre questões políticas e religiosas. Este colegiado era formado por sacerdotes, anciãos e escribas e era presidido pelo Sumo Sacerdote. Os anciãos que faziam parte do Sinédrio eram líderes comunitários muito respeitados, indicados para representar os israelitas na corte, ao lado dos escribas e sacerdotes. Os membros do Sinédrio não eram qualquer pessoa, escolhida aleatoriamente. Eram pessoas idôneas, notáveis e respeitadas na sociedade. O Sinédrio tinha grande poder e poderia condenar os apóstolos à prisão e açoitá-los. Mas, como Israel estava sob o domínio romano, dependiam da autorização de Roma para condenar alguém à morte.

De qualquer forma, a atitude dos apóstolos foi de desobediência às autoridades, pois não estavam dispostos a negociar a sua fé, mesmo que isso lhe causasse sofrimento, perseguição ou lhes custasse a própria vida. Em Romanos 13, o apóstolo Paulo recomendou aos cristãos que se sujeitassem às autoridades, pois estas foram constituídas por Deus (Rm 13.1-6). Esta sujeição, no entanto, não é absoluta. Se as autoridades exigirem a negação da nossa fé, ou a renúncia de algum dos nossos valores, não podemos nos sujeitar às suas exigências e afrontar as Escrituras. 

3. Está convicta de sua fé. Uma igreja cheia do Espírito Santo está convicta de sua fé. Não se apoia em suposições, mas em fatos (At 4.20). Os primeiros cristãos não apenas ouviram sobre Deus, mas também testemunharam suas obras. Quando Filipe pregou em Samaria, os samaritanos se convenceram porque “ouviam” e “viam” os sinais que Filipe fazia (At 8.6). Alguém já disse que Deus é plenamente obedecido no céu porque lá Ele é visto, enquanto na terra, muitas vezes, é desobedecido por ser apenas ouvido. No entanto, a igreja cheia do Espírito não apenas proclama a Palavra, mas também manifesta a obra de Deus (Rm 15.18,19). Jesus foi poderoso tanto em palavras quanto em obras (Lc 24.19).

O comentarista nos apresentou outra característica marcante de uma Igreja cheia do Espírito Santo: a convicção da sua fé. Esta afirmação é um tanto redundante, pois a fé é sinônimo de convicção, fidelidade e confiança. Segundo a concordância de Strong, a palavra grega pistis, traduzida por fé, “é a convicção da verdade de algo; no No Novo Testamento, é uma convicção ou crença que diz respeito ao relacionamento do homem com Deus e com as coisas divinas, geralmente com a idéia inclusa de confiança e fervor santo nascido da fé e unido com ela”.

A fé dos cristãos de Jerusalém não se apoiava em suposições, lendas ou histórias que eles ouviram falar. Era uma convicção firmada em fatos e milagres incontestáveis. As próprias autoridades tentaram intimidá-los, como vimos acima, mas não conseguiram, porque havia um milagre incontestável que eles não podiam negar. Os discípulos foram perseguidos por inveja e porque os religiosos tinham medo de perder as suas posições, não porque eles pregassem mentiras. 

Uma Igreja cheia do Espírito Santo prega o Evangelho, convicta de que está pregando a Verdade e que Deus confirma a Sua Palavra com os sinais. Os discípulos não temiam o confronto, porque o Espírito Santo os guiava, fortalecia e operava maravilhas. Cristãos verdadeiros ao longo da história tinham tanta convicção de que estavam fazendo a vontade de Deus, que nada mais lhes importava. John Bunyan, autor do Livro “O Peregrino”, foi preso várias vezes, totalizando doze anos na prisão, por ser um pregador “não conformista”, que não se adaptava ao padrão da Igreja da Inglaterra. Na prisão, a sua fé foi fortalecida e ele escreveu a sua obra mais célebre “O Peregrino”, que posteriormente se tornou filme e é conhecida em todo o mundo. 

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