No primeiro tópico, falaremos da natureza do Pentecostes bíblico. Veremos que foi um evento de natureza divina, com sinais que foram vistos e ouvidos, vindos do Céu. Na sequência, veremos que foi um evento paralelo ao ocorrido no Monte Sinai, quando Moisés recebeu as tábuas da Lei. Por último, veremos que foi um evento centrado em Cristo e nos tempos finais, como podemos perceber no discurso de Pedro.
1. De natureza divina. O evangelista Lucas foi o escritor do Evangelho segundo Lucas e também do Livro de Atos dos apóstolos. Lucas era médico, historiador e companheiro de viagens do apóstolo Paulo. Ele não foi testemunha ocular dos fatos narrados no Evangelho e também não estava presente nos acontecimentos narrados nos primeiros capítulos de Atos dos apóstolos. Sendo o único escritor não judeu da Bíblia e, segundo alguns estudiosos, natural de Antioquia da Síria, Lucas teria se convertido somente após a morte de Estevão, quando boa parte da Igreja de Jerusalém se dispersou por causa da perseguição.
Em seus escritos, Lucas colheu depoimentos de várias pessoas que conviveram com Jesus (Lc 1.1). Em seu relato sobre a descida do Espírito Santo, Lucas assim descreveu o momento em que os discípulos foram revestidos de poder: “E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem.’ (At 2.2-4).
Este relato de Lucas comprova que este é um acontecimento de natureza divina, primeiro porque veio do Céu. Em segundo lugar, por causa dos sinais visíveis como as línguas repartidas, como se fossem de fogo, pousando sobre os discípulos. Por fim, o sinal sobrenatural dos discípulos glorificando a Deus em outras línguas que eles nunca aprenderam.
Há ainda outro sinal miraculoso, que são os ouvintes de várias línguas, ouvindo ao mesmo tempo e compreendendo o que cada um dizia em seu próprio idioma. Ora, em um ambiente assim, haveria um grande barulho e ninguém conseguiria entender nada. Mas não foi o que aconteceu. Sendo o mover do Espírito uma obra divina, não está sujeito a agenda humana ou determinações de pregadores como vemos na atualidade. Deus é soberano e opera quando quer, onde quer e como quer.
2. Um evento paralelo ao Sinai. O comentarista faz aqui um paralelo deste acontecimento no dia de Pentecostes, com as manifestações visíveis de Deus no Antigo Testamento, chamadas de “teofania”, palavra grega derivada de “Theos” (Deus) e “phainein” (manifestação). Teofania, portanto, é uma manifestação visível da presença de Deus. No Monte Sinai, quando Moisés se aproximou para receber as tábuas da Lei, a presença de Deus se manifestou de forma tão gloriosa, que o povo ousou se aproximar. O monte fumegava e o Senhor estabeleceu um limite e determinou que aquele que o ultrapassasse seria morto (Êx 19.18-21). O próprio Moisés declarou: “Estou todo assombrado e tremendo!” (Hb 11.21).
No evento do Pentecostes, no entanto, Jesus já havia consumado o seu sacrifício por nós e estabelecido uma Nova Aliança, tendo Ele próprio como Mediador. Agora, o Espírito Santo desceu sobre todos os crentes, sem risco de morte, rompendo todos os preconceitos e barreiras sociais. Segundo a profecia de Joel, o Espírito Santo seria derramado sobre toda carne (seres humanos) e não apenas sobre algumas pessoas específicas. Cairia por terra o preconceito contra os jovens (vossos jovens terão visões); contra as mulheres (vossas filhas profetizarão); contra os idosos (vossos velhos terão sonhos; e contras os pobres ( os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito) (Jl 2.28,29).
Outra diferença entre a manifestação divina no Monte Sinai e a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes é que no Sinai a Lei do Senhor foi escrita em tábuas de pedras, apontando o pecado. No Pentecostes, o Espírito Santo desceu e a Palavra de Deus foi escrita nos corações. O apóstolo Paulo falando sobre isso disse: “[Deus] nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica”. (2Co 3.6). Alguns interpretam equivocadamente este texto, como se a letra fosse uma referência ao estudo bíblico. Mas não tem nada a ver. O apóstolo se refere às tábuas da Lei, que apenas aponta o pecado, mas não vivifica. O Espírito Santo, por sua vez, nos regenera e nos capacita a obedecer a Deus.
3. Centrada em Cristo e nos tempos finais. Depois que foram cheios do Espírito Santo, os discípulos começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. O barulho dos crentes glorificando a Deus em outras línguas foi ouvido de longe e as pessoas se aproximaram para ver o que estava acontecendo. Os estrangeiros ficaram espantados, pois, cada um ouvia pessoas falarem na língua deles, das maravilhas de Deus. Diante disso, perguntaram: “Estes que estão falando não são todos galileus? Como, pois, os ouvimos falar em nossas próprias línguas?”. Outros, no entanto, zombavam dizendo: “Estes homens estão embriagados!” (At 2.7,13).
Pedro, cheio do Espírito Santo, levantou-se com os demais apóstolos e fez um longo e ousado discurso, explicando que aquilo era o cumprimento da profecia de Joel. Na sequência, Pedro fez uma exposição detalhada sobre a morte e ressurreição de Jesus, mostrando pelas Escrituras que Ele era o Messias prometido a Israel. No final da pregação de Pedro, a multidão perguntou: “Que faremos, homens irmãos?” (At 2.37). Pedro respondeu: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo.” (At 2.38). Três mil almas creram na mensagem e se converteram a Cristo.
Vê-se, portanto, que o derramamento do Espírito Santo no Pentecostes está intimamente ligado à morte, ressurreição e ascensão de Cristo aos Céus. O Espírito Santo desceu para dar continuidade ao ministério terreno de Jesus e dirigir a sua Igreja. Após o Pentecostes, o tema da pregação apostólica era a morte e ressurreição de Jesus. O Espírito Santo nos capacita para sermos testemunhas de Cristo e não de nós mesmos. Por outro lado, está relacionado também aos últimos dias, que é uma referência ao período da era cristã, que vai desde a ressurreição de Jesus até a sua segunda vinda.
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