No primeiro tópico, veremos que a Igreja de Jerusalém era uma Igreja com sólidos fundamentos. Inicialmente, veremos que a Igreja de Jerusalém era uma Igreja com fundamento doutrinário, que é uma característica indispensável a qualquer Igreja genuinamente cristã. Na sequência, falaremos do significado da expressão “Perseveravam na doutrina dos apóstolos". Por último, veremos que a Igreja de Jerusalém era uma Igreja relacional e piedosa, que é uma referência à comunhão e à vida de oração que os primeiros cristãos praticavam.
1. Uma igreja com fundamento doutrinário. A Igreja de Jerusalém não estava fundamentada em filosofias humanas, mas foi estabelecida sobre a doutrina de Cristo, ensinada pelos apóstolos. O número de convertidos nos primeiros dias da Igreja foi muito grande, sendo formada por judeus nativos e prosélitos. Entretanto, a liderança da Igreja não parou o seu trabalho nas conversões. Havia um trabalho constante de ensino para estabelecer as bases doutrinárias da Igreja.
Os apóstolos tinham grande preocupação com o discipulado e ensinavam aquilo que receberam do Senhor Jesus aos novos convertidos: “E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar, e de anunciar a Jesus Cristo." (At 5.42). Podemos ver neste texto que os apóstolos se dedicavam à evangelização (anunciar a Jesus Cristo) e ao ensino aos convertidos (ensinar).
Não basta pregar o Evangelho aos pecadores e trazer milhares de pessoas à Igreja. Onde não há o ensino da Sã Doutrina, é como construir uma casa sem um alicerce adequado. Quando vierem as tempestades, será grande a queda. A Igreja atual não pode negligenciar o ensino sistemático da Palavra de Deus. Na grande comissão, o Senhor Jesus incumbiu os seus discípulos da responsabilidade de fazer discípulos e ensinar-lhes a guardar tudo o que Ele mandou (Mt 28.19,20).
2. “Perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42). No texto de Atos 2.42, Lucas relata que os cristãos de Jerusalém “perseveravam na Doutrina dos apóstolos…”. O termo grego traduzido por “doutrina” aqui é “didaquē”, que significa "doutrina ou ensino a respeito de algo”. Didaquē era o conteúdo ensinado a um determinado grupo, que lhe servia de base. Há um documento datado do final do primeiro século chamado Didaquē, que traz uma compilação de instruções teológicas e litúrgicas atribuídas aos apóstolos.
Os apóstolos eram os responsáveis por ensinar a Palavra de Deus ao povo e não abriam mão disso (At 6.3). O ensino dos apóstolos era baseado nas Escrituras do Antigo Testamento e nas revelações que os apóstolos receberam diretamente do Espírito Santo. Nos dias dos apóstolos existia apenas o Antigo Testamento. As doutrinas voltadas para a Igreja ainda estavam em construção. Sendo assim, os apóstolos tinham autoridade dada por Jesus para doutrinar a Igreja em vários assuntos, sendo dirigidos pelo Espírito Santo.
Não temos mais apóstolos em nossos dias com este perfil. A Palavra de Deus já está concluída e ninguém pode lhe acrescentar nada. Portanto, ninguém pode trazer ensino à Igreja com base em revelações. As únicas doutrinas válidas para a Igreja são as que estão na Palavra de Deus. Ninguém hoje em dia tem poder para acrescentar, retirar ou modificar alguma doutrina. Os Católicos romanos querem que a palavra do Papa, a tradição e o magistério da Igreja tenham o mesmo poder dos apóstolos bíblicos. Mas isso não tem nenhum amparo nas Escrituras.
3. Uma igreja relacional e piedosa. A Igreja de Jerusalém, como vimos acima, tinha fundamento doutrinário (ortodoxia), pois perseverava na doutrina dos apóstolos. Entretanto, não era uma ortodoxia fria, como a Igreja de Éfeso, que havia deixado o primeiro amor (Ap 2.4). A Igreja de Jerusalém perseverava também na comunhão, no partir do pão e nas orações. Os dois primeiros itens referem-se ao relacionamento interpessoal entre os cristãos. O último, refere-se a uma vida piedosa, não no sentido de ter misericórdia de alguém, mas no sentido de ter um relacionamento sincero, justo e reverente com Deus.
Muitas pessoas na atualidade dão muita ênfase ao aspecto da assistência social da Igreja Primitiva, como se eles se preocupassem apenas em distribuir alimentos aos pobres. Mas a comunhão e o partir do pão vai muito além disso. Eles queriam estar juntos, independente da condição social. Isso significa que os crentes viviam como irmãos, na expectativa de que o Senhor voltaria a qualquer momento. O partir do pão aqui tinha três significados: a refeição ágape, ou festa do amor, onde os cristãos compartilhavam uma refeição coletiva, simbolizando o amor cristão; a Ceia do Senhor, onde eles distribuíam o pão e o vinho, em memória do sacrifício de Cristo; e as refeições que eles faziam nas casas uns dos outros.
Por fim, a Igreja de Jerusalém vivia em constante oração. Antes do Pentecostes, eles perseveraram em oração, até serem revestidos do poder do Espírito (At 1.14). Mas continuaram orando todos os dias após a descida do Espírito Santo. Oravam pedindo direção a Deus (At 1.23,24); oravam constantemente no templo (At 3.1); oravam diante das ameaças e perseguições (At 4.24-31); oravam antes de separar obreiros (At 6.6). O Senhor respondia às suas orações, salvando muitas almas e operando maravilhas no meio da Igreja. Deus não mudou e jamais mudará. Se quisermos ser uma Igreja poderosa, que proclama o Evangelho com ousadia, precisamos buscar a Deus em oração e os resultados aparecerão.
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