(Comentário do 2° tópico da Lição 13: As promessas de Deus são infalíveis)
Ev. WELIANO PIRES
No segundo tópico, veremos que Deus não mente, nem se arrepende. Inicialmente, veremos o caso de Balaão, que recebeu a incumbência de Balaque para amaldiçoar Israel. Mas, quando começou a falar, disse que Deus não é homem para que minta, nem filho do homem para que se arrependa (Nm 23.19). Em seguida, com base em Gênesis 6, falaremos da polêmica questão levantada por ateus: Deus se arrependeu? Por último explicaremos esta aparente contradição, pois em Números 23.19 diz que “Deus não se arrepende”, mas em Gênesis 6 e em outros textos diz que Deus se arrependeu.
1. Deus não mente nem se arrepende. O povo de Israel peregrinava pelo deserto e se aproximava da terra prometida. Durante o percurso, já haviam vencido vários inimigos e acamparam-se nas campinas de Moabe, próximo a Jericó. Balaque, rei de Moabe, se apavorou junto com o seu povo e fez aliança com os midianitas contra Israel. Na tentativa de enfraquecer o povo de Israel, Balaque contratou Balaão, um profeta iníquo, que era de Petor, na Mesopotâmia, na região do Rio Eufrates, para amaldiçoar Israel.
Ao ouvir a proposta dos mensageiros de Balaque para que amaldiçoasse o povo de Israel, Balaão pediu um prazo para consultar a Deus. Em resposta, Deus lhe disse que ele não fosse amaldiçoar o povo, pois aquele povo era bendito. Pela manhã, Balaão mandou a resposta a Balaque, dizendo que Deus o havia proibido de amaldiçoar Israel. Inconformado, Balaque aumentou a recompensa e Balaão foi consultar a Deus de novo. Deus, então, ordenou que ele fosse, mas que falasse apenas o que Deus lhe mandasse.
No caminho, o anjo do Senhor se opôs a Balaão, mas ele não o via. A sua jumenta viu o anjo e tentou se desviar dele, até que finalmente se deitou e foi espancada por Balaão. Deus, então, usou a boca da jumenta para repreender Balaão. O anjo o advertiu de que se a jumenta não tivesse se desviado, ele teria sido morto e novamente o alertou de que ele deveria falar somente o que Deus lhe mandasse.
Balaão encontrou-se com Balaque e este fez-lhe um banquete. Em seguida levou-o a um monte para que pudesse avistar todo o povo de Israel e amaldiçoar. Mas Deus colocou as suas palavras na boca de Balaão e ele proferiu uma parábola. Entre outras coisas, Balaão falou: “Como poderei amaldiçoar o que Deus não amaldiçoa?” (Nm 23.8).
Balaque o levou a um lugar mais alto, para que ele pudesse ver melhor o povo e o amaldiçoar. Foi aí, que Balaão proferiu a seguinte sentença sobre Deus, que é absolutamente verdadeira: “Deus não é homem para que minta, nem filho do homem para que se arrependa. Porventura, diria Ele e não o faria? Ou falaria e não confirmaria?” (Nm 22.19).
Embora Balaão fosse um profeta ímpio, que amou o prêmio da injustiça para amaldiçoar o povo de Deus, as palavras que ele falou foram dadas por Deus e são verdadeiras. Deus é o Deus da Verdade e não pode mentir jamais, nem se arrepender, no sentido de mudar de ideia em relação ao que Ele falou. Quando Deus fala, Ele tem compromisso com a Sua Palavra, para fazer cumpri-la, como vimos no tópico anterior. Deus havia feito promessas incondicionais a Abraão, Isaque e Jacó, de dar a terra de Canaã aos seus descendentes e nada poderia fazê-lo voltar atrás e descumprir a suas promessas.
2. Deus se arrependeu? Conforme vimos acima, Balaão disse, acertadamente, que Deus não se arrepende. Por outro lado, nos dias de Noé, o pecado havia se multiplicado de forma assustadora e Deus resolveu mandar o dilúvio. Antes de Deus anunciar o dilúvio a Noé, o capítulo 6 de Gênesis nos versículos 5 e 6 nos informa que Deus viu que a maldade humana havia se multiplicado e “se arrependeu de haver feito o homem e pesou-lhe em seu coração”.
No Livro de Jonas também, encontramos a informação de que Deus se arrependeu do mal (destruição) que havia anunciado contra Nínive e não o fez, após o arrependimento daquele povo, depois de ouvirem a profecia de Jonas contra eles. (Jn 3.10). Aliás, este era o temor de Jonas ao ser convocado por Deus para ir a Nínive, que o fez fugir para Társis. Deus o forçou a ir no ventre de um grande peixe. Depois da conversão dos ninivitas, Jonas reclamou com Deus e confessou que não queria ir, porque sabia que Deus é compassivo, longânimo, misericordioso e que “se arrepende do mal”. (Jn 4.2).
Diante destas duas afirmações conflitantes, é inevitável a pergunta: Afinal, Deus se arrepende, como está escrito nos Livros de Gênesis, Jonas e em outras partes do Antigo Testamento, ou não se arrepende, como está escrito no Livro de Números, na profecia de Balaão? Não podemos fugir desta questão, pois os ateus e os críticos da Bíblia usam estes textos para dizer que há contradições na Bíblia.
3. Uma aparente contradição. Existem duas palavras hebraicas que foram traduzidas por arrependimento: Shubh e Nãham. Shubh significa arrependimento em relação ao pecado ou erro cometido. É quando alguém pratica algo errado, muda de atitude e passa a agir corretamente. Nãham, por sua vez, é um lamento ou mudança de atitude, devido à alteração nas circunstâncias ou à mudança de atitude de outra pessoa.
Quando os escritores bíblicos mencionaram que Deus se arrependeu, usaram o termo nãham e não shubh. Isto porque Deus não se arrepende de algo que Ele fez, porque Ele é perfeito em tudo o que faz e fala. Deus não muda e não falha, portanto, não pode se arrepender. Entretanto, Deus se entristece por causa de atitudes erradas do ser humano e, por ser justo, muda de atitude por causa da mudança do ser humano. Se o ser humano escolher pecar e se rebelar contra Deus, a atitude de Deus para com este será de punição. Entretanto, se ele ouvir os apelos de Deus e se arrepender, Deus age com misericórdia e compaixão.
O comentarista mencionou um recurso literário muito usado na Bíblia, que é chamado de antropopatismo, que significa atribuir sentimentos humanos a seres não humanos para tentar entender as suas ações. Há ainda outro recurso chamado de antropomorfismo, que é a atribuição de formas humanas a Deus, para tentar explicar as suas ações. Por exemplo, a mão de Deus, os pés de Deus, os olhos de Deus, etc. Em muitos casos a Bíblia usa estes recursos em relação a Deus. Muitos teólogos entendem que este é o caso da expressão “Deus se arrependeu”.
A versão Nova Almeida Atualizada (NAA) traduz arrependeu-se nestes textos por “ficar triste” (Gn 6.6); “lamento” (1 Sm 15.11). De fato, estas expressões se adapta melhor a Deus do que arrependimento, embora a palavra arrependimento também tenha mais de um significado, entre eles lamentar-se e entristecer-se. O “arrependimento” de Deus é sempre uma reação à mudança de atitude do ser humano e nunca uma mudança dos seus atos porque havia algo errado, ou por causa de surpresas. Sendo Deus perfeito e onisciente, isso não acontece com Ele.
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