05 novembro 2015

Assembleia de Deus: de onde veio e para onde vai?

Pr. Ciro Sanches Zibordi

Hoje é uma data muito importante para a Assembleia de Deus. Há exatos 105 anos, os missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren partiram de New York, NY, nos Estados Unidos, rumo ao Brasil, onde chegariam depois de uma difícil viagem de duas semanas. Naquele dia 5 de novembro de 1910, eles embarcaram em um navio inglês, onde enfrentariam todo o tipo de dificuldade e de privação na terceira classe, até chegarem a Belém do Pará, em 19 de novembro, à época uma cidade de cerca de duzentos mil habitantes.

Aproveito essa data importante para fazer uma abordagem crítica da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, pioneira do Movimento Pentecostal no Brasil. Aliás, como assembleiano, sinto-me honrado em pertencer a essa instituição histórica que já teve em suas fileiras não somente os mencionados Gunnar Vingren e Daniel Berg, mas também outros homens de Deus como Samuel Nyström, Orlando Boyer, José Amaro da Silva, Eurico Bergstén, Nels J. Nelson, Cícero Canuto de Lima, Paulo Leivas Macalão, Alcebíades Vasconcelos, Estevam Ângelo de Souza, Bernard Johnson, Rodrigo Santana, Isaac Martins, Valdir Nunes Bícego, José Antonio dos Santos, N. Lawrence Olson, Lewi Petrus, João Batista da Slva, José Leôncio da Silva, José Pimentel de Carvalho, Anselmo Silvestre, Alfredo Reikdal e tantos outros.

Graças a Deus, essa igreja centenária ainda é, de modo geral, vigorosa e conta com homens piedosos, fiéis à Palavra do Senhor. Não obstante, ela também vem sofrendo na mão de alguns líderes, pregadores e até cantores que não têm compromisso com a sã doutrina, os quais têm dado lugar a interesses e preferências pessoais, pontos de vistas dissociados das Escrituras, experiências “transcendentais” e modismos injustificáveis. Tudo isso para atraírem multidões incautas, manipuláveis, e aumentarem receitas e patrimônios pessoais, ignorando textos bíblicos como Mateus 7.13-23; 24.12; João 6.60-69; 2 Coríntios 2.17; 2 Timóteo 4.1-5; 1 Timóteo 6.9,10.

Muitos líderes da chamada “nova geração”, sem visão espiritual e discernimento (Ap 3.17-19; Is 5.20; 1 Co 2.15), não valorizam os pregadores e ensinadores que expõem a Palavra de Deus nem prestigiam os cantores que de fato louvam a Deus. Preferem animadores de auditório e celebridades evangélicas, que fazem muitas exigências, não tendo compromisso com a Palavra de Deus e o Deus da Palavra. Tais líderes preferem os astros gospel porque eles conseguem juntar mais gente e, consequentemente, arrecadar bastante dinheiro. Como resultado, todos ficam satisfeitos, exceto o Senhor Jesus.

Em muitos púlpitos (ou palcos?) não há mais espaço para a Palavra de Deus. Boa parte do tempo é ocupado por excesso de música, peças teatrais e coreografias. Como o culto precisa ser divertido e dançante, a exposição da Palavra de Deu tem perdido a primazia. A pregação boa, hoje, é curta e interativa. E para ela ser realmente interessante precisa de um bom fundo musical! Infelizmente, em muitos eventos da Assembleia de Deus — denominação que, ao longo dos anos, se dividiu e se subdividiu —, pregadores (pregadores?) famosos se valem de técnicas de manipulação de massa para conseguirem o seu intento: prender a atenção do público para depois “arrancar” dele a maior quantia em dinheiro vivo, cheques (muitos sem fundo, que geralmente ficam nas igrejas) e bens, como relógios, alianças etc.

Técnicas de manipulação e sugestão psicológica têm sido usadas para supostamente demonstrar o poder de Deus. Alguns “superpregadores”, discípulos de Benny Hinn, têm derrubado pessoas, a fim de “anestesiá-las” e submetê-las a uma “cirurgia celestial”. Quando vários irmãos incautos estão deitados no chão, o “pregador” brada: “Agora vou tirar a anestesia por alguns instantes”. Isso basta para as pessoas caídas começarem a gritar, deixando a plateia bastante eufórica. Sabe como se chama isso? Hipnose!

Nosso tempo não tem sido marcado apenas por imitações, inovações más, misticismos e falsificações dentro das igrejas (At 20.27-30; 2 Pe 2.1,2; 1 Tm 6.3,4). Há também os modelos “milagrosos” de crescimento numérico, conhecidos como G12, M12, MDA e tantos outros. Mas a Assembleia de Deus cresceu no Brasil seguindo o modelo bíblico (2 Tm 1.13; Hb 8.5), e não a estratégias de homens, que passam (1 Pe 1.24,25). Os pioneiros do Movimento Pentecostal foram fiéis à Palavra do Senhor e puseram o fundamento (1 Co 3.10). Cabe a nós, que cremos na operação multiforme do Espírito Santo (1 Co 12.4-11), saber como devemos edificar.

O modelo para nós, hoje, está no livro de Atos dos Apóstolos. Ali encontramos as características do verdadeiro Pentecostes, que gera crentes e igrejas genuinamente pentecostais. As aberrações que vemos em nossos dias se devem ao distanciamento do modelo bíblico-apostólico. Elas são praticadas por movimentos ditos pentecostais, que são, na verdade, neopentecostais. Em Atos 2.1-4, vemos que todos estavam reunidos. A palavra “todos” é inclusiva, o que denota unidade no Espírito. Não havia lugar para discordâncias, contendas, divergências pessoais em torno das coisas de Deus; todos estavam ali, juntos, reunidos. Será que havia naquela igreja espaço para disputas desleais por posição, cargo etc., como temos visto em nossos dias, principalmente em convenções de ministros?

No dia de Pentecostes, veio do Céu um som como de um vento (At 2.2). O verdadeiro poder do Espírito vem do alto (Lc 24.49; At 11.15). O que está ocorrendo atualmente nas igrejas vem mesmo do Céu? A Palavra alerta quanto a espíritos que se passam pelo verdadeiro Espírito de Deus (2 Co 11.4; 1 Jo 4.1). O som que veio do alto era como de um vento; não houve vento natural de fato, e sim algo semelhante a seus efeitos. O vento impulsiona; separa (Sl 1.4 e Mt 3.12); movimenta; fertiliza (Cl 4.16; Jo 3.5,8); limpa; não tem cor (favoritismo, individualismo, discriminação); move-se continuamente (cf. Ec 1.6 e Gn 1.2); espalha perfume; suaviza no calor; vivifica (Ez 37.8-10). Tenhamos cuidado com os ventos que não provêm do Espírito (Mt 7.25; Ef 4.14).

O verdadeiro Pentecostes tem algo “do Céu” para se ouvir, para se ver e para se repartir (cf. At 2.3). Textos como Atos 2.4; 10.44-46 e 11.15 evidenciam que as línguas estranhas repartidas pelo Espírito são o sinal físico inicial do batismo com o Espírito Santo. Elas são apresentadas, também, no Novo Testamento, como dons espirituais (1 Co 12.10,30). Portanto, não foram “quedas de poder” ou risos intermináveis que evidenciaram a manifestação do poder de Deus, e sim línguas “como que de fogo”. E o fogo alastra-se; comunica-se; purifica; ilumina; aquece. A Assembleia de Deus, bem como toda e qualquer igreja que deseja caminhar sob poder do Espírito, precisa desse fogo do Céu!

Diante da manifestação do Espírito de Deus no dia de Pentecostes, muitos zombaram, dizendo: “Estão cheios de mosto” (At 2.13). Aqueles escarnecedores não eram pessoas ímpias, e sim religiosas. Não acontece a mesma coisa, na atualidade? Há muitos zombadores e críticos religiosos. A Palavra de Deus afirma que, no último tempo, haveria escarnecedores (Jd v. 18). No entanto, Pedro, cheio do Espírito Santo, pôs-se em pé e, além de dar uma resposta aos zombeteiros, pregou a Palavra de Deus (At 2.14-15). O verdadeiro Movimento Pentecostal é formado por crentes cheios do Espírito, que ficam de pé para pregar o Evangelho, e não por aqueles que, dando lugar às suas emoções ou seguindo a modismos, caem ao chão para usufruir de “novas unções”.

Portanto, que cada membro da centenária Assembleia de Deus olhe atentamente para a sua história e se lembre do temor que os pioneiros possuíam, bem como do seu amor à Palavra, seu fervor e seu desejo de evangelizar. Mas que todos olhemos sobretudo para o Novo Testamento, para a igreja de Atos dos Apóstolos e sigamos o conselho de Paulo contido em 1 Coríntios 11.1: “Sede meus imitadores, como também eu, de Cristo”.

Publicado no site CPAD News. 

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