A dívida pública
na era FHC
Amilton Aquino
É comum ver na internet,
petistas e simpatizantes publicarem que o governo FHC dobrou a dívida pública e
outras bobagens. Trabalhos sérios sobre o processo de endividamento da era FHC
são poucos, mas um em especial, me chamou a atenção. Primeiro pelo seu conteúdo
objetivo, segundo por contar com a credibilidade da Universidade de Brasília,
e, claro, do autor da pesquisa, o PhD em economia Flávio Rabelo Versiani.
Primeiramente, o pesquisador
faz uma distinção entre o processo de endividamento decorrente dos ajustes do
cambio (diferença entre o valor do Real em relação ao Dólar) e fatores “não
repetitivos” resultantes de reformas na economia.
1)
Refinanciamento de estados e municípios – Desde a constituição de 1988 que
deu mais “liberdade” para os estados e municípios, houve um crescente
endividamento nestas esferas do poder público. Entre 1989 e 1998, a dívida
líquida dos estados e municípios passara de 5,8% para 14,4% do PIB. Os
governadores gastavam mais do que arrecadavam, sendo que o restante era
financiado por bancos estaduais, os quais disfarçavam os prejuízos nos tempos
de inflação alta, pois, assim como o Governo Federal, tiravam da inflação alta
parte de suas receitas. Quando a inflação acabou, a situação dos bancos
estaduais (e consequentemente os estados) tiveram suas situações de
endividamento pioradas. Para desativar a “bomba” que explodiria mais cedo ou
mais tarde, em 1997 o Governo iniciou as discussões para a criação da Lei de
Responsabilidade Fiscal e, para aprová-la, teve que se comprometer com os
governadores a assumir as dívidas dos estados e municípios.
Como
resultado deste processo, foram repassados para da dívida interna federal R$ 275 bilhões.
Vale
salientar que esta mesma Lei de Responsabilidade Fiscal, a qual prevê punição
aos governadores e prefeitos que gastarem mais do que suas receitas, está sendo
alvo de uma grande campanha de prefeitos e governadores para que seja
“flexibilizada”. Ou seja, estão querendo acabar com um dos grandes avanços da
administração FHC implantada a duras penas e com alto custo aos cofres
públicos. Vale lembrar também que nesta mesma época o PT foi um dos grandes
entraves do governo, por fazer oposição sistemática a cada ação do governo, até
mesmo nas mais óbvias e necessárias como as reformas estruturais das quais hoje
colhe os frutos no governo.
2)
Passivos contingentes – “O
governo federal realizou diversas operações, na última década, com o
objetivo de assumir dívidas latentes, ou seja, compromissos assumidos no
passado, de diversas formas, pela União, mas que não tinham
sido contabilizados como dívidas efetivas”.
Um desses
casos foi a resolução do grande problema criado pelo Sistema Financeiro de
Habitação (SFH) que na época da inflação alta criou grandes distorções para os
mutuários. Para quem não lembra dessa época, existiam milhões de brasileiros
que financiaram imóveis pela Caixa Econômica Federal e que mesmo depois de
terem pago metade da prestações, o valor total da venda do imóvel não era
suficiente nem mesmo para quitar a dívida.
“Outros
passivos contingentes derivaram da assunção, pelo governo federal,
de débitos e obrigações de entidades extintas ou privatizadas, como o
Lloyd Brasileiro, a Rede Ferroviária Federal, a SUNAMAM, o Instituto do
Açúcar e do Álcool, etc. (STN, 2002-b). O valor da Dívida Mobiliária
Federal referente a assunção desses “esqueletos” montava, em abril de
2002, a R$ 143,4
bilhões”.
3)
Fortalecimento de bancos federais – Hoje os bancos estatais como o Banco do
Brasil e Caixa Econômica Federal são exemplos de boas gestões, lucrativos e
financiadores do desenvolvimento nacional, emprestando dinheiro até mesmo a
Petrobrás. O que pouca gente sabe (ou esqueceu), no entanto, é que para chegar
ao que são hoje, tais bancos tiveram que ser saneados no Governo FHC através do
Programa de Fortalecimento das Instituições Financeiras Federais (PROEF) além
de serem forçados a adequarem-se aos padrões de capitalização e de provisão de
riscos de crédito estabelecidos pelas normas internacionais.
“Como
resultado do PROEF, a Caixa Econômica, o BASA e o BNB tiveram seu capital
aumentado (o do Banco do Brasil já o fora, pela Medida Provisória nº
2.072-66, de março de 2001), e procedeu-se também a uma troca de ativos de
pouca liquidez por outros líquidos, e remunerados a taxas de mercado. Houve
também uma transferência do risco de créditos para o Tesouro Nacional, no caso
de operações ligadas a programas de governo, e a uma empresa especialmente
criada (Empresa Gestora de Ativos). A parcela da Dívida Mobiliária Federal
correspondente às operações do PROEF atingia, em abril de 2002, o valor de R$ 69,5 bilhões.”
Conclusão:
A soma
entre os totais gastos para resolver os problemas herdados pelo Governo FHC
totalizam R$ 572,6 bilhões, o que corresponde a 85% da dívida de R$ 623 bilhões,
deixada por FHC, segundo o Tesouro Nacional, e 67,5% em relação à dívida de R$
848 bilhões, segundo a versão do Banco Central que inclui os títulos em poder
do BC e as dívidas das estatais.
Somam-se a
este montante os bilhões de dólares gastos para segurar o câmbio nas sucessivas
crises da década, além de juros e algumas emissões de títulos para suprir os déficits
orçamentários, decorrentes das diversas fases do processo de estabilização.
Nenhum comentário:
Postar um comentário