04 janeiro 2024

O POVO DE DEUS NA BÍBLIA E NA HISTÓRIA

(Comentário do 1° tópico da LIÇÃO 1 - A ORIGEM DA IGREJA) 

Ev. WELIANO PIRES


Discorreremos neste primeiro tópico, sobre o significado do povo de Deus no Antigo Testamento, que era uma referência ao povo de Israel, no sentido étnico. Depois falaremos do povo de Deus no Novo Testamento, que era a Igreja Cristã ou o ajuntamento dos salvos. Por último, veremos as diferenças entre o pensamento católico e protestante em relação ao conceito de Igreja. 


1- No Antigo Testamento. No Antigo Testamento não existia a Igreja, pois ela só foi inaugurada no Pentecostes. Mas havia o povo de Deus, que era a nação de Israel. Desde a queda do gênero humano, Deus prometeu que iria enviar um descendente da mulher para ferir a cabeça da serpente, que é o diabo (Gn 3.15). Este plano salvífico de Deus incluía a formação de um povo exclusivamente de Deus, para através deste povo, o Salvador vir ao mundo. 


Deus, então, chamou um homem de Ur dos Caldeus, na Mesopotâmia, cujo nome era Abrão. A ordem de Deus era para que este homem deixasse a sua terra e a sua parentela e fosse a um lugar que Deus lhe mostraria e Deus faria dele uma grande nação. Deus mudou o nome de Abrão, que significa “pai exaltado”, para Abraão, que significa “pai de uma multidão”. Mudou também o nome da sua esposa de “Sarai” que significa “princesa”, para “Sara” que significa “minha princesa”. 


Quando recebeu a promessa, Abraão tinha 75 anos e não tinha filhos. Mas Deus cumpriu a promessa, na velhice de Abraão e Sara, estando eles respectivamente com 100 e 90 anos. Abraão passou a sua vida como peregrino, aguardando o cumprimento da promessa de Deus de ser pai de uma grande nação. Através do seu filho Isaque e do seu neto Jacó, vieram os doze patriarcas que formaram a nação de Israel, o povo de Deus no Antigo Testamento. Portanto, o povo de Deus, na Antiga Aliança era um povo étnico, formado pelos descendentes de Jacó. 


O Antigo Testamento usa o termo hebraico Qahal, que significa um ajuntamento do povo de Deus. A Septuaginta (LXX), versão grega do Antigo Testamento traduziu esta palavra por ekklēsia (Igreja) e synagōgē (Sinagoga), que significam uma assembleia do povo de Deus. É o termo grego traduzido por Igreja no Novo Testamento. Entretanto, a palavra se referia apenas ao povo de Israel étnico. 


2- No Novo Testamento. O povo de Deus, no Novo Testamento, não se refere a um povo no sentido étnico. É o conjunto de todos aqueles que foram salvos por Cristo, de qualquer povo, tribo ou nação, inclusive do povo de Israel. O Novo Testamento usa a palavra grega Ekklesia, que deriva de dois termos gregos: “Ek”, que significa “fora” e “Kaleo”, que significa “chamar ou convocar”. Portanto, a palavra Igreja significa, etimologicamente, “um grupo de pessoas chamadas para fora”. 


É importante destacar que a palavra grega Ekklesia, era usada no sentido político para se referir a um chamado de cidadãos notáveis para fora das suas casas, para se reunirem em uma assembléia pública e deliberar sobre algum assunto. Não era este, evidentemente, o sentido de Ekklesia, no Novo Testamento. 


A palavra Ekklesia, traduzida por Igreja, tem mais de um significado. Jesus usou esta palavra para se referir a todos os que foram comprados pelo seu sangue (Mt 16.18). Mas, Ele usou a palavra Igreja também para se referir a uma comunidade local, quando disse que se o irmão pecar contra o outro, o ofendido deve falar com ele. Se ele não o ouvir, deve falar com “a Igreja” e se ele não ouvir a Igreja, deve ser considerado gentio e publicano, ou seja, não deve ser considerado como parte do povo de Deus (Mt 18.17). Neste sentido, Igreja é uma comunidade visível em um determinado lugar. 


Da mesma forma, o apóstolo Paulo em suas Epístolas, usa a palavra Igreja com dois sentidos: igrejas visíveis, que se reúnem em um determinado lugar (Roma, Corinto, Galácia, Éfeso, Filipos, Colossos, Tessalônica, etc), ou no sentido universal, para se referir ao conjunto de todos os salvos por Cristo, como veremos no último tópico desta lição. Falaremos mais detalhadamente sobre isso na lição 06, quando tratarmos da Igreja como organismo e organização. 


3- Na história cristã. Há diferenças irreconciliáveis entre o pensamento dos católicos e protestantes em relação à Igreja. A Igreja Católica Apostólica Romana entende que a Igreja é uma instituição fundada por Jesus, sobre uma rocha que seria o apóstolo Pedro, que segundo eles, teria sido o primeiro Papa. Sendo assim, apregoam a ideia da sucessão apostólica e, portanto, dizem que somente aqueles que estiverem sob a liderança do suposto sucessor de Pedro, que seria o Papa, fazem parte da Igreja de Cristo. 


Há sérios problemas em relação a esta interpretação e, por isso, os evangélicos a rejeitam. O primeiro problema é que a pedra citada por Jesus em Mateus 16.18, não é Pedro. O próprio Pedro disse posteriormente que esta pedra é o próprio Jesus (At 4.11; 1 Pe 2.6-8). O segundo problema é que Pedro nunca teve esta suposta liderança global da Igreja e nunca foi bispo de Roma. Pedro foi líder da Igreja de Jerusalém no início e depois esta liderança passou para Tiago, o irmão de Jesus, conforme podemos ver em Atos 15, quando ele presidiu o primeiro concílio da Igreja. Outro problema para Pedro ser Papa é que ele era casado, pois tinha sogra, e os papas não podem se casar. 


Os reformadores resgataram o sentido bíblico da Igreja, que não é uma denominação humana, mas o conjunto de pessoas salvas por Cristo. Mesmo entre os protestantes há certas divergências em relação ao significado de Igreja. As Igrejas Batistas, por exemplo, definem a Igreja como “uma congregação local de pessoas regeneradas e batizadas após profissão de fé”. A Assembléia de Deus americana, por sua vez, traz em sua declaração de fé, a seguinte definição para Igreja: “A Igreja é o corpo de Cristo, a habitação de Deus através do Espírito Santo, com divinas nomeações para cumprimento de sua Grande Comissão, onde cada crente, nascido do Espírito, é parte integrante da Assembleia Universal e da Igreja dos primogênitos, que estão inscritos no Céu”


REFERÊNCIAS:


GONÇALVES, José: O Corpo de Cristo: Origem, Natureza e a Vocação da Igreja no Mundo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2023.

ENSINADOR CRISTÃO, CPAD, Nº 96, pág. 29, 1º Trimestre de 2024.

HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 1ª.ed.Rio de Janeiro: CPAD, 2023, p.536).

02 janeiro 2024

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 1 - A ORIGEM DA IGREJA

Lição 01: A Origem da Igreja (SUBSÍDIOS) - Subsídio CPAD

Ev. WELIANO PIRES

Graças a Deus, estamos iniciando mais um trimestre de estudos em nossa Escola Bíblica Dominical. Depois de estudarmos um trimestre inteiro sobre a doutrina de missões (Missiologia), neste novo trimestre estudaremos sobre outra importante matéria da teologia sistemática chamada Eclesiologia, que é a doutrina da Igreja. 

Estudaremos neste trimestre vários temas relacionados à Igreja, como a sua origem, as imagens que representam a Igreja na Bíblia, a natureza, missão, ministério, disciplina e o culto na Igreja. Veremos também as duas dimensões da Igreja: Organismo e Organização. Falaremos também das duas ordenanças da Igreja, que são o batismo em águas e a ceia do Senhor. Como visto, é uma matéria muito extensa e, certamente, não é possível estudar todos os assuntos relacionados à Eclesiologia em um único trimestre.

O comentarista deste trimestre é o pastor José Gonçalves Costa Gomes, pastor da Assembléia de Deus em Água Branca (PI); mestre em Teologia e graduado em Filosofia; escritor dos seguintes livros: Por que Caem os Valentes?, o Carisma Profético e o Pentecostalismo Atual, a Supremacia de Cristo, defendendo o Verdadeiro Evangelho, a Prosperidade à Luz da Bíblia, sábios conselhos para um viver vitorioso, os Ataques Contra a igreja de Cristo, a Glossolalia e a Formação das Assembleias de Deus, entre outros, publicados pela CPAD; é também comentarista de Lições Bíblicas desde 2009; e membro da Comissão de Apologética da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil.

Nesta primeira lição, como uma introdução ao tema que será estudado durante o trimestre, trataremos do tema da origem da Igreja. A Igreja não é um simples ajuntamento de pessoas que têm as mesmas crenças e costumes. A Igreja é uma instituição divina, pois foi instituída pelo próprio Jesus (Mt 16.18).

No primeiro tópico, falaremos sobre o povo de Deus na Bíblia e na história. Discorreremos sobre o significado do povo de Deus no Antigo Testamento, que era uma referência ao povo de Israel; no Novo Testamento, que era a Igreja Cristã ou ou o ajuntamento dos salvos; e ao longo da história da Igreja, estabelecendo as diferenças entre o pensamento católico e protestante neste aspecto.

No segundo tópico falaremos da Igreja como uma criação divina. A Igreja é um ideal de Deus e sempre esteve nos planos do Eterno. Mas ela não ficou apenas no plano teórico. Deus colocou o seu plano em prática e estabeleceu a sua Igreja, na plenitude dos tempos.

No terceiro tópico, falaremos da Igreja como a comunidade dos salvos. A Igreja é formada por uma comunidade de pessoas que foram regeneradas pelo sangue de Jesus. Estas pessoas receberam de Deus, que é o selo do Espírito Santo. Não se refere ao batismo no Espírito Santo e sim, à entrada do Espírito Santo no crente após a sua conversão. Há diferença entre o batismo de Cristo e o batismo do Espírito Santo. Cristo batiza os salvos no Espírito Santo, ou seja, é um batismo de capacitação. O Espírito Santo, por sua vez, nos batizou no corpo de Cristo, tornando-nos parte da sua Igreja.

REFERÊNCIAS: 
 
GONÇALVES, José: O Corpo de Cristo: Origem, Natureza e a Vocação da Igreja no Mundo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2023.
ENSINADOR CRISTÃO, CPAD, Nº 96, pág. 29, 1º Trimestre de 2024.
HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 1ª.ed.Rio de Janeiro: CPAD, 2023, p.536).

AS TRÊS ARMAS ESPIRITUAIS DO CRISTÃO

(Comentário do 2º tópico da Lição 06: As nossas armas espirituais)  Ev. WELIANO PIRES No segundo tópico, descreveremos as três princip...