29 outubro 2025

ATRIBUTOS DA ALMA

(Comentário do 1º tópico da Lição 5: A alma — a natureza imaterial do ser humano).

Ev. Weliano Pires

No primeiro tópico, falaremos sobre os atributos da alma. Inicialmente, nos remeteremos ao texto de Gênesis, no período da criação. Deus criou o ser humano e deu-lhe a parte imaterial (alma e espírito), que o diferencia de todos os animais. Na sequência, veremos que a alma humana funciona entre o espírito, que se conecta com Deus, e o corpo, que se conecta com o mundo dos homens. Por último, falaremos das poesias dos Salmos, nas quais o salmista conversava com a própria alma, perguntando por que estava abatida e perturbada, em virtude de aflições espirituais e crises em sua comunhão com Deus.

1. De volta ao Gênesis

No texto de Gênesis 2.7, lemos o seguinte:

“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.”

A expressão “alma vivente” presente neste texto, em hebraico, é nephesh chayyah, e pode ser entendida como “pessoa vivente”. A mesma expressão aparece em Gênesis 1.20, referindo-se aos animais:

“E disse Deus: Produzam as águas abundantemente répteis de alma vivente [heb. nephesh chayyah]; e voem as aves sobre a face da expansão dos céus.”

Com base no uso da mesma expressão para seres humanos e animais, alguns grupos heterodoxos ensinam que ambos são iguais, sendo a única diferença o fato de o ser humano ser racional. Segundo afirmam, a alma morre junto com o corpo e deixa de existir, e somente os justos ressuscitariam. Entretanto, não é isso que a Bíblia ensina. O ser humano é diferente do restante da criação, pois reflete a imagem do seu Criador.

Os demais seres vivos também foram criados por Deus, mas nenhum deles foi criado à imagem e semelhança de Deus. O Senhor ordenou que a terra e os mares produzissem seres vivos conforme as suas respectivas espécies (Gn 1.20–24). A partir dessa ordem divina, tudo no universo passou a existir. Entretanto, na criação do ser humano, houve uma deliberação divina: Deus o criou conforme a Sua imagem e semelhança.

A palavra imagem, em hebraico, é tselem, e significa imagem mental, moral e espiritual de Deus. Já o termo traduzido por semelhança é demuth, que significa semelhança ou similaridade. Não se refere, evidentemente, à imagem de Deus em sentido físico, pois Deus é Espírito e não possui corpo físico. O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus porque o Criador compartilhou com ele alguns dos Seus atributos comunicáveis, que são as Suas características morais.

Na criação do homem, fica evidente a sua parte imaterial, que o diferencia de todos os animais. Deus concedeu ao ser humano capacidades específicas para discernir entre o certo e o errado, tomar decisões, lavrar o Jardim do Éden, dar nomes aos animais, administrar as coisas criadas por Deus e demonstrar afetividade para com sua companheira. Os animais não possuem essas características. Eles têm instintos — um conjunto de comportamentos inatos, voltados à sobrevivência da espécie.

2. Entre o espírito e o corpo

A alma humana é imaterial e faz do ser humano uma pessoa. As faculdades ou atributos da alma são: emoção (ou sentimento), razão (ou intelecto) e volição (ou vontade). É por meio da alma que amamos e odiamos, sentimos tristeza e alegria, remorso, empatia e antipatia, entre outros sentimentos. Da mesma forma, é através dela que pensamos, planejamos e calculamos nossos atos.

A alma também tem vontade — o poder de fazer ou deixar de fazer as coisas. Deus nos concedeu o livre-arbítrio para tomarmos decisões boas ou más. Entretanto, seremos responsabilizados por essas escolhas.

Conforme dito pelo comentarista, a alma está entre o espírito — que se conecta com Deus — e o corpo — que se conecta com o mundo material por meio dos cinco sentidos. Isso significa que, se o nosso espírito estiver ligado ao Espírito Santo, a nossa alma se alegrará nEle e refletirá o Seu fruto: amor, alegria, longanimidade, benignidade, bondade, paz, fidelidade, mansidão e domínio próprio.

Quando essas virtudes do Espírito estão presentes em nossa alma, o nosso corpo também se torna puro e não se entrega às obras da carne.

3. A alma abatida

Neste subtópico, o comentarista mencionou que os afetos da alma em relação a Deus se manifestam nas poesias dos salmistas — nos Salmos 42, 43, 51 e 84. Neles, os salmistas expressam seu profundo anseio pela presença de Deus.

Digo os salmistas porque, diferente do que muitos imaginam, nem todos os Salmos foram escritos por Davi, embora a maioria seja de sua autoria. Um total de 73 salmos é atribuído a Davi pela tradição judaica.

O Salmo 42 foi escrito por uma família de levitas responsáveis pela música no templo, chamados de filhos de Coré (ou Corá, em versões mais recentes). Nesse salmo, o autor usa a figura de um cervo que brama por água no deserto, buscando desesperadamente uma fonte para sobreviver, a fim de ilustrar o anseio que sentia em sua alma pela presença de Deus. Não sabemos em que circunstância ele escreveu essas palavras, mas o contexto indica que estava longe do templo e sentia falta da adoração, assim como o cervo sentia falta da água.

O Salmo 43 é de autoria desconhecida, mas é possível que também seja dos filhos de Coré, pois repete o mesmo refrão do Salmo 42, onde o salmista questiona a própria alma a respeito do seu abatimento:

“Por que estás abatida, ó minha alma? E por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha face e Deus meu.” (Sl 43.5)

Este salmo é uma oração em que o salmista clama a Deus para que pleiteie sua causa e faça justiça contra uma nação ímpia.

O conhecidíssimo Salmo 51 é uma oração de Davi, confessando o seu pecado e implorando pelo perdão e restauração de Deus. No versículo 10, Davi usa, de forma intercalada, as palavras coração (heb. leb) e espírito (heb. ruach), para se referir ao ser interior (alma e espírito), que necessitava de perdão e renovação.

A alma de Davi também sentia falta da presença de Deus, a ponto de dizer:

“Não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da tua salvação e sustém-me com um espírito voluntário.” (Sl 51.11–12)

O Salmo 84, também escrito pelos filhos de Coré, retrata a situação de alguém que não estava mais em Jerusalém e sentia saudades do templo e da adoração a Deus. No versículo 2, o salmista diz:

“A minha alma está desejosa e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo.”

Novamente, vemos aqui a alma anelando pela presença de Deus.

28 outubro 2025

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 5: A ALMA — A NATUREZA IMATERIAL DO SER HUMANO

TEXTO ÁUREO:
“E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.” (Mt 10.28).

VERDADE PRÁTICA:
Cuidar da alma é uma atitude fundamental para uma vida cristã estável e uma eternidade de alegria e paz.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: Gênesis 1.27,28; 2.15-17; Mateus 10.28.

Objetivos da Lição: 

I) Fazer os alunos compreenderem que a alma é a sede das emoções, da razão e da vontade; 
II) Demonstrar aos alunos, com base bíblica, que a alma é uma parte imaterial e imortal do ser humano, capacitando-os a refutar visões materialistas; 
III) Conscientizar os alunos da necessidade de cultivar uma alma saudável por meio da oração, da meditação na Palavra de Deus e de hábitos santos.

Palavra-Chave: ALMA

A palavra traduzida por alma em nossa Bíblia, no hebraico é nephesh. É uma palavra polissêmica, pois tem vários significados, que variam de acordo com o contexto. Pode significar um ser, a vida, uma criatura, uma pessoa, apetite, mente, ser vivo, desejo, emoção, paixão. No grego é psychē, de onde vêm as palavras portuguesas psicologia, psiquiatria, psicotécnico, etc. Em alguns textos, como em Gênesis 1.20, a palavra alma significa a própria vida. Nesse sentido, se aplica também à vida dos animais (Gn 1.24). Em outros textos, como em 1 Pedro 3.20, a alma significa a própria pessoa humana (oito almas que se salvaram no dilúvio). Em Mateus 10.28, porém, a alma significa a parte imaterial junto com o espírito, que pode perecer eternamente no inferno. A alma é parte imaterial do ser humano que forma a nossa personalidade e tem como faculdades os sentimentos, a vontade e o intelecto. É a alma que dá vida ao corpo. Na morte física, a alma sai do corpo junto com o espírito (Gn 35.16-19).

INTRODUÇÃO 

Depois de estudar três lições sobre o corpo humano, iniciaremos a partir desta lição, o segundo bloco deste trimestre e estudaremos cinco lições relacionadas à alma humana e às suas faculdades. Na primeira lição deste trimestre, vimos que o ser humano é formado por três partes: o corpo, que é a parte física e tangível; a alma, que é a parte emocional; e o espírito, que é a parte espiritual, capaz de se conectar a Deus. A alma e o espírito formam a parte imaterial e são distintos, porém inseparáveis e imortais. 

Nesta primeira lição sobre a alma humana, falaremos da sua natureza imaterial, dos seus atributos e da sua importância no relacionamento com Deus. O materialismo, que é ateísta, nega a existência da alma, pois na sua concepção o ser humano é apenas uma espécie de animal como os demais, que deixa de existir após a morte. Entre aqueles que crêem na Bíblia, em virtude da palavra alma ser polissêmica, surgem interpretações equivocadas de textos bíblicos, que geram doutrinas heterodoxas sobre a alma. 

Alguns grupos heterodoxos ensinam que o homem não possui uma alma, como a sede dos sentimentos, vontade e intelecto, mas é uma alma. Outros até acreditam que o ser humano tem uma alma, mas que não é imortal ou fica inconsciente após a morte. Claro que em alguns textos bíblicos, a palavra alma, realmente é usada para se referir à própria pessoa, como no texto de 1 Pedro 3.20. Mas em outros textos, a alma tem outros significados, como em Mateus 10.28, que se refere à alma como a parte imaterial, que junto com o espírito, pode perecer eternamente no lago de fogo. 

TÓPICOS DA LIÇÃO 

I. ATRIBUTOS DA ALMA

No primeiro tópico, falaremos dos atributos da alma. Inicialmente, nos remeteremos ao texto Gênesis, no período da criação. Deus criou o ser humano e deu-lhe a parte imaterial (alma e espírito) que o diferencia de todos os animais. Na sequência, veremos que a alma humana funciona entre o espírito, que se conecta com Deus, e o corpo, que se conecta com o mundo dos homens. Por último, falaremos das poesias do salmos, nas quais o salmista conversava com a própria alma, perguntando por que estava abatida e perturbada, em virtude de aflições espirituais e crises em sua comunhão com Deus. 

II. A NATUREZA DA ALMA: IMATERIALIDADE E IMORTALIDADE

No segundo tópico, falaremos da natureza da alma destacando a sua imaterialidade e imortalidade. Inicialmente, com base no texto de Mateus 10.28, falaremos da distinção entre as substâncias material e imaterial do ser humano. Na sequência, falaremos da imaterialidade da alma e da responsabilidade pessoal de cada indivíduo, em contraponto às concepções antropológicas, da antiguidade e atuais, que negam e a responsabilidade moral do ser humano. Por último, falaremos das correntes teológicas influenciadas pelo marxismo, como a Teologia da Libertação e a Teologia da Missão integral, que resumem o Evangelho a questões socioeconômicas, e ignoram a necessidade de arrependimento.

III. ALMA RENOVADA E SUBMISSA A DEUS

No terceiro tópico, falaremos da alma renovada e submissa a Deus. Iniciaremos falando da edificação e saúde da nossa alma, enfatizando os cuidados que devemos ter para termos uma vida cristã estável. Na sequência, falaremos de purificação e renovação da nossa alma, para que possamos ser transformados e, então, experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12.1). 

Bons estudos!

Ev.. WELIANO PIRES 

26 outubro 2025

HONRA E GLÓRIA AO SENHOR



(Artigo publicado no Jornal Mensageiro da Paz / Outubro 2025 p. 37)

“É necessário que Ele cresça e que eu diminua.” (João 3.30)

por WELIANO PIRES 

Na sociedade em que vivemos, as pessoas fazem de tudo para terem milhões de seguidores, visualizações, likes e compartilhamentos dos seus conteúdos. Até em acidentes e tragédias, antes de pensar em socorrer as vítimas, tem gente filmando e fazendo transmissões ao vivo. Quando fazem alguma obra social, ou algum ato filantrópico, fazem questão de publicar nas redes sociais para que todos vejam. 

Esse tipo de atitude, em um mundo sem Deus, é normal, pois o mundo jaz no maligno e é influenciado por ele. O grande problema é que este tipo de comportamento adentrou no meio evangélico. De uns anos para cá, muitos cultos têm se tornado palco para artistas aparecerem, desfiles de modas, sessão de fotos e disputas para ver quem é o melhor cantor, pregador, ensinador, etc. 

Nos dias em Jesus viveu neste mundo como homem, isso também acontecia, embora em escala menor. Certa vez, os seus discípulos discutiam entre si, para saber quem seria o maior no Reino dos Céus. Em outra ocasião, os filhos de Zebedeu pediram a Jesus para que eles se assentassem um à direita e o outro à esquerda de Jesus no Céu (Mc 10.35-37). Quanta petulância! 

João Batista também enfrentou esse problema, pois havia uma certa competição, não por parte dele, mas dos seus discípulos e de outras pessoas, para ver quem batizava mais, se era ele ou Jesus. Foi neste contexto, que disseram a João que Jesus e os seus discípulos estavam do outro lado do Jordão batizando e muita gente ia ter com ele. 

A resposta de João Batista nos dá uma lição de humildade e nos ensina qual deve ser a postura do verdadeiro discípulo de Jesus: “É necessário que ele cresça e que eu diminua”. A missão de João era preparar o caminho para o Cristo e, para isso, ele precisava sair de cena.

João Batista era um levita, pertencente à família sacerdotal (Lc 1.15). Os levitas eram os descendentes de Levi. Os sacerdotes também eram levitas, mas somente a família de Aarão foi chamada para ser a família sacerdotal. João era filho de Zacarias, que era sacerdote na época do nascimento de Jesus, e de Isabel, que era prima de Maria, mãe de Jesus. Abrindo um parêntese aqui: nem todos os levitas eram cantores. Os cantores de outras tribos de Israel e de outras nações não são levitas. 

O seu nascimento foi um milagre (Lc 1.7-25), pois o seu pai, Zacarias, era avançado em idade e Isabel, sua esposa, era estéril. Na velhice deles, o anjo Gabriel apareceu a Zacarias e anunciou-lhe o nascimento do seu filho, dizendo que ele seria “grande diante do Senhor, não beberia vinho, nem bebida forte, e seria cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe.” (Lc 1.15). Zacarias não creu e, por isso, ficou mudo até o dia do nascimento do menino. 

João Batista era um pregador politicamente incorreto e não realizou nenhum milagre (Mt 3.1-7). Usava roupas feitas de pêlos de camelo, amarradas com um cinto de couro. Seguia uma dieta esquisita, alimentando-se de mel e de gafanhotos. A sua mensagem era de arrependimento e não media as palavras contra pessoas fingidas, que recusavam-se a abandonar o pecado. Em seus sermões, chamava-as de “raça de  víboras” 

Em seu ministério, João nunca realizou nenhum sinal miraculoso. Seria um pregador reprovado em nossos dias. Mas Jesus disse que “entre os nascidos de mulher não se levantou ninguém maior do que João…” (Mt 11.11). Isto nos ensina que no ministério, o importante não é o que as pessoas pensam sobre nós, mas se estamos agradando ao Senhor da Seara. 

João Batista era zeloso pela verdade, corajoso e ousado. Herodes Antipas casou-se com Herodias, ex-mulher do seu irmão, Filipe. João falou várias vezes para Herodes que este relacionamento não era correto. Herodes passou a odiá-lo e mandou prendê-lo. Depois disso, embriagado, Herodes fez um juramento impensado à filha de Herodias, de que daria qualquer coisa que ela pedisse. A menina perguntou à sua mãe o que deveria pedir e esta a aconselhou que pedisse a cabeça de João Batista num prato. Herodes cumpriu o juramento e mandou decapitar João na prisão ((Mt 14.1-3). 

Quando João disse “é necessário que Ele cresça”, não está se referindo a se tornar maior do que já é, pois Deus é imutável. Ele nunca foi menor do que é hoje e nunca será maior. Ele se referia a tornar-se conhecido. Como servos de Deus, temos a obrigação de anunciar Jesus ao mundo e torná-lo conhecido, pois somente assim, as pessoas poderão ser salvas dos seus pecados. 

Na sequência, João Batista disse: “...É necessário que eu diminua”. Escrevendo aos Filipenses, o apóstolo Paulo disse: “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo.” (Fp 2.3). Devemos seguir o exemplo de Jesus, que sendo Deus, humilhou-se e fez-se servo. 

Não fomos chamados para falar de nós mesmos ou da nossa denominação. O mundo não precisa saber quem eu sou, precisa saber quem é Jesus. João Batista, mesmo sendo um profeta reconhecido, não buscava a glória pessoal, mas apontava sempre para Jesus.

Por mais que sejamos usados por Deus e tenhamos dons espirituais e ministeriais, não temos do que nos gloriar, pois tudo é de Deus. Ele dá a quem quer, para aquilo que for útil e para atender aos propósitos dele. Os dons não são para elitizar o crente ou para render-lhe elogios. A glória é sempre de Deus e Ele não a dá a ninguém (Is 42.8). 

Tiago afirmou em sua Epístola: “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.” O orgulho procede do Diabo, pois ele foi o primeiro ser criado a se orgulhar, igualando-se ao Altíssimo (Is 14.12-15). Por causa disso, foi expulso do Céu com uma terça parte dos anjos. 

A soberba precede a ruína (Pv 16.18) e todos os que se ensorberbecem, serão humilhados. Nabucodonosor se orgulhou e Deus o fez comer ervas como os bois (Dn 4.28-33). Herodes quis a glória de Deus e morreu comido de bichos (At 12.21-23). 

Todos nós, antes de conhecermos a Cristo, éramos escravos do pecado (Jo 8.34). Ele nos libertou, mas não para sermos senhores das nossas vidas. Fomos livres da escravidão do pecado, mas nos tornamos servos da vontade de Deus. Em qualquer escravidão, o servo não tem liberdade para fazer o que quer. Só pode fazer aquilo que o seu senhor ordenar. Sendo Deus, o Senhor absoluto do Céu e da Terra, e nós, os seus servos, temos que fazer aquilo que Ele quer e não aquilo que queremos. 

No Reino de Deus seremos aprovados não pelo que fazemos, mas pela fidelidade a Deus. Muitos crentes pensam que seremos aprovados por Deus, pela quantidade de trabalho que realizamos na Igreja. Mas estão equivocados. O importante é sermos fiéis ao nosso chamado, fazendo exatamente aquilo que Deus nos mandou fazer. Um soldado é obrigado a cumprir as ordens do seu comandante, sob pena de ser preso. O lema do soldado é: Missão dada, missão cumprida. 

Tudo o que fazemos deve glorificar a Deus e não a nós mesmos. No Reino de Deus, em tudo o que fazemos, os méritos são de Deus. Portanto, a Ele devem ser dirigidos todos os elogios e exaltações. 

O saudoso pastor Valdir Nunes Bícego, era um pregador eloquente, usado por Deus nos dons espirituais, exímio Ensinador da Palavra de Deus, escritor, comentarista de Lições Bíblicas e pastor da Assembleia de Deus, Ministério do Belém, no bairro na Lapa, na capital paulista. Era muito conceituado no ministério que fazia parte e em todo o Brasil. Mas, quando alguém o elogiava, ele ficava sem graça e dizia: “Foi o Senhor quem fez isso”.

A frase de João Batista continua ecoando: “É necessário que Ele cresça e que eu diminua”. Infelizmente, muitos têm invertido a frase e buscam a exaltação que é devida a Deus. Enaltecem mais a si mesmos e ao seu currículo, que a Deus. Ficam chateados se as pessoas não o exaltarem publicamente, ou se esquecerem de algum dos seus títulos. 

Igreja do Senhor, precisamos urgentemente aprender com Cristo e nos revestir da humildade e simplicidade, reconhecendo a majestade de Deus e a nossa insignificância diante dele. Tudo o que somos e temos, na verdade, pertence a Ele. Desçamos do pódio, pois os méritos por tudo o que fazemos são de Deus. A Ele, pois, a glória para todo o sempre. Amém! 

Weliano Pires serve ao Senhor como evangelista e professor da Escola Bíblica Dominical na Assembléia de Deus, Ministério do Belém, em São Carlos, SP. 

A ALMA — A NATUREZA IMATERIAL DO SER HUMANO


(SUBSÍDIOS DA REVISTA ENSINADOR CRISTÃO / CPAD)

Nesta lição, estudaremos sobre a alma, parte imaterial que constitui o ser humano. A alma é o centro da razão, da emoção e da vontade. Tudo o que somos, pensamos e fazemos é decorrente da nossa alma. Isso inclui a formação do nosso caráter. Além de compreendermos os atributos da alma, precisamos nos ater aos cuidados que devemos ter com a saúde dela. A Palavra de Deus nos adverte: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as saídas da vida” (Pv 4.23). Nesta passagem, como em outras do Antigo Testamento, a expressão “coração” vem do hebraico leb e significa o ser interior, a mente, o lugar dos desejos, das emoções e paixões humanas. O conselho de Provérbios para o servo de Deus é ter cautela e não permitir que os enganos da natureza humana superem o compromisso com a Palavra de Deus. Nesse sentido, todo aquele que deseja fazer a vontade de Deus, deve submeter sua alma (coração) à disciplina pautada pelas Escrituras Sagradas, e não por sua vontade própria. Jesus ensinou: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lc 9.23). Logo, a alma humana, enquanto local de vontades e desejos, tenderá a buscar as coisas que mais lhe agradam e trazem conforto. Isso, muitas vezes, entra em oposição com a vontade de Deus, que é boa, agradável e perfeita (cf. Rm 12.2).

Ainda de acordo com o Dicionário Vine (CPAD): “O ‘coração’ é o lugar da consciência e do caráter moral. Como é que a pessoa responde à revelação de Deus e do mundo que o cerca? Jó responde: ‘Não me remorderá o meu coração em toda a minha vida’ (Jó 27.6). No lado oposto, ‘o coração doeu a Davi’ (2Sm 24.10). O ‘coração’ é a fonte das ações humanas: ‘Em sinceridade do coração e em pureza das minhas mãos, tenho feito isto’ (Gn 20.5,6). Davi andou ‘em verdade, e em justiça, e em retidão de coração’ (1Rs 3.6) e Ezequias andou ‘com coração perfeito’ (Is 38.3) diante de Deus. ‘Só aquele que é limpo de mãos e puro de coração’ (Sl 24.4) pode ficar na presença de Deus. [...] O ‘coração’ representa o ser interior do homem, o próprio homem. Neste sentido, é a fonte de tudo o que ele faz (Pv 4.4). Todos os seus pensamentos, desejos, palavras e ações fluem do fundo do seu ser. Contudo, o homem não pode entender o próprio ‘coração’ (Jr 17.9). À medida que o homem prossegue em seu próprio caminho, seu ‘coração’ fica cada vez mais duro. Mas Deus circuncidará (cortará a impureza de) o ‘coração’ do seu povo, de forma que ele venha a amá-lo e obedecê-lo de todo o seu ser (Dt 30.6)” (2015, pp.83,84). Isto posto, que nosso coração seja nutrido com as virtudes do Espírito Santo, de modo que tenhamos razão, sentimento e vontade guiados por Deus.

25 outubro 2025

CUIDANDO DO TEMPLO DO ESPÍRITO

(Comentário do 3⁰ tópico da Lição 4: O corpo como templo do Espírito Santo).

Ev. WELIANO PIRES 

No terceiro tópico, falaremos sobre o cuidado que devemos ter com o templo do Espírito Santo. Inicialmente, falaremos da orientação do apóstolo Paulo para fugirmos da prostituição (Gr. porneia, termo genérico que se refere a todo tipo de imoralidade sexual). Na sequência, falaremos das disciplinas espirituais como o jejum, a oração e o estudo da Palavra de Deus, que são indispensáveis para o agir do Espírito Santo em nós. Por último falaremos das disciplinas corporais que são cuidados que devemos ter para com a saúde e preservação do nosso corpo. 

1. “Fugi da prostituição”. No contexto de 1 Coríntios 6, antes de falar que o corpo é o templo do Espírito Santo, Paulo falou que os nossos corpos são membros de Cristo e que não devemos fazê-los membros de uma prostituta. Segundo este ensino de Paulo, quem se relaciona com uma prostituta, faz-se um corpo com ela. Da mesma forma, quem se une ao Senhor, faz-se um mesmo espírito com Ele. (1Co 6.15-17). Após esta explicação, o apóstolo recomendou aos Coríntios: “Fugi da fornicação. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que fornica peca contra o seu próprio corpo”. 
A palavra grega traduzida por fornicação, ou prostituição em outras versões, é "porneia", que deu origem à palavra portuguesa pornografia. Quando falamos em prostituição atualmente, entende-se que é a prática de vender o próprio corpo para atividade sexual. Mas na Bíblia, o significado de prostituição vai muito além disso. A palavra grega porneia abrange toda sorte de imoralidade sexual: adultério, fornicação, prostituição, relações homossexuais, pornografia, desejos ilícitos, incesto, impureza sexual, etc. É uma palavra genérica para qualquer tipo de imoralidade sexual. 
Nos textos de Mateus 5.32 e 19.9, ‘porneia’ aparece como sinônimo de infidelidade conjugal ou adultério. Em 1 Coríntios 5.1, a mesma palavra aparece para se referir ao incesto, que é o relacionamento entre parentes de primeiro grau. Mas, em alguns textos se refere, exclusivamente, à relação sexual entre solteiros (1 Co 7.2; 1 Ts 4.3). No caso do adultério, é à relação entre uma pessoa casada e outra que não é o seu cônjuge, casada ou não. Jesus incluiu nesse pecado, quem se divorcia e casa com outra pessoa, sem que haja infidelidade da outra parte (Mt 19.6). 
O apóstolo Paulo orientou os crentes de Corinto a fugirem deste pecado (1 Co 6.18). O verbo grego traduzido por fugir neste texto é “pheugo”, que significa fugir de algo e ir para longe. O verbo aqui está no modo imperativo, ou seja, é um apelo que Paulo faz aos crentes de Corinto: Fujam! O crente é orientado a enfrentar o diabo e é ele que tem que fugir. Mas, em relação à prostituição, o crente é recomendado a fugir. O antídoto contra os pecados sexuais é a vigilância constante e a fuga. 
Não tenha medo de ser acusado de “não gostar de mulher” (ou de homem, no caso das mulheres). É melhor fugir, como fez José, do que sucumbir diante do pecado, como fez Sansão. Se você é homem, não fique a sós com uma mulher, em lugares privados, onde as circunstâncias favorecem às práticas sexuais. Se for mulher, evite conversas íntimas com um homem, cheias de elogios indevidos, que podem culminar em um relacionamento pecaminoso. Muitos pecados sexuais começam com pequenas concessões.  

2. Disciplinas espirituais. Não basta fugir do pecado para que o nosso corpo esteja apto a ser o templo do Espírito Santo. Aliás, através dos nossos próprios esforços, não seremos capazes de vencer as concupiscências da carne. Escrevendo aos Gálatas, o apóstolo Paulo disse: “Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais as coisas que quereis”. (Gl 5.16,17).
Aqui, o comentarista chama a nossa atenção para as disciplinas espirituais, que são práticas ou exercícios que nos aproximam de Deus e nos fortalecem espiritualmente. Segundo o saudoso pastor Claudionor de Andrade, “as disciplinas da vida cristã são os exercícios espirituais, prescritos na Bíblia Sagrada, cujo objetivo é proporcionar ao crente uma intimidade singular com o Pai Celeste, constrangendo os que nos cercam a glorificar-lhe o nome” (Hb 12.8).
Assim como o nosso corpo necessita de uma boa alimentação e de exercícios físicos para se manter saudável, assim também é a nossa alma e o nosso espírito. Entretanto, as disciplinas espirituais são praticadas por meio do nosso corpo. O apóstolo Paulo assim escreveu aos Romanos: “Nem tão pouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça.” (Rm 6.13). 
Estas palavras do apóstolo Paulo chamam a nossa atenção para a prática das disciplinas espirituais por meio do nosso corpo. Dentre as disciplinas espirituais podemos destacar a oração, o jejum, o estudo sistemático das Escrituras, a leitura devocional da Bíblia e a adoração a Deus, em particular e nos cultos. Se negligenciarmos estas disciplinas não teremos forças para vencer o pecado e as hostes espirituais da maldade. 

3. Disciplinas corporais. Se por um lado, devemos nos exercitar nas disciplinas espirituais, não podemos descuidar também das disciplinas corporais. Escrevendo ao presbítero Gaio, o apóstolo João disse: “Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas, e que tenhas saúde, assim como bem vai a tua alma” (3 Jo 2). Estas palavras do apóstolo João nos ensinam que deve haver equivalência entre o bem estar físico e o espiritual. 
No terceiro tópico da primeira lição deste trimestre, falamos da interação das três dimensões do ser humano: corpo, alma e espírito. Falando sobre equilíbrio e saúde do corpo, o comentarista nos mostrou que “da mesma forma que o corpo padece por causa de disfunções da alma e do espírito, estes também sofrem por problemas do corpo — naturais ou não”. Isto significa, que não adianta o crente cuidar apenas da parte espiritual e descuidar do corpo, pois as três partes do ser humano estão interligadas, 
Lamentavelmente, muitos crentes, mesmo sem saber, acabam aderindo ao pensamento gnóstico de que o corpo não tem valor e, portanto, deve-se cuidar apenas da parte espiritual. Não é isso que a Bíblia nos ensina. O nosso corpo é criação de Deus e templo do Espírito Santo, portanto, devemos cuidar dele. Com relação aos cuidados que devemos ter com o nosso corpo, precisamos atentar para quatro aspectos: alimentação, atividade física, descanso e cuidados com a saúde. 
a) Alimentação. A nossa alimentação deve ser balanceada, ou seja deve conter todos os nutrientes essenciais para o bom funcionamento do nosso corpo: carboidratos, proteínas, gorduras, vitaminas, minerais e fibras. O ideal é buscar a ajuda de um profissional de nutrição, pois há diferenças e particularidades em nosso corpo, que variam de uma pessoa para outra. O que é bom para mim, pode ser prejudicial a outras pessoas e vice-versa. Além disso, de balanceada, a nossa alimentação deve ser em quantidades adequadas. Comer demais também é pecado contra o corpo (glutonaria). 
b) Atividade física. Atualmente, a maioria das pessoas não trabalham mais em serviços braçais como antigamente e se locomovem de carro. Este sedentarismo tem gerado diversos problemas de saúde como obesidade, hipertensão, problemas de coluna, infarto, etc. O nosso corpo contém vários músculos, nervos e articulações que precisam ser movimentados. Se não fizermos isso, o corpo apresentará problemas no funcionamento. É importante procurar um profissional de educação física, para uma atividade física adequada ao nosso corpo. 
c) Descanso. Nem só de alimentação, trabalho e atividade física vive o nosso corpo. É preciso um período de descanso para recuperar a memória e melhorar a atividade cerebral. Precisamos dormir pelo menos oito horas por dia, tirar folgas semanais e férias anuais (inclusive dos trabalhos da Igreja). Os que são autônomos também devem se programar para ter as suas folgas e férias. Este descanso não é apenas físico, mas emocional e mental. De nada adianta, o corpo deitar, se a pessoa continuar vendo TV, celular ou jogando videogame. 
d) Cuidados com a saúde. Os cuidados com a saúde devem ser permanentes. Não podemos lembrar da saúde apenas quando estivermos passando mal, pois poderá ser muito tarde. O nosso corpo dá sinais de que algo não vai bem, através de dores, febres, manchas na pele, inchaço, etc. Mas há doenças que são silenciosas e só podem ser detectadas através de exames. Por isso, devemos fazer exames periódicos e ir ao médico regularmente, para verificar as condições de saúde. 

REFERÊNCIAS: 

ANDRADE, Claudionor. As Disciplinas da Vida Cristã: Trabalhando em busca da perfeição. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2008.



24 outubro 2025

O CORPO COMO TABERNÁCULO

(Comentário do 2º tópico da Lição 4: O corpo como templo do Espírito Santo)

Ev. WELIANO PIRES

No segundo tópico, falaremos da figura tabernáculo usada por Paulo e Pedro para se referir ao nosso corpo. Veremos que assim como aconteceu com o Tabernáculo no Antigo Testamento, o nosso corpo também é portador da presença de Deus. Na sequência, veremos que a analogia do tabernáculo indica o aspecto tricotômico do ser humano. Por último, veremos que assim como o Tabernáculo era guiado pela nuvem no deserto, nós também devemos ser guiados pela presença de Deus. 

1. Portador da Presença. Paulo e Pedro usaram a figura do Tabernáculo em suas Epístolas, para se referirem ao corpo humano. Escrevendo aos Coríntios, Paulo disse: “Porque também nós, os que estamos neste tabernáculo, gememos carregados: não porque queremos ser despidos, mas revestidos, para que o mortal seja absorvido pela vida”. (2Co 5.4). No mesmo sentido, o apóstolo Pedro escreveu em sua segunda Epístola: “Certo de que estou prestes a deixar o meu tabernáculo, como efetivamente nosso Senhor Jesus Cristo me revelou”. (2Pe 1.14).

A palavra grega traduzida por tabernáculo no texto de 2 Coríntios 5.4 é skēnos, que significa tabernáculo ou tenda móvel. O sentido aqui é uma tenda destinada ao serviço sagrado. Em 2 Pedro 1.14, Pedro usou a palavra grega skenoma, que é um termo derivado de skēnos e significa a mesma. Tanto Paulo, quanto Pedro falaram do tabernáculo em sentido figurado para se referir ao corpo humano. Por que estes apóstolos se referiam ao corpo como “tabernáculo”? Qual é a relação que há entre o tabernáculo do Antigo Testamento e o corpo humano? 

Certamente não foi por acaso, pois eles foram inspirados pelo Espírito Santo. Para entendermos esta relação entre o tabernáculo e o corpo, precisamos conhecer um pouco do tabernáculo feito por Moisés no deserto, por ordem de Deus. Depois que Israel atravessou o Mar Vermelho, Deus ordenou a Moisés: “E me farão um santuário, e habitarei no meio deles”. (Êx 25.8). A palavra hebraica traduzida por santuário neste texto é mikdash, que significa lugar sagrado, santuário ou lugar santo. 

Este santuário ou tabernáculo foi projetado pelo próprio Deus, que deu a Moisés a planta com as medidas, os materiais que seriam usados e escolheu os artesãos que fariam a obra. Era um lugar onde a presença de Deus se manifestava. Naturalmente, uma tenda móvel feita por mãos humanas não comportaria a presença de Deus em sua plenitude. Era apenas uma representação simbólica do que iria acontecer na Nova Aliança. 

Em sentido amplo, o tabernáculo apontava para a Igreja de Cristo, onde Deus habita e se manifesta ao mundo por meio dela: “No qual também vós juntamente sois edificados para a morada de Deus em Espírito”. (Ef 2.22). Mas, em sentido restrito, o corpo de cada crente em particular é o templo de Deus, pois também é portador da presença de Deus: “Jesus respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada”. (Jo 14.23)

2. Tabernáculo e tricotomia. Neste tópico, o comentarista fez uma analogia entre o Tabernáculo, feito por Moisés no deserto, e o corpo humano. Dentro desta analogia, ele destacou que a divisão do Tabernáculo em três partes: o pátio, o lugar santo e o santo dos santos, reforça o entendimento da tricotomia humana. Ou seja, o homem é formado pelo corpo, que é a parte material; a alma, que é a sede dos sentimentos e emoções; e o espírito que é a parte capaz de se conectar a Deus. 

O pátio era  parte externa e visível do tabernáculo, que podia ser acessada pelo povo que levava os seus animais para os sacrifícios. Representa o corpo humano, que é a parte material que pode ser vista e tocada. O lugar santo ficava na parte interna, não podia ser visto de fora e era restrito aos sacerdotes. Representa a alma humana, que é imaterial e invisível. O lugar santo dos santos era o local onde ficava a Arca da Aliança, os pães da proposição e a vara de Aarão que floresceu. Neste local somente o Sumo Sacerdote tinha autorização para adentrar, uma vez por ano, depois de fazer o ritual de purificação. Este local representa o espírito, que é a parte do ser humano que se conecta a Deus. 

Nesta perspectiva, o saudoso missionário Eurico Bergstén escreveu: 


Assim como o tabernáculo no deserto era dividido em três partes, também o homem o é. O pátio do tabernáculo representa a parte externa e visível do homem, que é o seu corpo; o lugar santo, que não se podia ver de fora, representa a alma, e o lugar santíssimo representa o espírito do homem.


3. Um tabernáculo guiado. O tabernáculo era uma tenda móvel, que era desmontada quando o povo de Israel se deslocava de um lugar para outro, em sua jornada, rumo a terra prometida. Entretanto, os deslocamentos não aconteciam por acaso, nem por vontade do povo ou da liderança. Era Deus quem determinava o momento do povo seguir viagem, por onde seguir e o momento de parar. Isso era feito por meio de uma coluna de nuvem que pairava sobre o tabernáculo durante o dia e uma coluna de fogo durante a noite.

Tanto a nuvem como a coluna de fogo não eram coisas comuns. Elas estavam ali sobre o tabernáculo, por determinação de Deus, para proteger o seu povo do sol, durante o dia, e do frio, durante a noite. Além disso, guiava o povo de Deus no deserto, rumo à terra prometida. Se a nuvem se levantava, Moisés dava ordem para desmontar o tabernáculo e o povo seguia em frente. Se a nuvem parava, dava ordem para acampar novamente e montar o tabernáculo. 

Esta figura da nuvem sobre o tabernáculo nos traz outra importante lição: a nossa vida deve ser guiada o tempo todo por Deus. Ele conhece todas as coisas, sabe o que é melhor para a nossa vida e pode nos conduzir em segurança ao nosso destino eterno. Falando sobre esta nuvem que guiava o povo de Deus no deserto, o pastor Elienai Cabral escreveu: 

“A nuvem não é estática. Deus não é inerte, estático; Ele é o Ser que gera vida em abundância (Jo 10.10). Ele se move sobre a Terra, cuida do Universo e interessa-se por sua vida, querido irmão. Ele é um Deus pessoal. Não perca a glória de Deus nem a intimidade com a sua presença. Ande com Deus. Obedeça-lhe a vontade”.

REFERÊNCIAS:

BERGSTÉN, Eurico. Teologia Sistemática. 13ª impressão. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2013.

CABRAL, Elienai. Lições Bíblicas - 2º trimestre de 2019: Lição 12: A Nuvem de Glória. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2019.


22 outubro 2025

CORPO: PROPRIEDADE E HABITAÇÃO DIVINA

(Comentário do 1º tópico da Lição 4: O Corpo como templo do Espírito Santo)

Ev. WELIANO PIRES

No primeiro tópico, falaremos do corpo como propriedade e habitação de Deus. Inicialmente, veremos que fomos comprados por Cristo e selados pelo Espírito Santo. Estas duas doutrinas são muito importantes para o Cristianismo e é preciso compreender bem o seu significado na cultura dos tempos bíblicos. Na sequência, falaremos da pergunta do apóstolo Paulo aos Coríntios: “Não sabeis vós?”, a qual indica que, mesmo tendo sido instruídos por Paulo, os crentes de Corinto não compreendiam a mordomia do corpo. Por fim, falaremos da propriedade que o Espírito Santo detém sobre o nosso corpo e, como tal, deve exercer domínio sobre nós. 

1. Comprado e selado. Aqui neste subtópico, o autor fala que nós fomos comprados e selados (1Co 6.20; Ef 1.7-13). Estas duas ações de Cristo nos tornaram propriedade exclusiva de Deus. Isso fala de duas doutrinas bíblicas relacionadas à salvação: A doutrina da expiação do pecado e a doutrina da redenção. 

a) A doutrina da expiação. Refere-se ao preço pago por Cristo na Cruz para livrar o pecador da condenação pelo pecado original. A Justiça de Deus exige a punição pelos pecados cometidos, como resgate do pecador. Mas não é qualquer preço que pode libertar o pecador da pena imposta por Deus. Somente alguém que não tem nenhuma culpa poderia sacrificar-se pelos pecados e este alguém é Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29). Pedro disse que “não foi com coisas corruptíveis que fomos resgatados da vossa vã maneira de viver, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito” (1Pe 1.18,19).

Muitos compositores, até bem intencionados, falam do sacrifício de Jesus, enfatizando tudo o que Ele sofreu por nós e dizem que aquela cruz, a coroa de espinhos e os sofrimentos eram para nós. Ora, isso é um grande equívoco, pois o valor do sacrifício de Cristo não está no sofrimento em si, pois os outros condenados que foram crucificados também sofreram da mesma forma, mas os sofrimentos deles não têm valor algum para a salvação. A importância do sacrifício de Cristo está na pessoa dele, que é o Cordeiro imaculado de Deus. 

b) A doutrina da redenção. É o ato de libertar um escravo, mediante o pagamento do seu preço no mercado. Na teologia cristã, a redenção refere-se à salvação individual do pecador que responde positivamente ao Espírito Santo e crê em Jesus. Depois de realizar a obra da expiação na Cruz com o seu próprio sangue, o Senhor Jesus oferece a possibilidade de resgate ao pecador que se entrega a Ele. Portanto, a expiação é o preço pago pela libertação do pecador e a redenção é a própria libertação. A redenção só pode acontecer se primeiro houver a expiação. 

Depois que recebemos Jesus como Senhor e Salvador, Ele colocou em nós o seu selo, ou penhor, que é a garantia de que pertencemos a Deus, pois Ele nos comprou. Naqueles tempos, os comerciantes compravam mercadorias e depois de pagar, carimbaram com o seu selo e depois voltavam para buscá-las. Isso acontecia também com os animais comprados que recebiam um sinal de propriedade do novo comprador. 

No caso da salvação, Jesus nos deu o Espírito Santo para habitar em nós como garantia de que pertencemos a Ele. O comentarista mencionou aqui o texto de João 14.16,17 e enfatizou que a expressão “habita convosco e estará em vós” indica dois estados distintos. Quando Jesus falou que o Espírito habitava com os discípulos se referiu à ação do Espírito Santo através de Cristo durante o seu ministério terreno. Já a expressão “estará em vós”, se refere à entrada do Espírito Santo para habitar em nosso ser.

2. “Não sabeis vós?”. O apóstolo Paulo fez a seguinte pergunta aos crentes de Corinto: “não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?”. É uma pergunta retórica, ou seja, que não precisa de resposta, pois, o apóstolo tinha certeza que os coríntios sabiam disso, pois ele próprio os ensinara por um período de um ano e meio em Corinto (At 18.11). 

Na primeira Epístola aos Coríntios, por três vezes, o apóstolo Paulo afirma que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo e contrasta esta afirmação com a prática dos pecados sexuais (3.16,17; 6.17-20). Paulo fez esta afirmação em um contexto em que era inconcebível os deuses habitarem no corpo humano. Nas religiões da época, os deuses moravam muito distantes dos seres humanos (Dn 2.11; At 14.11). A concepção que eles tinham dos deuses não era de santidade, como o Deus de Israel e sim de promiscuidade, que incluía sacrifícios humanos e prostituição sagrada nos cultos. 

Corinto era considerada a capital da imoralidade sexual. Lá havia um templo dedicado à deusa Afrodite, que contava com cerca de mil prostitutas rituais que praticavam a prostituição sagrada ao por do sol. Havia também o templo do deus Apolo, que representava a virilidade masculina, com várias estátuas dele nu em várias poses indecorosas. A imoralidade era tanta em Corinto, que o verbo corintizar era sinônimo de prostituir. Alguns crentes em Corinto, mesmo após a conversão ao Evangelho, continuavam nas velhas práticas pecaminosas, as quais faziam parte da cultura daquela cidade.

3. Propriedade e domínio. Em nossos dias, algumas pessoas insistem em dizer que a vida é delas e, portanto, fazem o que tem vontade e ninguém tem nada a ver com isso. As mulheres que defendem o aborto usam o slogan “Meu corpo, minhas regras”, justificando que tem o direito de fazer o que quiserem com o próprio corpo. Entretanto, isso é um grande equívoco, primeiro porque o corpo do bebê não é uma extensão do corpo da mãe e sim um outro corpo. Segundo, porque tanto a vida quanto o corpo não nos pertencem, são propriedades de Deus. 

Foi Deus quem criou o corpo humano e deu-lhe a vida. Mesmo o corpo e a vida daqueles que não servem a Deus, pertencem a Deus, pois Ele é bom criador deles também e o doador da vida. Com relação aos que foram salvos por Jesus, pertencemos a Ele por causa da criação e também porque Ele nos comprou e nos selou com o Espírito Santo, como vimos no primeiro subtópico. 

Se somos propriedade de Deus, naturalmente devemos nos submeter ao domínio, pois o direito de propriedade garante ao proprietário, o domínio sobre aquilo que lhe pertence. Se eu sou proprietário de uma casa, eu tenho o direito de morar nela, alugá-la ou mesmo vendê-la. Como propriedade de Deus, o nosso corpo deve estar sob o seu domínio e fazer aquilo que lhe agrada.

ESPÍRITO, PECADO E SANTIFICAÇÃO

(Comentário do 2⁰ tópico da Lição 10: Espírito – o âmago da vida humana) Neste segundo tópico, temos também três tópicos que falam a respei...