05 março 2025

A DOUTRINA BÍBLICA DO PECADO E SUA EXTENSÃO

(Comentário do 1º tópico da Lição 10: O pecado corrompeu a natureza humana)

Ev. WELIANO PIRES 

No primeiro tópico, estudaremos a doutrina bíblica do pecado e sua extensão. Este tópico é bem mais extenso que os demais, pois a doutrina do pecado tem uma abrangência maior do que as heresias sobre ele. Por isso, o comentarista dedicou quatro subtópicos para falar deste assunto. Inicialmente veremos quem foi o autor do pecado. Na sequência, falaremos da expressão “foram abertos os olhos de ambos” (Gn 3.7), referindo-se ao primeiro casal que desobedeceu a Deus e perceberam a sua nudez. Falaremos também das consequências da Queda do primeiro casal. Por fim, falaremos da extensão do pecado, que corrompeu o ser humano em sua totalidade: espírito, alma e corpo.


1. O autor do pecado (Gn 3.1,2). Antes de falarmos do autor do pecado, é importante esclarecer o que é pecado, do ponto de vista bíblico, pois há muitos equívocos em relação a isso. Na Bíblia, há algumas palavras hebraicas e gregas que foram usadas para se referir ao pecado:

a) O termo hebraico “chata’th” e o seu correspondente grego “hamartia”. Sgnifica “errar o alvo”. Literalmente é uma referência a um atirador que atira uma flecha e erra o seu alvo. O alvo de todo ser humano é atingir a obediência total a Deus. Se ele falha nessa obediência, “erra o alvo” e, portanto, comete pecado.

b) termo hebraico “avon” e o seu correspondente grego “adíkia”. Significa “falta de integridade”. Estas duas palavras foram traduzidas em nossas Bíblias por “injustiça” e tem o sentido de praticar coisas injustas e desonestas contra o próximo, como, por exemplo, dar um falso testemunho para condenar um inocente, ou mentir para absolver o culpado.

c) O termo hebraico “pesha” e o seu correspondente grego “parábasis”. Significa rebeldia ou uma completa rejeição e insubordinação à autoridade de Deus. Deus é o Soberano de todo o Universo. Em todos os seus atos e palavras, Deus é sempre justo. Insurgir-se contra a autoridade de Deus e querer viver segundo o próprio pensamento, portanto, é pecado.

d) O termo hebraico “resha” e o seu correspondente grego “anomia”. Significa ilegalidade, ou “fuga culposa da lei”: “Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei.” (1 Jo 3.4). Deus é o Criador de todas as coisas, inclusive do ser humano. Sendo o Criador e sustentador de todo o universo, Ele criou as próprias leis, que estão registradas na Bíblia Sagrada. A desobediência a estas leis constitui-se em pecado contra Deus. 


Sobre a autoria do pecado, há também controvérsias, inclusive entre teólogos que se dizem evangélicos. Os hiper calvinistas, superenfatizam a Soberania de Deus e anulam completamente a responsabilidade humana. Chegam ao cúmulo de dizer que Deus criou o pecado. Para justificar esta aberração, usam o texto de Isaías 45.7, que diz: “Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas”. Entretanto, a palavra traduzida por “mal” neste texto, significa “calamidade”, como está na Nova Versão Transformadora (NVT), e não mal moral ou pecado. 


O Calvinismo, embora não admita abertamente que Deus criou o pecado, ensina que Deus preordenou todas as coisas, inclusive a Queda do primeiro casal. Dizem que Deus preordenou também que um grupo de pessoas seriam salvas (os eleitos) e outro grupo, não seriam salvas (os não-eleitos). Segundo o Calvinismo, todas as coisas que acontecem no Universo, boas ou más, foram predeterminadas por Deus. Isso equivale a dizer que Deus é o autor do pecado. Na Confissão de Westminster, uma confissão de fé de orientação calvinista, está escrito: “Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, pré-ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece.” 


Atribuir a Deus a autoria do pecado é ofender o Seu caráter santo. Deus criou todas as coisas boas e perfeitas, inclusive o ser humano. O pecado é algo que afronta a santidade de Deus e jamais poderia ter origem nele. A origem do pecado no universo é anterior à criação do homem e teve início nas regiões celestiais, com um querubim ungido que era o mais exaltado entre os seres angelicais e rebelou-se contra Deus (Ez 28.12,14; Is 14.12-15). Por causa disso, ele foi expulso do Céu com uma terça parte dos anjos. 


A Bíblia não revela o nome próprio deste querubim, mas chama-o de alguns títulos que revelam a sua natureza maligna como Satanás e Diabo. A palavra Satanás é a transliteração grega do termo hebraico “Satan”, que significa “adversário”. A palavra diabo, é a transliteração portuguesa do termo grego “diabolos”, que significa “acusador”. A palavra latina “Lúcifer” é a tradução da expressão “estrela da manhã", que aparece em Isaías 14.12, e foi entendida por Jerônimo como sendo o nome próprio deste querubim. Foi este querubim rebelde, que enganou Eva e a induziu ao pecado, induzindo também o seu marido ao mesmo erro. 


2. “Foram abertos os olhos de ambos” (Gn 3.7). O inimigo em sua astúcia prometeu a Eva que eles seriam como Deus, se comessem do fruto proibido. Atraída pela possibilidade de ser igual a Deus, a mulher deu ouvidos ao inimigo e desobedeceu a Deus. Em seguida deu o fruto também ao seu marido e ele comeu. No mesmo instante, perceberam que estavam nus e tentaram se esconder da presença de Deus. Eles viviam nus anteriormente e não se envergonhavam, pois não havia nenhuma espécie de maldade em seu interior. 


Em vez de se tornarem iguais a Deus como o inimigo prometera, veio a ruptura imediata da comunhão com Deus. Após a Queda do primeiro casal, Deus deu a sentença ao homem, à mulher e à serpente, que era a personificação do inimigo. O casal foi expulso do Jardim do Éden e perdeu imediatamente a comunhão com Deus, pois Ele é absolutamente santo e não pode tolerar pecado.


Com a entrada do pecado no mundo, o corpo humano passou a ser mortal em todos os aspectos. Primeiro veio a morte espiritual, que é a perda da comunhão com Deus. Fisicamente também, o ser humano se tornou mortal e, como tal, está sujeito às doenças e à morte. O corpo humano, antes do pecado era imortal e não adoecia, pois foi criado para viver eternamente. Com o advento do pecado, o corpo humano perdeu a imortalidade e deixou de ser imune às doenças. 


Quando nasce, o ser humano começa a morrer. É como se ligasse um cronômetro com contagem regressiva. Cada dia vivido é um dia a menos no tempo de vida. Primeiro, vem a fase do crescimento, até chegar a vida adulta. Depois, vem a fase do envelhecimento, até finalmente chegar a morte. Em cada fase da vida, há riscos de várias doenças no nosso corpo e, consequentemente, o risco de morte. Mas, a pior consequência do pecado é a morte eterna. 


Junto com a sentença que Deus deu à serpente, Deus apresentou também, em Gênesis 3.15, a primeira promessa de Salvação da humanidade, que é chamada de Proto Evangelho. Nesta promessa, Deus disse que o descendente da mulher feriria a cabeça da serpente e ela lhe feriria o calcanhar. É uma referência à vinda de Cristo, para derrotar o inimigo e salvar os pecadores. Este será o assunto da próxima lição. 


3. A consequência da Queda no Éden. A Queda do primeiro casal trouxe consequências terríveis não apenas para eles, mas para a sua posteridade. O apóstolo Paulo, escrevendo aos Romanos disse: “Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram” (Rm 5.12). No mesmo capítulo, no versículo 19, Paulo escreveu: “Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos”. 


Quando nascemos, a nossa natureza já está corrompida pelo pelo pecado. Nós não nos tornamos pecadores quando cometemos algum pecado. Ao contrário, pecamos porque somos pecadores. Davi disse: “Eis que em iniquidade fui formado e em pecado me concebeu a minha mãe”. (Sl 51.5). Isso não se refere, é claro, ao relacionamento sexual como alguns ensinam, pois este foi criado e abençoado por Deus. Significa que todos os seres humanos, sem exceção, nascem corrompidos pelo pecado e ninguém precisará ensiná-los a pecar. 


Algumas pessoas, equivocadamente, dizem que as crianças nascem sem pecado, mas isso não é verdade. Todos nascemos pecadores e separados de Deus. Entretanto, Deus não imputa o pecado às crianças e aos deficientes mentais, que não tem condições de compreender e crer no Evangelho. Quando Jesus disse: “Deixai vir a mim as crianças, porque das tais é o Reino dos Céus” (Mt 19.14), não significa que não são pecadores, mas que Deus não os responsabiliza pelo pecado, por não serem capazes de entender. É por isso que não batizamos crianças. 


4. Extensão do pecado. Conforme falamos acima, o pecado de Adão e Eva não atingiu apenas o casal, mas se estendeu à sua posteridade e corrompeu a totalidade do seu ser: espírito, alma e corpo. Deus criou o ser humano perfeito e sem maldade, e com liberdade de escolha. Mas, com a entrada do pecado no mundo, a natureza humana foi corrompida. As três faculdades interiores do ser humano: intelectual, emocional e vontade, foram corrompidas pelo pecado. 


A forma de pensar do homem foi afetada pelo pecado. O intelecto humano, sem a ação do Espírito Santo, é essencialmente mal. Muitas religiões sugerem que o homem siga o seu pensamento. Mas, isso é um grande erro. O homem, de si mesmo, não pensa coisas boas. Em Jeremias 17.9 lemos: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?”. Se vivêssemos em uma anarquia, onde cada um pudesse fazer o que bem entendesse, seria um caos generalizado. Na Igreja também, muitas pessoas querem fazer o que bem entendem e não aceitam a correção pela Palavra de Deus. Mas não pode ser assim, pois a Igreja é guiada pelo Espírito Santo.


Da mesma forma, as emoções humanas também foram afetadas pelo pecado. O homem longe de Deus tem sentimentos carnais, egoístas e malvados. O homem carnal odeia, deseja mal, inveja, cobiça e não sente nenhuma tristeza pelos pecados cometidos. Se o homem seguir as próprias emoções, cometerá toda sorte de maldade. Infelizmente, muitas pessoas na Igreja, equivocadamente, agem seguindo as próprias emoções, dizendo que estão sentindo de fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Mas, o crente deve ser guiado pela Palavra de Deus e não pelos próprios sentimentos. 


O pecado corrompeu também a vontade humana e, por isso, o ser humano se afastou da vontade de Deus e seguiu os desejos da sua natureza corrompida. O pecado corrompeu a vontade do ser humano de tal  forma que por si mesmo, ele é incapaz de buscar a Deus. Entretanto, como bem colocou o comentarista, o pecador não perdeu o livre-arbítrio que Deus lhe concedeu. 


Partindo do princípio de que a vontade humana foi corrompida pelo pecado, os calvinistas ensinam que o homem perdeu também a capacidade de escolher servir a Deus ou não. Entretanto, não é isso que a Bíblia ensina. O Espírito Santo trabalha no intelecto humano e em seus sentimentos, para levá-lo a reconhecer-se como pecador, que necessita de salvação. Mas a decisão de fazer ou não a vontade de Deus, continua sendo do homem. 


Em vários textos bíblicos, encontramos Deus colocando diante do ser humano a decisão: 

“Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência.” (Dt 30.19); “Se vos parece mal aos vossos olhos servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor.” (Js 24.’5). “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me.” (Lc 9.23); “...E quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida. (Ap 22.17c).


REFERÊNCIAS: 

SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 
Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 41.
Bíblia de Estudo Pentecostal. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1995, pp.34-36
GILBERTO,  Antônio, et al. Teologia Sistemática Pentecostal. RIO DE JANEIRO: CPAD, p.312
CABRAL, Elienai. O apóstolo Paulo: Lições da vida e ministério do Apóstolo dos Gentios para a Igreja de Cristo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2021.

03 março 2025

INTRODUÇÃO À LIÇÃO 10: O PECADO CORROMPEU A NATUREZA HUMANA

Ev. WELIANO PIRES 

Nesta lição estudaremos uma matéria muito importante da teologia sistemática, que é chamada de Hamartiologia. Esta palavra deriva de dois termos gregos: “Hamartia” que significa “errar o alvo” e é usada na Bíblia para se referir ao pecado; e “logia” que significa “estudo”. Portanto, Hamartiologia é o estudo da doutrina do pecado. 

O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, perfeito e sem mácula em sua natureza, mas o pecado do primeiro casal distorceu esta imagem e interrompeu a relação entre o homem e o seu Criador. Esta doutrina bíblica foi contestada no passado pelo Pelagianismo e continua sendo negada por várias religiões da atualidade. Outras, não negam o pecado, mas ensinam que o ser humano pode livrar-se dele por obras ou esforços humanos, como veremos na próxima lição. 

A Bíblia ensina que todos pecaram e que o pecado nos separa de Deus. Isso não significa, no entanto, que não haja solução para o problema do pecado, pois Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus, veio a este mundo para libertar o homem da escravidão do pecado mediante o seu sacrifício vicário na Cruz (Lc 19.10; Jo 1.29).

No primeiro tópico, estudaremos a doutrina bíblica do pecado e sua extensão.  Inicialmente falaremos do autor do pecado que é a antiga serpente, identificada em Apocalipse, como o diabo e Satanás (Ap 12.9). Na sequência, falaremos da expressão “foram abertos os olhos de ambos” (Gn 3.7), referindo-se ao primeiro casal que desobedeceu a Deus e perceberam a sua nudez. Falaremos também da principal consequência da Queda do primeiro casal, que foi a transmissão da natureza pecaminosa a todo o gênero humano. Por fim, falaremos da extensão do pecado, que corrompeu o ser humano em sua totalidade: espírito, alma e corpo. 

No segundo tópico,  falaremos da heresia que nega o advento do pecado. Discorreremos sobre o Pelagianismo, uma heresia que surgiu no Século IV da Era Cristã e negava a universalidade do pecado, ensinando que o pecado de Adão atingiu apenas a ele próprio. Mostraremos também a refutação bíblica a esta heresia. Por último, falaremos da morte de Jesus em favor dos pecadores, mostrando a heresia do Islamismo que rejeita o necessidade do sacrifício de Cristo pelos pecados da humanidade. 

No terceiro tópico, falaremos do perigo desta heresia para a vida do crente e da Igreja. Veremos os pensamentos pelagianistas da atualidade, que se manifestam nas religiões reencarnacionistas, na chamada Ciência Cristã e no Mormonismo. Por último falaremos do perigo da falta de conhecimento bíblico, que torna as pessoas vulneráveis diante de falsos ensinos que lhes parecem corretos, mas conduzem à perdição. 

REFERÊNCIAS:

SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 
Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 41.
Bíblia de Estudo Pentecostal. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1995, pp.34-36
GILBERTO, Antônio, et al. Teologia Sistemática Pentecostal. RIO DE JANEIRO: CPAD, p.312

28 fevereiro 2025

HERESIAS ANTIGAS E NOVAS

(Comentário do 3º tópico da Lição 09: Quem é o Espírito Santo)

Ev. WELIANO PIRES

No terceiro tópico, apresentaremos as heresias antigas e novas sobre a pessoa do Espírito Santo. Falaremos das heresias dos arianistas, tropicianos e pneumatropicianos, que foram heresias que surgiram no Oriente sobre o Espírito Santo. Seguindo o padrão das lições deste trimestre, veremos como estas heresias se apresentam na atualidade, através das Testemunhas de Jeová e no Islamismo. 


1- As primeiras heresias. Nos séculos subsequentes ao período apostólico da Igreja, não havia um entendimento claro sobre a Pessoa do Espírito Santo. As discussões teológicas se concentraram na Pessoa do Filho. Nos dois primeiros credos (Credo Apostólico e Credo Niceno), há apenas uma menção singela ao Espírito Santo: “Creio no Espírito Santo”, sem nenhuma afirmação sobre a sua personalidade e divindade. 


Somente no primeiro Concílio de Constantinopla, em 381 d.C. ficou definida explicitamente a Doutrina do Espírito Santo, com as seguintes palavras que foram escritas no chamado Credo Niceno-constantinopolitano: “Creio no Espírito Santo, o divino, o doador de vida, que procede do Pai, o qual deve ser adorado e glorificado com o Pai e com o Filho e o qual falou pela boca dos profetas”. 


No Credo ou Declaração de Calcedônia, o Espírito Santo sequer é mencionado, pois o alvo das discussões foram o Nestorianismo, o Monofisismo e Apolinarismo, que eram heresias referentes à natureza de Cristo. Finalmente, no Credo de Atanásio é que foram estabelecidas as mais contundentes defesas das Doutrinas da Trindade e do Espírito Santo. Neste credo ficou definido em outras palavras que: “O Pai, o Filho e o Espírito Santo são um só Deus e três pessoas, mas não são três deuses; o Pai, o Filho e o Espírito Santo são incriados, imensos, eternos e onipotentes”. 


As muitas heresias cristológicas que surgiram neste período geraram muitos embates e, certamente, contribuíram para este “esquecimento” da doutrina do Espírito Santo. Isto não significa que não tenham surgido heresias sobre o Espírito Santo, mas foram em escala muito inferior às heresias cristológicas, sobre as quais estudamos nas oito lições anteriores. O comentarista apresentou neste subtópico, três heresias do passado sobre o Espírito Santo: Os arianistas, os tropicianos e os pneumatomacianos.


a) Arianistas. Os arianistas, como já vimos em outras lições, eram seguidores do presbítero Ário de Alexandria, que deu muito trabalho na questão da Pessoa de Cristo, que ele dizia que foi criado pelo Pai e era um deus de categoria inferior. Mas os arianistas tinham também um pensamento heterodoxo sobre a Pessoa do Espírito Santo. Os arianistas ensinavam que o Espírito Santo teria sido criado pelo Filho, a pedido do Pai. 

b) Tropicianos. Os tropicanos eram uma seita egípcia, que dizia que o Espírito Santo era um anjo e, portanto, uma criatura de Deus. Este nome deriva do grego tropos que significa figura. Quem os denominou assim foi Atanásio, por causa da exegese figurada que eles utilizavam. 

c) Pneumatocianos. Os pneumatocianos também negavam a divindade do Espírito Santo. O seu nome deriva de pneuma, (espírito), e machomai, (falar mal, contra). Portanto, pneumatocianos significa literalmente “opositores do Espírito”. O seu principal defensor foi Eustáquio de Sebaste (300-380). 


2- As heresias na atualidade. Na atualidade, as Testemunhas de Jeová são seguidores do Arianismo, na doutrina Cristológica, pois dizem que Jesus foi criado pelo Pai, é um “deus menor” e não é igual ao Pai. Em relação à Doutrina do Espírito Santo, eles não dizem que o Espírito Santo foi criado pelo Filho, como diziam os arianistas. As Testemunhas de Jeová negam a personalidade do Espírito Santo e dizem que Ele é a “força ativa de Jeová” e não é Deus. 


Por não terem como justificar biblicamente este ensino herético, eles alteraram vários textos bíblicos em sua versão modificada da Bíblia, chamada Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas. No segundo versículo da Bíblia, onde está escrito: “...e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”, eles substituíram a expressão “o Espírito de Deus” (Heb. Ruach Elohim) por: “a força ativa de Deus”.


Nos textos do Novo Testamento, onde está escrito que as pessoas foram cheias do Espírito Santo, eles modificaram para: “ficaram cheias de espírito santo”, como por exemplo, em Atos 2.4. Além disso, escrevem sempre espírito santo, com iniciais minúsculas. O objetivo é claramente colocar o Espírito Santo como uma força impessoal e não como uma pessoa, como a Bíblia o apresenta em vários textos. Curiosamente, eles escrevem “Diabo” com inicial maiúscula. 


Conforme vimos no tópico anterior, o Espírito Santo é uma pessoa, pois Ele possui vontade, sentimento e intelecto. Ele ama, se entristece, intercede, geme, fala, etc. Somente uma pessoa pode ter estas características. A Bíblia também mostra a divindade do Espírito Santo, conforme foi amplamente demonstrado nos tópicos anteriores. 


3- O Espírito Santo em outras religiões. Há muitas crenças confusas na atualidade em outras religiões, sobre o Espírito Santo. Na verdade, muitas delas tentam adaptar as suas crenças à Bíblia. Segundo a Fé Mundial Bahaí, uma religião que surgiu na Pérsia em 1844, o Espírito Santo é uma energia divina de Deus, que concede poder a cada manifestação.  Alguns teólogos muçulmanos, dizem que o anjo Gabriel é o Espírito Santo. Os judeus dizem que o Espírito Santo é outro nome para a atividade de Deus neste mundo. O espiritismo diz que o Espírito Santo seria a comunidade dos espíritos puros. Os adeptos do Movimento Nova Era dizem que o Espírito Santo é uma força psíquica, e assim, sucessivamente. Não daria para estudar todas estas crenças em um único tópico. 


a) Uma crença estranha. Aqui, o comentarista trata da crença Islâmica referente ao Espírito Santo. Conforme falamos acima, alguns muçulmanos dizem que o Espírito Santo é o anjo Gabriel. Entretanto, eles se apegam também às palavras de Jesus referentes à promessa do Consolador, que abordamos no primeiro tópico, e dizem que esta promessa se cumpriu em Muhammad, ou Maomé como é conhecido. 


Na verdade, eles colocaram no Alcorão, que é o livro sagrado do Islã, as seguintes palavras, que são atribuídas a Jesus: “Sou para vós o Mensageiro de Allah, para confirmar a Tora, que havia antes de mim, e anunciar um Mensageiro, que virá depois de mim, cujo nome é Ahmad” (61.6). Com isso, dizem que esta promessa se cumpriu em Muhammad. Confundem também confundem a palavra grega periklytós, que significa “renomado ao redor, ilustre”, com paraklētos, que significa defensor, advogado, intercessor ou ajudador, que foi chamado para representar outra pessoa no tribunal. 


b) Resposta bíblica. Conforme demonstrou amplamente o comentarista, a promessa de Jesus não tem nada a ver com Muhammad. O Parakletos prometido por Jesus é o próprio Espírito Santo (Jo 14.26) que é outro igual, da mesma substância (Gr. Allos) do Filho. Jesus também prometeu que o Parakletos “ficaria com os seus discípulos para sempre” (Jo 14.16). Não foi este o caso de Muhammad, que faleceu em 632 d.C., aos 62 anos. O Consolador prometido por Jesus também “habita conosco e estará em nós” (Jo 14.17). Além disso, Ele testifica de Cristo e o glorifica. 


Não consta na história que Muhammad, ou qualquer outro líder religioso que os seus adeptos alegam ser o Consolador, tenham estas características. Há outras seitas que até já foram consideradas evangélicas, como a “Igreja Apostólica” conhecida como Igreja da Santa Vó Rosa, que se enveredaram por este caminho e hoje dizem que os seus fundadores são o Consolador. 


REFERÊNCIAS: 


SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 

SOARES, Esequias. O Verdadeiro Pentecostalismo: A atualidade da Doutrina bíblica sobre a atuação do Espírito Santo.  RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2021.

Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 40..

Declaração de Fé das Assembleias de Deus. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2017, pp.67,68.

GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. 1. Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2008, p.175.

CRISTIANO, Paulo. As seitas que usurpam o Espírito Santo. Publicado na Revista Defesa da Fé, Ed. 65, Instituto Cristão de Pesquisas (ICP).

25 fevereiro 2025

SUA DEIDADE, ATRIBUTOS E OBRAS

(Comentário do 2° tópico da Lição 09: Quem é o Espírito Santo)

Ev. WELIANO PIRES

No segundo tópico, falaremos da deidade, atributos e obras do Espírito Santo. Veremos as inúmeras referências bíblicas que comprovam que o Espírito Santo é Deus. Veremos ainda os atributos divinos do Espírito Santo revelados na Bíblia que comprovam a sua divindade. Por último, falaremos das suas obras mencionadas na Bíblia, que também evidencia que Ele é igual ao Pai, porém Ele não é o Pai, como ensinam os unicistas.


1- Sua deidade. O comentarista não falou nesta lição sobre a personalidade do Espírito Santo. Mas, antes de falarmos da deidade ou divindade do Espírito Santo, é importante sabermos que Ele é uma pessoa e não uma força, como dizem as Testemunhas de Jeová. A personalidade do Espírito Santo é uma verdade bíblica. Ele é uma pessoa, pois tem sentimento, vontade e intelecto. O Espírito Santo se entristece (Ef 4.30); intercede (Rm 8.26,27); ama (Rm 15.30); revela (1 Co 2.10); tem vontade própria, pois, não permitiu que o apóstolo Paulo e sua equipe missionária fossem para a Bitínia (Atos 16.7); e distribui dons conforme ele quer (1 Co 12.11).


A Bíblia deixa claro em vários textos que o Espírito Santo é Deus. O texto bíblico fala de Deus e do Espírito do Senhor de forma alternada, mostrando que o Espírito Santo é Deus: “O Espírito do Senhor falou por mim e a sua palavra está na minha boca. Disse o Deus de Israel, a Rocha de Israel a mim me falou: Haverá um justo que domine sobre os homens, que domine no temor de Deus.” (2 Sm 23.2,3). No versículo 2, é dito que “O Espírito do Senhor falou…” e na sequência, o versículo 3 diz que “O Deus de Israel falou…”. 


O mesmo aconteceu com os textos mencionados pelos comentarista referentes a Sansão:  (“O Espírito do Senhor possantemente se apossou dele” Jz 15.14); Depois que Sansão foi traído por Dalila, o texto bíblico diz que Sansão “não sabia que já o Senhor se tinha retirado dele” (Jz 16.20). Ou seja, primeiro é dito que o Espírito Santo se apossou de Sansão. Depois que o Espírito Santo se retirou dele, o texto diz que foi Deus quem se retirou dele. 


No Novo Testamento também são feitas referências alternadas a Deus e ao Espírito Santo no mesmo texto, como na repreensão de Pedro a Ananias: “Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a, não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus.” (At 5.3,4). Aqui, Pedro diz que Ananias mentiu ao Espírito Santo e logo em seguida, diz que ele havia mentido a Deus. 


Da mesma forma, o apóstolo Paulo escrevendo aos Coríntios diz: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?" (1 Co 3.16). O apóstolo diz que nós somos o templo de Deus e, em seguida, diz que Deus habita em nós. Ou seja, se somos templo do Espírito Santo e Deus habita em nós, é porque o Espírito Santo é Deus. Na mesma Epístola, Paulo diz: “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (1 Co 6.19).


Há também citações de textos do Antigo Testamento, onde Deus falou uma palavra, e no Novo Testamento, a mesma palavra é atribuída ao Espírito Santo como no texto de Isaías 6.9: “Então, disse ele [Deus]: “Vai e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis”. Em Atos 28.25,26, Paulo cita este texto dizendo: “Bem falou o Espírito Santo a nossos pais pelo profeta Isaías, dizendo: Vai a este povo, e dize: De ouvido ouvireis, e de maneira nenhuma entendereis; e, vendo vereis, e de maneira nenhuma percebereis”. Na Epístola aos Hebreus também há vários exemplos como este, onde palavras que foram ditas por Deus são atribuídas ao Espírito Santo. 


2- Seus atributos. Outra forma de percebermos a divindade do Espírito Santo na Bíblia é através dos atributos que são exclusivos de Deus: Eternidade, onipotência, onipresença, e onisciência. Nenhuma criatura possui estes atributos, somente Deus. Em vários textos bíblicos, vemos que o Espírito Santo possui estes atributos divinos: 


a) Onipotência: “No poder de milagres e prodígios, no poder do Espírito Santo" (Rm 15.19); Ele é a fonte de poder e milagres  (Mt 12.28; At 2.4);

b) Onisciência: O Espírito Santo conhece todas as coisas, até as profundezas de Deus (1 Co 2.10,11). Conhece o coração humano (Ez 11.5; Rm 8.26.27); Conhece o futuro (Jo 16.13; At 20.23); 

c) Onipresença. “Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás também”. (Sl 139.7,8).

d) Eternidade. Ele é chamado de "Espírito eterno” (Hb 9.14). 


3- Suas obras. Além de ser chamado de Deus na Bíblia, seja diretamente ou com palavras alternadas, como vimos no primeiro subtópico, e possuir atributos que são exclusivos de Deus, como vimos no segundo subtópico, vemos também na Bíblia que o Espírito Santo realiza obras que somente Deus pode fazer: 


a) Ele é Criador. O Espírito Santo é chamado de Criador do ser humano e do mundo: “O Espírito de Deus me fez; e a inspiração do Todo-Poderoso me deu vida. (Jó 33.4).

b) Ele inspirou os escritores bíblicos para escrever as Escrituras. “Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo”. (2 Pe 1.21)

c) Ele gerou Jesus no ventre de Maria. “...José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo”. (Mt 1.20).

d) Ele santifica. “Mas devemos sempre dar graças a Deus, por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito e fé da verdade”. (2 Ts 2.13).

e) Ele regenera e renova. Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo”. (Tt 3.5)

f) Convence o pecador. “E, quando Ele [O Espírito Santo] vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo”. (Jo 16.8).

g) Distribui os dons espirituais. “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas, [os dons espirituais] repartindo particularmente a cada um como quer”. (1Co 12.11).


REFERÊNCIAS: 


SOARES, Esequias. Em defesa da Fé Cristã: Combatendo as antigas heresias que se apresentam com nova aparência. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025. 

SOARES, Esequias. O Verdadeiro Pentecostalismo: A atualidade da Doutrina bíblica sobre a atuação do Espírito Santo.  RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2021.

Revista Ensinador Cristão. RIO DE JANEIRO: CPAD, Ed. 100, 2025, p. 40..

Declaração de Fé das Assembleias de Deus. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2017, pp.67,68.

GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. 1. Ed. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2008, p.175.

A RESSURREIÇÃO DE JESUS

(Comentário do 3° tópico da Lição 12: Do julgamento à ressurreição) Ev. WELIANO PIRES O terceiro tópico nos fala da Ressurreição de Jesus, q...