Os livros de Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão são chamados de livros sapienciais e poéticos, pois retratam as verdades divinas através da poesia ou da prosa. A prosa é o texto escrito da forma como falamos. A poesia, por sua vez, é o texto escrito de forma bem elaborada, expressando os sentimentos e pensamentos, mediante versos e estrofes.
É importante destacar que a poesia na Bíblia não se refere à poesia moderna e sim à poesia hebraica. Na poesia atual temos os poemas narrativos, dramáticos e líricos. Os textos poéticos são submetidos a metrificação das sílabas poéticas e rimas são através dos sons das últimas palavras dos versos. As poesias obedecem a vários critérios na composição dos versos e são classificadas de acordo com a quantidade de versos em uma estrofe: dísticos, tercetos, quarteto, quintilhas, sextilhas, sétimas, nonas e décimas.
A poesia hebraica enfatiza o ritmo da ideia e não o ritmo do som, como a nossa poesia. No pensamento oriental antigo valorizava-se mais o conteúdo e as ideias de um texto do que a metrificação de versos e estrofes. A principal característica da poesia hebraica é o chamado “paralelismo”, que consiste na correspondência ou ligação de uma frase com a outra, por meio da repetição, ênfase ou contraste de ideias. Há vários tipos de paralelismo na poesia hebraica:
a) Sinônimo. Uma frase encontra sinônimo na frase seguinte. (Sl 24.1).
b) Antitético. Uma frase expressa ideia contrária à outra. (Sl 1.6).
c) Sintético ou Construtivo. As frases vão se completando e correspondendo, como uma construção. (Pv 15.17).
Outra característica importante da poesia hebraica são os chamados acrósticos, onde os versos hebraicos estão escritos em ordem alfabética, sendo a primeira letra de cada linha ou verso, as letras do alfabeto hebraico na devida ordem. Exemplos de poesias em acrósticos são os Salmos 9, 10, 25, 34, 37, 111, 112, 119, 145 e as Lamentações de Jeremias.
Nas Escrituras Hebraicas, apenas os livros de Jó, Salmos e Provérbios são considerados poéticos. Os livros de Eclesiastes e Cantares de Salomão fazem parte de um grupo de livros chamado de “rolos” (heb. ). Estes livros são lidos nas cinco festas sagradas judaicas. Este estilo de poesia servia para facilitar a memorização dos textos, pois não haviam capítulos e versículos e as pessoas não possuíam exemplares da Bíblia em casa como temos hoje. Entretanto este valor se perde na tradução para a nossa língua.
1. O livro de Jó. O livro de Jó narra a experiência de um personagem real que foi Jó. O escritor registra que Jó alcançou o testemunho de ser um servo “íntegro e reto, que teme a Deus e se desvia do mal” (Jó 1.8) Apesar de sua vida justa, Jó experimentou em um único dia muita dor e sofrimento, perdendo todas as suas posses (Jó 1.13-17), todos os seus filhos (Jó 1.18,19) e foi atingido por uma dolorosa doença (Jó 2.7,8). Para piorar, enfrentou a incompreensão e insensibilidade, primeiro da sua esposa e depois dos seus amigos que o acusavam de ter pecado contra Deus. Segundo diziam, os sofrimentos de Jó seria a punição de Deus por seus pecados. A autoria é incerta. Alguns a atribuem a Moisés e outros a Salomão. O livro de Jó é considerado o mais antigo da Bíblia.
2. O livro dos Salmos. O Livro dos Salmos é uma compilação de diversos cânticos e poesias judaicas, que eram usados na devoção particular e nos cultos. Este cânticos expressam os mais profundos sentimentos dos seus autores, em várias circunstâncias: alegria, tristeza, desespero, lamentações, orações, louvor, etc.
O livro dos Salmos é chamado de Sepher Tehilim em hebraico, que significa Livro dos louvores. Está dividido em cinco partes:
Livro I. Do Salmo 1 ao 41 com a maioria dos cânticos de autoria de Davi;
Livro II. Do Salmo 42 ao 72, com vários cânticos de Davi, Asafe e Salomão;
Livro III. Do Salmo 73 ao 89, com vários salmos de Asafe;
Livro IV. Do Salmo 90 ao 106, com a maioria dos Salmos anônimos e alguns atribuídos a Moisés, Davi e Salomão;
Livro V: Do Salmo 107 ao 150. Neste livro temos a coleção chamada de Hallel egípcio, que vai do Salmo 113 ao 118. Temos também o chamado Grande Hallel, que vai do 146 ao 118, onde cada cântico começa com a expressão hebraica Halleluyah, que significa “Louvai ao Senhor”.
3. O Livro de Provérbios. O título do Livro de Provérbios em hebraico é “Mishle Shelomoh” ou “Provérbios de Salomão”. Foi escrito por Salomão e alguns trechos por Agur e pelo rei Lemuel. Provérbios são expressões curtas contendo lições morais. Provérbios são frases ou ditados populares, que expressam uma verdade de forma sucinta, com sentenças curtas extraídas de longas experiências de vida. O livro de Provérbios contém alguns princípios universais de sabedoria para a vida. O tema principal do livro é: o temor do Senhor é o princípio da sabedoria. (Pv 1.7). Provérbios nos ensina que observar os princípios divinos nos faz pessoas sábias e que uma pessoa temente a Deus é digna de ser honrada (Pv 31.30).
4. O Livro de Eclesiastes. O título deste livro em hebraco é Qoheler, que significa “aquele que convoca ou fala a uma assembléia”. O título Eclesiastes vem do termo grego Ekkesia, que significa “palavras do pregador a uma assembléia”. A autoria é atribuída a Salomão, devido à introdução: “Palavras do pregador, filho de Davi, rei em Jerusalém”. (Ec 1.1). O assunto de Eclesiastes gira em torno da pergunta: “Que vantagem tem o homem de todo o seu trabalho debaixo do sol?” (Ec 1.3) O tema principal de Eclesiastes está na frase “é tudo vaidade” (Ec 1.2), indicando a efemeridade da vida humana. A palavra hebraica traduzida por vaidade não o sentido atual de exibicionismo, valorização excessiva da aparência e luxo como atualmente. Vaidade em Eclesiaste significa algo inútil, transitório e passageiro. Portanto o autor expressa a sua desilusão pela busca de sentido para a existência humana, do ponto de vista material. Na conclusão, o autor declara que o sentido da vida é “temer a Deus e guarda os seus mandamentos.” (Ec 12.13).
5. O Livro de Cantares de Salomão. Nas Escrituras hebraicas é chamado de “Cântico dos cânticos”, devido às primeiras palavras do livro (Ct 1.1). Este livro é o principal dos 1005 cânticos do sábio Salomão e descreve em belos versos, o amor conjugal de Salomão e a Sulamita. Há dois extremos que devem ser evitados na interpretação deste livro. O primeiro é considerá-lo um conto erótico e sem importância para o cristão. O segundo é o oposto, considerá-lo apenas uma simbologia do amor entre Deus e Israel e de Cristo e sua Igreja. As interpretações alegóricas e simbólicas não precisam ser descartadas, entretanto a mensagem primária do Livro é exatamente o amor, a bênção e a felicidade do homem e a mulher dentro do casamento.
REFERÊNCIAS:
LEITE, Vicente. FACULDADE TEOLÓGICA IBETEL. págs. 13-16.
BAPTISTA, Douglas. A Supremacia das Escrituras a inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.
PEARLMAN, Myer. Salmos: adorando a Deus com os filhos de Israel. Rio de Janeiro: CPAD, 2020, p.5).
MAC ARTHUR, John. Manual Bíblico Mac Arthur: Gênesis a Apocalipse. 2 Ed. Tradução Érica Campos. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2019.
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Pb. Welian Pires
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