Quem escreveu a Bíblia? Como ela foi escrita? Quando foi escrita? Por que ela foi escrita? Estas são dúvidas, que até mesmo muitos crentes tem. Um dos atributos de Deus é a sua transcendência, ou seja, Ele está muito distante daquilo que as suas criaturas podem compreender. Não há a possibilidade de conhecermos a Deus por nossa própria conta. Só podemos conhecer Deus, até ao ponto que Ele se revelar.
Neste tópico vamos falar sobre sobre a origem da Bíblia e sobre as revelações de Deus à humanidade. Deus se revelou à humanidade de duas formas principais, que a teologia chama de revelação geral e revelação especial.
1. A origem da Bíblia. Quando falamos da Bíblia, os seus críticos argumentam que ela foi escrita pelos homens. Ora, isso é óbvio, pois, todos os livros que já foram escritos, foram escritos por seres humanos, pois, estes são os únicos seres vivos que aprenderam a arte de escrever. Entretanto, o conteúdo da Bíblia não é de origem humana. O apóstolo Pedro assim escreveu: "Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação; Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo." (2 Pe 1.20,21). Isso significa que os escritores eram humanos, mas o conteúdo dos seus escritos veio de Deus. Alguns críticos da Bíblia dizem que Pedro estava se referindo apenas às profecias do Antigo Testamento. Mas, o apóstolo Paulo, escrevendo a Timóteo, diz: "Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça." (2 Tm 3.16). Isso nos mostra que tanto o Antigo quanto o Novo Testamento foram inspirados pelo Espírito Santo. Estas são as duas principais referências, que reivindicam a autoria divina da Bíblia. Entretanto, há outros textos que mostram que a Bíblia foi escrita por seres humanos, sob a inspiração e supervisão divinas. (1 Co 2.13,14; 1 Co 14.37; Gl 1.12; Ap 1.1).
Nas civilizações antigas, inclusive na cultura judaica, não havia a preocupação com a autoria dos textos. As informações e as histórias eram transmitidas oralmente de uma geração para outra pelos mais velhos. Com o advento da escrita, os escribas faziam os registros dessas informações, mas eles não eram os autores. Somente com a ascensão do império grego, com o chamado "helenismo" é que veio o conceito de autoria e a autoridade de um texto passou a ser associada ao seu autor. A partir daí, os judeus se viram na obrigação de identificar os autores das suas literaturas.
2. Revelação Geral. Quando falamos de revelação geral, estamos nos referindo à revelação que Deus fez de Si mesmo a toda a humanidade, através da sua soberania na história; nas coisas criadas, que demonstram o seu poder criador e sustentador; e através do ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus.
a) Na história. Deus é um Ser Supremo e, como tal, Ele tem domínio sobre todas as coisas. Sendo o criador de todas as coisas, Deus tem o domínio sobre tudo e todos. Nada acontece sem que Ele saiba e permita.
No livro do profeta Daniel, encontramos o episódio do sonho que o rei Nabucodonosor sonhou e amanheceu perturbado, querendo que os sábios lhe dissessem o que ele havia sonhado e o significado daquele sonho. Evidentemente, nenhum ser humano seria capaz de saber isso. Irritado, o rei mandou matar todos os sábios da Babilônia. Mas, Deus revelou o segredo a Daniel em visão e ele contou o sonho e deu a interpretação ao rei. Ao receber de Deus esta revelação, Daniel o exaltou dizendo: “Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre, porque dele é a sabedoria e a força; Ele muda os tempos e as horas; ele remove os reis e estabelece os reis; ele dá sabedoria aos sábios e ciência aos inteligentes.” (Dn 2.20,21).
Mesmo vendo o que Deus havia feito através de Daniel, o rei Nabucodonosor se ensoberbeceu e exaltou-se o seu coração. No capítulo 4, ele sonhou outro sonho e Daniel foi chamado ao palácio para contar o sonho ao rei e dar-lhe a interpretação. Depois de contar o sonho, Daniel proferiu ao rei Nabucodonosor, a sentença que Deus lhe havia determinado: Serás tirado de entre os homens, e a tua morada será com os animais do campo, e te farão comer erva como os bois, e serás molhado do orvalho do céu; e passar-se-ão sete tempos por cima de ti, até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer. (Dn 4.25). Deus, em sua soberania, interviu na história retirando o domínio do rei da Babilônia sobre as nações: “Na mesma hora, se cumpriu a palavra sobre Nabucodonosor, e foi tirado dentre os homens e comia erva como os bois, e o seu corpo foi molhado do orvalho do céu, até que lhe cresceu pelo, como as penas da águia, e as suas unhas, como as das aves.” (Dn 4.33). Depois, o rei se humilhou, reconheceu que Deus tem domínio sobre os reinos humanos e Deus restituiu-lhe o cargo: “No mesmo tempo, me tornou a vir o meu entendimento, e para a dignidade do meu reino tornou-me a vir a minha majestade e o meu resplendor; e me buscaram os meus capitães e os meus grandes; e fui restabelecido no meu reino, e a minha glória foi aumentada.” (Dn 4.36).
No capítulo 11 da Epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo mostra a soberania de Deus ao tratar com a nação de Israel: “Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que te não poupe a ti também. Considera, pois, a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas, para contigo, a benignidade de Deus, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira, também tu serás cortado”. (Rm 11.21,22).
Precisamos ter cuidado, no entanto, para não incorrer no erro dos calvinistas, que ao defenderem a Soberania de Deus, anulam a responsabilidade humana e o livre-arbítrio, atribuindo a Deus todas as coisas, inclusive a criação do mal e a perdição dos ímpios. Deus intervém na história sim, para cumprir os seus propósitos. Mas, Ele não é o responsável pela existência da maldade ou pela perdição de alguém. Deus dá ao homem o direito de escolha: “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência.” (Dt 30.19).
b) No Universo. A beleza, a grandeza e o funcionamento do Universo demonstram claramente que há um ser poderoso e inteligente que o criou. Os ateus querem retirar Deus da criação do Universo, dizendo que estas coisas sempre existiram. Os evolucionistas, por sua vez, insistem em dizer que uma grande explosão chamada “Big bang” deu origem a tudo o que existe, como obra do acaso, há bilhões de anos. A partir daí, as coisas foram evoluindo e se transformaram no que existe hoje. Nenhuma destas teorias faz sentido. A ciência comprova que o Universo teve princípio. Tudo o que existe hoje, teve princípio e terá fim. Mas, é inconcebível que um universo gigantesco, com tanta complexidade e funcionamento perfeito, seja obra do acaso. Dizer isso é semelhante a acreditar que uma caixa com várias partículas de ferro e borracha explodiu, sem a ação de ninguém e isso se transformou num automóvel de luxo.
A Bíblia afirma que as coisas criadas manifestam a glória e o poder de Deus: “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Não há linguagem nem fala onde não se ouça a sua voz. A sua linha se estende por toda a terra, e as suas palavras até ao fim do mundo. Neles pôs uma tenda para o sol, o qual é como um noivo que sai do seu tálamo, e se alegra como um herói, a correr o seu caminho.” (Sl 19.1-5). O apóstolo Paulo, escrevendo aos Romanos, disse que as coisas criadas revelam e que há um Deus e, por isso, os pecadores são indesculpáveis em não reconhecê-lo: “Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça. Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis.” (Rm 1.18-20)
c) No Ser Humano criado à imagem e semelhança divina (Gn 1.26,27). A terceira forma de revelação geral de Deus, foi através da criação do ser humano. Deus criou o homem à sua imagem, conforme a sua semelhança. O ser humano foi criado com três características principais, que revelam a natureza de Deus:
Um ser espiritual, apto para a imortalidade (Gn 1.26). O ser humano teve princípio, mas, não terá fim, seja justo ou ímpio;
Um ser moral que tem a semelhança de Deus (Gn 1.27). O ser humano tem dentro de si a consciência e o senso de moralidade, dados por Deus, que o levam a discernir entre o bem e o mal.
Um ser intelectual com a capacidade da razão e de governo (Gn 1.26c,28-30). O ser humano é um ser racional e com capacidade de dominar sobre outros seres humanos, sobre a natureza e sobre os animais. Este domínio, no entanto, não é absoluto. É autoridade delegada por Deus, com limites.
Entretanto, com a entrada do pecado no mundo, a natureza humana foi corrompida e estas características foram deterioradas. Somente através de Jesus Cristo é que estas características poderão ser restauradas.
3. Revelação Especial. Na revelação especial, Deus complementou a revelação que Ele fez de Si mesmo, de duas formas: através do Seu Filho Jesus Cristo e através das Escrituras Sagradas. Por causa do pecado original, a natureza humana foi corrompida e o relacionamento de Deus com o homem foi rompido (Em 3.23; 5.12). O pecado ergueu uma parede de separação entre Deus, que é absolutamente Santo e incorruptível, e o homem que se corrompeu (Is 59.2). Sendo assim, o homem precisava restabelecer a sua comunhão com Deus. Mas, não poderia por sua própria conta, aproximar-se de Deus. Mas, Deus que é riquíssimo em misericórdia, providenciou o meio, pelo qual seria possível restabelecer o relacionamento entre o homem e o seu Criador.
Na sua presciência, Deus planejou isso, antes da fundação do mundo e da criação do ser humano. Este plano esteve oculto por muitos séculos. Através das Escrituras Sagradas, Deus revelou a pessoa de Jesus Cristo, o Salvador do mundo. Em todo Antigo Testamento, Deus usou profetas, tipos e figuras, para revelar a Vinda do Messias ao Mundo. Deus revelou o local do seu nascimento, a tribo de onde Ele viria, aspectos do seu nascimento, os seus sofrimentos, a sua morte e sepultura, etc.
No Novo Testamento, encontramos o cumprimento destas profecias, os relatos de cada acontecimento, a revelação do Plano de Salvação e as profecias relacionadas ao futuro da humanidade. Portanto, a revelação especial de Deus se dá através de Cristo e através da Bíblia. Somente através da Palavra de Deus é que podemos, de fato, conhecer a Cristo. Ele mesmo disse "São as Escrituras que de mim testificam". (Jo 5.39). Tudo o que precisamos saber sobre Jesus, está na Bíblia. Todas as especulações a respeito dele, que não tem fundamento bíblico, devem ser rejeitadas.
REFERÊNCIAS:
BAPTISTA, Douglas, A Supremacia das Escrituras - A inspirada, inerrante e infalível palavra de Deus. Editora CPAD. 1ª edição: 2021.
SCHNIEDEWIND, William M. Como A Bíblia Tornou-se Um Livro. Edições Loyola Jesuítas. pag. 20-22.
SILVA, Antônio Gilberto da. A Bíblia através dos séculos. Editora: CPAD. 15 Edição 2004.
BERGSTÉN, Eurico. Teologia Sistemática Introdução à Teologia Sistemática. Editora: CPAD. 1. Edição.
CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Editora Hagnos. Vol. 5. pag. 704.
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Pb. Weliano Pires