Nós não somos adeptos de um formalismo absoluto em nossos cultos, onde tudo é previsível. Evidentemente, temos a nossa liturgia e elementos que são previsíveis durante o culto, como oração, leitura devocional, os hinos da Harpa, apresentação dos grupos de louvor, pregação da Palavra de Deus, oração final e bênção apostólica. Temos até manuais de liturgia, para auxiliar os dirigentes dos cultos a realizarem um culto com equilíbrio e aproveitamento do tempo. Mas, deve haver liberdade na adoração e culto a Deus. Os cultos pentecostais são dirigidos pelo Espírito Santo e não podem ser mecanizados. Entretanto, é preciso haver equilíbrio, pois, a Bíblia nos recomenda reverência, ordem e decência nos cultos. (1 Co 14.40).
Nesta lição veremos três pontos sobre a liberdade e reverência no culto a Deus:
1) O conceito do culto pentecostal e o equilíbrio entre liberdade e reverência;
2) O Senhor Jesus como o centro da nossa adoração e da mensagem que pregamos;
3) Aspectos da liturgia pentecostal e assembleiana.
I – O CULTO PENTECOSTAL: LIBERDADE E REVERÊNCIA
Infelizmente, há muitos crentes que acham que a sua cultura, gênero musical, tipo de roupa, etc. devem ser impostos ao mundo. A mensagem do Evangelho e os seus princípios, de fato, são universais e válidos em qualquer época e local. Entretanto os costumes, estilos musicais, linguagem, etc. variam de acordo com o tempo e local. Não é porque alguém gosta de música erudita, sertaneja, ou outro estilo, que este deve ser obrigatório nos cultos.
1. A flexibilização cristã. Devemos ter reverência na forma de adorar a Deus. Porém, deve haver flexibilização da liturgia, de acordo com o ambiente em que estamos. Precisamos tomar cuidado para não introduzir elementos do culto judaico em nossos cultos, pois, estamos na Nova Aliança. Deve-se evitar também que os cultos sejam totalmente de acordo com os costumes antigos, ignorando a juventude ou priorizar somente a juventude, desprezando os mais velhos.
2. O culto. A palavra culto vem do substantivo grego "latreia" e do verbo "latreuo" que significa “serviço ou adoração". A palavra correspondente em hebraico é ‘avodá’, que significa “culto ou serviço”. Tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento é dito que devemos cultuar somente a Deus (Ex 20.3; Dt 6.13; Mt 4.10). Os católicos, para tentar justificar o uso das imagens e dos inúmeros santos e padroeiros, dizem que há diferença entre adorar e venerar. Para explicar isso, usam três palavras: Latria, Dulia e Hiperdulia.
a - Latria. (Do Grego "latreuo", que significa adoração). Principal culto na Igreja Católica, seria a adoração a Deus.
b - Dulia (em grego: “douleuo”, que significa veneração). É o culto prestado a Deus, por meio de alguma mediação de santos.
c - Hiperdulia (do grego: "hyper", acima de; e "douleuo", honra ou veneração). É o culto de adoração a Deus por meio da Virgem Maria, a quem o catolicismo dá um lugar eminente.
Entretanto, na Bíblia não há esta distinção e não há nenhum mediador entre Deus e a humanidade, além de Jesus Cristo. (1 Tm 2.15). A Bíblia proíbe o culto ou orações a qualquer pessoa, além de Deus. (Ex 20.4; MT 4.10).
3. A reverência no culto. O culto ao Senhor é um momento especial, em que separamos uma parte do nosso tempo para servi-lo, reconhecendo a sua divindade, majestade e senhorio. Portanto, não podemos nos ocupar com outras coisas, alheias ao culto ou fazer coisas incompatíveis com a sacralidade do culto ao Senhor.
Reverência, segundo o dicionário, é o respeito profundo por alguém ou algo, em função das virtudes, qualidades que possui ou parece possuir; consideração, deferência. Quando estamos cultuando a Deus, estamos falando com Ele e ouvindo-o falar conosco. Faria algum sentido, em um momento desse, tratarmos de coisas banais ou ficar em redes sociais falando de outras coisas? Seria razoável, alguém fazendo brincadeiras ou até paquerando durante o culto? Certamente, não.
II – O CENTRO DO CULTO PENTECOSTAL
Muitas pessoas fazem confusão entre Igreja e templo, ou entre Igreja e denominação. Embora, atualmente usamos o termo Igreja para se referir ao templo ou à nossa denominação, há diferença entre estas coisas.
O termo Igreja, no grego é "ekklesia", que significa um grupo de pessoas chamadas para fora. Refere-se ao conjunto de pessoas que foram salvas por Jesus e pertencem a Ele.
Entretanto, há duas dimensões da Igreja. Há a Igreja universal, [não a denominação liderada por Edir Macedo] que são os salvos de todos os lugares, em qualquer denominação. E, há também a Igreja local, que é uma congregação que se reúne num determinado lugar.
1. O centro da nossa adoração. O centro do nosso culto é o Deus trino: Pai, Filho e Espírito Santo. Conforme já vimos em lições anteriores, os membros da Santíssima Trindade são iguais e habitam um no outro, em perfeita comunhão. Sendo assim, quando adoramos a qualquer um deles, estamos adorando a Deus.
Os adversários dos pentecostais costumam nos acusar de dar ênfase exagerada ao Espírito Santo, para com isso nos acusar de sermos "montanistas".
O montanismo foi um movimento fundado por Montano, um profeta que se revelou na Frígia, por volta dos anos 155-160 e afirmava ser porta-voz do Espírito Santo. Segundo ele, em sua própria pessoa, se encarnara o "Paracleto" (Consolador) prometido em João 14,16; 16,7.
As principais características do montanismo são a glossolalia [falar em línguas] e uma linguagem espiritual tendente ao êxtase e ao entusiasmo. Negavam a autoridade eclesiástica, pregavam o iminente fim do mundo e uma moral ascética rigorosa, com proibição do matrimônio e a prática rigorosa de esmolas que jejuns.
2. Um culto vibrante no poder do Espírito. O modelo do culto descrito por Paulo, no capítulo 14 de 1 Coríntios, demonstra que há diferença entre os cultos nas sinagogas judaicas e o culto cristão.
Nas sinagogas, somente os rabinos poderiam falar e não havia manifestações dos dons espirituais. O culto cristão na Igreja Primitiva não era formalista e entediante, onde apenas a liderança fala e as pessoas são meros expectadores. Os crentes em geral, podiam participar conforme o Espírito Santo lhes concedia.
3. Característica pentecostal. O culto pentecostal, conforme o modelo descrito no Novo Testamento deve conter os seguintes elementos:
a) Oração. (1 Co 14.15). A oração deve ser o início do nosso culto e deve acontecer também durante o culto e no final dele.
b) Cânticos. Em mais de um versículo, Paulo fala de hinos e cânticos espirituais durante o culto (Ef 5.18,19; Cl 3.16). Os louvores são uma parte importante do culto, onde exaltamos a Deus através da música. Entretanto, precisamos cantar hinos cristocêntricos e não antropocêntricos.
c) Exposição da Palavra de Deus. Paulo diz que "quando vos ajuntais, cada um de vós… tem doutrina...". Isso se refere ao ensino da Palavra de Deus. É indispensável em nossos cultos, um período de leitura e exposição da Palavra de Deus. Uma Igreja sem o ensino bíblico, torna-se presa fácil dos falsos mestres. Não podemos substituir a Palavra de Deus por profecias e revelações.
d) Manifestação dos dons espirituais. Em um culto pentecostal deve haver liberdade para a profecia, revelações do Espírito, variedade de línguas e operações de maravilhas. Entretanto, deve haver ordem e decência no uso dos dons espirituais.
O apóstolo Paulo nos dá algumas recomendações nesse sentido:
a) As profecias devem uma por vez e devem ser julgadas pela Igreja;
b) As mensagens em línguas estranhas devem ser acompanhadas de interpretação;
c) Os portadores de dons espirituais não estão inconscientes e devem se controlar no culto público.
4. Ofertas. Tanto no Antigo como no Novo Testamento, as contribuições faziam parte do culto (Dt 26.10; 1 Co 16.1,2; 2 Co 9.7). É até através das contribuições que a Igreja avança em sua missão de evangelização do mundo. Se não houver contribuições dos fiéis, não há como fazer isso. Entretanto, o objetivo do culto não pode se resumir a arrecadações. É lamentável quando líderes evangélicos destinam a maior parte dos cultos para arrecadar dinheiro, usando os mais diversos tipos de manipulação e distorção de textos bíblicos.
III – COMO SE EXPRESSA A LITURGIA DE NOSSAS IGREJAS?
Cada denominação difere na forma de cultuar a Deus. Uns são mais formalistas, seguindo rigorosamente um modelo pré-estabelecido. Outros, no entanto, são totalmente espontâneos e não seguem critério algum. Na Assembléia de Deus, conforme o comentarista descreveu, temos vários tipos de cultos, com finalidades diversas. Embora todos os cultos sejam direcionados a Deus, os objetivos são distintos: temos os cultos públicos, onde o objetivo principal é a evangelização. Nestes, todos os elementos do cultos são direcionados à salvação de almas; cultos de jovens, onde há maior participação da mocidade, com o intuito de desenvolvê-los na obra do Senhor; cultos de missões, onde o objetivo é a conscientização missionária; cultos de doutrina, cujo objetivo principal é o ensino bíblico; e assim, sucessivamente.
1. Nossas reuniões de adoração. Segundo ensinou o Pr. Antônio Gilberto, liturgia é o conjunto de elementos que compõem o culto cristão. Esta palavra vem do grego “leitourgia” e, inicialmente, significava qualquer serviço prestado à coletividade ou a uma pessoa. No Antigo Testamento, referia-se ao ministério dos sacerdotes ou aos atos realizados por eles durante o culto.
Nos tempos apostólicos, os cultos eram praticamente informais e não havia um padrão a ser seguido, principalmente, porque eles não tinham templos e se reuniam nas casas, na maioria das vezes às escondidas, por causa das intensas perseguições. Entretanto, encontramos nas Epístolas citações sobre a leitura do texto bíblico, cânticos, orações, pregação, celebração da Ceia e invocação da bênção apostólica.
Somente algumas décadas após o período apostólico, entre o final do primeiro e início do segundo século é que surgiram as formas de culto mais bem elaboradas, principalmente, por causa do crescimento da Igreja, visando também a beleza e harmonia no culto ao Senhor.
Na Didaquê, um manual eclesiástico do início do 2º século, encontramos a seguinte orientação referente à ministração da Ceia do Senhor:
“No tocante à eucaristia, dareis graças desta maneira – primeiramente sobre o cálice: ‘Damos-te graças, Pai nosso, pela santa vinha de Davi, teu servo, que nos deste a conhecer por meio de Jesus, teu Servo. A ti seja a glória eternamente’”.
A seguir, vinham as palavras a serem ditas sobre o pão partido e, por último, a belíssima oração de ação de graças, que assim começava:
“Damos-te graças, Pai nosso, por teu santo nome, que fizeste habitar em nossos corações, e pelo conhecimento, pela fé e pela imortalidade que nos revelaste mediante Jesus, teu Servo. A ti seja a glória eternamente”.
Infelizmente, com o passar dos anos, foram incorporados à liturgia, elementos do paganismo, contrários às Escrituras, como as invocações a Maria e aos santos, a adoração aos elementos da Ceia, uso de velas, orações pelos mortos, etc.
2. Culto pentecostal. Como mencionei anteriormente, no culto pentecostal deve haver equilíbrio entre a liberdade de cultuar a Deus, sem deixar de lado a ordem e decência recomendados na Bíblia. Na Assembléia de Deus todos têm liberdade para adorar a Deus e testemunhar nos cultos. Mas, deve-se seguir um modelo litúrgico organizado, que siga os princípios bíblicos, aproveite melhor o tempo e glorifique a Deus. Devemos nos atentar para os objetivos de cada culto, para não perdermos o foco. Não podemos, por exemplo, em um culto público, onde há várias pessoas necessitando ouvir a pregação do Evangelho, pregar mensagens para crentes ou ficar falando em línguas estranhas, pois, além das pessoas não entenderem nada ainda podem zombar das coisas de Deus.
CONCLUSÃO
Embora o Novo Testamento não nos apresente um manual de liturgia, nas Epístolas paulinas encontramos princípios para um culto público com ordem e decência. Então, devemos nos equilibrar nesta questão: adorar a Deus com liberdade, sem esquecer a reverência, ordem e decência, conforme nos recomenda a Palavra de Deus. O culto pentecostal não é apenas um auditório onde uma pessoa fala e as outras apenas escutam. Todos podem participar da adoração coletiva, sob a direção do Espírito Santo.
Pb. Weliano Pires
Igreja Evangélica Assembléia de Deus
Ministério do Belém
São Carlos - SP
REFERÊNCIAS:
REVISTA LIÇÕES BÍBLICAS. Rio de Janeiro: CPAD, 1º Trimestre 2021.
REVISTA ENSINADOR CRISTÃO. Rio de Janeiro: CPAD, 1º Trimestre 2021.
Declaração de Fé das Assembleias de Deus. 1ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, pp.144,145.
Matos, Alderi Souza de. LITURGIA: É MESMO NECESSÁRIA?. Texto publicado em: https://www.ipb.org.br/index.php/informativo/liturgia-e-mesmo-necessaria-4279
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