A famosa história bíblica de José apresenta-nos um
homem humilde, de princípios. O status de filho favorito que José tinha, em vez
de fazê-lo orgulhoso e esnobe, despertou-lhe o desejo de viver à altura das
expectativas de seus pais. Os sonhos que Deus dava a José convenceram-no, não
do fato de que era muito bom para servir outras pessoas, mas, ao contrário, de
que Deus o tinha escolhido para uma tarefa especial. Quando seus irmãos
venderam-no como escravo, em vez de nutrir um espírito de autocomiseração, José
manteve sua atitude positiva. Deus duramente testou seus princípios, mas ele
não vacilou. Embora a esposa de Potifar tenha tentado, repetidamente seduzi-lo,
José resistiu às suas investidas por causa de seu caráter bem desenvolvido.
Mesmo sendo inocente, seu aprisionamento falhou, na indução da ira escondida ou
de um espírito vingativo. Enquanto o copeiro de faraó tinha esquecido de apelar
por sua causa justa diante do rei, José continuou servindo a Deus, abnegado, na
prisão. O desapontamento grosseiro diante da terrível injustiça não provocou
nenhuma ferida destrutiva em seu espírito. O sofrimento desmerecido não
produziu uma falta de confiança na providência de Deus.
José foi um homem tão incomum, que sua preparação, por
Deus, para a liderança, pode ajudar pessoas que aspiram qualquer ministério que
influencie outras pessoas. A seguir veremos algumas de suas grandes qualidades,
necessárias a líderes bem sucedidos.
Destaca-se um senso de vocação indestrutível. Desde
sua infância, José acalentou um senso de destino. A atenção especial do seu
pai, intensificada pelos sonhos que José entendera serem dados por Deus, lançou
os alicerces da responsabilidade e da maturidade. A vocação, para um cristão, é
algo sério porque ele sabe que a vida não é sem propósito. Ele sabe, como José
sabia, que Deus marcou a sua vida com um valor distinto. O "chamado"
bíblico não concede meramente a uma pessoa o direito de regozijar-se na
liberdade de escolha e no autodesenvolvimento, mas, obriga-a a beneficiar
outras pessoas. Através do curso da sua vida, José nunca perdeu aquela certeza.
Ele pôde confiantemente falar a seus irmãos bajuladores, que temiam por suas
vidas após a morte de Jacó: "Não temais; porque, porventura, estou eu em
lugar de Deus? Vós bem intentastes mal contra mim, porém Deus o tornou em bem,
para fazer como se vê neste dia, para conservar em vida a um povo grande"
(Gn 50.19-20). Um profundo senso do chamado de Deus para servir outros deve
marcar a vida dos líderes.
Deus, depois de moldar seu servo através de muitos sofrimentos e
provas, finalmente elevou José à posição de primeiro ministro do Egito. Ele foi
tirado das algemas da prisão para exercer autoridade absoluta sobre todo o
Egito, ao lado do próprio faraó. Ele não foi motivado pelo poder ilimitado para
despejar a vingança sobre seus irmãos invejosos ou da esposa mentirosa de
Potifar. Ele chorou diante de seus irmãos enquanto eles pediam seu perdão. A
liderança, de acordo com os parâmetros de Deus, não pode ser contaminada com a
inveja e o ressentimento.
Examinando mais profundamente a vida de José, um líder
escolhido por Deus, podemos ressaltar outras qualidades marcantes, como
estrelas brilhando em uma noite sem nuvens. Stogdill sugeriu que perfis
psicológicos, em si mesmos, dão pouca indicação do surgimento de um líder
capacitado. Porém, em resumo, a vida de José era significativamente
caracterizada pelo seguinte perfil:
Primeiro, ter capacidade e potencial indiscutíveis
(inteligência, atenção, facilidade de se comunicar, originalidade, julgamento).
José demonstrou todas essas qualidades durante sua vida. Ambos, Potifar e o
faraó, imediatamente reconheceram em José uma pessoa dotada e incomum. A
confiança deles acabou sendo bem fundamentada.
Segundo, realização requer sabedoria, conhecimento e
consumação. Ainda que não tenhamos qualquer idéia sobre a formação acadêmica de
José, não há dúvida alguma com relação à sua habilidade de administrar o
armazenamento da colheita e o seu programa de distribuição.
Terceiro,
ter uma responsabilidade irrefutável (confiança, iniciativa, persistência, autoconfiança,
desejo de vencer). Sem ter dado atenção aos detalhes e a integridade, José
raramente poderia ter manejado o imenso e complexo trabalho ordenado pelo faraó.
Quarto, ter uma participação direta (atividade,
sociabilidade, cooperação, adaptação). Claramente, José tomou parte no processo
de implementação de um programa nacional estabelecido para evitar a fome sobre
a nação. A mudança de longos anos em uma prisão para uma alta posição
governamental, requer mais do que uma pequena dose de adaptação. A
sociabilidade e a cooperação foram o seu pão de cada dia. A participação direta
fez com que o programa fosse bem-sucedido.
Quinto, ter um status integrado (posição
socioeconômica, popularidade). A popularidade de José em todas as esferas
Sociais e econômicas em que Deus o tinha colocado, brilha através das linhas da
narrativa de Gênesis. Embora seja verdade que a falta de popularidade entre
seus irmãos fosse gerada pela inveja destes, não houve hostilidade alguma da
parte de José que encorajasse essa animosidade destes. Obviamente, líderes que
carecem popularidade precisam implementar força.
Sexto, estar em uma situação ordenada por Deus
(habilidade mental, experiências, necessidades e interesses de seguidores,
objetivos para serem alcançados e tarefas para serem realizadas). Durante sua
longa vida, José demonstrou uma habilidade incrível de manejar as tarefas a ele
apresentadas. Não há sugestão alguma de que ele sentiu-se derrotado
completamente pela situação que Deus colocara diante dele.
José ilustra como as circunstâncias e as capacidades
para liderar combinam-se na formação de líderes marcantes. Como Stogdill
escreveu: "A evidência forte indica que habilidades diferentes de
liderança e as peculiaridades são exigidas em situações diferentes. Os
comportamentos e as peculiaridades que capacitam um criminoso para ganhar e
manter o controle sobre uma quadrilha não são as mesmas que capacitam um líder
religioso para formar e manter um grupo de seguidores. Contudo, algumas
qualidades gerais como a coragem, a firmeza e a convicção parecem caracterizar
ambos”. [1]
Notavelmente sociável e articulado, José atraiu
atenção, independentemente de sua posição servil, como escravo na casa de
Potifar. Que outra razão teria uma pessoa de alta classe, esposa de um oficial,
para seduzi-lo? Sua adaptabilidade brilha durante toda a narrativa de Gênesis.
Como um escravo em uma casa, como um prisioneiro na cadeia ou como o primeiro
ministro do país, José conduziu as suas responsabilidades naturalmente. Ele deu
a impressão de que havia sido especialmente treinado para as diversas
atividades que realizara. Sua responsabilidade brilha adiante, como um diamante
polido no meio de seixos.
Em todas as tarefas que era obrigado a fazer, ele
sempre inspirava confiança. José foi elevado ao topo por causa da peculiaridade
de seu caráter. Desse modo é que um líder deve demonstrar sua capacidade. Ele
pode confiantemente levar adiante as responsabilidades pesadas pertinentes à
liderança.
Sua autoconfiança, não deve ser entendida como mera
segurança, de que ele poderia realizar com êxito qualquer exigência que fosse
posta diante dele. José foi mais do que um administrador habilidoso e
capacitado. Ele demonstrou em sua conduta, que era um homem que tinha completa
confiança em Deus. Paulo
descreveu essa atitude assim: "Tudo posso naquele que me fortalece"
(Fp 4.13). Um líder piedoso precisa possuir este tipo de atitude, não em si
mesmo, mas naquele que é totalmente confiável: Deus. José foi elevado ao topo
por causa de qualidades marcantes que um bom líder necessita ter.
SHEDD, Russell P. O
líder que Deus usa: Resgatando a
Liderança Bíblica
para a Igreja no Novo Milênio.. 1ª Edição. pp. 7 e 8. São
Paulo: Vida Nova. 2000.
(Tradução Edmilson E Bizerra)
[1] Ralph M. Stogdill, A Handbook of Leadership: A
Survey ofTheory and Research New York :
Free Press, 1981, citado em
in A. O'Souza , Being a Leader, Singapore :
Haggai lnstitute, 1986, p. 14, 15.
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