Em uma pequena cidade, morava
o poderoso Dr. Aristóteles. Era dono de uma enorme fazenda, responsável por toda
a produção de feijão, milho e arroz e criava muito gado, para a produção de leite
e carnes. Possuía também vários caminhões, que escoam a toda a produção, abastecendo
a cidade e a região circunvizinha.
O Dr. Aristóteles não
respeitava as leis e, por ser poderoso e responsável pela sobrevivência da
população, as autoridades faziam vistas grossas aos seus abusos e crimes. Os
trabalhadores da sua fazenda trabalham em sem nenhuma proteção; os motoristas
dos seus caminhões não possuíam habilitação e dirigiam embriagados; os
caminhões transportavam cargas acima de suas capacidades e não atendiam as
condições mínimas de segurança. Tudo isso, é claro, para que o Dr. Aristóteles
aumentasse cada vez mais os seus lucros.
Certa vez, um dos seus
motoristas transportava uma carga acima da capacidade do caminhão. O caminhão
estava com os pneus carecas e não passava por revisão há muito tempo. O
motorista sem habilitação e alcoolizado, dirigia em alta velocidade.
Um policial rodoviário viu
aquilo e nada fez, pois, percebeu que o caminhão era do Dr. Aristóteles e ele
recebera ordens do seu superior para não incomodá-los, pois, o Dr. Aristóteles
movimentava a economia da cidade e gerava muitos empregos. Esta situação se
repetia toda semana.
Como era de se esperar, em
uma destas viagens, o motorista perdeu o controle e chocou-se com um ônibus que
vinha em sentido contrário, cheio de passageiros. A maioria dos passageiros
morreu na hora e os sobreviventes sofreram ferimentos graves. Alguns ficaram
tetraplégicos.
A Polícia rodoviária veio ao
local, mas, com ordens de aliviar para o motorista. No boletim de ocorrência
constou que foi apenas ‘um acidente’. Nem o motorista, nem o Dr. Aristóteles
foram responsabilizados e tudo continuou como era antes.
Para “aliviar” a situação das
vítimas, o motorista do ônibus foi orientado a dizer que o motorista do
caminhão não teve culpa, para que assim as vítimas pudessem receber o dinheiro
do seguro obrigatório.
Diante de tanta imprudência,
irresponsabilidade e descaso criminosos das autoridades, um vereador da cidade,
indignado com a situação, tentou de várias formas, alertar que aquilo não fora
um acidente comum, mas, uma sequência de atos criminosos. Alertou também, que
aquela tragédia iria se repetir. Ninguém lhe deu ouvidos. Ao contrário,
permitiram que o Dr. Aristóteles aumentasse a sua frota, com caminhões nas
mesmas condições.
O vereador tinha razão. A
segunda tragédia aconteceu, em proporções muito maiores. Um dos caminhões do
Dr. Aristóteles, com pneus carecas, como de costume, e motorista sem
habilitação, faltou freio por falta de manutenção e chocou-se com uma escola,
matando dezenas de crianças. Diante da tragédia, equipes de resgates de outras
cidades se mobilizaram para socorrer as vítimas. Doadores de sangue estavam a
postos. Ambulâncias e bombeiros corriam contra o tempo para salvar as vítimas
mais graves. Mas, infelizmente, poucos sobreviveram.
Diante desta tragédia
anunciada, o vereador que denunciara o primeiro acidente como criminoso, de
novo se manifestou, cobrando a identificação e punição dos responsáveis por
estas tragédias criminosas e não naturais. Porém, boa parte da população o
acusou de insensível, que só sabe criticar e não se preocupa em ajudar as
vítimas. Segundo diziam, aquele não era momento de apontar culpados, mas, de se
preocupar com as vítimas.
Já dizia Victor Hugo:
“Quem poupa o lobo, sacrifica a
ovelha.”
Este relato é uma ficção.
Qualquer semelhança com os nomes ou acontecimentos reais, terá sido mera
coincidência.
Weliano Pires
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