(Comentário do 2° tópico da Lição 02: A Igreja de Jerusalém, um modelo a ser seguido)
Ev. WELIANO PIRES
No segundo tópico, veremos que a Igreja de Jerusalém era observadora dos símbolos cristãos ou ordenanças de Jesus à sua Igreja. O primeiro símbolo cristão observado pela Igreja de Jerusalém era o batismo em águas. O batismo era um dos primeiros passos dos novos convertidos. Entretanto, só eram batizados os que realmente se arrependiam dos seus pecados. O segundo símbolo do cristianismo praticado pela Igreja de Jerusalém era a Ceia do Senhor, conforme podemos ver em Atos 2.42: “E perseveravam... no partir do pão”.
1. O Batismo. Após o primeiro sermão do apóstolo Pedro na igreja de Jerusalém, e como resposta a uma pergunta, ele disse ao povo: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados” (At 2.38). Naquela época, a primeira igreja batizava quem se convertia. Ela sabia que o batismo era uma das ordenanças de Jesus e que ele era um dos principais símbolos da fé cristã (Mc 16.16). O batismo era um dos primeiros passos da fé cristã, um rito de entrada para a nova vida em Cristo. Mas para ser batizado, a pessoa precisava ter se arrependido dos seus pecados e crido em Jesus. Era preciso ter consciência do sentido desse símbolo de fé. Assim, o batismo era um testemunho público de que a pessoa havia se convertido. Por meio dele, os cristãos de Jerusalém mostravam ao mundo que sua vida agora era diferente, que eles tinham uma nova vida em Cristo.
Logo após o primeiro discurso do apóstolo Pedro no dia de Pentecostes, as pessoas vieram à frente e perguntaram: “Que faremos, varões irmãos?”. Imediatamente, Pedro respondeu: Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em Nome do Senhor Jesus para a remissão dos pecados e recebereis o dom do Espírito Santo.” (At 2.38). Esta resposta nos mostra que o batismo na Igreja de Jerusalém era um ato subsequente à conversão. As pessoas que entendiam a pregação e criam, eram logo batizadas.
O batismo não foi uma invenção dos apóstolos e não é opcional. Foi o Senhor Jesus quem o ordenou. No conhecido texto de Mateus 28.19, que menciona a Grande comissão de Jesus à Sua Igreja, após a Sua ressurreição, lemos o seguinte: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Vemos claramente neste texto, que o batismo deve ser ministrado àqueles que creram em Jesus e foram feitos discípulos dele. Portanto, primeiro fazemos discípulos, depois batizamos.
O mesmo Jesus que mandou fazer discípulos, mandou também batizar. No Evangelho segundo Marcos também, a ordem para batizar aparece depois da ordem para pregar o Evangelho: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer, será condenado.” (Mc 16.15,16). O batismo, portanto, é uma prática destinada aos adultos, ou a pessoas que tenham alcançado a idade da razão e creram em Cristo. Na Bíblia o batismo é administrado apenas aos adultos. Não há nenhum caso de batismo infantil nas Escrituras.
Há também discussões a respeito da fórmula batismal. Há grupos hereges que negam a doutrina da Trindade e batizam somente em Nome do Senhor Jesus, usando como base o texto de Atos 2.38, 8.16, 10.48, 19.5. Entretanto, estes textos não apontam uma fórmula batismal, conforme vimos acima, pois são diferentes. O que estes textos mostram é que o batismo deve ser realizado na autoridade do Senhor Jesus. Sobre isso, a Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil diz-nos o seguinte:
“A ordem dada por Jesus foi de batizar “em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28.19). Cremos e praticamos a fórmula que ele mesmo ordenou. Uma ordem dada por Jesus deve ser cumprida. Sobre a expressão que aparece quatro vezes no Novo Testamento: “em nome de Jesus Cristo” (At 2.38), “em nome do Senhor Jesus” (At 8.16; 19.5) e “em nome do Senhor” (At 10.48), significa apenas que o batismo é realizado na autoridade do nome de Jesus.”
Por fim, há divergências quanto ao método de batismo. Há Igrejas que batizam por aspersão, ou seja, passando um pouco de água na cabeça do batizando. Outras batizam por efusão, borrifando água sobre a cabeça do batizando. Entretanto, não há fundamento bíblico para isso, nem registros de que tenha ocorrido batismos dessa forma. Há pelo menos três evidências bíblicas de que o batismo deve ser feito por imersão:
a. O significado da palavra batismo. A palavra grega “baptizo” significa literalmente mergulhar;
b. O sentido simbólico do batismo. Paulo diz que nós fomos “sepultados com Cristo no batismo”. Sepultamento pressupõe, evidentemente, cobrir todo o corpo.
c. Os exemplos bíblicos de batismos. Todos os casos relatados na Bíblia mostram que o batismo foi realizado por imersão. Jesus, por exemplo, foi batizado por João Batista dentro do Rio Jordão, e saiu da água (Mc 1.10).
2. A Ceia do Senhor. A Ceia do Senhor é a outra ordenança dada por Jesus e que foi observada pela igreja de Jerusalém. “E perseveravam... no partir do pão” (At 2.42). A maioria dos estudiosos concorda que esse texto é uma referência à prática da Ceia do Senhor entre os primeiros cristãos. Donald Gee, um dos principais mestres do pentecostalismo britânico, disse que, quando tomada corretamente, a Ceia leva a Igreja ao próprio coração de sua fé; ao próprio centro do Evangelho; ao objeto supremo do amor de Deus. Portanto, quão abençoado é esse “partir do pão”! Parece provável que os primeiros cristãos, combinando essa ordenança simples com a “festa do amor” de sua refeição comum, lembravam assim a morte do Senhor “todos os dias” (At 2.42-46).
O segundo símbolo cristão observado pela Igreja de Jerusalém era a Ceia do Senhor. A Ceia do Senhor foi instituída pelo próprio Senhor Jesus, na última Páscoa com os seus discípulos, na mesma noite em que Ele foi traído por Judas Iscariotes, um dos doze apóstolos. A Ceia do Senhor é uma representação do sacrifício de Cristo por nós, onde o partir do pão representa o seu Corpo que ferido pelas nossas transgressões (Is 53.4) e o fruto da vide representa o seu Sangue, que foi derramado por nós, para purificar os nossos pecados. Cada vez que participamos da Ceia somos relembrados do que Jesus fez por nós e da Sua vitória sobre a morte e o pecado.
Assim como aconteceu com o batismo, a Ceia do Senhor também teve alguns desvios e controvérsias quanto à sua natureza, propósito e forma de celebração. A Igreja Católica interpreta literalmente as palavras de Jesus, quando Ele disse aos seus discípulos: “Isto é o corpo”, referindo-se ao pão, e “este cálice é o meu sangue” referindo-se ao vinho (Mt 27.26-28). Com este entendimento, dizem que a hóstia se transforma literalmente no corpo de Cristo e o vinho se transforma no sangue de Cristo. Esta doutrina é chamada de Transubstanciação.
Do lado protestante também, o reformador Martinho Lutero negava a transubstanciação, mas fez um remendo neste ensino. Lutero dizia que apesar dos elementos da Ceia não se transformarem no Corpo e no Sangue de Cristo, Ele estava presente no pão e no vinho, de forma sobrenatural e, ao ingeri-Los, o crente ingere também o Corpo e o Sangue do Senhor. Esta doutrina é chamada de consubstanciação.
João Calvino discordou da consubstanciação luterana, mas defendeu que Cristo está presente espiritualmente nos elementos da Ceia e, portanto, ele considerava a Ceia do Senhor como um sacramento, que transmite graça aos participantes. Os presbiterianos e outras igrejas reformadas seguem esta posição.
O reformador Ulrico Zwinglio discordava de Lutero e de Calvino, e cria que os elementos da Ceia do Senhor são apenas símbolos do Corpo e do Sangue de Jesus. Zwinglio cria também que a celebração da Ceia do Senhor é uma ordenança do Senhor Jesus, em memória dele e Cristo não está presente nos elementos da Ceia, física ou espiritualmente. Esta posição defendida por Zwinglio é seguida pelas Igrejas Batistas e pelos pentecostais clássicos como a Assembléia de Deus. Entretanto, por desconhecerem o assunto, na prática, muitos pastores pentecostais acabam se comportando como se a Ceia fosse um sacramento que transmite graça aos participantes.
REFERÊNCIAS:
GONÇALVES, José. A Igreja em Jerusalém: Doutrina, comunhão e fé: a base para o crescimento da Igreja em meio às perseguições. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2025.
GONÇALVES, José: O Corpo de Cristo: Origem, Natureza e a Vocação da Igreja no Mundo. RIO DE JANEIRO: CPAD, 1ª Ed. 2023.
Ensinador Cristão: RIO DE JANEIRO: CPAD, 2025, Ed. 102, p. 37.
Bíblia de Estudo Pentecostal — Edição Global. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2022, p.1932.
Comentário Bíblico Beacon — João e Atos. Vol. 7. RIO DE JANEIRO: CPAD, 2024, p.225.